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Crítica | Aniquilação 2: A Conquista – A Definitiva Saga Cósmica da Marvel

Apesar de seu nome mais que sugestivo, Aniquilação 2 é uma história essencialmente diferente da saga que a antecedeu. Digo isso não somente pela diferente ameaça dessa vez enfrentada, como pelo tom de sua narrativa, que, em diversos pontos, soa ainda mais sombria que a guerra travada pelo Aniquilador. Dentre todas as diferenças, contudo, ainda achamos inúmeros pontos em comum, começando pelos personagens centrais: Phylla-Vell (Quasar), Senhor das Estrelas e Nova, além de Ronan, Drax e Serpente da Lua que também retornam nesta nova odisseia cósmica.

Desta vez a galáxia, mais especificamente o espaço controlado pelos Kree, enfrentam um inimigo conhecido como Falange, que rapidamente conquistou todo o império das criaturas azuladas através de um vírus que afeta tanto o orgânico quanto o tecnológico, ganhando controle sobre eles. Se criarmos um paralelo com Doctor Who, poderíamos dizer que o Aniquilador e sua sede por destruição seria os Daleks enquanto a Falange, visando aprimorar a vida orgânica (através de uma escravidão disfarçada) seria os Cybermen. Dentro dessa diferença primordial entre as duas ameaças, podemos encontrar o que já era óbvio desde o início da história nessa segunda: a transformação de aliados em inimigos. Através do controle mental exercido, passamos a ter personagens de destaque tornados antagonistas, criando uma nova dinâmica dentro da história (por mais que muitos deles já tenham lutado entre si anteriormente).

Ao dominar o espaço Kree, este novo inimigo criou uma bolha em volta da galáxia, isolando-a das demais. Com isso, temos uma outra característica que se distância da saga anterior. Enquanto em Aniquilação contávamos com diversos teatros de guerra sendo abertos ao redor do universo, envolvendo desde o Surfista Prateado até Ronan, agora temos diversas operações singulares, como esforços de uma força rebelde, lutando contra um sistema ditatorial. Há uma maior sensação de solidão por parte dos personagens que se traduz na ignorância de cada um sobre a existência de outros combatentes fora dos domínios do vírus.

A divisão da história, portanto, se dá em seis revistas distintas: Prólogo, Senhor das Estrelas, Quasar, Nova, Wraith e Aniquilação: A Conquista. Todas adotam um visual mais realista que transmitem uma sensação de estarmos, efetivamente, lendo diferentes faces da mesma história. A exceção permanece em Senhor das Estrelas, com suas cores mais vivas e traçado mais caricato, lembrando o que vemos em games que utilizam o cell-shading. Tal fator, que poderia claramente dar uma desvantagem para essa subtrama, porém, somente a eleva. A aventura de Peter Quill pelos territórios dominados dos Kree é um dos evidentes pontos altos de toda a narrativa, com um humor bastante característico que faz completo uso de sua equipe nada convencional. É aqui que podemos ter um vislumbre dos vindouros Guardiões da Galáxia, afinal, já temos a presença de Quill, Rocket Raccoon e Groot no mesmo lugar e acreditem: nada supera a visão de um guaxinim portando armas pesadas. O roteirista Keith Giffen (responsável pela saga anterior) sabe disso, fazendo bom uso das situações inusitadas para tirar inúmeras risadas do leitor. Neste ponto, o traço de Timothy Green novamente faz justiça à história, criando uma expressividade notável em cada personagem.

Seria uma injustiça, contudo, dar relevância ao trabalho da arte em Senhor das Estrelas e sequer comentar as páginas de Quasar, que se destacam pela criatividade de cada quadro. Não se trata dos clássicos quadrinhos divididos perfeitamente em quadrados ou retângulos. Aqui, o desenho de um extrapola para o outro, aumentando ainda mais a dinâmica da narrativa que deixa de seguir o clássico por instantes, priorizando o visual sobre a facilidade da compreensão. Por vezes, tal estética atrapalha a leitura, mas, se pararmos para observar a página como um todo iremos nos perceber contemplando o cuidadoso trabalho de Mike Lilly. Tal contemplação também se estende para as capas de Aleksi Briclot, que sabe utilizar cada sombreado para garantir o tom já explorado dentro da revista em si.

Seja na arte mais caricata, seja na realista, o caráter sombrio da história, citado anteriormente, não se mantém ausente por muito tempo. Somos constantemente lembrados disso através das muitas mortes que presenciamos nas páginas da saga e não me refiro somente a personagens secundários. Espere alguns de maior importância dando seus últimos suspiros aqui. O mais chocante, contudo, não é a taxa de mortalidade e sim a forma como cada uma é retratada – enquanto em um quadro tudo está correndo suavemente, no outro temos uma violência brusca e chocante para o leitor.

A fragmentação da trama geral, enfim, é unificada na ultima revista, Aniquilação: A Conquista #6, que traz os distintos personagens ao mesmo lugar, garantindo um encerramento inesquecível e criativo, que não peca por dar mais relevância para determinado herói. Vale ressaltar também a boa dose de revelações chocantes presentes durante toda a saga, em especial nestas edições finais, que tiram o fôlego não só do leitor como dos personagens em si. Através destas, a ameaça da Falange, aos poucos, se torna mais palpável que a de Aniquilador jamais fora, nos tirando o pouco de esperança que contávamos desde o início da obra.

Seguindo um ótimo ritmo aliado a personagens marcantes e um roteiro bem conduzido, Aniquilação 2: A Conquista traz os mesmos elementos que gostamos na saga cósmica anterior. São, porém, suas inúmeras diferenças que nos prendem a cada virada de página, tornando esta uma leitura bem mais fluida. Novamente, vemos roteiros que não perdem tempo com personagens desnecessários, sabendo onde e quando inserir cada plot twist e onde, perfeitamente, encerrar sua trama. Seja por guaxinins falantes, seja pelos poderes cósmicos, esta é uma saga que agradará a qualquer leitor, trazendo já um vislumbre dos Guardiões da Galáxia.

Aniquilação 2: A Conquista (Annihilation: Conquest, EUA, 2007-2008)

Roteiro: Dan Abnett e Andy Lanning (Prólogo, Nova, Aniquilação 2: A Conquista), Keith Giffen (Senhor das Estrelas), Christos N. Gage (Quasar), Javier Grillo (Wraith)
Arte: Mike Perkins (Prólogo), Timothy Green II (Senhor das Estrelas), Mike Lilly (Quasar), Sean Chen e Scott Hanna (Nova), Kyle Hotz (Wraith), Tom Raney e Wellinton Alves (Aniquilação 2: A Conquista)
Editora: Marvel Comics.
Editora no Brasil: Panini Comics

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Publicado por Guilherme Coral

Refugiado de uma galáxia muito muito distante, caí neste planeta do setor 2814 por engano. Fui levado, graças à paixão por filmes ao ramo do Cinema e Audiovisual, onde atualmente me aventuro. Mas minha louca obsessão pelo entretenimento desta Terra não se limita à tela grande - literatura, séries, games são todos partes imprescindíveis do itinerário dessa longa viagem.

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