Imagine só, você descobre uma máquina do tempo, é transportado para o passado e se depara com a chance de salvar alguém querido que já se foi. Esse é o cenário que Corte no Tempo, filme que estreou na Netflix nesta quarta-feira (30), tenta explorar, mas a execução? Infelizmente, deixa muito a desejar.

A trama da Netflix começa com um ótimo ponto de partida: Lucy, uma adolescente dos dias atuais, volta a 2003, o ano em que sua irmã, Summer, foi assassinada. No entanto, o filme parece mais preocupado em nos inundar com referências dos anos 2000 do que em construir um suspense envolvente ou explorar o potencial da ficção científica. E o que poderia ser uma história eletrizante acaba se tornando uma viagem morna e sem propósito, onde o saudosismo é mal aproveitado e a tensão nunca realmente se materializa.

Primeiro, temos o desafio central de “Corte no Tempo”: equilibrar a nostalgia com o peso de um mistério sombrio. O problema é que, em vez de se aprofundar no suspense, a diretora Hannah Macpherson parece se encantar mais com as superficialidades da época, criando cenas repletas de referências da época que não passam de uma montagem de cenários para os saudosistas de plantão. Ao mesmo tempo, o filme acaba dando pouca atenção aos perigos reais que Lucy enfrenta, transformando o suspense em algo diluído e sem grande impacto.

Dezesseis Facadas é melhor

Outro ponto de decepção é a construção dos personagens. Lucy (Madison Bailey) e sua irmã Summer (Antonia Gentry) até carregam algumas cenas emocionais, mas o restante do elenco parece estar ali apenas para preencher espaço. Não há desenvolvimento significativo ou características que tragam profundidade a esses personagens.

E para piorar, o assassino mascarado que deveria ser o grande vilão da história surge como uma versão genérica de vilões que já vimos tantas vezes no cinema, sem trazer nada de novo ou aterrorizante. Até a estética da máscara, um elemento que poderia diferenciá-lo, parece ser uma cópia pouco inspirada de Dezesseis Facadas (Tottaly Killer, em inglês), outro filme que aborda uma premissa semelhante de viagem no tempo misturada com assassinatos. Isso, claro, não ajuda “Corte no Tempo” a se destacar.

Aliás, essa comparação com Dezesseis Facadas não é mera coincidência. A narrativa de Corte no Tempo, da Netflix, acaba se espelhando tanto em filmes similares que o público rapidamente percebe onde tudo vai dar. A ausência de um mistério bem trabalhado e de reviravoltas intrigantes deixa o filme previsível, quase como se já soubéssemos de antemão o que vai acontecer.

Ao tocar no conceito do efeito borboleta, a história tinha uma oportunidade de criar um dilema instigante para Lucy — afinal, qualquer mudança poderia alterar o curso da sua própria vida. Mas a trama ignora o potencial dramático disso, seguindo um caminho confortável, onde as decisões não parecem trazer grandes consequências para a protagonista ou para quem está ao redor dela. A sensação é de que a produção tentou simplificar a narrativa para ser “fácil de acompanhar”, mas acabou diluindo qualquer intensidade ou profundidade no processo.

Falta de intensidade

E no meio de tudo isso, o próprio cenário da cidadezinha onde Lucy vive e onde os eventos trágicos se desenrolam, Sweetly, Minnesota, nunca realmente ganha vida. O roteiro falha em criar uma atmosfera única ou um senso de comunidade que nos faria nos importar com os moradores.

Corte no Tempo, da Netflix, é slasher teen que não funciona;  - Foto: Netflix
Corte no Tempo, da Netflix, é slasher teen que não funciona; – Foto: Netflix

É uma cidade que parece existir apenas para que a história se desenrole, e não como um personagem em si, o que enfraquece ainda mais o sentimento de imersão. Os cenários são superficiais, com referências que poderiam ter sido melhor trabalhadas para criar uma atmosfera nostálgica, mas que acabam soando artificiais e forçadas, como se fossem apenas enfeites de uma época, em vez de elementos narrativos.

Outro aspecto que deixa a desejar é a suposta “intensidade” da trama. Quando se fala em filmes de suspense e terror, a expectativa é que haja um clima de tensão crescente e momentos de susto bem construídos. Mas aqui, as cenas de assassinato são tão leves e mal executadas que parecem ser parte de um drama adolescente mais do que de um suspense.

A opção de evitar mostrar a violência em tela, optando por cortes rápidos e cenas com pouquíssimo impacto visual, enfraquece o filme, deixando o espectador esperando por algo que nunca chega. A narrativa opta por um humor que destoa do tom esperado, com piadas sobre a ausência de redes sociais e os sons de modems discados, mas isso apenas reforça o distanciamento do suspense e cria uma experiência desconexa.

Vale a pena ver Corte no Tempo, da Netflix?

No final das contas, Corte no Tempo, da Netflix, acaba parecendo uma oportunidade desperdiçada. O filme tenta agradar a todos os públicos, mas não entrega o que promete em nenhum gênero específico. Fica num meio termo entre nostalgia e suspense, mas sem mergulhar fundo em nenhum dos dois.

O resultado é uma história que se esgota rápido, com personagens que se perdem no anonimato e um vilão que nunca ganha o peso que deveria. Para aqueles que esperam um filme intrigante e repleto de reviravoltas, “Corte no Tempo” será uma decepção.

Mostrar menosContinuar lendo