Quando Guillermo del Toro fez o primeiro Hellboy ainda era um diretor que estava mostrando que conhecia bem o gênero fantástico, além de ter uma estética visual aplicada, principalmente pelo design dos seus monstros. Após os sucessos de A Espinha do Diabo e principalmente de O Labirinto do Fauno, Del Toro volta ao universo do carismático demônio que luta pela humanidade em Hellboy II: O Exército Dourado, que não é apenas bem melhor que o primeiro, mas um dos filmes mais divertidos da carreira do diretor.
O longa mostra o vingativo príncipe Nuada (Luke Goss) que decide despertar depois de milênios o terrível Exército Dourado, maquinas monstruosas que foram feitos por ordem de seu pai para uma terrível guerra contra a humanidade. Cabe a Hellboy (Ron Perlman) junto com o parceiro Abe Sapien (Doug Jones) e a namorada Liz Sherman (Selma Blair), impedirem que o príncipe comece a guerra. A equipe também terá que se adaptar ao seu novo comandante, o cientista alemão Dr. Johan Krauss (Seth McFarlane) que vive se desentendendo com Hellboy.
Bom, a história segue a estrutura básica: herói que deve impedir que o vilão destrua o mundo. Com argumento feito junto com o criador do personagem, Mike Mignola, o roteiro de del Toro se mostra que mesmo com essa estrutura básica, divertido e eficiente. Os personagens são bem construídos e todos têm camadas, evitando que se tornem apenas estereótipos unidimensionais. Isso ocorre por temas complexos que Del Toro coloca para a discussão: inclusão social, preconceito, solidão, amor, e dever. E o texto se mostra eficiente por conseguir falar de todos esses temas de maneira adulta e direta. É um roteiro básico de um filme de herói, mas que funciona bem.
Óbvio que quando falamos de Guillermo del Toro, o que mais interessa é o visual e em Hellboy II vemos como a imaginação do mexicano não tem limites. Além dos que já tinham sido vistos no filme anterior, como o Abe Sapien – o homem-peixe – e o próprio protagonistas que se mostram mais críveis, em especial Sapian que consegue transmitir feições humanas mesmo que o seu rosto não consiga. E os novos personagens se mostram visualmente muito interessantes, a começar pelo ótimo Dr. Krauss. Que em seu design vemos fetiches que aparecem nos filmes do diretor: como insetos (note que a boca dele parece uma formiga) e engrenagens (só ver como funciona roupa dele). E a movimentação dele é tão natural que conseguimos esquecer que ele é uma mistura de feitos especiais e práticos. Aliás, isso deixa as criaturas mais verossímeis, porque vemos que realmente Ron Pelrman está batendo em algo, não apenas em um boneco digital, além de ser prazeroso para qualquer cinéfilo ver esses efeitos práticos em uso.
Além dos designs dos monstros serem fascinante, os cenários também se mostram ricos, pelos pequenos detalhes envolvendo a religião cristã e pagã. Tudo isso consegue ganhar vida graças a excelente fotografia de Guillermo Navarro, o colaborador de del Toro até Círculo de Fogo. As luzes e as cores da fotografia conseguem com que os cenários soem mais fantásticos e o uso da saturação, principalmente do azul e do vermelho, se mostra bem usado, não deixando que as cores fortes incomodem o espectador.
As atuações se mostram muito seguras, principalmente pelo carisma dos personagens. O Hellboy de Ron Perlman é um sujeito infantil e imaturo (Deixando claro que não li os quadrinhos de Mignola pra falar da tal mudança da personalidade do protagonista, mas para o filme funciona), mas que mostra um enorme coração e o ator entendeu tão bem o personagem, que parece que a câmera não quer sair dele e isso diz muito. Seth McFarlane se mostra muito a vontade como o Dr. Krauss. Primeiro que o sotaque alemão forçado do ator não o deixa como uma caricatura e se mostra uma característica do personagem, além dele ter carisma e seus dramas. O mímico Doug Jones consegue fazer que a sua composição corporal deixa tanto Abe quanto o incrível Anjo da Morte, inesquecíveis. O primeiro por conseguir explorar melhor o personagem e a movimentação se mostra mais fluida e o segundo por ser um dos monstros mais interessantes criados por Del Toro e conseguir ser um profeta ao mesmo tempo em que soa ameaçador.
Mas do elenco, o grande destaque fica para Luke Goss como Nuada. Além de ser um personagem fascinante, por não ser apenas um vilão que quer matar a todos e sim alguém que não quer que a sua cultura e o seu povo morram. Goss mostra uma forte presença de tela, por conta do seu físico e da sua poderosa voz. Vale destacar as suas cenas de luta, que são excelentes. Além de ele ser atlético, a coreografia com a sua lança é muito bem feita.
Não só as lutas com Nuada são boas, todas as sequencias de ação do longa são excelentes que mostra como Del Toro sabe o que ta fazendo. Apesar de esquecer a física as vezes (como na cena do bebê), elas são bem orquestradas, tensas, criativas e entendemos o que está acontecendo. Aliás, vale salientar que a direção de Del Toro se mostra bem segura no sentido dramático. Além do longa ser muito bem filmado, os pontuais alívios cômicos funcionam muito bem, não soando forçados. Ate algumas coisas que são bregas, como as transições de uma cena pra outra, são charmosas. O único probleminha está que as vezes a direção de atores soa muito teatral, pelas reações serem rápida demais as vezes. Em algumas sequencias, como a luta da biblioteca, incomoda que a coreografia cria a tensão, mas a reação dos atores em alguns momentos se mostra exagerada demais que tira a tensão. Não é ruim, mas incomoda um pouco as vezes.
Enfim, Hellboy II: O Exército Dourado é uma ótima diversão. É mais uma prova do talento e da incrível imaginação de Guillermo Del Toro. É uma ótima perdida e provavelmente um dos melhores filmes do diretor.
Hellboy II: O Exército Dourado (Hellboy II: The Golden Army – EUA/ 2008)
Direção: Guillermo Del Toro
Roteiro: Guillermo Del Toro, baseado nos quadrinhos de Mike Mignola
Elenco: Ron Perlman, Selma Blair, Doug Jones, Luke Goss, Jeffrey Tambor, John Hurt, Seth MacFarlane, Anna Walton
Gênero: Aventura/Fantasia
Duração: 120 min