Não é de hoje que a Netflix vem melhorando o nível de suas produções, tanto séries quanto filmes. Às vezes há escorregões, como na fraca aventura fantasiosa The Witcher, mas quando se trata de dramas, o padrão é de outro nível. Produções como Inacreditável (2019) e agora a impactante Bebê Rena são grandes demonstrações de onde o serviço de streaming pode chegar.
A minissérie da Netflix foi adaptada da peça de Richard Gadd, que surpreendeu tanto o público quanto a crítica com sua narrativa realista e seu roteiro que beira o surreal. Gadd adaptou algo que aconteceu em sua vida, o que o traumatizou profundamente, transformando essa experiência em Baby Reindeer (nome original).
A história narra a traumática experiência que Gadd teve ao ser perseguido implacavelmente por uma mulher chamada Martha. O primeiro encontro entre os dois foi em um pub onde o ator trabalhava na época. A partir do momento em que ele se mostrou educado, ela passou a enviar mensagens para seu e-mail noite após noite, e a situação piorou quando ela começou a persegui-lo e após descobrir o número de seu telefone e passar a atormentá-lo.
A história de uma Stalker
Nos dois primeiros episódios da minissérie, parece que será apenas mais uma obra sobre uma stalker que persegue Donny Dunn (personagem interpretado por Gadd), tornando a vida do homem um inferno. Diferente de You, em que o stalker é apresentado como um cara legal e de bom coração para depois matar suas vítimas de forma cruel, em Bebê Rena, a perseguidora é apresentada desde o início como uma stalker obsessiva, não se escondendo a real natureza de Martha em nenhum momento.
A rápida evolução do roteiro transforma um simples gesto de simpatia de Gadd em um caso de assédio, no qual Donny, um homem com uma vida repleta de traumas e que em alguns momentos parece ser passivo ao ato praticado por Martha, faz com que a trama mude rapidamente de um drama inicial para uma enorme e pesada história de terror.
O jeito que Richard Gadd escolheu para contar a história funciona muito bem, mostrando os eventos que transformaram a vida de Donny em um caos e mesclando com as frases reais de Martha, enviadas sucessivamente para seu endereço eletrônico. A frase “enviado do meu iPhone” quase se tornou um slogan dos episódios e rapidamente se fixou na mente dos espectadores.
A partir do momento em que Martha vai se tornando cada vez mais obsessiva e violenta, e Donny desenvolve um instinto autodestrutivo, uma atmosfera sombria é criada, levando a trama para um caminho que se assemelha mais a um filme de terror do que a um drama. Muito provavelmente, esse foi um dos fatores que fizeram da minissérie o sucesso que ela se tornou.
Donny tenta ser um comediante a qualquer preço, desenvolvendo uma certa obsessão pela fama e fazendo qualquer coisa para alcançá-la. Ele utiliza objetos sem vida em suas fracassadas apresentações, até que encontra em Martha uma espécie de válvula de escape para seus shows.
Martha é uma verdadeira contramão ao que o comediante quer para sua vida, interpretada de maneira magnífica por Jessica Gunning. Ela expressa de forma convincente e intimidadora uma mulher que também busca algo de maneira obsessiva, mostrando-se o elemento certo para a história. Sem ela, a produção não seria a mesma.
Nesse conto cruel e realista em que o sucesso a qualquer preço é o tema central, o resultado final é o que menos importa. Se Donny ficou famoso ou não é irrelevante. O que o espectador realmente quer saber é como Donny lidou com aquela situação e quais foram os desdobramentos para sua vida. A minissérie é para maiores de 18 anos e, por motivos óbvios, é necessário que o público esteja preparado para o show perturbador que virá pela frente.
Bebê Rena (Baby Reindeer, UK – 2024)
Showrunner: Richard Gadd
Direção: Weronika Tofilska, Josephine Bornebusch
Elenco: Richard Gadd, Jessica Gunning, Nava Mau, Michael Wildman, Danny Kirrane, Nina Sosanya, Shalom Brune-Franklin, Tom Goodman-Hill
Episódios: 7
Duração: aprox. 30 min. cada episódio