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Crítica | Loki – 1ª Temporada: A melhor série original da Marvel?

Texto originalmente publicado em: https://labdicasjornalismo.com/noticia/8313/loki-a-melhor-serie-original-da-marvel-mais-do-que-apenas-isso

Visto que esta foi uma série que explora viagem no tempo e realidades paralelas, começar este texto pelo final e construir nosso caminho a partir dele, parece mais do que adequado no caso de Loki. Especialmente para conseguir ressaltar o grande feito que realize em conseguir se destacar ao lado de outras séries da Marvel que conseguiram atrair mais aclamação e amor dos fãs.

Mas que em um só episódio, que talvez nem seja algo de tão especial pra inicio de conversa, conseguiu se alavancar a si frente todo o Universo Marvel, assim como traz um dos eventos mais impactantes vistos em duas décadas de MCU no cinema, e mostra que tem muito gás de sobra ainda para se gastar em caminhos inesperados. Tudo por que eles finalmente fazerem o que muitos fãs acharam que nunca teriam coragem: corresponder as expectativas postas pelos fãs ansiando por esse evento “Multiversal” à tanto instigado pelos filmes desde Homem Aranha: Longe de Casa onde o suposto Multiverso era só uma farsa, e em Wandavision uma pista feita pra virar uma piada no episódio final.

E que aqui finalmente se confirmam em grande, feito de forma simples e direta: um simples encontro com uma forma inesperada e surpresa, ou talvez nem tanto para os fãs que andavam acompanhando os diversos rumores e teorias em volta do percurso que a série iria tomar; com o ator Jonathan Majors se mostrando como aquele por detrás de tudo, e cujo apenas se identifica como “Aquele que Permanece” – e futuramente possivelmente o conheceremos como Kang – O Conquistador, fazendo revelações capazes de te caducar a cabeça, sendo encharcada de inúmeras infinitas possibilidades que são estabelecidas.

Bom, não é nenhum Mephisto, mas também não foi nenhuma outra variante do Loki por detrás de tudo como alguns previram, ou um antagonista genérico vinda do nada como fora com Agatha Harkness em Wandavision. E é aí que está, finalmente foi algo diferente! E que encaixou nas esperanças criadas pelos fãs, não sendo concebida de forma intrusiva como só um fanservice de última hora (embora um pouco, com certeza).

Pelo contrário, todo o momento de sua aparição, que é basicamente 80% do episódio, carrega uma vibe bem Mágico de Oz, onde a revelação final por detrás de tudo, desde a criação daquele “universo”, ao percurso que os personagens tomaram, era um Zé ninguém, mas que estabelece o destino final da história nas mãos do protagonista. Voltando exatamente sobre o que a série foi desde o início e está estampada no título, Loki, o vilão favorito de todo Marvete raiz desse universo cinematográfico, e é ele quem vem a dar aqui o pontapé para os eventos que vão permutar nessa fase quatro. Mostrando finalmente a importância da série como um todo frente (e acima) das outras até agora lançadas!

Sem tirar nem Por, apenas Loki!

No momento em que essas séries Marvel foram anunciadas, não pareciam tão interessantes, nada além do que meros spin-offs para personagens secundários de todo o MCU, ou que pelo menos não teriam tanto impacto na longa narrativa interconectada que eles vem construindo desde o início. Porém, quanto mais próximo que chegávamos delas, e mais informações apareciam, as expectativas em volta de cada uma começaram a ser criadas, mas parece que seguiram um caminho inverso dessas mesmas expectativas.Se WandaVision causava um certo estranhismo inicialmente pela sua trama que seguia Wanda e um aparentemente vivo Visão vivendo como um casal pacato em um modelo de série sitcom; Falcão e o Soldado Invernal já seguia um modelo mais padrão sendo thriller de ação pé no chão e que trazia fortes reflexões em questões raciais e de poderio militar/político na América. Já Loki aparentava ser a mais inerte entre todas, vindo a trazer um personagem que aparentemente já tinha dado o que tinha pra dar e merecia uma aposentadoria de duas décadas atuando no MCU. Mas pelo visto, se mostrou ter aqui uma aposentadoria de luxo.

Michael Waldron, o criador da série, parte aqui em querer construir uma série que segue uma estrutura focada no drama e conduzida pelos diálogos, buscando acima de tudo construir e explorar relações ao invés de apenas trazer constantes elementos de trama sendo explicadas demais. Primeiro entre Loki e Mobius (Owen Wilson) construindo uma relação palpável que vai de uma rivalidade cômica brincalhona, para mais tarde na temporada se tornar uma amizade genuína. Enquanto eles acabam formando uma dupla indesejada que passam o tempo indo desde a destruição de Pompeia ao apocalipse dos planetas e suas raças tentando descobrir quem está por detrás das aberturas de realidades paralelas – os Eventos Nexus.

Ao mesmo tempo, revelando muito do personagem de Loki, a pessoa dentro do Deus da Trapaça, por meio de alguém que o conhece melhor que ninguém, que assistiu sua vida de trás para frente diversas vezes. Interagido com perfeição por Tom Hidleston e Wilson compartilhando ótima química e claramente se divertindo em suas interações, que conseguem ser tanto engraçada, imprevisíveis e surpreendentemente profundas e até filosóficas, uma vez que eles começam a questionar a razão de suas respectivas existências. Como resultado, vemos que talvez haja um pouco mais em Loki do que se esperava dele a essa altura.

E mais tarde também temos na relação entre Loki e … ele mesmo, com a variante Sylvie (Sophia Di Martino) e o romance de Narciso, divido em duas personas Lokis, que se constrói entre ambos. Muito que se dá por essa tentativa de querer se humanizar Loki ao ponto de um mocinho aceitável. E que compreensivelmente pode ser vista como talvez bem forçada, ainda mais tendo em vista que os acontecimentos da série passam com o Loki pós a Batalha de Nova York, lá em 2012, e não com o Loki já ciente de todos os seus erros e morreu honrado tentando defender o irmão em Guerra Infinita (e até lá ele agia ainda de forma mais maliciosa e ardilosa do que aqui).

Bom, os argumentos que se encontram para validar isso até que estão na série. Loki já no primeiro episódio (se passando logo após da fuga dele da Batalha de Nova York que ele trespassou em Ultimato) vai do vilão egocêntrico que ele era lá no começo do universo Marvel, para de repente ser posto para ver toda a sua vida se passar diante de seus olhos em um dos televisores da TVA, como se estivesse vendo os próprios filmes do MCU. E encara que todos os poderes do universo que ele já conheceu e cruzou, não valem de nada dentro da TVA, a organização burocrática temporal que os controla.

Ele é extirpado de tudo, de sua própria concepção de realidade, existência e o que ele conhece como poderes e relações, mais perdido e inerte do que nunca um personagem da Marvel realmente esteve. Então sim, o argumento para a mudança de humores dele que logo assume um tom mais descontraído nos próximos episódios, embora ainda com suas artimanhas aqui e ali ainda no episódio 2.

E a paixão que ele ascende por Sylvie, ele mesmo só que em outro corpo e identidade, acaba no final sendo um ame ou odeie, pois os atores claramente nutrem uma química palpável, e literalmente recebem um episódio inteiro para construir algo próximo de um laço que é o episódio 3 – Lamentis, ironicamente o mais fraco da temporada, mas que cumpre seu trabalho de nos fazer simpatizar por Sylvie. Embora não escape de ser um grande filler, mas pelo menos um filler com bons momentos e claro propósito.

Ame a Si Mesmo

Talvez o elo fraco da narrativa se encontre no fato de ter muita exposição?! Bem, definitivamente, e isso é sempre o que você vai ter quando a viagem no tempo e universos paralelos estiverem envolvidos. E especialmente vindo de um produto da Marvel, onde eles vão querer te mastigar tudinho certinho para não perder a atenção do público ou deixá-lo perdido. Mas nunca se perde em inconvenientes explicações constantes, embora elas estejam presentes em todos os episódios, mas conseguem ser bem amarradas, escritas e entregues de forma orgânica, oras cômica e descontraída pelos atores, e onde cada nova revelação eleva a uma nova conseqüência e que interfere nas cenas de ação subsequentes que se resultam das mesmas.
Que constrói essa linha tênue entre os episódios de Loki que realmente te prendem a atenção no mínimo de intriga e curiosidade possível para ver até onde toda a loucura de reviravoltas, realidades e eras temporais diversas e variantes de um personagem aparecendo, vai levar. Os melhores episódios aqui mostram a força que a série tem em conseguir manter um ritmo ágil, com situações de grande impacto acontecendo em um ritmo de imediatismo, já no final do segundo episódio você se pergunta até onde isso vai depois de ter alcançado um ponto de trama que levaria qualquer outra série no mínimo uns sete episódios para chegar.

Embora nem sempre carregado com a mesma sustância sólida, pois dá uma enorme pausa anti-climática entre o terceiro episódio e metade do quarto antes de retomar à energia do início que te deixava intrigado com o que aconteceria já na próxima cena. Mesmo que esses dois episódios em particular estejam longe de ser ruim por si só, dão um tempo para respirar e explorar algumas das relações estabelecidas entre os personagens Sylvie e Loki tendo sua pequena aventura no apocalipse de um planeta. E o quarto – The Nexus Event, sendo empacotado com algumas revelações cabeludas por detrás da TVA, e uma reviravolta final que você não está à espera.

Mas nada se compara ao quinto episódio – Journey Into Mystery, onde é simplesmente tudo que se esperava de Loki como série: com o personagem interagindo com diversas outras versões suas, desde o Loki-criança (Jack Veal), Loki Presidente, Loki Boastful (Deobia Oparei), o velho Loki (Richard E. Grant) que rouba o episódio pra si, e o melhor de todos: o Loki-jacaré; de forma absolutamente cômica e que merecia todo um filme solo em volta disso.

Imperfeitamente bom

Algumas coisas se apressam e desenvolvimentos não dão em lugar nenhum, vide Mobius que no inicio parte de um burocrata, uma peça do sistema da TVA quando ele começa a ter sua própria crise existencial sob sua origem, e seu papel no universo, vivendo décadas de existência preso a controlar e manter o balanço da realidade, e seu sonho pessoal tanto bobo, como tão genuinamente puro dele andar em um Jet-ski um dia, que são bastante enfatizados até o quarto episódio e deixado quase que de lado já nos últimos onde ele se torna mais um auxiliar cômico em cena.

E Sylvie que começa interessantíssima visto que sua história começa com ela ainda uma Loki criança sendo retirada de sua vida em Asgard pela TVA e começa a passar o que aparenta ser séculos fugindo das garras controladoras, se tornando uma sobrevivente temporal e vingativa contra aqueles que a tiraram de sua vida. Mas onde tudo se resume a ela ser incapaz de não confiar em ninguém – mesmo ela tendo sido comprovada do contrário com Loki, mas aparentemente não o suficiente para ela desencadear o resultado final da série.

Embora seja a série que até agora lidou melhor com sua duração para contar uma história coesa sem grandes percalços e oportunidades deixadas de fora. Bom, isso contando com o que você espera de um produto da Marvel, em outras mãos, essas possibilidades de realidades paralelas e viagens temporais, com certeza teria se destrambelhado para a loucura de suas infinitas possibilidades. O que era de se esperar vindo de um roteirista de Rick e Morty como Michael Waldron, que deixa aparecer sim certas influências aqui.

Mas a narrativa de Loki se mantém dosada e focada no seu protagonista, para aí sim no final abrir a porta para a vindoura destrambelhada que irá se calcar no Universo Marvel agora que as infinitas portas de possibilidades do Multiverso foi aberta. Mas além disso, além do Multiverso e inúmeras variantes de personagens e o que isso significa para o resto do MCU, para o que Loki serve por si só como história e sobre seu personagem?

Questionando o Universo

A história de um Deus sem mais vida, questionando o propósito de sua existência sendo posto a assistir toda a sua vida. Se perguntando: se fora tudo em seu caminho, coordenado e milimetricamente calculado para dar em…nada?! É como se o próprio personagem fosse posto para questionar seu papel no MCU, uma metalinguagem que se assume ainda mais quando o “Kang” no último episódio mostra um roteiro de falas daquele momento em que eles estavam.

Ironicamente, e similarmente à WandaVision, Loki também parece fazer um comentário sobre o estado atual de produções televisivas. Se WandaVision o tratava como uma criação artificial de um espelho de nossa realidade de forma peculiar e engraçada, que servia como uma forma de escape, o que se refletia diretamente no luto da protagonista. Já Loki mostra a realidade da TV – onde sua série atua, alternando e afetando a realidade do cinema – o universo de onde ele veio, com ambas no final se tornando uma só, em uma atualidade onde o futuro da mídia streaming e o cinema já fazem parte de uma só.

É também uma série que se questiona sobre o poder de crenças e mitos afáveis, apagados e desconstruídos em um âmbito existencial íntimo, mas indo contra consequências universais. Símbolos burocráticos, políticos e religiosos com seus discursos colocados como razão absoluta e inabalável no controle de nossos destinos. E o percurso que o protagonista começa a tomar em suas decisões e ações para com os outros, alçando as rédeas de seu próprio destino, criando seu próprio futuro. E a moral da história no final é o bom e velho: “somos mestres do nosso próprio destino, construtores de nossas próprias tramas, mudanças e desejos”. Mesmo dentre inúmeras realidades e destinos traçados, é uma escolha de um Loki que define o futuro dali pra frente. Se não exatamente do Loki que conhecemos, mas uma de suas variantes, partes diferentes do mesmo.

Onde personagens de impacto definindo o destino final de uma série atendendo ao gosto público, ual, a metalinguagem ta rolando solta nessa série. Mesmo que Loki longe de ser perfeita ou isenta de faltas, mas foi capaz de deixar os fãs muito felizes e instigados com o que ainda está por vir. É só não deixar essa bola cair agora Marvel!

Loki (EUA, 2021)

Showrunner: Michael Waldron
Direção: Kate Herron
Roteiro: Michael Waldron, Bisha K. Ali, Elissa Karasik, Eric Martin, Tom Kauffman
Elenco: Tom Hiddleston, Sophia Di Martino, Owen Wilson, Gugu Mbatha-Raw, Wunmi Mosaku, Richard E. Grant, Jack Veal, Jonathan Majors
Gênero: Ação, Ficção Cientifica, Aventura
Emissora: Disney+
Episódios: 6
Duração: 50 min

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Publicado por Raphael Klopper

Estudante de Jornalismo e amante de filmes desde o berço, que evoluiu ao longo dos anos para ser também um possível nerd amante de quadrinhos, games, livros, de todos os gêneros e tipos possíveis. E devido a isso, não tem um gosto particular, apenas busca apreciar todas as grandes qualidades que as obras que tanto admira.

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