Crítica | Drácula: A Última Viagem do Deméter perde o potencial

A gênese de Drácula: A Última Viagem do Deméter é inspirada e compreende suas ambições, limitando-se a apenas um capítulo do livro.

Publicado originalmente em 1897, Drácula, do autor Bram Stoker, lançou um dos maiores personagens da história da cultura pop. Séculos depois, o grande vampiro foi adaptado e interpretado das mais diferentes formas possíveis no cinema e na TV. Só em 2023, o Conde Drácula foi até imaginado como parte de um relacionamento tóxico, na comédia Renfield: Dando Sangue Pelo Chefe.

Ainda sob o selo da Universal Pictures, a criatura de Stoker ganha uma adaptação diferente com Drácula: A Última Viagem do Deméter, que opta por levar para as telas apenas um capítulo do livro de Stoker, que serve como epístola para uma passagem de eventos. Uma ideia absolutamente inspirada, mas que infelizmente só é aproveitada pela metade no filme de André Øvredal.

A trama acompanha o médico Clemens (Corey Hawkins), que se junta à tripulação do navio Deméter, programado para transportar uma carga valiosa da Romênia para Londres. Ao longo da viagem, mortes estranhas começam a acontecer na embarcação, e a tripulação descobre estar transportando o mortal vampiro Drácula (Javier Botet).

Com mais de 30 anos em desenvolvimento, a ideia de adaptar apenas um capítulo de Drácula é formidável. Não só oferece um escape interessante para uma passagem do livro que nunca foi especificada nos cinemas (sendo literalmente uma transição no filme de Francis Ford Coppola), mas também o potencial de um filme de terror claustrofóbico e ambientado em alto mar; com os realizadores comparando o projeto com Alien: O Oitavo Passageiro. A ideia também garante uma visão radicalmente diferente de Drácula, aqui inteiramente em sua forma bestial e monstruosa, bem representada pelo porte físico único do ator Javier Botet; cuja performance e caracterização miram bem mais em Max Schreck do que Bela Lugosi.

Durante a primeira metade, o cineasta André Øvredal compreende e aproveita seu grande potencial de terror. O Deméter é atmosférico e bem valorizado pelas sombras, e Øvredal é inteligente em constantemente enquadrar seus personagens em planos plongée opressores e em close, sempre dando a impressão de que a tripulação está sendo constantemente vigiada por uma força superior – sustentando a incômoda noção de que todos se tornarão vítimas em breve, algo que o assustador prólogo do longa deixa bem claro.

Infelizmente, A Última Viagem do Deméter se transforma em um filme completamente diferente a partir de sua segunda metade. O terror cautelosamente construído dá espaço a um projeto de ação e espetáculo CGI que simplesmente não empolga, descartando a presença física arrepiante de Botet por um Drácula borrachudo e voador, que parece mais adequado no Van Helsing de Stephen Sommers. E por mais habilidoso que seja com o terror, Øvredal não consegue tornar o espetáculo tão interessante, deixando suas batalhas e confrontos perdidos em uma fotografia escura e sem graça – culminando em um desfecho absurdo que ousa promover uma continuação, e não estou me referindo aos capítulos restantes de Bram Stoker.

A gênese de Drácula: A Última Viagem do Deméter é inspirada e compreende suas ambições, limitando-se a apenas um capítulo do livro. O resultado seria melhor se a produção estivesse na mesma página, apostando em uma duração menor e definitivamente um orçamento mais controlado.

Drácula: A Última Viagem do Deméter (The Last Voyage of the Demeter, EUA) – 2023

Direção: André Øvredal
Roteiro: Bragi Schut Jr. e Zak Olkewicz, baseado na obra de Bram Stoker
Elenco: Corey Hawkins, Liam Cunningham, Aisling Franciosi, David Dastmalchian, Woody Norman, Chris Walley, Jon Jon Briones, Stefan Kapicic, Javier Botet
Gênero: Terror
Duração: 118 min

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Sobre o autor

Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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