Mike Mignola é o criador das histórias em quadrinhos e do personagem Hellboy, que foi adaptado para o cinema em duas ocasiões por Guillermo del Toro nos anos 2000. Entretanto, o herói endemoniado não recebeu novas oportunidades até 2019, quando uma nova versão dirigida por Neil Marshall foi lançada, mas que se mostrou uma bela perda de tempo.

Essas obras têm algo em comum: todas contaram com a produção de Mignola. O mesmo ocorre com uma quarta tentativa de transformar o personagem em um produto cultural rentável e popular no audiovisual, algo que não vem ocorrendo nos últimos anos. Hellboy e o Homem Torto consegue ser pior do que a versão de 2019 em todos os quesitos: roteiro, direção, fotografia e personagens ruins.

Não há uma justificativa plausível para que tenham sido produzidos dois filmes do Hellboy em um período tão curto, especialmente considerando que o longa de 2019 foi um fiasco de enormes proporções. Também não se entende por que essas produções — no caso a dirigida por Neil Marshall e a versão de Brian Taylor — são tão ruins, já que o personagem possui um simbolismo e uma boa história a ser adaptada. 

No entanto, parece que os roteiristas e diretores não souberam aproveitar esses aspectos, como a atmosfera sombria, que inicialmente até funciona, e os seres míticos, que são prontamente abandonados, como a aranha gigante que aparece ainda no primeiro ato. Além disso, as várias ameaças sobrenaturais têm um aspecto tão ridículo e são tão caricatas que parecem ter saído de um filme de terrir (terror cômico).

Não que uma história protagonizada por Hellboy não deva ter humor; pelo contrário, o alívio cômico é essencial e bem-vindo. Entretanto, ao optar por contar uma história com elementos de terror no estilo trash, a obra comete um grande erro. A produção, aparentemente, foi desenvolvida para se tornar um sucesso cult através do boca a boca, mas, ao exagerar no trash, perde sua própria identidade. Em vez de equilibrar o humor com o horror sombrio que o personagem pede, o longa se afoga em uma trama confusa e sem vigor, deixando de conceber uma narrativa de excelência.

Se a ideia era fazer um filme cult trash de qualidade, o diretor Brian Taylor, junto com os roteiristas Christopher Golden, Mike Mignola e o próprio Taylor, fizeram um péssimo trabalho. A trama é confusa, com a narrativa, desde o primeiro minuto, se desenvolvendo em meio à ação e apresentando personagens de forma tão caótica que se torna difícil se conectar com eles ou com os eventos da história.

O próprio clímax, que poderia ter sido a salvação do longa, acaba sendo um grande desperdício, caindo em clichês típicos de histórias do gênero e não explorando as nuances essenciais de uma boa trama de terror, como a construção da tensão, o medo do desconhecido e a atmosfera horripilante.

Hellboy e o Homem Torto é tão esquecível que é difícil entender por que alguém investiu tempo e dinheiro para produzi-lo. Os fãs da Besta do Apocalipse (apelido do personagem nas HQs) devem ficar chateados ao ver dois longas ruins do meio demônio e meio humano em um período tão curto de tempo.

É triste que um personagem tão interessante esteja caminhando para o limbo ou deixando no imaginário do público, que não o conhece, a impressão de que não vale a pena ler suas obras. Pelo contrário, Hellboy tem muita qualidade, só precisa ser melhor adaptado para as telonas — e que Mike Mignola deixe imediatamente a produção dos futuros filmes. 

Hellboy e o Homem Torto (Hellboy: The Crooked Man, EUA – 2024)
Direção: Brian Taylor
Roteiro: Christopher Golden, Mike Mignola, Brian Taylor, baseado no personagem criado por Mike Mignola
Elenco: Jack Kesy, Jefferson White, Joseph Marcell, Leah McNamara, Adeline Rudolph, Martin Bassindale
Gênero: Drama
Duração: 99 min.

Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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