Quando M3gan estreou, em meados de 2023, logo ficou claro o potencial da boneca, que conquistou fama antes mesmo do lançamento graças aos vídeos virais no TikTok — fator que contribuiu para que o longa arrecadasse US$ 181 milhões em bilheteria mundial.
Com o sucesso confirmado, não demorou para que uma sequência fosse anunciada: o tão aguardado — ou não — M3GAN 2.0. Entretanto, o longa acabou escorregando em erros clássicos de continuações, daqueles que muitas vezes enterram franquias com potencial de ir longe.
Em M3GAN 2.0, Gemma (Allison Williams) e Cady (Violet McGraw) retornam após escaparem da boneca assassina. Agora, Cady parece lidar de maneira menos intensa com o luto pela morte dos pais, enquanto Gemma, transformada em autora de sucesso, dedica-se não apenas à criação de um novo projeto e à proteção da sobrinha, mas também à luta pública pela regulamentação e pelo uso responsável das tecnologias avançadas, como as IAs.
A tecnologia como vilã
No primeiro filme, a tecnologia já era apresentada como uma força capaz de se voltar contra a humanidade ao receber “inteligência” e desenvolver uma espécie de consciência.
Já nesta sequência — também dirigida por Gerard Johnstone, assim como o longa de 2022 — fica claro que o cineasta tentou criar uma atmosfera menos assustadora, optando por suavizar elementos que haviam funcionado bem no primeiro filme, como a matança generalizada que M3GAN cometia contra todos que cruzavam seu caminho.
Sim, ainda há violência em M3GAN 2.0, mas ela se torna praticamente irrelevante para a trama — e, em muitos momentos, beira o ridículo. Grande parte das cenas de ação se assemelha mais a filmes de ação ruins e genéricos do que ao terror tenso e horripilante que se esperaria de uma continuação.
O horror, antes, realmente transmitia a noção de quão perigosa M3gan era. Nesta nova versão, porém, a “M3GAN do bem” — sim, agora ela é boazinha — se aproxima mais de uma justiceira, o que faz com que o filme perca aquela atmosfera de terror que mantinha o público preso à cadeira. O horror agora está mais ligado à tecnologia e aos perigos das inteligências artificiais.
A própria mensagem sobre a tecnologia se esvazia a partir do segundo ato, após um início carregado de temas em que o diretor desenvolve melhor a vida de Gemma e Cady, mostrando como as duas, além de unidas por um propósito, mantêm uma relação constante com a tecnologia — especialmente Gemma, que luta pela regulamentação das IAs.
Porém, essa mensagem sobre os perigos tecnológicos não é aprofundada, tampouco desenvolvida com consistência. Havia diversos caminhos que a narrativa poderia explorar, mas tudo acaba se tornando superficial e pouco relevante.
M3GAN 2.0 não será o último capítulo da franquia, mas escancara o quão desesperada por dinheiro está a indústria de Hollywood, a ponto de apelar e descaracterizar um produto que havia funcionado, transformando-o em algo completamente diferente. Abordar os perigos da tecnologia é sempre um tema válido — afinal, trata-se de algo atual e presente em nosso dia a dia —, mas isso, por si só, é pouco diante do que o longa se propôs a explorar. Fica a lição para que as próximas sequências não sejam tão decepcionantes quanto esta.
M3GAN 2.0 (idem, EUA – 2025)
Direção: Gerard Johnstone
Roteiro: Akela Cooper e Gerard Johnstone, baseado na personagem criada por James Wan
Elenco: Allison Williams, Jemaine Clement, Violet McGraw, Jenna Davis, Amie Donald, Ivanna Sakhno, Aristotle Athari, Timm Sharp
Gênero: Ação, Thriller
Duração: 119 min.
Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.