Desde que o John Wick de Keanu Reeves ajudou a revitalizar o cinema de ação hollywoodiano na última década, a 87th North tem se posicionado no meio dessa revolução. Originalmente uma empresa de action design (a 87Eleven), a produtora co-fundada por David Leitch ajudou a criar novos ícones do gênero, e às vezes de lugares inesperados: Charlize Theron reinventou sua carreira com Atômica, Brad Pitt voltou à onda de pancadaria com Trem-Bala e até o “pacato” Bob Odenkirk mostrou suas habilidades de luta com o divertido Anônimo.
O próximo passo natural da empresa? O Papai Noel, naturalmente. Essa é a proposta de Noite Infeliz, que transforma o Bom Velhinho das festas natalinas em uma máquina de matar agressiva e sangrenta, mas por mais divertida que a proposta possa parecer, o resultado fica bem abaixo do esperado.
A trama acompanha o Papai Noel verdadeiro (David Harbour) que encontra-se deprimido e melancólico após anos realizando um trabalho que não julga mais como importante. Cumprindo sua rota anual na Véspera de Natal, Noel acaba se deparando com uma família disfuncional que é mantida refém por um grupo de mercenários em uma mansão. Motivado pelo pedido da garotinha mais jovem no grupo, ele resolve intervir, usando apenas seus punhos e saco de brinquedos como armas.
Chega até a ser curioso como diferentes brucutus do cinema de ação andam vestindo a roupa vermelha do Papai Noel ultimamente. Kurt Russell tem sua própria franquia na Netflix com As Crônicas do Natal e até Mel Gibson encarnou uma versão bem brutal (e original) de São Nicolau no irreverente Entre Armas e Brinquedos. Agora, David Harbour empresta seu carisma para o papel, que infelizmente é prejudicado pelo texto bem mediano da dupla Pat Casey e Josh Miller (das adaptações recentes de Sonic na Paramount Pictures).
É uma decisão curiosa a de realmente usar o Papai Noel mitológico como astro de ação, e a dupla de fato constrói um bom palco ao estabelecer a personalidade depressiva e sarcástica do protagonista – sendo um Billy Bob Thornton um tanto mais melancólico. O problema começa quando Casey e Miller parecem não dosar o equilíbrio de humor e drama, já que Noite Infeliz parece se levar a sério demais ao explorar a previsível narrativa de pais “pseudo divorciados” com uma criança pequena, mas toma rumos simplesmente ridículos e dignos de desenho animado à medida em que a narrativa avança. O problema é o descompasso, já que existem 3 filmes de tonalidades bem diferentes correndo em paralelo nos (arrastados) 110 minutos de projeção.
O resultado fica um pouco mais decepcionante quando chegamos às cenas de ação. O mediano Tommy Wirkola (de João e Maria: Caçadores de Bruxas) assume um estilo de coreografia extremamente simples, e que logo se torna repetitivo durante todas as demais cenas de luta. Wirkola e seus dublês claramente se divertem com o uso de aparatos e enfeites natalinos para efeitos de mutilação e ataque (com destaque para o uso de uma estrela brilhante), mas a piada logo vai se esvaziando – especialmente pelo trabalho de fotografia irregular de Matthew Weston, que em diversas cenas torna o resultado visualmente incompreensível.
Mais bizarro ainda é o longo bloco onde Noite Infeliz parece ficar sem ideias e opta por recriar Esqueceram de Mim. Porém, Wirkola imagina como o clássico natalino de Chris Columbus seria se de fato fosse violento e tivesse uma censura para maiores, garantindo uma sequência divertida no papel (ou em um vídeo paródia de YouTube), mas que definitivamente não tem espaço ou razão sensata para aparecer no filme; muito menos para tomar tanto tempo de tela.
Por mais que tenha uma ideia interessante, Noite Infeliz não consegue aproveitar seu divertido potencial. Há uma grave descompasso entre drama e humor, e o próprio David Harbour não se mostra como uma escolha inspirada no papel. Bem, para os fãs de ação e Natal, sempre existirá Duro de Matar.
Noite Infeliz (Violent Night, EUA – 2022)
Direção: Tommy Wirkola
Roteiro: Pat Casey e Josh Miller
Elenco: David Harbour, Beverly D’Angelo, John Leguizamo, Alex Hassell, Alexis Louder, Leah Brady, Edi Paterson, Cam Gigandet, Alexander Elliot
Gênero: Ação
Duração: 112 min