
Se fosse uma produção barata, Lobos – dirigido por Jon Watts, de uma das inumeráveis versões de Homem-Aranha – seria uma atração mediana de Sessão da Tarde, o tipo de filme que sempre povoou a TV aberta e funcionava como uma ponte entre duas atrações mais provocativas. Mas não é o caso: estamos falando de uma produção beirando a centena de milhão de dólares, e a primeira pergunta que se faz é por quantas aprovações um roteiro tão previsível e aborrecido teve que passar para que finalmente saísse do papel. Porque em algum momento, uma ou mais pessoas (estas em altos postos dentro da indústria) olharam para o que estava escrito e pensaram: “Este é o roteiro certo para queimar 100 milhões de dólares”.
Bem, não era. Totalmente apoiado na “química” entre Brad Pitt e George Clooney, tudo no filme é artificial: a ambientação, o “sarcasmo”, a fotografia que converte todos os ambientes em salas de espera de hospital, a trilha musical enfadonha, as reviravoltas previsíveis. Em alguns momentos, o constrangimento atinge seu ápice porque, conforme sabemos, não se trata aqui de uma produção vagabunda, mas sim de um produto cuja origem é a elite da indústria. Duas cenas chamam atenção nesse sentido: um atropelamento em câmera lenta que lembra uma infinitude de comerciais de TV e que não provoca nada (tensão, dúvida, horror, nada, é como observar um adolescente mascando chiclete) e a dança folclórica na qual os protagonistas são acidentalmente envolvidos, que é tão mal encenada, falsa e caricatural que nos faz questionar a capacidade de discernimento de todos os participantes.
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Há muito pouco a se falar a respeito da “trama”: Pitt e Clooney interpretam dois especialistas do submundo que limpam cenas de crime. Logo, ambos se veem envolvidos numa situação que escapa ao controle da dupla forçada e se desenrola toda numa mesma noite. Eles irão se deparar com alguns clichês inevitáveis (como o dos vilões do leste europeu, uma caracterização repetitiva que também beira o ridículo mas, convenhamos, não foi inventada por este filme), num desenrolar que já foi explorado outras vezes com resultados mais vívidos e eventualmente originais. A “graça” do filme se reduz à quantidade de vezes em que os dois astros irão se hostilizar, mas a ideia é tão mecanicamente desenvolvida que em 15 minutos não surte mais efeito.
Se pensarmos que, não muitos anos atrás, Pitt e Clooney estavam estrelando produções sofisticadas, originais e divertidas como a trilogia Ocean’s Eleven, teremos que admitir a triste realidade de que o cinemão de entretenimento hollywoodiano desaba ladeira abaixo como numa das cenas que frequentemente são vistas em suas atuais superproduções: numa câmera lenta desnecessária, pirotécnica e arrastada.
Lobos é simplesmente um roteiro ruim que jamais deveria ter saído do papel e não há embalagem luxuosa o suficiente para esconder isso.