A pobreza criativa de Hollywood não se limita a remakes e reboots, mas também se estende às cinebiografias vazias que pouco contribuem para contar as histórias de grandes façanhas esportivas, de políticos que marcaram época ou de astros da cultura pop. Back to Black é um desses filmes, que narra muito mal a vida de Amy Winehouse.

Lançado em 2006, o álbum Back to Black rapidamente se tornou um enorme sucesso de público e crítica, alçando a carreira da cantora, que recebeu vários prêmios Grammy por sua performance. O longa retrata momentos importantes da carreira de Amy, tanto os maus quanto os bons.

A produção erra mais do que acerta, e isso fica claro ao apresentar de forma fragmentada como os vícios e obsessões da cantora a prejudicaram e a levaram ao fundo do poço, mas sem o aprofundamento que a trama demandava. Parece até uma versão malfeita de Bohemian Rhapsody (2018), e vale lembrar que a cinebiografia de Freddie Mercury também possui vários erros narrativos.

O vício de Amy em crack e os diversos abusos de álcool são retratados na trama, lembrando o que a cinebiografia de Elton John, Rocketman (2019), mostrou. No entanto, o problema está na forma como essas situações são apresentadas. Há cortes temporais rápidos que engolem fatos importantes de sua vida. Não fica claro quando ela se envolveu com drogas; é mostrado apenas que seu namorado Blake a apresentou aos pesados entorpecentes e depois já surge usando a droga.

O roteiro de Matt Greenhalgh é problemático em vários aspectos. Ele perde a oportunidade de explorar a fundo a cultura londrina e seu bairro Camden Town, que influenciaram o estilo musical de Amy, assim como também falha em desenvolver adequadamente a relação da cantora com seu pai e, principalmente, sua relação com Blake.

A diretora Sam Taylor-Johnson retrata a relação com Blake como problemática, mas pelo que dá a entender no filme, essa complicação é mais culpa da cantora do que de Blake, o que, segundo relatos da época, é um enorme equívoco. Sam quis dar uma visão diferente para a conturbada história de amor entre Amy e Blake e, ao fazer isso, transformou o amor da cantora em uma obsessão que lembra a stalker Martha de Bebê Rena.

O próprio elenco tem altos e baixos. Enquanto Marisa Abela interpreta uma Amy Winehouse caricata, preocupando-se mais em reproduzir os trejeitos e a voz da artista do que em atuar, Jack O’Connell entrega uma performance digna como um Blake malandro, apesar de seu caminho ser mal definido pelo roteiro. Seu arco chama muito mais a atenção dentro da relação caótica do que as cenas dramáticas de Amy.

Back to Black tinha todos os elementos para ser uma excelente cinebiografia, dada a riqueza do material a ser explorado. Desde a ascensão de Amy até seu desenvolvimento como cantora e, subsequentemente, sua trágica queda, culminando em sua morte em 2011 por abuso de álcool. Entretanto, o filme não conseguiu transmitir emoção ao público, nem mesmo nas cenas em que a artista abusa de drogas nem em seu desfecho fatal. Essa falta de conexão entre o filme e o público é precisamente o que uma cinebiografia de Amy Winehouse não deveria ter, algo que é bem triste.

Back to Black (idem, EUA – 2024)

Direção: Sam Taylor-Johnson
Roteiro: Matt Greenhalgh
Elenco: Marisa Abela, Eddie Marsan, Jack O’Connell, Lesley Manville, Juliet Cowan, Sam Buchanan, Pete Lee-Wilson
Gênero: Biografia, Drama, Musical
Duração: 122 min

Mostrar menosContinuar lendo

Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

Mais posts deste autor