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Crítica | Toni Erdmann

Redação Bastidores Redação Bastidores
In Catálogo, Cinema, Críticas•8 de fevereiro de 2017•8 Minutes

Fazer uma boa comédia é realmente mais difícil do que parir um drama eficiente. Esses dois tipos de histórias têm seus vícios, suas facilidades e apelações, variando de território em território, de cinema em cinema. Fugindo das atualidades que o tempo pode devorar como um salgadinho barato – encarregue-se o jornalismo humorístico dessa seara –, as boas histórias encontram ressonância atingindo os temas universais. Com o passar das gerações e a atenuação dos regionalismos, da truculência explícita do patriarcado e uma consciência maior do que é preconceito, relações possíveis parecem ter se ampliado na sociedade ocidental. Possibilidades que se tornaram clichês, capazes de se engancharem nos momentos políticos, ora atraindo saudosos de uma comédia “proibida” (raras vezes inteligente, mas ao menos expansiva) e uma comédia “jovem” (baseada na repetição do cotidiano, das situações como espelho exagerado da realidade, pelas gírias, caras e bocas, que tomam corpo principalmente nos vídeos e nas arestas que tentam agarrar do cinema). A distância entre Os Trapalhões e Eu Fico Loko é enorme. Mas como soube a alemã (que ironia) Maren Ade construir um filme que, se o grande público der uma chance, encontrará uma das melhores comédias dos últimos tempos. Verdade que a forma levada por Ade está longe de trazer aquela iluminação horrível ou a gritaria das globochanchadas. Porém, soube fazer das ferramentas dos cinemas autorais um catalisador da sua extensa, ao mesmo tempo curta, comédia.

A diretora alemã segue por uma via aberta pelos belgas Luc e Jean-Pierre Dardenne. Os irmãos que outrora fizeram uma das melhores obras em questão de cinema político, Rosetta (1999), parecem ter esquecido da eficiência da câmera aliada à dramaturgia para se dedicarem a um fluxo puramente narrativo no mais recente A Garota Desconhecida. Parecia indicar uma exaustão criativa. A experiência jovial da cineasta de apenas 40 anos, porém, conseguiu reverter essa impressão.

Pai e filha, Winfried (Peter Simonischek) e Ines Conradi (Sandra Hüller) são os dois sóis da narrativa. A filha, uma adulta que está desbravando as perigosas e masculinas matas do mundo dos negócios, trabalha em Budapeste. Ela vive longe do pai, um idoso bonachão que vive na bênção de sua mediocridade, ajudando asilos e escolas com o seu humor performático (ele adora usar dentaduras falsas, perucas, roupas coloridas, alterar a voz) e dando aulas de piano. Com as suas férias, a figura kaufmaniana aproveita para visitar a filha e tentar revitalizar a relação dos dois. E como o humor já é inerente ao seu cotidiano (na primeira sequência do filme, em que a personagem atende a campainha, isso já fica claro), o pai vai tentar usar suas artimanhas para reconquistar o afeto da filha.

O primeiro contato dos dois se dá numa reunião familiar. Ines está apenas de passagem e Winfried, desavisado, chega de uma apresentação com pasta d’água no rosto. A materialidade do palhaço, a maquiagem, ao encontrar as vestes da filha num abraço é automaticamente rejeitada. As marcas de uma figura que transmite o prazer são rejeitadas pelo paletó de Ines.

Durante sua estada com a filha em Budapeste, Winfried ficará, num primeiro momento, apenas na forma de pai. Percebendo que seus esforços de aproximação são inúteis frente à realidade infeliz e por vezes humilhante que a filha enfrenta todos os dias, ele coloca uma peruca longa, dentes postiços, um terno e se transforma em Toni Erdmann – um Tony Clifton sob a identidade de coach. Vestindo as roupas do mundo empresarial, Toni vai se infiltrar no cotidiano da filha com suas mentiras bem intencionadas e chamar a atenção de todos ao seu redor.

Nesse jogo que só aparece de vez no filme depois de uma hora, a câmera sempre próxima mostra a que veio. Sem poder revelar para os colegas que aquela figura estranha é seu pai, Ines fica presa às pegadinhas e situações desconfortáveis que Toni inventa. Os planos longos dão vazão a todo o talento dos atores e da fluidez do texto (roteiro de ferro, é certo; os improvisos aos inexperientes!) que para o espectador são tão engraçados quanto desconfortáveis para as personagens. A câmera raramente se move durante os diálogos, apenas no campo-contracampo, não dando chance para saídas. Como estamos sempre mais ao lado de Ines do que de Toni, a câmera na mão abraça o espectador e instala uma imprevisibilidade iminente, quer dizer, nunca se sabe quando, como ou o que o pai vai fazer para chamar a atenção. E quando chama, não há uma estrutura óbvia de quando cada situação vai durar. Por outro lado, a dilatação incômoda, uma vez hilária, faz com que as duas horas e quarenta de filme não pesem.

A originalidade de Maren Ade é de uma simplicidade notável no cenário do cinema mundial, sobretudo do europeu que povoa festivais. Principalmente porque aproveita o que as raízes clássicas dos norte-americanos tem a oferecer ainda hoje. Seu esmero pelo que está na tela, sem focar no extracampo (um comentário complexo acerca da Europa atual) para além do necessário da construção dos personagens (as dificuldades da mulher no mercado de trabalho) confere a Toni Erdmann status de referência contemporânea. Certamente suas influências não estarão explícitas no futuro, afinal, não inventa nenhuma roda. Ao contrário, exibe sem ostentação nenhuma, a eficiência de suas ferramentas.

Kenneth Lonergan é outro que se arriscou numa escala épica com Margaret, com um processo de montagem e edição conturbado. O filme tinha seus experimentos expostos demais. A ópera era para Lonergan um artifício de busca pelo (melo)drama. Ade, em comparação, parece não fazer força para parir o milagre que é Toni Erdmann, sem usar som extradiegético nenhum. Ainda assim, a música tem papel fundamental em algumas cenas.

Se em Manchester à Beira-Mar há uma das mais difíceis e dramáticas cenas do cinema recente, Toni, com uma festa “diferente” no final e o climático abraço entre pai e filha, invoca todos os tipos de reações com o seu humor inteligente e a sua história de reencontro nada conformista. A risada, taxada de ferramenta passageira, frívola, ou até desrespeitosa sob a ótica religiosa, nas mãos de Ade é a chave perfeita para capturar a complexidade do nosso mundo.

Redação Bastidores

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