Dizer que Conclave é um filme religioso não é um erro, mas ele não trata exclusivamente da Igreja Católica. O foco está no processo de votação para a escolha de um novo Papa e nas maquinações construídas nos bastidores para que um candidato seja escolhido.

Ou seja, Conclave aborda em sua trama mais a questão política do que propriamente a religiosa, e percebe-se isso quando o Cardeal Lawrence (interpretado de forma magistral por Ralph Fiennes) começa a conversar sobre a sucessão com o Cardeal Bellini (Stanley Tucci), que é o favorito para ser o próximo pontífice.

Alguns irão chamar o longa de progressista por apresentar personagens que buscam transformar a Igreja por meio de questões sociais e econômicas que vão além das práticas atuais. Essas questões estão, de fato, inseridas no roteiro adaptado de forma inteligente por Peter Straughan, a partir do livro homônimo de Robert Harris.

Para filmar esta história de ambição e poder, nada melhor do que um diretor que goste de tramas desse gênero. Desta forma, Edward Berger, vencedor do Oscar de Melhor Diretor em 2023 por Nada de Novo no Front, é uma escolha acertada.

Jogos de Intrigas

O roteiro apresenta diversas críticas à Igreja, retratando um ambiente onde os cardeais reunidos para a votação estão carregados de pecados e parecem ter esquecido seu verdadeiro papel na sociedade.

Os religiosos são mostrados fumando, preocupando-se mais em sentar à mesa para comer do que em rezar, entre outras “fraquezas” que reforçam ainda mais o tom crítico do filme.

Uma trama obscura sobre os bastidores da Igreja não poderia deixar de ter antagonistas — neste caso, figuras que parecem querer levar a instituição de volta ao passado, como o preconceituoso Tedesco.

As intrigas que surgem durante o período em que os cardeais estão confinados, bem como o próprio processo de votação, retratam uma Igreja composta por indivíduos movidos por ambições. O cardeal Lawrence, por exemplo, nunca declara explicitamente seu desejo de se tornar o próximo Papa, mas suas ações para desmascarar concorrentes deixam claro seu interesse pelo cargo.

Conclave não é apenas um filme sobre a sucessão papal. Ele possui múltiplas camadas, e a direção de Berger, em contraste com as imagens da Capela Sistina e o vermelho intenso das túnicas dos cardeais, cria grandes momentos. São esses pequenos detalhes que tornam essa história repleta de reviravoltas em um dos grandes filmes do ano.

Conclave (idem, EUA – 2024)
Direção: Edward Berger
Roteiro: Peter Straughan, adaptado do livro de Robert Harris
Elenco: Ralph Fiennes, Jacek Koman, Lucian Msamati, Stanley Tucci, John Lithgow, Isabella Rossellini, Sergio Castellitto, Carlos Diehz
Gênero: Drama, Thriller
Duração: 120 min.

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Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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