Crítica | Wonka é uma açucarada história de origem

Wonka reestrutura de forma inteligente uma história que anteriormente não encontrava uma saída para ser reproduzida nas telonas

Roald Dahl foi um escritor que deixou inúmeras obras que hoje estão bastante presente na vida dos fãs de cultura pop. Livros como Matilda e O Bom Amigo Gigante foram adaptados para o cinema com relativo sucesso, assim como ocorreu com A Fantástica Fábrica de Chocolate, que recebeu adaptações para as telonas em 1971 com Gene Wilder no papel principal, e em 2005, com Johnny Depp interpretando Willy Wonka.

Nos dois filmes, o foco estava no tour promovido por Willy Wonka pela fábrica de chocolate, permitindo que os espectadores conhecessem mais sobre o personagem e suas ambições. Entretanto, nunca havia sido cogitada a ideia de criar um longa-metragem de origem, contando a história de como Willy conseguiu obter sucesso e criar sua fábrica de chocolate. Essa narrativa ganha vida com Wonka, filme dirigido por Paul King.

A nova versão traz Timothée Chalamet como Willy Wonka e Hugh Grant como o famoso Oompa-Loompa, personagem eternizado no filme da década de 1970. Em Wonka, o protagonista busca de todas as formas abrir sua loja de chocolate e levar o sabor transcendental de seus doces para todos. A narrativa é uma viagem fantástica pelo mundo do chocolate, com uma jornada pessoal de Wonka repleta de altos e baixos. A figura de Wonka, vestindo um sobretudo roxo e uma cartola, com seu ar apaixonado pela vida e pelos chocolates, traz um toque especial à produção, que se transforma em uma verdadeira jornada lúdica e fantasiosa.

É um grande trunfo da produção contar com Paul King na direção, cineasta responsável pelo excelente As Aventuras de Paddington 2, utilizando de sua capacidade para inserir humor e uma bela imaginação visual ao conceber a história. Para dar o tom a um personagem tão interessante como Willy, um homem apaixonado por chocolate e que navega pelo mundo em busca de iguarias que combinem com suas receitas, é necessário incorporar boas doses de fantasia e criatividade na criação do universo em que Wonka vive.

O roteiro, co-escrito por Paul King e Simon Farnaby, acerta em alguns aspectos e erra em outros. A primeira coisa que chama a atenção é que a trama, principalmente em seu último ato, torna-se bastante cansativa de se acompanhar. Isso não se deve à ausência de ação na narrativa, mas sim ao seu ritmo que é bastante maçante. Entretanto, situações importantes e que são bem desenvolvidas acabam disfarçando o ritmo lento, tornando-o menos perceptível.

Por se tratar de uma história de origem, é evidente que a motivação de Willy em querer construir sua loja de chocolate seja apresentada, a qual futuramente se tornaria um verdadeiro império dos doces. O personagem, portanto, tem uma motivação pessoal que é guiada pelo sonho e pela paixão de ter os chocolates mais saborosos do mundo, de modo que alcancem universalmente todos os públicos. É uma história de origem bem construída e nada superficial; ao contrário, há muitas camadas a serem consideradas na trama, como o drama de Wonka e os diversos desafios que surgem em meio à sua jornada.

Em alguns momentos, o filme soa brega, o que pode ser atribuído à opção em tratar a história como um musical. As canções, escritas por Neil Hannon, apresentam melodias encantadoras, porém, as letras carecem de alma e originalidade. Diferentemente de produções como O Rei do Show e La La Land, que são musicais envolventes e capazes de prender a atenção do público, Wonka revela-se bastante superficial nesse cenário. Tal fato acaba por transformá-lo em um longa raso, fazendo com que até mesmo O Retorno de Mary Poppins se torne uma obra brilhante em comparação nesse aspecto.

Chalamet é um dos grandes nomes da nova geração de atores e empresta seu carisma para o longa, ajudando a conferir um tom mais suave à trama. Wonka se mostra inocente em alguns momentos, e provavelmente a escolha de Chalamet tenha passado por isso, embora o protagonista não combine muito com o astro. O Wonka concebido por Paul King e interpretado por Timothée é encantador, distinto do maníaco de 1971 ou do ingênuo e sarcástico interpretado por Depp.

Com boas doses de humor, a produção apresenta um visual lindíssimo, tanto na direção de arte quanto no figurino. A obra é um verdadeiro show de cores, lembrando até mesmo as características visuais presentes nas obras de Wes Anderson, assim se destacando em relação ao visual extravagante criado por Tim Burton para o longa de 2005.

Wonka reestrutura de forma inteligente uma história que anteriormente não encontrava uma saída para ser reproduzida nas telonas, como nos dois filmes anteriores de A Fantástica Fábrica de Chocolates. Alcançando seu objetivo principal, que é atrair um novo público para conhecer a história de Willy Wonka e, quem sabe, criar uma nova franquia. Sem dúvida, é um dos grandes filmes do ano, prometendo divertir o público com altas doses de simpatia e carisma.

Wonka (idem, EUA – 2023)

Direção: Paul King
Roteiro: Simon Farnaby, Paul King, inspirado na obra de Roald Dahl
Elenco: Timothée Chalamet, Olivia Colman, Hugh Grant, Sally Hawkins, Paterson Joseph, Keegan-Michael Key, Rowan Atkinson
Gênero: Aventura, Comédia, Família
Duração: 116 min

Add a comment

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Sobre o autor

Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

Ler posts desse autor