Crítica | Stranger Things 4 traz muita ação e ritmo rápido em segundo volume

O começo do fim.

Não contém spoilers

Após um hiato de mais de um mês, simplesmente em motivo de efeitos visuais inacabados, a quarta temporada de Stranger Things enfim chegou ao fim. Mantendo a tradição dos episódios absurdamente longos de seu primeiro volume (todos passavam da marca de 1 hora), o volume 2 traz praticamente dois longas-metragens para terminar o quarto ano de Hawkins na Netflix.

Diversos dos meus comentários do primeiro volume se aplicam a esta segunda parte: ainda tenho problemas com o número maciço de personagens, com a defeituosa montagem paralela que tenta manter o interesse em diferentes núcleos – os mais fracos e descartáveis deles envolvendo a aventura de Hopper (David Harbour) na União Soviética e, claro, todo o desvio narrativo com o sonolento Mike (Finn Wolfhard), o enrustido Will (Noah Schnapp), o sonâmbulo Jonathan (Charlie Heaton) e o maconheiro Argyle (Eduardo Franco). 

Ao menos, agora já focados em um desfecho narrativo, todos os personagens parecem melhor posicionados, com o grupo liderado por Dustin (Gaten Matarazzo), Nancy (Natalia Dyer), Steve (Joe Keery), Robin (Maya Hawke), Lucas (Caleb McLaughin), Max (Sadie Sink) e Eddie (Joseph Quinn) novamente assumindo o grande destaque em sua batalha contra o tenebroso Vecna. Todas as cenas envolvendo esse núcleo são as mais interessantes e empolgantes, especialmente o momento musical em que o carismático Eddie usa de “Master of Puppets” do Metallica; garantindo uma imersão tão boa e divertida quanto o agora emblemático uso de “Running Up that Hill”, de Kate Bush, no primeiro volume.

Vale apontar que os irmãos Matt e Ross Duffer apresentaram, no geral, uma grande melhora como diretores nessa quarta temporada como um todo. Apesar da frágil estrutura de núcleos quebrados, tudo parece valer a pena quando a dupla aposta em uma série de montagens paralelas, onde personagens diferentes enfrentam inimigos diferentes em locações distintas, tudo muito bem amarrado e com a sempre vibrante trilha sonora de Kyle Dixon e Michael Stein. Uma excelente evolução visual, especialmente quando o grupo de Max enfim adentra na casa de Vecna, gerando uma cena toda iluminada por belíssimas luzes azuis.

O tão prometido embate entre Onze (Millie Bobby Brown) e Vecna também finalmente acontece, e é eficiente. Apesar de carecer em formas visualmente criativas de mostrar os poderes de Onze e de não trazer uma versão tão ameaçadora e poderosa do antagonista, que é o mais próximo de Freddy Krueger que eu pude ver nos últimos anos, seu desfecho é suficientemente apropriado para uma série que – pelo visto – está apenas preparando o terreno para seu grande capítulo final, que acontecerá na já anunciada quinta temporada. Curiosamente, o acerto de contas entre Onze e “Papai” (Matthew Modine) conseguiu ser mais épico e marcante do que o próprio embate com Vecna, já que tal momento se beneficiou de uma escala gigantesca e maior do que qualquer coisa que a série já fez, novamente remetendo a alguns momentos da filmografia de Steven Spielberg.

Porém, é preciso falar sobre a falta de coragem dos produtores. Sim, esta crítica não traz spoilers, mas para uma série que tem tantos personagens, núcleos diversos e tanta coisa em tela, era de se esperar ao menos um pouco de coragem para descartar personagens. Há uma cena de morte em especial que, em essência dramática, certamente se encaixaria melhor com um outro personagem veterano, mas cujo impacto é diminuído justamente por ser aplicada a uma figura que só passamos a conhecer de fato nesta quarta temporada. O mesmo também serve para o desfecho confuso e que grita “vamos decidir depois” envolvendo a personagem que, de longe, foi o destaque dentre o elenco deste ano.

Ainda assim, olhando para o todo nesta quarta temporada, acho inegável que Stranger Things 4 seja a melhor fase da série da Netflix desde sua simpática primeira temporada. Apesar do inchaço narrativo e do número incontrolável de personagens a se seguirem em episódios desnecessariamente longos, a série se beneficia de um excelente antagonista e um final muito promissor

Stranger Things 4 – Vol. 2 (EUA, 2022)

Showrunners: Matt Duffer, Ross Duffer
Direção: Matt Duffer, Ross Duffer
Roteiro: Matt Duffer, Ross Duffer

Elenco: Millie Bobby Brown, Winona Ryder, Finn Wolfhard, Gaten Matarazzo, Caleb McLaughlin, David Harbour, Maya Hawke, Joe Keery, Natalia Dyer, Sadie Sink, Noah Schnapp, Charlie Heaton, Matthew Modine, Paul Reiser, Eduardo Franco, Joseph Quinn
Streaming: Netflix
Episódios: 2
Duração: 90 min e 140 min

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Sobre o autor

Lucas Nascimento

Estudante de audiovisual e apaixonado por cinema, usa este como grande professor e sonha em tornar seus sonhos realidade ou pelo menos se divertir na longa estrada da vida. De blockbusters a filmes de arte, aprecia o estilo e o trabalho de cineastas, atores e roteiristas, dos quais Stanley Kubrick e Alfred Hitchcock servem como maiores inspirações. Testemunhem, e nos encontramos em Valhalla.

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