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Crítica | A Garota e a Aranha – Mudanças e altas emoções

Aquele sentimento de algo que nunca está terminado é ao mesmo tempo o ponto de partida e chegada de A Garota e a Aranha. O segundo filme dos diretores Ramon e Silvan Zürche, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, é uma fábula sobre a inquietude dos jovens no começo de suas vidas adultas.

De início, as informações chegam como mobília em casa nova: aos poucos, ainda tentando descobrir como parecer natural no ambiente. Lisa está de mudança para um novo apartamento. Para ajudar nessa transição está sua mãe Astrid, que vive preocupada em julgar as atitudes da filha, e sua amiga indecifrável Mara. Elas encontram no apartamento um conjunto de vizinhos interessantes, como Karen, que cuida de umas crianças; Kerstin e Nora, uma romântica e a outra uma antissocial; e Markus, um cara que parece ser gentil. Além deles, há a solitária Senhora Arnold e os quebra-galhos do prédio, Jun e Jurek.

É importante citar todos, pois esse filme requer que você faça um mapa mental, assim como Mara no computador, para ilustrar o espaço que Lisa entrará. Os irmãos Zürche concentram suas energias em manter a movimentação constante, gerando uma ação involuntária de apreciação de momentos desconexos com a trama. Veja, todo o simbolismo da mudança e reparos na casa ocorre em praticamente toda cena. Quando um personagem vai ao café, ou dá uma volta pela cidade, acaba dando um fôlego para compreendermos melhor com quem estamos.

Henriette Confurius interpreta Mara, jovem quieta que sempre acaba falando o que não deve. A personagem tem herpes labial extremamente visível, o que deixa um certo desconforto com todos que interage. Confurius usa justamente esse estranhamento para levantar a justificativa do ego inflado de Mara. É com ela que acontecem as viradas mais interessantes na história. Será que ela planta discórdia por não poder interagir intimamente com todos? A frustração de não poder curtir esses últimos momentos de falta de responsabilidade devido a esse pequeno problema.

Sua relação com Lisa, interpretada muito bem por Liliane Amuat, é um dos quebra-cabeças que o filme resolve junto com você. Amuat faz um jogo de relação com Confurius que conforme o apartamento muda, ele se transforma em outra coisa.

Os outros personagens têm seus momentos de auxilio no andamento da história, mas situações como um triangulo amoroso simplesmente quebram a trama que interessa. Nos ajuda a compreender um lado desconhecido, da antissocial Nora.

Talvez chover no molhado fosse arriscado, mas para um filme com ininterruptas modificações de ambientes e personagens transitando no mesmo local, seria interessante ver em algum momento isso aplicado à câmera. É através de um jogo de planos que acompanhamos quem fala e quem escuta, deixando pouco à imaginação de quem poderia estar por ali em determinada cena.

A Garota e a Aranha é um filme sobre amadurecimento e amizades, separações e desculpas, que lhe oferece o café, mas fica devendo as bolachas.

A Garota e a Aranha (Das Mädchen Und Die Spinne, Suíça – 2021)

Direção: Ramon Zürcher e Silvan Zürcher
Roteiro: Ramon Zürcher e Silvan Zürcher
Elenco: Henriette Confurius, Liliane Amuat, Ursina Lardi, Flurin Giger, André M. Hennicke, Ivan Georgiev
Gênero: Drama, Romance
Duração: 99 min

Acompanhe mais da nossa cobertura da 45ª Mostra Internacional de São Paulo

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Publicado por Herbert Santos

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