Caso Eliza Samúdio ganha filme na Netflix

O documentário A Vitima Invisível: O Caso Eliza Samúdio, lançado pela Netflix nesta semana, apresenta de maneira impactante a trágica história de Eliza Samúdio, uma jovem que foi brutalmente assassinada a mando de Bruno Fernandes, então goleiro do Flamengo, em 2010. Com direção de Juliana Antunes, o filme não apenas remonta os detalhes do crime que chocou o Brasil, mas também lança luz sobre a invisibilidade e o abandono que Eliza enfrentou antes de seu trágico fim.

Desde o início, o documentário deixa claro que Eliza, ainda em vida, foi vítima de um sistema que falhou em protegê-la. Seus pedidos de socorro, as denúncias de ameaças e a tentativa de obter medidas protetivas foram ignorados, e o desfecho dessa negligência é dolorosamente retratado. Ao mesmo tempo, o filme aborda a imagem distorcida que foi criada sobre Eliza na mídia e na sociedade, onde ela foi cruelmente rotulada, o que agravou ainda mais o isolamento e a falta de apoio que ela vivia.

A grande força do documentário está na capacidade de mostrar a voz de Eliza em momentos íntimos, através de conversas inéditas que revelam seus sonhos e desejos. Ela queria concluir os estudos, criar seu filho, fruto do relacionamento com Bruno, e ter uma vida tranquila, longe das ameaças que enfrentava. Em um trecho comovente, Eliza confidencia a um amigo o desejo de “viver sem medo” e de cuidar do filho sem depender de Bruno. Essas falas reforçam o título A Vítima Invisível, destacando o quanto a jovem foi esquecida e desamparada, mesmo sendo a protagonista dessa história trágica.

Falha em ajudar as vítimas da violência

Ao reconstituir os últimos momentos de vida de Eliza, o documentário expõe o cinismo e a frieza de Bruno. Ele manipulou a jovem com promessas de harmonia e sustento para o filho. A série de eventos que culminou em seu desaparecimento e subsequente assassinato é narrada com clareza, acompanhada de depoimentos de delegados, peritos e promotores envolvidos no caso. Esse cuidado com a apresentação dos fatos dá ao documentário um tom investigativo que prende a atenção do espectador. Ao mesmo tempo, choca pela brutalidade dos acontecimentos.

Além de oferecer um retrato detalhado do crime, A Vítima Invisível também destaca o impacto do machismo estrutural no Brasil. O filme acaba evidenciando como mulheres em situações vulneráveis, como Eliza, são muitas vezes desacreditadas e deixadas à própria sorte. A história de Eliza ilustra de forma clara como a sociedade, ao rotulá-la e julgar suas ações, contribuiu para sua marginalização e, em última instância, para o desfecho trágico que sua vida tomou.

Um dos méritos do documentário é a maneira com que explora a falha sistêmica na proteção de vítimas de violência. Eliza tentou alertar as autoridades sobre as ameaças que vinha sofrendo, mas foi ignorada. Este descaso institucional, que infelizmente é uma realidade para tantas mulheres no Brasil, ecoa ao longo da narrativa. Isso termina deixando uma sensação de revolta e impotência. O filme, ao expor esses fatos, convida o público a refletir sobre o papel da Justiça e da sociedade na proteção de mulheres que vivem sob ameaça.

Foco nos fatos

Outro ponto importante é a participação de Dayanne Rodrigues, ex-mulher de Bruno. A inclusão de seu depoimento no documentário adiciona camadas de complexidade à narrativa, mostrando como o poder e a manipulação de Bruno não se limitavam apenas a Eliza, mas também influenciavam as pessoas ao seu redor.

Com uma duração de 1h41, A Vítima Invisível: O Caso Eliza Samúdio consegue manter um ritmo envolvente, sem se perder em detalhes desnecessários. O foco nos fatos, combinado com uma montagem cuidadosa, proporciona uma experiência intensa, porém respeitosa. Juliana Antunes constrói uma narrativa que, embora dolorosa, é necessária para que se entenda a profundidade da injustiça que envolveu o caso de Eliza.

Por fim, o documentário não busca apenas relatar um crime bárbaro, mas também honrar a memória de Eliza, uma mulher que foi silenciada em vida e injustamente apagada no decorrer da investigação. O título A Vítima Invisível é um lembrete de que, por trás dos julgamentos e preconceitos, havia uma jovem com sonhos e ambições, cuja vida foi cruelmente interrompida.

Eliza Samúdio não foi apenas uma vítima de assassinato; foi uma vítima do sistema, da sociedade e de uma justiça que chegou tarde demais.

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