Com Spoilers
Há um entendimento entre muitos dos fãs do gênero, que a estrutura de roteiro das produções audiovisuais que tratam a respeito de loops temporais, geralmente, tem uma trama batida, já que é sabido a respeito que o protagonista terá de vivenciar o seu dia repetidas vezes no mesmo dia, e isso quase que infinitamente, até que dê um jeito de quebrar aquele enigma acerca do loop temporal. E é nessa pegada que funciona a narrativa de Palm Spings.
Andy Samberg, o astro da série de humor Brooklyn Nine-nine, interpreta Nyles, um homem que está em um relacionamento conturbado com sua esposa que o trai. Nyles conhece a jovem Sarah (Cristin Milioti) em uma festa de casamento e logo se encanta por ela. O que parecia estar sendo um romance acaba por se tornar totalmente o contrário quando um homem (J. K. Simmons) surge aleatoriamente caçando Nyles, e eis que nesse momento aparece uma caverna misteriosa. Dentro dela parece ter algo similar com o de uma energia. Obviamente, Sarah entra nesse buraco e acaba por fazer parte da maldição que Nyles já vive: o de sempre acordar no mesmo dia.
É uma história contada e recontada em diversas produções, tanto em séries quanto em filmes. Filmes como A Morte te Dá Parabéns (2017) e No Limite do Amanhã (2014) usaram e abusaram dessa fórmula, que se bem empregada consegue tirar as mais diversas sensações do público. Em Palm Springs esse artifício é bem desenvolvido e feito de um jeito que não deixa o longa cansativo para o espectador.
Diversão Garantida
O roteiro de Andy Siara utiliza da receita já vista nos filmes mencionados acima e também no de alguns episódios de seriados. Porém, com a diferença de mostrar o protagonista gostando de viver um dia após o outro, esse é o diferencial de Palm Springs. Nyles tem uma vida que ele mesmo não leva a sério, e depois de muitas tentativas de se matar para tentar sair do looping temporal que se meteu, acaba por achar tudo aquilo normal, e o pior, o personagem não mudou em nada com o tempo que está dentro do loop.
A situação envolvendo o loop o deixa mais humano com o tempo, pois o que a trama, ao se aprofundar na história de Nyles, nos mostra é que é que o personagem não se importa muito em sair daquela situação, ou seja, a mensagem é que Nyles não pensa em um futuro, só pensa mesmo em viver o presente, e isso só muda quando Sarah acaba por entrar no loop sem querer, e é a força de vontade dela, junto com a paixão que ele nutre por ela, que acaba mesmo mudando o jeito de Nyles pensar.
A criação do romance entre a dupla é bem desenvolvida, até pelo fato de Sarah ser totalmente o oposto de Nyles. Ele não aparenta ser uma pessoa madura, enquanto que Sarah apresenta traumas do passado, que faz da personagem muito mais interessante que o próprio protagonista. É um acerto apresentar a personagem de uma forma mais dramática, algo que dá uma quebra no humor praticado no primeiro ato quando Sarah descobre estar vivendo em um loop temporal.
A direção do estreante Max Barbakow é inteligente e até surpreende pela decisão que encontra ao mostrar os caminhos tomados pelos personagens, claro que em alguns momentos a produção parece óbvia nos rumos que os personagens vão tomar, assim como em algumas situações o diretor parece se perder em não dar um grande desenvolvimento para ambos, principalmente na vida de Nyles antes de entrar nessa enrascada.
Há bons momentos de humor na trama, principalmente no primeiro ato em que muitas confusões acontecem com Sarah descobrindo que acabou caindo em um loop infinito. Andy Samberg se sai bem em trazer um personagem muito parecido com o de Jake Peralta, que interpreta em Brooklyn Nine-nine, o de um homem que parece infantil em alguns momentos, mas que logo amadurece e toma decisões sérias. A grande surpresa mesmo está com a aparição de J.K. Simmons que está ótimo como o homem que busca vingança contra Nyles, transformando essa vingança quase que em um esporte. Sua presença acaba trazendo graça para a narrativa, mesmo que as cenas sejam bastante violentas.
Feitiço do Tempo
A fórmula clássica e consagrada pelo filme O Feitiço do Tempo (Harold Ramis) é o elemento principal da produção e o diretor, assim como acontece com a maioria das produções do gênero, consegue fazer com que o longa se desenvolva ao redor desse problema que é o loop temporal, fazendo com que as situações transmitidas ao público sejam as mais diferentes possíveis, levando desde tensão, terror, e até mesmo humor para os espectadores.
Porém, é difícil fazer um filme com essa temática e não cair na mesmice de sempre, que é o fato do loop acabar por se tornar algo extremamente repetitivo, fazendo parecer com que o roteiro não saiba para onde ir. Mas isso só acontece em alguns momentos da trama de Palm Springs, no demais o longa consegue se reinventar rapidamente e apresentar uma nova situação que leve a história adiante. O jeito com que o romance entre os dois personagens é apresentado também é algo interessante. De início Nyles só queria curtir, mas depois percebe que está apaixonado, o que resulta em bons momentos dramáticos.
Palm Springs é um bom entretenimento no fim das contas, mesmo apresentando um tema que já foi muito mostrado em diversas tramas, mas que nunca se esgota, sempre há uma história nova para ser desenvolvida. E o longa de Max Barbakow consegue surpreender de forma bastante despretensiosa e divertida.
Palm Springs (idem, 2020 – EUA)
Direção: Max Barbakow
Roteiro: Andy Siara
Elenco: Andy Samberg, Cristin Milioti, J.K. Simmons, Peter Gallagher, Meredith Hagner
Gênero: Comédia, Fantasia, Mistério
Duração: 90 min