Com a crescente onda de adaptações de games para o cinema, era apenas uma questão de tempo até Hollywood tentar novamente com Dungeons & Dragons, o RPG de fantasia mais popular de todos os tempos. Mesmo baseando-se em uma premissa onde os personagens costumam ser criados pelos jogadores, há sempre a possibilidade de um universo medieval rico e diversificado para ser explorado, algo que a dupla Jonathan Goldstein e John Francis Daley faz com afinco em Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes.
A trama do filme é completamente ambientada em um universo de elementos do RPG, onde o time de ladrões Edgin (Chris Pine) e Holga (Michelle Rodriguez) precisa montar uma nova equipe de elementos fantásticos para se vingar do trapaceiro Forge (Hugh Grant), que lhes confiscou um objeto valioso, além da filha pequena de Edgin (Chloe Coleman).
Ainda que carregue a marca de Dungeons & Dragons no título, Honra Entre Rebeldes poderia ser ambientado em literalmente qualquer outro universo de fantasia. Confesso ser completamente desconhecido acerca da mitologia ou elementos do RPG, mas como um espectador leigo, soa como um universo simples e sem grandes elementos únicos – mas que com certeza devem ser melhor aproveitados por aqueles familiares com o material base. No sentido de construção de universo, simplesmente não há nada de inovador no roteiro assinado por Michael Gilio e a dupla de diretores em relação a magos, bruxas malignas e animais transformistas – apesar da ideia de um dragão morbidamente obeso ser genuinamente fascinante.
O que torna Honra Entre Rebeldes surpreendentemente aproveitável é sua leveza. O elenco formado por Pine, Rodriguez e os jovens Justice Smith e Sophia Lillis (o mago e a transformista, respectivamente) surge extremamente bem entrosado e carismático em cena; com o maior destaque indo para a personalidade mais radical e atrapalhada de Pine, praticamente oferecendo sua versão do Han Solo de Harrison Ford – mas com um toque musical inesperado. E praticamente confortável em sua posição como vilão fanfarrão após Esquema de Risco: Operação Fortuna e As Aventuras de Paddington 2, Hugh Grant também se diverte como o antagonista arrogante e excessivamente britânico da produção.
A outra grande surpresa deste novo Dungeons & Dragons está na direção mais do que eficiente de Daley e Goldstein. Já tendo flertado com jogos de tabuleiro na ótima comédia A Noite do Jogo, a dupla eleva os inexpressivos valores cenográficos (de design fraco até paleta de cores sem graça) através de sequências de ação extremamente bem coordenadas e elaboradas, com uma exploração engenhosa de diversos elementos mágicos (com destaque para um dispositivo capaz de criar portais) e também das habilidades de seus “jogadores”, com a personagem de Lillis protagonizando um fantástico plano sequência que envolve múltiplas transformações ao longo de uma épica fuga.
Mesmo que não seja uma grande inovação, há o suficiente em Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes para se divertir. Através de um elenco talentoso e uma direção particularmente inspirada, a Paramount Pictures pode ter encontrado uma sólida nova franquia.
Dungeons & Dragons: Honra Entre Rebeldes (Dungeons & Dragons: Honor Among Thieves, EUA – 2023)
Direção: Jonathan Goldstein e Jonathan Francis Daley
Roteiro: Michael Cillio, Jonathan Goldstein e Jonathan Francis Daley
Elenco: Chris Pine, Michelle Rodriguez, Regé-Jean Page, Justice Smith, Sophia Lillis, Hugh Grant, Chloe Coleman, Daisy Head
Gênero: Aventura
Duração: 134 min