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Crítica | Na Prisão Evin – Uma experiência única

Quando a imaginação quebra suas barreiras e encontra a importância da discussão atual, acaba resultando em Na Prisão Evin, filme presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.

Amem é uma garota transgênero que está em busca de meios para conseguir realizar a cirurgia de resignação de gênero. Com ajuda da sua amiga Nilo, ela encontra Naser, um velho rico que está disposto a pagar pela cirurgia em troca de um favor suspeito.

Mehdi Torab-Beigi e Mohammad Torab-Beigi são diretores estreantes, que tiveram a brilhante decisão de contar essa história em primeira pessoa. O filme todo nos coloca na pele de Amem, podendo apenas ver e ouvir o que ele consegue. Os irmãos souberam orquestrar toda uma série de acontecimentos na trama para que o estilo pareça natural, dando uma sensação de desconforto em determinados momentos. Não podemos fugir de situações, do mesmo jeito que a garota não consegue.

Toda a atuação fica, portanto, no colo dos coadjuvantes. Mahdi Pakdel, que interpreta Nasar, é quem constrói a ambientação. Sua escolha de atitudes, sempre indo para um lado mais calmo em momentos tensos, cria uma figura de medo para Amem. Pakdel trabalha com um lado mais racional da trama. Para auxiliar, Ra’na Azadivar interpreta sua esposa Sima, que abre uma vertical na história para um tom familiar.

Mas quem rouba o filme é Shabnam Dadkhah, que faz a destemida amiga Nilo. Ela é o yin do yang de Amem. Dadkhah faz uma personagem que transita entre o mundo de Nasar, sempre respeitosa e cuidadosa com o que faz, com o a da protagonista, faladeira e cheia de opiniões. Nilo é uma confidente de Amem, que por osmose é nossa também. Toda a confiança depositada na personagem fica transparente e isso ajuda no levar da trama.

A coisa fica complexa quando começam os desdobramentos. Os diretores optam por uma boa jogada de conversas que servem quase como caça ao tesouro. A verdade, e primeira pista, é que a cirurgia seria para Amem se passar como filha de Nasar para a avó, que os visitará em pouco tempo. Mas quando dias se tornam semanas o conflito entre nós, o público, com os personagens vai crescendo. Por isso o bom uso da narrativa em primeira pessoa. Estamos presos em um corpo e atitude que não nos representa.

Focado em fazer você passar por situações constrangedoras, Na Prisão Evin se torna cinema puro, onde a experiência vem antes da arte. Provavelmente é o melhor filme no festival esse ano.

Na Prisão Evin (At the End of Evin, Irã – 2021)

Direção: Mehdi Torab-Beigi e Mohammad Torab-Beigi
Roteiro: Mehdi Torab-Beigi e Mohammad Torab-Beigi
Elenco: Mehdi Pakdel, Ra’na Azadivar, Ali Baqeri, Babak Karimi, Farid Samavati
Gênero: Drama
Duração: 78 min

Acompanhe mais da nossa cobertura da 45ª Mostra Internacional de São Paulo

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Publicado por Herbert Santos

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