A indústria cultural, tanto a audiovisual quanto a literária, adora trabalhar elementos clássicos dos contos de fadas em suas obras. O cinema em si costuma inserir clichês desses mesmos contos em suas produções, como o da Princesa que está em perigo e surge um Príncipe Encantado para salvá-la.
Em Perdida, filme em que Katherine Chediak Putnam dirigiu e participou da concepção do roteiro, é uma adaptação do livro Perdida (Vol. 1): Um amor que ultrapassa as barreiras do tempo, de Carina Rissi. No longa, Sofia (Giovanna Grigio) é uma garota independente e habituada com os tempos modernos, sendo fã de romances, como a obra Orgulho e preconceito, de Jane Austen. Após pegar um celular emprestado de uma misteriosa taxista tudo muda em sua vida, sendo transportada para o século XIX, mais especificamente no Brasil de 1830.
Perdida é um conto de fadas brasileiro
Contando com uma franquia de seis livros e com mais de 500 mil exemplares vendidos, é de se concluir o motivo de Perdida ter sido adaptado para a telona. A obra literária em si já era bastante midiática e famosa, portanto, a ideia era a de aproveitar toda essa popularidade e tentar levar o máximo possível de espectadores para as salas de cinema. O resultado final foge bastante do que o cinema nacional está proporcionando nos últimos anos, em que as comédias de estilo pastelão estão dominando o cenário audiovisual, e é bem vinda uma tentativa de se fazer algo variado, mesmo se tratando de uma adaptação.
A direção e o roteiro acertam na forma que abordam a história, enviando a protagonista em uma viagem no tempo – algo parecido com o que pode ser presenciado na série norte-americana Outlander – para a época que Sofia sempre sonhou em viver, no período em que os romances de Jane Austen se passam, e assim o filme cai em um dos maiores clichês dos contos de fadas e que é replicado em Perdida, que é o jeito como Sofia tem seu encontro com o jovem “Príncipe”, ou no caso Clarke (Bruno Montaleone), um homem que se apresenta com trajes que seriam considerados cafonas para os dias atuais, mas que para a época era a última moda.
Um ponto negativo do longa é o fato de não abordar a escravidão que ocorreu no período em que a trama ocorre – e que no livro também não é abordado – seguindo assim os caminhos narrativos da obra original ignorando um tema tão importante. Não é por ser uma adaptação que é obrigatório seguir a narrativa da obra original, sendo possível alterar alguns trechos e o filme erra nesse cenário.
Amor através do tempo
Por se tratar de um romance que se passa em outro tempo é natural que iria haver um choque cultural e de tradições entre o moderno e arcaico, relacionado à ida de Sofia para o passado, algo que rende algumas risadas em certas ocasiões. O romance da dupla de protagonistas é puro clichê, não funcionando tão bem quanto se imaginaria que iria acontecer, e muito disso se dá pela falta de originalidade do roteiro, que até funciona, mas mesmo assim não chega aos pés de um Meia-Noite em Paris (2011).
O elenco em si não atrapalha o andamento da trama, sendo que Giovana Grigio se sobressai, não apenas por ser a protagonista e ter mais tempo de tela, mas também por ser ótima atriz. Porém, o mesmo não se pode dizer da atuação de Bruno Montaleone, que é um bom ator, mas sua interpretação não foge do básico, sendo bastante teatral em alguns momentos.
Perdida tem bons momentos, mas é de se estranhar a falta de noção em lançar um longa que poderia se dar bem nas bilheterias nacionais, em um mês que contou com a estreia de dois blockbusters dos mais esperados do ano: Barbie e Oppenheimer. Poderia ter maior sorte e uma vida mais longa nos cinemas, mas provavelmente não é isso o que irá ocorrer. O que resta à produção é o fato de que tentou trazer algo de novo sem cair na mesmice que acontece tanto com os filmes atuais nacionais.
Perdida (Brasil, 2023)
Direção: Katherine Chediak Putnam, Luiza Shelling Tubaldini
Roteiro: Rod Azevedo, Karol Bueno, Katherine Chediak Putnam, Dean W. Law, Luiza Shelling Tubaldini, Carina Rissi (Livro)
Elenco: Giovanna Grigio, Bruno Montaleone, Bia Arantes, Luciana Paes, Nathália Falcão, Hélio de la Peña
Gênero: Romance
Duração: 115 min