Brasileiros de modo geral têm extrema dificuldade de entender as regras e a dinâmica do beisebol – o esporte coletivo norte-americano por excelência, mas também muito popular em países como Japão e Coreia do Sul. Um dos principais motivos para isso é que ele é essencialmente diferente do futebol, e muitos de seus princípios chegam a ser contrários. Isso afasta quem acompanha um de acompanhar também o outro.
Enquanto o futebol é um esporte cronometrado, uma partida de beisebol pode simplesmente não acabar nunca, porque não existe empate e os times jogam até que um deles obtenha vantagem na pontuação. Isso significa que algumas partidas podem durar quatro ou até cinco horas. Além disso, o beisebol é um esporte de “duelos”, em que jogadores vão se confrontando um a um: enquanto o time que defende tenta eliminar os adversários, o time que ataca tenta fazer com que eles percorram o circuito completo (as bases) para que, assim, marquem pontos. É um esporte de paciência e superação de limites individuais, onde o coletivo trabalha de forma distinta do futebol, funcionando mais como uma sucessão de lances separados, o que é bastante curioso (e também complexo) quando se assiste pela primeira vez.
O beisebol profissional norte-americano é conhecido por uma sucessão inumerável de “lendas”, “maldições” e “tabus”, e um dos mais célebres entre eles diz respeito à fila enfrentada pelo time de Boston, os Red Sox, que após vender seu principal jogador para os rivais de Nova York (os Yankees, do bonezinho que a gente vê na rua mas nem todo mundo sabe que se refere ao time, e não à cidade) passaram mais de oito décadas sem ganhar um título. A minissérie da Netflix em três episódios, Virando o Jogo – Boston Red Sox 2004, conta a história de como um grupo de jogadores excêntricos e subversivos conseguiu “destruir a maldição” e fazer o Boston voltar a vencer após 86 anos de decepções e derrotas.
História do documentário já foi mostrada numa comédia
Os torcedores de Boston são conhecidos pelo fatalismo e fanatismo. A comédia Amor em Jogo, dirigida por Bobby e Peter Farrelly, tem por protagonista um apaixonado fã dos Red Sox e a história contada aqui de forma documental é pano de fundo para o romance divertido entre Drew Barrymore e Jimmy Fallon. O drama Moneyball – O Homem que Mudou o Jogo, por sua vez, funciona como um preâmbulo para ambos, uma vez que termina mais ou menos quando a campanha narrada nos outros dois se inicia (a “virada” dos Red Sox em direção ao título após tantas derrotas).
A série da Netflix pode ser acompanhada com prazer por qualquer espectador com algum interesse por esportes e relatos de superação em geral, além de ser uma pequena aula sobre gestão de talentos e como administrar pessoas num ambiente conturbado e hostil.
Para quem gosta e entende um pouco o esporte, é uma narrativa emocionante daquela que é – possivelmente – a mais impressionante virada da história dos esportes coletivos, quando na decisão do título que precede a disputa final (uma espécie de “semifinal” para os padrões futebolísticos), os Red Sox conseguiram virar uma contagem que jamais havia sido revertida antes – e contra seu maior algoz. Se você entende um pouco de beisebol ou se gosta de esporte coletivo de modo geral, Virando o Jogo – Boston Red Sox 2004 é um programa imperdível e que pode ser assistido num fôlego só.