Crítica | Anna Karenina (2012) – Um novo conceito de teatro filmado

Joe Wright leva o clássico de Tolstói aos palcos e às telas.

Um clássico literário sempre apresenta dificuldades em ser adaptado para o cinema. A ambição de alcançar um resultado favorável (ou alguns dólares a mais) muitas vezes leva a múltiplas versões da mesma história, como foi o caso da tragédia de Anna Karenina. Mas ao contrário das outras adaptações que a obra de Leo Tolstói já recebeu (e foram muitas), o diretor Joe Wright resolve quebrar o convencional e proporcionar uma criativa abordagem; mas infelizmente a estética se sobressai à narrativa.

Adaptado por Tom Stoppard, o texto nos leva à Rússia Imperial do século XVII, onde conhecemos diversos personagens envolvidos em diferentes situações da alta classe da sociedade. No núcleo delas, está Anna Karenina (Keira Knightley), esposa do influente e poderoso Alexei Karenin (Jude Law, quase irreconhecível), que acaba por arriscar toda a sua posição social e dignidade ao se envolver amorosamente com o sedutor conde Vronksy (Aaron Taylor-Johnson, o Kick-Ass).

Não li o livro de Tolstói (que é considerado um dos melhores trabalhos de literatura de todos os tempos), mas confesso que não fui cativado totalmente por sua história. O excesso de narrativas e personagens é capaz de confundir o espectador (notem que há dois personagens importantíssimos que compartilham do mesmo nome) e estende a duração além do necessário. Por exemplo, não acho interessante acompanhar a trama secundária sobre o Levin de Domnhall Gleeson (um dos irmãos Weasley, de Harry Potter), que mesmo servindo como uma antítese da queda da protagonista, empalidece diante de elementos superiores.

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Estes não narrativos, já que o roteiro de Stoppard é falho em nos criar envolvimento com as personagens, enchendo o longa de diálogos expositivos (frases do tipo “Mas que homem bom!” ou “Seu marido é um santo!” servem apenas para martelar características que já haviam sido estabelecidas anteriormente), mas sim na técnica que Joe Wright propôs. Levando a ideia de que as relações na alta classe “não passam de encenação”, o diretor apresenta as ações de Anna Karenina desenrolando-se em um palco de teatro: começamos até com uma cortina e muitos dos cenários vão alternando-se manualmente, necessitando até de “ajudantes” para montá-los em diferentes transições de cena. O momento em que dois personagens saem de um escritório para ir jantar é particularmente inspirado, merecendo aplausos por sua eficaz velocidade e as trocas de vestimentas realizadas pelos figurantes (que de operários, transformam-se em garçons) e reconhecimento ao impecável design de produção de Sarah Greenwood.

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E Wright não se limita apenas a artifícios teatrais, oferecendo também diversas mise-em-scènes que contribuem de forma eficiente (e com muita exuberância) à história. Um baile onde todos os convidados encontram-se repentinamente congelados no tempo a fim de destacar a dança de Anna e Vrosnky (e o impacto que esta ação causa) e os pedaços de um bilhete rasgado que vão se transformando em uma nevasca são algumas de minhas preferidas. Há também recorrentes indícios que ajudam a antecipar o desfecho da trama, que terá uma locomotiva como peça fundamental, manifestando-se de forma brilhante através de cortes rápidos e os inspirados acordes musicais de Dario Marianelli – que entrega aqui um de seus melhores trabalhos até então.

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Com um elenco competente e bem entrosado (onde Keira Knightley mostra novamente que só deveria fazer filmes de época), Anna Karenina é um estimulante exercício técnico, mas falho ao apresentar e desenvolver sua história. Mas que fique aí a admirável intenção do diretor Joe Wright: abordagens radicais para obras clássicas.

Anna Karenina (EUA/Inglaterra – 2012)

Direção: Joe Wright
Roteiro: Tom Stoppard, baseado na obra de Léo Tolstói
Elenco: Keira Knightley, Aaron Taylor-Johnson, Jude Law, Domnhall Gleeson, Kelly Macdonald, Alicia Vikander, Alexandra Roach, Emily Watson, Matthew Mcfadyen, Cara Delevingne, David Wilmot
Gênero: Drama
Duração: 129 min

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Sobre o autor

Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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