Crítica | O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim é ótima animação que presta tributo tímido ao universo de Tolkien

Conheça O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim, uma animação rica em cores e traços orientais, que aborda valores familiares e vingança.
Crítica | O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim é ótima animação que presta tributo tímido ao universo de Tolkien Crítica | O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim é ótima animação que presta tributo tímido ao universo de Tolkien
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O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim abre com o célebre tema composto por Howard Shore para a trilogia cinematográfica. Embora o que se verá a seguir seja uma opulenta animação ao estilo oriental, com colorido exuberante e traço inconfundível, o resultado se comunica relativamente pouco com o universo de valores de Tolkien – notadamente, a origem e a essência do Mal e sua relação com a busca pelo poder. O que o desenho animado propõe, por outro lado, é uma abordagem mais corriqueira de temas como valores familiares e vingança, ou seja, aqui temos mais da animação japonesa clássica (que por sua vez remete ao universo dos samurais) do que da abordagem filosófica que tão bem caracteriza a literatura do britânico. Kenji Kamiyama, o responsável pela releitura, é um renomado diretor e roteirista japonês, famoso por seu trabalho em animes que combinam ficção científica e crítica social e especialmente pela bem-sucedida série Ghost in the Shell: Stand Alone Complex, misturando visual sofisticado e detalhista com crítica social.

Universo de Tolkien se firma no imaginário da cultura popular

J.R.R. Tolkien, autor de O Senhor dos Anéis, criou uma das obras literárias mais influentes do século XX. Seu trabalho foi adaptado para o cinema pela primeira vez de forma significativa na trilogia dirigida por Peter Jackson entre 2001 e 2003. Os filmes — A Sociedade do Anel, As Duas Torres e O Retorno do Rei — trouxeram à vida o complicado universo da Terra-média, com cenários deslumbrantes, efeitos visuais inovadores e performances memoráveis de um elenco capitaneado por Ian McKellen, Viggo Mortensen e Elijah Wood. Fiel ao texto original mas sem descuidar de uma linguagem cinematográfica atraente ao público contemporâneo, a trilogia arrecadou bilhões de dólares e venceu 17 Oscars, incluindo o prêmio de Melhor Filme para O Retorno do Rei.

O impacto cultural e comercial dos filmes de O Senhor dos Anéis foi imenso, revigorando o gênero de fantasia no cinema e influenciando produções que viriam. A trilogia também demonstrou a viabilidade de grandes produções filmadas fora de Hollywood, com a Nova Zelândia se tornando um dos principais destinos cinematográficos graças aos esforços de Jackson e sua equipe. Além disso, os filmes geraram uma base de fãs ainda mais ampla para os livros de Tolkien, consolidando seu legado como uma das maiores referências literárias e culturais. 

A franquia O Senhor dos Anéis gerou diversos subprodutos que expandiram o universo criado por J.R.R. Tolkien para além dos livros e filmes originais. Entre eles estão os filmes da trilogia O Hobbit, também dirigidos por Peter Jackson, que adaptaram a obra homônima de Tolkien em três partes: Uma Jornada Inesperada, A Desolação de Smaug e A Batalha dos Cinco Exércitos. No campo televisivo, a série O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, lançada pela Amazon Prime Video em 2022, explorou histórias da Segunda Era da Terra-média, com um alto orçamento que buscou trazer novos detalhes ao universo. Além disso, a franquia inclui vários games, além de jogos de tabuleiro,  figuras de ação e outros produtos de colecionador. Esses subprodutos continuam a atrair fãs antigos e novos, mantendo a relevância da obra de Tolkien na cultura popular.

Animação renova franquia mas comunica pouco com o essencial de Tolkien

A história de O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim acontece 183 anos antes dos eventos narrados na trilogia O Senhor dos Anéis, explorando o período do reinado de Helm Hammerhand, um dos monarcas mais icônicos de Rohan. O enredo aborda os acontecimentos que resultaram na construção do Abismo de Helm, local emblemático tanto na geografia quanto na cronologia da Terra Média. A narrativa explora temas como vingança, honra e superação em tempos de conflito, introduzindo novos personagens, como Héra, filha de Helm, e o antagonista Wulf, líder dos Dunlendings. 

Embora a animação contenha drama e ação suficientes para entreter e satisfazer os mais exigentes fãs do formato, os admiradores mais fieis de Tolkien podem sentir falta de uma ligação consistente com o drama abordado na trilogia principal. Enquanto esta apresenta um universo fantástico (compreendendo personagens, criaturas e situações de natureza sobrenatural), aqui o enredo se limita a dramas mais temporais, intrigas românticas e até mesmo políticas que ecoam pouco a abordagem filosófica de Tolkien e sua relação metafórica com acontecimentos do século em que o autor viveu. Nada, contudo, que comprometa o impacto de O Senhor dos Anéis: A Guerra dos Rohirrim como filme propriamente dito, cujas qualidades superam as objeções e fazem valer o ingresso com sobra.

Sobre o autor

Daniel Moreno

Cineasta, roteirista e colaborador esporádico de publicações na área, diretor do documentário “O Diário de Lidwina” (disponível no Amazon Prime e ClaroTV), entre outros.

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