Desde que estreou em Stranger Things, série da Netflix, Millie Bobby Brown vem se destacando por suas atuações e ganhando espaço para estrelar novas produções, como seu papel na franquia Godzilla e em Enola Holmes. Em Donzela, dirigido por Juan Carlos Fresnadillo, a atriz se encontra em uma posição inédita em sua carreira: interpretando a personagem principal de um longa de ação em que está praticamente sozinha em cena em grande parte da história.
Donzela foi lançado em 8 de março, o Dia Internacional da Mulher, e não por acaso sua trama segue Elodie (Millie Bobby Brown), que é obrigada a se casar com o Príncipe Henry (Nick Robinson) por questões de tradição, arranjado por seu pai, Lord Bayford (Ray Winstone), e pela Rainha Isabelle (Robin Wright). A questão é que Elodie está sendo usada como uma espécie de peão em um jogo político, sem sequer estar ciente disso, pois é dada como uma espécie de oferenda para um Dragão, com quem o Reino tem um acordo de conceder às mulheres de sua linhagem real.
O roteiro de Dan Mazeau aborda a questão do tratamento dado às mulheres no passado, destacando como eram usadas como moeda de troca para selar acordos entre famílias e como não tinham a liberdade de escolher seus próprios pares amorosos. No entanto, onde o filme tinha potencial para se destacar, acaba falhando em seu principal propósito.
Ao abordar um tema tão relevante para a sociedade atual, o roteiro peca ao não aprofundar questões como feminicídio e machismo. Nenhum desses temas é verdadeiramente explorado na trama, tornando a narrativa vaga em relação a essas mensagens e, no fim das contas, não contribui significativamente em nada para o debate.
Em grande parte da trama, Elodie se encontra sozinha, lidando com os perigos que a cercam em uma caverna e tentando escapar da mãe Dragão que busca vingança. No entanto, essa interação solitária da protagonista é um grande problema, pois a personagem além de ser mal desenvolvida, não tem carisma suficiente a ponto de estabelecer uma conexão eficaz com o público e tornando a experiência de acompanhar sua jornada tediosa em muitos momentos da narrativa.
Se a intenção era criar uma produção de aventura ao estilo de Conan, o Bárbaro (1982), essa concepção foi por água abaixo, com o longa se resumindo a uma obra genérica de ação. Nele, Elodie foge praticamente o filme todo e, somente por alguns minutos, luta contra a Dragão em uma cena pessimamente coreografada. A cena não explica em nada como uma garota que nunca havia pegado em uma espada consegue vencer facilmente um Dragão secular.
Com cenários deslumbrantes e um visual impressionante, especialmente no que diz respeito ao CGI do Dragão e às paisagens, o filme falha na caracterização da personagem. Elodie é retratada como uma guerreira que luta vestindo apenas farrapos de um vestido, o que demonstra uma falta de criatividade na concepção do figurino da protagonista.
Donzela tinha tudo para ser um grande filme de ação com uma mensagem inteligente por trás do roteiro, mas que é esvaziado pela falta de originalidade de seu diretor, que não sabe direito qual caminho seguir, ou o da luta de Elodie pela sobrevivência e sua consequente busca por vingança ou a luta entre o bem e o mal. Sem dúvida, havia muito mais que o roteiro poderia ter explorado, mas infelizmente deixou passar várias oportunidades.
Donzela (Damsel, EUA – 2024)
Direção: Juan Carlos Fresnadillo
Roteiro: Dan Mazeau
Elenco: Millie Bobby Brown, Ray Winstone, Angela Bassett, Brooke Carter, Nick Robinson, Robin Wright, Milo Twomey
Gênero: Ação, Aventura, Fantasia
Duração: 110 min