em , ,

Crítica | Madeira e Água – Perdida na tradução

Ter tempo livre é uma das tarefas mais árduas de um ser humano. Em Madeira e Água, filme de Jonas Bak, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, temos que entrar em um ritmo diferente para conseguir acompanhar a trama.

Anke, uma senhora viúva, se aposenta após anos trabalhando em uma igreja da sua cidade. Para dar um pontapé inicial na nova vida, resolve reunir a família e falar sobre o passado. Entretanto, seu filho Max não comparece, devido aos protestos ocorrendo em Hong Kong. Anke toma a atitude de ir até o outro continente para rever o filho.

Bak é um diretor talentoso, especialmente por conseguir expressar a calmaria de um idoso em sua aposentaria como ritmo do filme. Veja, não é apenas aquele tipo de longa onde temos belas imagens, uma trilha contemplativa e muito tempo livre. Quando é necessário acelerar, ele acelera; quando é necessário refletir, ele reflete. E usando o artificio de que Anke é uma estranha em um lugar diferente dos seus costumes, ele consegue fazer um tour por bairros, apresentando um pouco mais de Hong Kong. Há uma cena muito importante em um ônibus, entre a protagonista e um senhor que acabou de conhecer, onde Bak deixa claro que não importa o que fazemos, há um lugar comum onde todos estarão um certo dia.

Anke Bak, interpretando o que pode ser uma versão de si mesma, traz uma inquietude interessante para as telas. Sempre com o semblante calmo e a voz baixa, ela vai de um ponto a outro da história com muitas perguntas e absorvendo todas as respostas. Sua ótima interação com as figuras que vai conhecendo ao longo do caminho, como o porteiro do apartamento do filho, um leitor de tarô, um ativista social e um senhor gente fina, ajudam em dar profundidade no tema do tempo livre. Qual a última vez que paramos para conhecer pessoas e lhes perguntar sua história de vida? Quantos destes eram idosos? Na sociedade atual, com seus clicks e bits, isso se tornou raro.

Uma coisa que fica a desejar é uma direção, ou rumo, para conclusão. Conhecemos a personagem, até mesmo revisitamos locais da sua trajetória, mas depois da busca pelo filho em Hong Kong, Anke parece uma espécie de Scarlett Johansson em Encontros e Desencontros, perdida no meio de uma cultura diferente. E mesmo que aberta a conhecer, não parece ter tomado a decisão em desbravar ou voltar para casa. Então fica uma sensação de um filme que termina na metade do segundo ato.

Madeira e Água consegue, em sua pequena duração, lhe oferecer uma brecha para conhecer alguém, suas aflições e até novos lugares.

Madeira e Água (Wood and Water, Alemanha/França/Hong Kong – 2021)

Direção: Jonas Bak
Roteiro: Jonas Bak
Elenco: Anke Bak, Ricky Yeung, Alexandra Batten, Patrick Lo, Theresa Bak
Gênero: Drama
Duração: 79 min

Acompanhe mais da nossa cobertura da 45ª Mostra Internacional de São Paulo

Avatar

Publicado por Herbert Santos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

[Vídeo] Quem são as Bene Gesserit de Duna

Crítica | Um Forte Clarão – Simbolismos vazios