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Crítica | Os Belos Dias de Aranjuez

Redação Bastidores Redação Bastidores
In Catálogo, Cinema, Críticas•30 de março de 2017•7 Minutes

Em semana de estreia, muitos blockbusters, além de dominarem as salas, saem com muitas cópias em 3D. São minoria os filmes que souberam utilizar dessa nova tecnologia já um pouco antiga. Há, no entanto, sempre tempo para a reaproveitar, movimento que, em certo limite, acaba sendo o de ruminar a técnica, ou voltar ao princípio, ao simples, sem esquecer da sua complexidade natural. Nos últimos anos, alguns cineastas se propuseram a incorporar as novidades experimentalmente em suas obras. Primeiro com o vídeo e a imagem digital a partir do final da década de 70, e com o 3D há pouco mais de uma década. Não surpreende que alguns nomes já fossem tidos como revolucionários e influentes antes mesmo do surgimento dessa problemática técnica. Jean-Luc Godard dentre eles, com seu último longa Adeus à Linguagem, depois de dar os “primeiros” passos em 3x3D. Outro, Wim Wenders. O alemão volta ao 3D que usou em Pina e em Tudo Vai Ficar Bem para pensar de vez nessa tecnologia. Wenders para para pensar. E essa pausa passa necessariamente pelo uso do 3D, o que uma projeção convencional tiraria, de cara, metade da fruição de Os Belos Dias de Aranjuez.

Nem documentário, nem um drama romanesco. Retomando a parceria com Peter Handke, roteirista de Movimento em Falso e As Asas do Desejo, o diretor transforma agora uma peça teatral em matéria de cinema. Em Pina, o 3D unia-se ao real para intensificar a imersão, a corporalidade da dança e aproximar a performance do espectador. Aranjuez nem preocupa-se tanto em ver o real que inspira o sonho, senão o sonho em si.

Visões deslumbrantes de uma deserta Paris em 3D são utilizadas como prelúdio para dividir o mundo externo, inativo, paralisado do espaço da ação. Ou seria o espaço da ação paralisado em relação ao mundo? Um escritor, dentro de casa, vê pela porta aberta o seu jardim. Uma mesa. Árvores, flores. Luz e sombra. A origem da imagem. A máquina de escrever e uma jukebox. A criação começa. Um homem (Reda Kateb) e uma mulher (Sophie Semin). Uma maçã. A origem do mundo. Such a perfect day, canta Lou Reed. Um mundo que não poderia ser tecnicamente mais próximo, e ainda sim tão distante. O mundo está feito, pronto. Entra em cena o verbo. A natureza que enche a tela não se repete nos discursos formatados, um tanto monotônicos (a falta de afetação visando a atenção ao conteúdo), que buscam numa certa força da palavra, pensar no amor, no idílio, nas descobertas do corpo, no Homem, no macho, na fêmea e na nostalgia. Essa dor da incapacidade do regresso para um outro tempo e lugar é manifestada cenicamente: os diálogos prolixos entre o homem e a mulher compartilham com alguns momentos musicais toda a extensão do filme (naturalmente teatral, sem deixar de ser cinematográfico). A nostalgia, por mais paradoxal que possa parecer, é o que Os Belos Dias de Aranjuez traz de mais atual, funcionando como subtexto político de comentário dos nossos tempos, em meio à força da amnésia, da memória confusa (como se a lembrança em si já não fosse impressionista o suficiente em si mesma) e da necessidade constante da previsão.

A dinâmica é auxiliada pelos cortes constantes e pela movimentação de câmera, que confia numa visão aberta que não perde os detalhes. Importa a alma dos personagens, logo, a alma do criador. As experiências passadas não param de surgir para construir uma forma de reconstruir esse passado, belos dias no presente, Aranjuez de Handke vira um espectro do Hiroshima de Marguerite Duras. A abstração (os personagens) serve de caminho para enxergar os problemas contemporâneos concretos.

Mesmo sendo um trabalho notável como um todo, o diretor ainda derrapa ao querer pensar em um presente (quase passado) que ele mesmo já dissecara tão bem em Um Filme para Nick, por exemplo, misturando película e a corporalidade suja do vídeo. A consciência da estria, do pixel, enche a tela nos momentos finais. O vídeo foi dispositivo para ver e crer. Agora, com a saturação dessa ideia, não se pode mais confiar na imagem (alguma vez se pôde?), resta a palavra. Mas ainda é uma palavra rebuscada, carregada de dizeres incompletos, fragmentária, muito afetada pela crítica à abundância de informações – o caos acaba invadindo o canal sonoro e quebra-se o “pacto” de não se fazer nenhuma ação, só diálogos. É uma quebra epifânica, previsível num filme que poderia ser bem menos cheio de si. Wim Wenders acaba afirmando demais e duvidando de menos. O homem que é mais ouvinte que contador de histórias que a mulher, termina num movimento desesperado. O criador enfrenta um entorno negro, tempestuoso. Retrai-se, olha para o quadro dentro da casa, dilata a imagem até o limite. Negro limite que é também umbigo. Um filme que ao entrar em crise, já chega com todo um aparato para voltar ao seu status quo.

Os Belos Dias de Aranjuez (Les beaux jours de Aranjuez, França, Alemanha – 2016)
Direção: Wim Wenders

Roteiro: Peter Handke e Wim Wenders
Elenco: Reda Kateb, Sophie Semin, Jens Harzer, Peter Handke, Nick Cave
Gênero: Drama
Duração: 97 min

Redação Bastidores

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