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Crítica | Liga da Justiça #1-#7 Um Novo Começo (1987)

Em 1985 ocorria então a primeira grande saga da DC Comics nos quadrinhos, e um dos maiores eventos das HQS até o momento, A Crise nas Infinitas Terras, escrita por Marv Wolfman e George Perez, e que foi concebida como uma idéia de unificar os quadrinhos da DC. Durante a Era de Prata o escritor Gardner Fox decidiu que seria interessante reviver a SJA, a primeira equipe de heróis que ele havia criado, e para fazer isso implementou a teoria do Multiverso, que afirmava que existiam diversas terras dentro do Universo DC e em uma delas estava a Sociedade da Justiça. Apesar de ser um conceito interessante, e ter agradado vários fãs, chegou a um momento que os editores da empresa viram que não tinham mais como explorar esse conceito. Havia também o fato de que a Marvel estava levando muitas vantagens nas vendas, visto que na época os personagens da Casa das Idéias estavam em suas melhores fases, e a DC precisava atrair novos leitores, e a ideia de terras paralelas era um pouco confusa demais para quem não era acostumado.

Com a sua primeira grande crise, a DC deu um reboot o seu universo, acabando com seu Multiverso e mudando a continuidade de alguns personagens. A Sociedade da Justiça não era mais um grupo de heróis de uma terra paralela, e passou a ser um grupo de heróis que agiu na Segunda Guerra. Alguns personagens deixaram de existir e outros como o Flash da Era de Prata morreram. A Liga da Justiça na época se chamava Liga de Detroit, e era composta por membros que poderiam se dedicar em totalidade a equipe, e isso acabou por excluir a Trindade, que tinham seus próprios problemas. Esse novo grupo era liderado pelo Aquaman e pelo Caçador de Marte, e era composta por veteranos como Zatanna e Homem Elástico, e novos personagens como Vixen, Gladio e Vibro. Essa nova Liga não sofreu muitas mudanças com a Crise, mas a baixa aceitação do time, era preciso uma reformulação e um novo time. Então a editora lançou em 1986 a minissérie Lendas, onde ocorreu o fim da fase de Detroit. Agora, a DC comics precisava de uma nova Liga 

Para esse trabalho foram chamados para a função o escritor Keith Giffen, elogiado pelo seu trabalho com a Legião dos Super Heróis, e este chamou para ajuda-lo nos diálogos JM DeMatteis, que escreveu aquela que é considerada uma das melhores sagas do Homem Aranha, A Ultima Caçada de Kraven. A missão de reiniciar a Liga não seria nada fácil, pois os dois roteiristas não poderiam contar com os principais nomes da editora. Superman na época estava sendo reestruturado pelo John Byrne, Mulher Maravilha estava sendo recriada por George Perez, e como Barry Allen havia morrido na Crise era preciso fazer com que o público se acostumasse com o novo Flash, que agora era o pupilo de Barry, Wally West. Ou seja, a nova equipe não poderia contar com os principais heróis da empresa, o que tornava o trabalho ainda mais difícil.

Visto isso, Giffen e DeMatteis decidiram apostar numa liga com personagens que não tinham tanto sucesso. Foram escolhidos para fazer parte dessa equipe Canário Negro, Besouro Azul ( personagem recém adquirido da Charlton Comics), Capitão Marvel ( tecnicamente era um personagem mais conhecido, mas que a anos não fazia sucesso), Senhor Milagre ( vindo dos Novos Deuses) e Senhor Destino ( da SJA). Bom, possivelmente com esses personagens seria complicado fazer a nova liga decolar, então Dennis O Neil,responsável na época pelas revistas do Batman, decidiu permitir que o herói fosse usado nessa nova Liga. Também seriam usados na nova revista o Caçador de Marte, que funcionaria como uma ligação com a Era de Prata, e uma lanterna verde, mas não Hal Jordan, pois DC também preparava uma nova origem para o personagem. O escolhido para ingressar na equipe foi Guy Gardner, que foi colocado no time devido a ideia que os roteiristas tinham pra história. A nova abordagem traria uma Liga da Justiça com teor mais cômico, e essa nova empreitada teve inicio em maio de 1987 com a revista Justice League #01, e a primeira história se chamara Um Novo Começo, e teria 7 edições.

A idéia era muito arriscada, visto que naquela época os personagens estavam entrando numa temática mais séria, o Batman era um grande exemplo disso. O personagem já no inicio dos anos 80 ja estava começando a ser mais sombrio, mas foi apenas depois dos arcos Cavaleiro das TrevasAno Um, os dois do Frank Miller, que o personagem abandonou de vez qualquer traço cômico. Porém aquilo que era algo com chance de dar muito errado, deu muito certo. As interações entre os novos personagens, bem orgânica e muito mais divertida, foi uma sacada mestra de DeMatteis e Giffen. Os personagens entravam diversas vezes em conflitos, e as discussões eram extremamente cômicas, e divertiam bastante quem estava lendo. O estilo mais leve essa nova equipe era um ótimo contra balanço ao tom sombrio e pessimista que estava se instaurando naquela época dos quadrinhos, principalmente dentro da própria DC depois da Crise nas Infinitas Terras.O destaque dessa nova fase foi com certeza Guy Gardner, que com seu jeito arrogante e babaca de ser irritava a todos os membros. O público tinha com esse personagem uma relação de amor e ódio, pois ao mesmo tempo que o achavam irritante, era também muito divertido.

Mas o destaque de Guy não apagava os outros personagens, todos tiveram seu espaço para brilhar . A Canario Negro teve uma mudança em seu comportamento, se tornando um símbolo feminista, o que foi uma ótima mudança para a personagem, que antes era apenas conhecida como a parceira do Arqueiro Verde. Capitão Marvel agora não tinha a personalidade de suas duas contra partes separadas, agora ele se transformava era um adulto num corpo de criança, e seu jeito meio bobo de agir, apesar de ser tão poderoso quanto Superman, era algo cativante. Besouro azul também teve um destaque, pela sua ótima veia humorística e também pelas vezes que discutia com Guy.

Um ironia do destino, Batman e Caçador de Marte foram colocados nesse time porque já eram personagens mais conhecidos do público, mas acabaram por ser os personagens com menos destaque. Batman ao menos conseguia trazer algo mais para a drama, porque era interessante ver o seu jeito mais sério dividindo espaço com personagens mais leves, e o grande momento da saga foi o soco que ele disfere na fuça de Guy Gardner após os constantes avisos dados que ele deveria respeitar. Caçador de Marte infelizmente também ficou apagado e não era tão cativante em sua participação, mas ele compensava isso nas cenas de ação. Doutor Destino também não teve tanto destaque até as edições #6 e #7, onde mostrou-se um personagem fascinante e extremamente poderoso.

Essa história inicial, alem de mostrar que essa Liga seria mais divertida, também mostrou que a equipe seria mais pé no chão e seria mais humanizada, algo que a DC estava fazendo com todos os personagens mais poderosos, e também ainda teria um pouco do pessimismo que pairava sobre a editora no período. Essa nova Liga, diferente da versão antiga, não era mais admirada  por toda a população, muitos a viam com desconfiança e alguns pedem que ela seja impedida de agir. A equipe agora teria um representante humano, seu nome era Maxwell Lord, uma figura bastante ambígua, e que via o time mais como uma chance de ter ganhos próprios. Em um Novo Começo foi definido  ver que a nova Liga da Justiça não iria apenas evitar ataques de seres do espaço e outras criaturas, e sim iria enfrentar vilões terrestres e que ameaçassem a paz, como por exemplo o que aconteceu já na primeira edição, onde a equipe parou um ataque terrorista na ONU.

Devido a isso vemos no último volume dessa primeira história a Liga agora passando a atuar com permissão da ONU, e se tornaria uma força de proteção mundial. Para satisfazer as duas maiores potências da época, Estados Unidos e União Soviética  dois heróis de cada país seriam colocados na equipe, Soviete Supremo e Capitão Átomo. Com esse aval das Nações Unidas, a  Liga da Justiça  iria começar se tornar internacional, tendo várias sedes no mundo, sendo as duas principais na América e na França. Isso aconteceu por 3 motivos. Primeiro porque as 6 primeiras histórias foram um sucesso, e a ideia era fazer no futuro uma outra revista da Liga, que iria ter em seu quadro o Flash e a Mulher Maravilha, e se chamaria Liga da Justiça Europa. Segundo porque queriam que a equipe deixasse de ter a fama de só se importar com o país em que foram criados, pois muitos diziam que os heróis apenas resolviam problemas americano. E por último a ideia da equipe ser uma força da paz da ONU era um reflexo dos tempos naquela época, nos quais o presidente dos EUA, Ronald Reagan estava se empenhando para que os conflitos do mundo terminassem.


J.M DeMatteis e Keith Giffen foram bastante ousados na ideia de apostar em personagens desconhecidos e em histórias leves e com situações as vezes toscas nível de Era de Prata. Mas funcionou de uma maneira excelente e fez o interesse pela Liga da Justiça voltar. E também vale o elogio porque conseguiram humanizar uma equipe antes conhecida pelo grande poder  que seus personagens tinham, alcançando quase que o status de deuses imbatíveis. No fim dos anos 80  a revista era considerada uma das melhores revistas da DC, mas depois de algum tempo, o humor não conseguia mais prender o público, e a HQ foi caindo em vendas. Outro motivo da queda era devido ao surgimento do personagem Spawn, da Image Comics, que começava a chamar atenção pela sua violência, algo que acabou prejudicando tanto DC quanto MarvelDan Jurgens acabaria assumindo a revista em 1992 e tentaria deixar ela mais séria, o que não funcionou também. A revista acabaria cancelada em 1996, e a DC iria trazer de volta a Liga com sua formação clássica.

Um Novo Começo foi um belo início para essa nova fase da Liga da Justiçae foi também uma pequena amostra do que seria essa equipe na sua melhor fase, inovadora, engraçada e gostosa de se ler. É realmente uma pena o fato de o sucesso não ter perdurado por muito tempo, e a equipe não ter conseguido se manter, mas ainda hoje a saga inicial e toda a fase de DeMatteis Giffen é lembrada com muito carinho pelos fãs da DC.

Liga da Justiça: Um Novo Começo – Edições #1 a 7 (Justice League: A New Beginning #1 – 7) — EUA, maio a novembro de 1987).
Roteiro: Keith Giffen, J.M. DeMatteis
Arte: Kevin Maguire
Arte-final: Terry Austin (#1), Al Gordon a partir do #2
Cores: Gene D’Angelo
Letras: Bob Lappan
Editor-Chefe: Andrew Helfer
Editora: DC Comics

Texto escrito por Raphael Aristides

Redação Bastidores

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