Não adianta colocar simbolismo onde não há interpretação. Em Um Forte Clarão, presente na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a história apática não consegue suprir sua ambição em ser algo artisticamente reflexivo.
A premissa básica é de três mulheres em um vilarejo monótono. A primeira é uma mulher que vende doces, grava seus pensamentos e vive com a mãe. A segunda está infeliz com seu casamento. A terceira é uma ricaça que só tem amizades devido ao interesse no seu dinheiro. O único cruzamento das histórias é que está se aproximando o dia da procissão de Nossa Senhora das Dores, a padroeira da comunidade.
Com todo o elenco composto por não atores, o intuito da diretora e roteirista Ainhoa Rodríguez foi de criar um ar natural para todas as cenas e diálogos cheios de simbolismos. Observando de uma maneira simples, é como um momento de provação para cada uma das mulheres antes do dia da santa. Rodríguez usa e abusa das misturas narrativas, com diversas cenas que voltam ou desaparecem de sua respectiva linha narrativa. E não é algo que cabe dentro do filme.
A mulher que ainda vive com a mãe é a que mais tem peso. Os vizinhos comentam sobre ela ao mesmo tempo que escutamos suas gravações, expressando uma versão de si que gostaria estar vivendo. A segunda sobre o casamento, rende só algumas partes cômicas e nada muito além. A mais estranha de todas é da rica e suas amigas, que estão sempre à flor da pele sexualmente.
Rodríguez é competente com os aspectos técnicos. Suas escolhas de plano, a montagem com cortes de quem escutamos para quem escuta, coisas sutis que dão um ar de filme grande. Mas no fim das contas Um Forte Clarão não passa disso, ficando para trás assim que os olhos se acostumam.
Um Forte Clarão (Destello Bravió, Espanha – 2021)
Direção: Ainhoa Rodríguez
Roteiro: Ainhoa Rodríguez
Elenco: Guadalupe Gutiérrez, Carmen Valverde, Isabel Mendoza
Gênero: Drama
Duração: 96 min
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