Crítica | House of the Dragon, 2ª Temporada – Um Ovo Cozido em Filler

Segundo ano se prende à promessas pro futuro sem cumprir quase nada no agora.

Depois de uma primeira temporada feita – quase – toda puramente de excelência que deixou o apetite de desgosto deixado pela oitava e última temporada de GOT; parecia mesmo que House of the Dragon era um retorno refrescante à Westeros de George R. Martin que se mostrava ciente de todos os erros que condenaram a última temporada da aclamada série e possuía um material que permitiria explorar o melhor que o universo de Martin tinha para oferecer: intriga palaciana; guerra de linhagens para assumir o poder que reside no trono de ferro, e todo o amontoado de incesto, violência e putaria que poderia se encontrar no meio do que, por debaixo de seus floreios sádicos, contém uma instigante narrativa sobre poder e seu preço no cerne moral de seus personagens.

Bom, ao mesmo tempo que não há erros grotescos cometidos nessa segunda temporada, há muito que deixe a desejar pelo que fora estabelecido em seu primeiro ano, onde por mais atropelada que sua narrativa que cobria mais de 20 anos de eventos de história, conquistou um feito exemplar de apresentar uma nova leva de personagens complexos, e um fio de meada que te deixava instigado para com o que estava para acontecer de novo nesse casos de família medieval. E agora com tudo estabelecido no ponto certo da história, e com muitos momentos interessantes ainda para acontecer, a série parece atrapalhada com o que fazer com o Fogo & Sangue de Martin.

Na mesma medida que não quer se arrastar em nada – tanto que os primeiros (e melhores) episódios da temporada todos possuem um grande evento chave acontecendo e, diga-se de passagem, realizados de maneira formidável – a construção de tensão de roer as unhas tanto no assassinato de Jaehaerys quanto no duelo entre Erryk e Arryk, e toda a linha tênue amarrada liderando até a batalha de dragões que termina com a trágica e impactante morte de Rhaenys Targaryen no episódio 4; tudo parecia que estava se construindo para algo ainda maior prestes a acontecer já que os próximos episódios se basearam inteiramente na construção de antecipação da vindoura guerra entre os Green e os Black, mas acaba que não há quase absolutamente nada, e pior ainda, recicla pontos de trama já explorados e concluídos da primeira temporada.

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Pois ao mesmo tempo que quer ser direta, a temporada se arrasta de maneiras tão bobas, tomados por motivos óbvios de querer esticar o máximo que conseguir de seus núcleos dramáticos, seja para cortar custos para as eventuais batalhas grandiosas que vão tomar conta do curso da guerra e serão responsáveis pelo desenlace de boa parte dos personagens, seja também para justificar uma narrativa de mais de três temporadas. E isso não fica mais claro se não na forma com que estica muitos arcos tão básicos de personagens para serem brevemente resolvidos no último episódio – o filho bastardo de Corlys; Rhaena encontrando seu papel nesse conflito prestes à trazer outra aparente aliada voadora na dança dos dragões; mas principalmente no infeliz papel relegado que dão à Daemon Targaryen.

Por um lado é até interessante ver como todo esse arco em Harrenhal assume muito da pegada surrealista bizarra bem proeminente nos livros principais da saga de Gelo e Fogo que Martin muito usa para introduzir essas vertentes de profecias que permeiam por toda a história de sua obra. Mas no momento em que isso se torna um vai e vem sem fim que se resume à cameos de rostos da primeira temporada e conclui com o mesmo exato desenvolvimento dado à Daemond na primeira temporada: descobrindo seu papel nessa história, não como o líder que suas ambições ditavam mas como um alicerce da escalada de Rhaenyra ao poder como a legítima rainha. E basicamente resumindo toda a tagarelice em volta da profecia da canção de Gelo e Fogo à um grande fan-service à Daenerys Targaryen e a longa noite que já sabemos não dar em nada.

É então aí que o showrunner Ryan Condal corrompe as próprias boas ideias por detrás dessa história no intuito de criar uma temporada filler com quase nada de novo a se dizer e meramente preparar mais terreno do que ainda está por vir de forma quase preguiçosa. Que mais valia ter concluído a temporada na cena final do sétimo episódio e teria tido MUITO mais impacto e peso do que fora construído na temporada até então, concluindo a busca incessante de Rhaenyra de mostrar força contra os Green, finalmente recorrendo ao poder antigo de sua dinastia Valiriana, e prevendo a terrível consequência que irá se advir disso futuramente; alcançando o mesmo exato propósito que o fraco e tedioso season finale serviu em nada para dizer.

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É até triste ter que jogar tanta água fria nesse fogo Targaryen que continua tão cinematograficamente refinada, com exímia direção, decente roteirização de momento a momento entre os episódios e o elenco mostrando valer seu cachê – se todas as cenas em Harrenhal são meramente suportáveis é graças à Matt Smith segurando a bola ainda sendo o ator / personagem mais interessante do elenco, por mais que lidem seu desenvolvimento de maneira atrapalhada. E a pobre Emma D’Arcy ainda faz o que pode para convencer imponência e realeza com sua Rhaenyra embora muito do que ela faz aqui é ter que atuar com a cara de sofrida em conflito.

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Nessa batalha os Green levam mais vantagem porque tudo envolvendo o elenco da família formou as partes mais interessantes da temporada. Tom Glynn-Carney entrega um Aegon II primeiramente dividido em atuar como um rei justo tal como o pai até deixar sua imaturidade dominar seu mínimo senso até seu trágico destino, enquanto que Ewan Mitchell como Aemond se mostra o hábil manipulador e pronto para ter as mãos sujas com sangue no olho. Enquanto que Olivia Cooke como Alicent a cada episódio se corrói em culpa vendo o que toda suas decisões afetaram sua família e a fizeram prisioneira de um caminho sem volta. Já Rhys Ifans como Otto Hightower é INEXPLICAVELMENTE desperdiçado, basicamente desaparecendo após o segundo episódio.

Parece fajuto dizer para não se preocuparem pois o próximo ano vai ser melhor, pois a própria série deveria ter justificado isso muito mais do que qualquer crítico disposto a ainda dar uma chance para o que ainda está por vir dessa história, mas só resta realmente ter esperança de que dessa vez a HBO permita que o que eles possuem aqui seja o espetáculo que é capaz de ser! Só nunca mais voltemos à Harrenhal por favor, terrível serviço de quarto, muita goteira e já basta a vida ser um marasmo.

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Sobre o autor

Raphael Klopper

Estudante de Jornalismo e amante de filmes desde o berço, que evoluiu ao longo dos anos para ser também um possível nerd amante de quadrinhos, games, livros, de todos os gêneros e tipos possíveis. E devido a isso, não tem um gosto particular, apenas busca apreciar todas as grandes qualidades que as obras que tanto admira.

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