Crítica | Guerra Civil – O declínio do Império americano

Guerra Civil é um bom filme no que se propõe a apresentar, que é violência brutal, destruição e muitos tiros.

“Todos os impérios caem”. No trailer e no material de divulgação de Guerra Civil, longa dirigido e roteirizado por Alex Garland, é possível ver essa frase aparecendo. Historicamente isso é verdade, todo império tem o seu auge e depois um declínio, o que muda apenas é a duração que esses impérios se mantém ao longo do tempo.

Esse não é o principal debate que Guerra Civil quer se envolver, na realidade não se sabe bem onde Alex Garland quer chegar, pois não há uma mensagem clara nem em relação ao quesito armamentista e nem político. O longa de Garland parece representar mais um conflito armado civil do que propriamente uma guerra civil e no meio desse conflito se encontra um grupo de fotógrafos de guerra, que terão de atravessar territórios hostis para chegar até a Casablanca, local onde o Presidente americano está isolado e correndo risco de ser deposto por um grupo que pretende tomar o poder.  

O grupo de fotógrafos da Reuters, liderado pela experiente Lee (Kirsten Dunst), seu parceiro Joel (Wagner Moura), o veterano Sammy (Stephen McKinley) e a novata Jessie (Cailee Spaeny), sendo que Jessie tem muito em comum com Lee quando jovem, uma garota aguerrida e determinada. No primeiro ato, ela mostra-se temerosa com a violência que testemunha, mas depois cresce e ganha coragem para se envolver mais no conflito a fim de capturar a foto perfeita. O roteiro acerta ao demonstrar o amadurecimento de Jessie, especialmente no último ato, enquanto Lee começa a enfrentar seus próprios traumas em meio a um banho de sangue.

Quanto ao conflito em si, em que o Texas e a Califórnia teriam se separado do país e iniciado uma rebelião, ao contar essa história do ponto de vista dos fotógrafos não é criada uma conexão entre personagens, os fatos brutais que estão ocorrendo e o espectador. Fica um sentimento de que há um vazio na trama, com os fotógrafos ficando inertes frente a toda aquela crueldade.

Ao decorrer do filme, fica claro que sua narrativa se inspirou nos eventos de 6 de janeiro de 2021, quando um grupo de conservadores invadiu o Capitólio. No entanto, esses eventos são apresentados de forma mais ampla, evoluindo para um conflito civil. Guerra Civil tenta refletir honestamente os acontecimentos de 2021, mas não o faz de maneira sincera e nem consegue fazer uma previsão do futuro.

As cenas de ação são bem coreografadas e violentas, mas não transmitem um verdadeiro clima de medo. A única cena que realmente causou tensão foi quando Jesse Plemons surge armado, sendo possível ver vários corpos de pessoas que foram assassinadas e ali estavam sendo enterradas em uma espécie de vala. O homem usando uma roupa militar faz uma pergunta que parece ser simples de ser respondida: de onde eles são. A partir daí é possível observar o surgimento do ódio manifestando-se em atos brutais.

Esse sentimento de ódio retratado no filme é algo que reflete não apenas o momento atual nos Estados Unidos, mas também o que é observado em grande parte do mundo, com o ódio sendo cada vez mais disseminado. No entanto, o que Garland apresenta em sua narrativa não passa de uma matança generalizada que não reflete de forma alguma a realidade.

O personagem de Wagner Moura, ator brasileiro que ganhou destaque ao interpretar o Capitão Nascimento em Tropa de Elite, é secundário, mas ainda assim se destaca em várias situações com seu carisma e talento. O mesmo se aplica a Cailee Spaeny, que já havia se destacado em Priscilla (2023) e volta a ter relevância e protagonismo como fotógrafa novata.

Guerra Civil é um bom filme no que se propõe a apresentar, que é violência brutal, destruição e muitos tiros. É bem filmado e roteirizado por Alex Garland, mas falha quando tenta ir além do que o roteiro se propõe. É uma obra satisfatória, mas que não causa o impacto que se espera.

Guerra Civil (Civil War, EUA – 2024)

Direção: Alex Garland
Roteiro: Alex Garland
Elenco: Kirsten Dunst, Wagner Moura, Cailee Spaeny, Nick Offerman, Jefferson White, Nelson Lee, Stephen McKinley, Jesse Plemons
Gênero: Ação, Suspense
Duração: 109 min

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Sobre o autor

Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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