Uma coisa em comum que pode encontrar nas obras de Stephen King é que quando o protagonista é um escritor, ele quer dizer algo pessoal. Sejam problemas com alcoolismo (O Iluminado), para mostrar as lembranças de sua infância (Conta Comigo), demonstrar algum medo externo (Louca Obsessão), entre outros casos. Em A Janela Secreta, a figura do escritor é mostrada como uma pessoa que não expõe os seus problemas e como a obra se torna o seu ponto de fuga. Infelizmente, mesmo com esse ponto de partida e com uma atmosfera envolvente, o suspense de David Koepp se mostra com problemas.
O escritor em questão é Mort Rainey (Johnny Depp) que decide se isolar em uma casa de campo, após o fracasso do seu casamento com Amy (Maria Bello). Em um dia qualquer, Mort é surpreendido por John Shooter (John Turturro), um homem perigoso e agressivo que acusa o escritor de ter roubado a sua história. Shooter dá a Mort um prazo para lhe devolver o crédito da sua história e arrumar o seu final e a única prova que o rapaz escreveu a história está em uma revista que se encontra na casa da ex-esposa, a qual ele ainda carrega muita ódio.
O primeiro ponto que merece chamar atenção no longa é o trabalho do elenco, já que todos cumprem muito bem o seus papéis, com destaque a Johnny Depp e John Turturro. O primeiro evita cair na caricatura em mostrar Rainey apenas como um depressivo, a composição do ator se mostra mais minimalista sendo que por trás do seu humor sínico e negro, vai deixando cada vez mais a vista todas as magoas do personagem. É um trabalho muito seguro e disciplinado de Depp. Já Turturro deixa John Shooter como um personagem realmente ameaçador, com a sua forte presença de tela e o seu sotaque carregado. Sempre que aparece em cena, teme pelo que pode acontecer.
O clima de mistério do filme funciona em vários momentos. O espectador realmente se sente desafiado a chegar a resolução do mistério de quem é Shooter e o que ele quer com Mort. Por mais que a narrativa seja intrigante e a reviravolta seja inesperada, o roteirista e diretor David Koepp comete o equivoco de deixar a grande revelação sem que o espectador tenha alguma pista anterior sobre ela. Parece que ele tenta te enganar em vários momentos e alguns dificilmente vão compra-lá por ela vir do nada e com poucas pistas. E isso se torna o grande problema de A Janela Secreta, por mais que o roteiro desenvolva bem os seus personagens e as situações, ele se arrisca desnecessariamente na sua conclusão.
Já a execução se mostra eficiente, já que Koepp utiliza bem os espaços e a casa para aumentar a atmosfera paranoica do filme e da isolação do personagem, além do jeito que sempre retrata Shooter de maneira assustadora, deixando o seu chapéu como significado da sua presença. Mas percebe que algumas escolhas do diretor poderiam ser evitadas, como o uso de péssimos efeitos especiais em alguns momentos. Koepp se mostra problemático nas cenas de ação física, sendo que algumas vezes soa muito falso. Mas é uma direção segura em boa parte do tempo.
Outra coisa que se mostra irregular é a trilha sonora de ótimo Phillip Glass. Em alguns momentos ela se cria uma atmosfera, sem que grite o que o protagonista esta sentindo e deixando o espectador tenso. Já em outro ele se mostra muito exagerada, parecendo que está forçando o espectador a sentir medo. E como a trilha sonora pode ser usada como um forte instrumento do terror, no caso ela fica a desejar por ir entre momentos bons e ruins.
Enfim, A Janela Secreta é um filme que tem os seus méritos: tem uma história instigante e uma ótima atuação de Johnny Depp. Mas o que faltou a David Koeep foi uma organização melhor do suspense e da sua reviravolta. Mas é um suspense eficiente. Poderia ser melhor? Sim.
A Janela Secreta (Secret Window, EUA – 2004)
Direção: David Koeep
Roteiro: David Koepp, baseado na obra de Stephen King
Elenco: Johhny Depp, John Turturro, Maria Bello, Timothy Hutton, Len Cariou e Charles S. Dutton
Gênero: Suspense
Duração: 96 minutos