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Crítica | Assim Como no Céu – Mensagens das profundezas

A premonição pode ser de grande ajuda para aqueles que a interpretam corretamente. No filme Assim Como No Céu, presente na 45 ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, tudo caminha em direção a um pressentimento.

Sabe aquela sensação de prever os acontecimentos do filme por conta de uma fala ou cena? Aqui a trama mergulha nesses momentos, mas consegue muito bem conduzir a história sem fazer suas consequências parecerem gratuitas. A trama acompanha Lise, uma jovem de 14 anos e a mais velha dentre as irmãs. Ela tem um pesadelo estranho na manhã em que sua mãe está em trabalho de parto, levantando medos desconhecidos para a garota.

Baseado no livro En Dødsnat de Marie Bregendahl, de 1912, o filme faz uma escolha acertada em não apelar para o tom frio do século 19, muitas vezes escolhido pelos cineastas que trabalham com essa época. Há uma coisa natural em cada aspecto da narrativa, e até partindo de um ponto de vista jovem as coisas ganham outra proporção. Talvez a nova versão de Adoráveis Mulheres tenha sido um facilitador para filmes como esse, e espero que venham mais.

A diretora Tea Lindeburg traz uma energia para o filme usando expectativa como uma ferramenta. A trama toda se passa no mesmo dia, com Lise fazendo suas tarefas, interagindo com as irmãs e até se conhecendo sexualmente. Lindeburg inclui três momentos de masculinidade, onde cada um contribui para a construção da personagem.

Por se tratar do século 19, a pouca idade da protagonista não poderia significar alguém sem maturidade. Flora Ofelia Hofmann Lindahl, que interpreta Lise, compreendeu isso muito bem. A atriz sabe encontrar o equilíbrio do lado criança, que sempre está com disposição para suas tarefas, como também a seriedade para absorver todos os acontecimentos naquele dia. Há uma crítica da família com a personagem, pois é a única mulher escolarizada, com próprio pai não aceitando isso. O resultado foi o de Lindahl levando o prêmio de melhor atriz no Festival de San Sebastián, com apenas 16 anos.

Com muitos momentos de tensão, o filme acaba se tornando uma bomba relógio. Não havia a necessidade de utilizar o mesmo padrão de exposição para fazer a história andar. Lindeburg acha uma saída fácil para não precisar criar muitos acontecimentos no mesmo dia. Seria interessante – e até existem verticais na trama para isso – ver Lise em mais situações que definissem seu caráter.

Assim Como no Céu é um filme que prende atenção, mas que acaba se esquecendo da metade para o final do próprio recurso visual que criou, caindo no território comum de um belo e eficaz filme sobre juventude e responsabilidade.

Assim Como no Céu (Du Som Er I Himlen, Dinamarca – 2021)

Direção: Tea Lindeburg
Roteiro: Tea Lindeburg, baseado na obra de Marie Bregendahl
Elenco: Flora Ofelia Hofmann Lindahl, Ida Cæcilie Rasmussen, Flora Augusta, Palma Lindeburg Leth
Gênero: Drama
Duração: 85 min

Acompanhe mais da nossa cobertura da 45ª Mostra Internacional de São Paulo

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Publicado por Herbert Santos

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