O Clube dos Vândalos é um daqueles filmes que quanto menos você sabe sobre ele melhor e mais surpreendente é a experiência. Dirigido com ousadia pelo diretor e roteirista Jeff Nichols, que criou uma obra para se elogiar e dizer, porque não, que é um dos seus melhores trabalhos desde O Abrigo (2011).
Adaptado do livro de fotografia homônimo de Danny Lyon (The Bikeriders), o filme apresenta a história de maneira ficcional, mantendo apenas os personagens reais. A trama é apresentada em duas épocas: em uma delas mais atual, Kathy (Jodie Comer) é entrevistada por Danny (Mike Faist), que está curioso para saber o que ocorreu com o grupo após seu fim; e em outra, o clube e suas aventuras com as motos são mostrados.
Entre bebedeiras, brigas e rodas de conversa, Benny se destaca na trama. Interpretado por Austin Butler, é um homem de olhar sereno e poucas palavras, sempre pronto para a ação, dividido entre seu amor pelo grupo e por sua esposa Kathy, que é sem dúvida o grande nome da história, funcionando como narradora, que tem outros dois pontos altos: o próprio Butler e Tom Hardy, interpretando Johnny.
Aventura sobre rodas
Não há nada mais americano do que pegar a estrada montado em uma moto clássica e estilosa. No longa, os motoqueiros do grupo dos Vândalos são apresentados como homens que buscam um estilo de vida próprio, colocando as motos em primeiro lugar em suas vidas, muitas vezes à frente das próprias famílias.
Jeff Nichols romantiza a trama em seu primeiro ato, de forma proposital apresentando os motoqueiros em ação, e depois parte para o drama no segundo ato, dando um toque de realidade ao desenvolver os personagens, suas paixões e histórias de vida.
A virada que o roteiro dá no terceiro ato tem uma sutileza que lembra o que o cineasta fez em Loving: Uma História de Amor (2016). O longa faz com que o espectador queira ainda mais acompanhar a jornada desses homens que, no início, tinham o ideal de viver uma aventura sobre rodas. No entanto, a partir do momento em que Johnny permite a abertura de franquias do clube em outras cidades, ocorre um declínio óbvio, causado pela popularização do grupo.
Com a entrada de novos membros no clube que não compartilhavam os ideais de camaradagem, mas estavam ali apenas para praticar crimes e causar confusão, a situação desboca em pura violência, transformando os Vândalos em uma gangue envolvida em assassinatos e tráfico. Esse trecho especificamente, que ocorre no fim do terceiro ato com sendo mostrada rapidamente, não possui muita profundidade nem foco, algo proposital por parte de Nichols, que não queria tirar o ar dramático e pessoal da trama. Sua intenção não era contar uma história de violência, mas sim transmitir uma mensagem diferente.
Por se passar nos anos 1960, uma época em que a contracultura ganhava força e desafiava a cultura vigente, esse movimento se reflete na trama, principalmente em personagens como Benny (Michael Shannon) e Funny Sonny (Norman Reedus). Não por acaso, filmes como Taxi Driver e Easy Rider são mencionados em falas de alguns personagens, pois eram produções que dialogavam com o sentimento daquela época.
O Clube dos Vândalos conta com um elenco repleto de grandes nomes, onde a maioria se destaca em seus papéis. Quanto aos personagens, até mesmo os secundários têm suas funções bem definidas e são lembrados por alguma passagem interessante sobre suas vidas. É um dos grandes filmes do ano até o momento e uma adaptação quase que impecável.
Clube dos Vândalos (The Bikeriders, EUA – 2024)
Direção: Jeff Nichols
Roteiro: Jeff Nichols
Elenco: Jodie Comer, Austin Butler, Tom Hardy, Michael Shannon, Mike Faist, Boyd Holbrook, Norman Reedus, Damon Herriman, Beau Knapp, Emory Cohen, Karl Glusman, Toby Wallace, Happy Anderson, Paul Sparks
Gênero: Policial, Drama
Duração: 116 min.