A Libertação, filme da Netflix, já está no streaming

Se você tem interesse em filmes de terror, chegou nesta sexta (30) ao streaming o longa-metragem “A Libertação”, a mais recente tentativa da Netflix de nos arrepiar – e não exatamente da forma como esperávamos. E vou avisando logo no início: este texto contém spoilers do final do filme, que será sinalizado para evitar estragar a surpresa.

“A Libertação” nos apresenta uma premissa até que intrigante. Dirigido por Lee Daniels, o filme gira em torno de Ebony Jackson, uma mãe solteira interpretada por Andra Day, que, após uma série de eventos traumáticos, decide se mudar com a família para uma casa nova em Indiana.

A mudança inclui sua mãe extremamente religiosa, Alberta (vivida por Glenn Close), e seus três filhos: Nate, Shante e Andre. A promessa de uma vida melhor, no entanto, logo se transforma em um pesadelo, quando coisas estranhas começam a acontecer na nova casa, sugerindo que ela pode ser um portal para o inferno.

A partir dessa sinopse, o filme tinha tudo para ser um marco no gênero terror, especialmente com um elenco tão talentoso. Além de Day e Close, o longa ainda conta com Mo’Nique e Aunjanue Ellis-Taylor, todas atrizes renomadas e premiadas. Mas, infelizmente, o potencial se perde em um mar de clichês e uma narrativa que deixa a desejar.

Atuações sólidas em filme mediano

Andra Day, que já brilhou em “Estados Unidos vs. Billie Holiday”, carrega o filme nas costas. Sua atuação como Ebony é de uma intensidade impressionante, mesmo quando o roteiro não a favorece. A personagem é falha, humana, e Day traz à tona todas as camadas dessa complexidade.

Já Glenn Close, em um papel mais exagerado, consegue roubar a cena, mas a verdade é que sua interpretação parece deslocada no tom geral do filme. É como se Close estivesse em um filme diferente do resto do elenco, o que acaba sendo, ao mesmo tempo, um dos pontos altos e baixos de “A Libertação”.

No entanto, apesar das atuações sólidas, o filme começa a escorregar na segunda metade. O que começa como um drama familiar entrelaçado com elementos sobrenaturais, rapidamente se transforma em um exorcismo genérico, daqueles que já vimos muitas vezes antes e, honestamente, de maneira mais assustadora.

A sensação de déjà vu é constante e, ao invés de gerar tensão, a familiaridade dos elementos usados no filme acaba por diluir o impacto que ele poderia ter.

Queda absurda de qualidade no terceiro ato

Os sustos, tão esperados em um filme desse gênero, são previsíveis e ineficazes. Daniels tenta criar uma atmosfera de terror, mas falha em sustentar essa tensão. Quando o filme deveria estar nos levando à beira de nossos assentos, ele nos deixa simplesmente esperando por algo que nunca vem. A transição do drama familiar para o horror é abrupta e mal executada, fazendo com que o filme pareça desconectado e confuso. E então chegamos ao final, onde as coisas realmente desandam.

Atenção: a partir daqui há spoilers do final do filme.

Após uma sequência de exorcismo clássica – com direito a água benta, crianças traumatizadas e Glenn Close dizendo coisas que você nunca imaginaria ouvir – o filme chega ao seu clímax. Ebony enfrenta o demônio que possui seu filho Andre, em uma batalha final que tenta ser tanto emocional quanto assustadora, mas que acaba sendo mais ridícula do que qualquer outra coisa.

O demônio, em uma tentativa desesperada de manipular Ebony, transforma-se em uma versão dela mesma, sugerindo que todos os problemas da família são culpa dela. Essa jogada psicológica poderia ter sido interessante se fosse melhor explorada, mas acaba parecendo apenas uma tentativa barata de adicionar profundidade a uma narrativa que já estava perdida. No fim, Ebony consegue exorcizar o demônio, em uma cena que, ao invés de ser triunfante, soa apenas como o fim de uma longa e cansativa jornada – tanto para a personagem quanto para o espectador.

Após a vitória de Ebony, o filme ainda tenta nos convencer de um final agridoce. Ebony, agora marcada física e emocionalmente pelos eventos, perde a guarda dos filhos e decide se mudar para a Filadélfia, na esperança de um novo começo. Seis meses depois, a vemos reunida com os filhos, tentando reconstruir a vida. É um final que tenta ser redentor, mas que, depois de tudo o que passamos ao longo do filme, não consegue causar o impacto necessário.

Tentativa frustrada

Em termos de direção, é louvável que Lee Daniels tenha tentado explorar um gênero que foge ao seu habitual. Ele conseguiu montar um elenco talentoso e oferecer uma premissa que, no papel, parecia promissora. No entanto, a execução deixa muito a desejar. O roteiro é fraco e não faz jus ao elenco que tem em mãos, desperdiçando talentos em um filme que, no final das contas, é genérico e sem vida. O que poderia ter sido um olhar fresco e inovador sobre o terror acaba sendo apenas mais um filme de exorcismo para se esquecer.

É importante mencionar que, embora o filme falhe em muitos aspectos, a tentativa de Daniels de trazer um elenco majoritariamente negro para um gênero onde a representatividade ainda é limitada merece reconhecimento. A diversidade no elenco é um dos poucos pontos realmente positivos de “A Libertação”, e esperamos que isso inspire mais diretores a fazer o mesmo em futuros projetos.

Em resumo, “A Libertação” é um filme que teve muito potencial, mas que, infelizmente, se perde em uma execução pobre. O talento do elenco não é suficiente para salvar um roteiro fraco e uma direção que não consegue equilibrar os tons que deseja explorar. Se você está em busca de um filme de terror realmente assustador e inovador, é melhor procurar em outro lugar.

Mas, se você quiser ver algumas performances sólidas presas em um filme mediano, talvez “A Libertação” seja para você. Só não espere ficar acordado à noite pensando nele – a menos que você esteja frustrado por ter perdido tempo assistindo.

https://www.youtube.com/watch?v=MOfVCJ3E8l4
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