Nosferatu, o horror atemporal que redefiniu o gênero

Nosferatu” é um nome que ressoa como um sussurro sombrio nos corredores da história do cinema. Se você é fã de filmes de terror, sabe que esse título carrega uma herança gigantesca. E agora, com a versão de 2024 dirigida por Robert Eggers, temos um novo capítulo nesse legado. Confesso que quando ouvi falar do projeto, fiquei dividido entre o entusiasmo e o receio. Mas, depois de assistir, posso dizer que Eggers conseguiu algo raro: ele trouxe nova vida a uma história quase centenária, sem perder a essência gótica que a torna tão icônica.

O filme é uma obra-prima estética. Desde os figurinos meticulosamente desenhados até os cenários que parecem saídos diretamente de uma pintura renascentista, tudo grita perfeição. Eggers já mostrou que tem um olho afiado para os detalhes em filmes como ‘A Bruxa‘ e ‘O Farol‘, mas aqui ele realmente se superou. O castelo de Orlok, filmado em locais históricos como o Castelo de Hunedoara, na Romênia, é um personagem à parte. Dá para sentir o peso da história em cada pedra, o que só aumenta a imersão; as cenas externas no Castelo Pernštejn, na República Tcheca, trazem um toque de familiaridade para quem já assistiu à versão de Werner Herzog de 1979.

E não é só o visual que impressiona. O som é outro elemento fundamental aqui. Bill Skarsgård, que interpreta o icônico Conde Orlok, passou semanas treinando sua voz com um coach de ópera para alcançar uma tonalidade mais grave. Ele mesmo descreveu o processo como algo “insano”, comparando os exercícios a canto gutural mongol. Com isso, o resultado foi uma voz que parece sair diretamente do túmulo, gelando a espinha a cada palavra. É um detalhe que faz toda a diferença, adicionando uma camada extra de horror ao personagem.

Falando no elenco, é difícil não destacar a performance de Lily-Rose Depp como Ellen Hutter. Ela entrega uma interpretação que transita entre o trágico e o assustador, capturando perfeitamente a essência de uma mulher presa entre o amor e o horror. Willem Dafoe, como de costume, rouba a cena no segundo ato, trazendo energia e carisma a um filme que, em certos momentos, flerta com o risco de perder o ritmo. Já Skarsgård, embora impecável em sua presença física, poderia ter explorado mais a vulnerabilidade de Orlok, algo que, acredito, daria ainda mais profundidade ao personagem.

Outros pontos sobre o longa-metragem

A narrativa, como esperado, segue de perto a estrutura do Nosferatu original, mas com algumas reinterpretações interessantes. Eggers não teve medo de mergulhar fundo no folclore vampírico, o que resulta em um Conde Orlok que é tanto um aristocrata decadente quanto uma criatura pútrida e apavorante. Essa dualidade é reforçada pelo design do personagem, inspirado em nobres húngaros do século XVIII, com trajes complexos, sapatos de salto alto e, claro, o bigode.

Agora, vamos falar das críticas. Se há um ponto em que o filme tropeça, é no ritmo do segundo ato. Após um início espetacular, que nos transporta para a atmosfera sombria da Transilvânia, a história desacelera quando retorna à Alemanha. Apesar do foco maior em Ellen e seus conflitos internos, o roteiro parece hesitar em aprofundar verdadeiramente os personagens secundários. É uma pena, porque figuras como os Hardings, interpretados por Aaron Taylor-Johnson e Emma Corrin, tinham potencial para adicionar camadas emocionais à trama.

Mesmo assim, o terceiro ato compensa qualquer vacilo. A conclusão é visualmente arrebatadora, com um uso brilhante de luz e sombra que homenageia o expressionismo alemão do filme original. E embora o desfecho não seja exatamente uma surpresa para quem conhece a história, a execução é tão impactante que você dificilmente se importará com a previsibilidade. Nosferatu é mais do que uma releitura de um clássico; é uma carta de amor ao cinema gótico. Apesar de pequenos pontos negativos, quase imperceptíveis ao assistir o possível novo clássico, o filme é um espetáculo visual e auditivo que merece ser visto na maior tela possível. Então, se você gosta de histórias que arrepiam e fascinam ao mesmo tempo, corra para o cinema.

Nosferatu (idem, EUA – 2024)
Direção: Robert Eggers
Roteiro: Robert Eggers, Henrik Galeen, Inspirado na obra de Bram Stoker
Elenco: Lily-Rose Depp, Nicholas Hoult, Bill Skarsgård, Aaron Taylor-Johnson, Willem Dafoe, Emma Corrin, Ralph Ineson, Simon McBurney
Gênero: Horror
Duração: 132 min.

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Lucas Rodrigues

Redator e editor de vídeo, com passagens pelo Cenapop (UOL) e Hit Site (R7). Jogo uns games por aí e produzo arte visual.

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