“Sand Land” é um título de videogame inspirado na obra de mangá criada por Akira Toriyama, o renomado criador de séries icônicas como “Dragon Ball” e “Dr. Slump”. O lançamento do jogo ocorreu logo após o inesperado óbito do mangaká, que contribuiu para o projeto na função de consultor. Aqueles que acompanham de perto a carreira de Toriyama estão cientes de sua familiaridade com o universo dos videogames, tendo atuado como designer de personagens para jogos de JRPG aclamados, incluindo “Dragon Quest” e “Chrono Trigger”. Vamos explorar como se saiu essa recente incursão dos jogos baseados na arte do grande mestre.
Um novo mundo
“Sand Land” se destacou por ser um mangá conciso, com uma narrativa completa em apenas 14 capítulos dentro de um volume. Para adaptá-lo em um jogo de ação com mecânicas de RPG, os criadores precisaram expandir o conteúdo original. Com isso, tanto a história quanto o universo do mangá foram estendidos para a animação e para a versão do jogo.
O jogo não oferece um mundo aberto tão vasto quanto o de “Red Dead Redemption 2”, mas ainda assim, proporciona um cenário que permite certa exploração e descoberta. Os jogadores coletam materiais ao longo de sua jornada, que são essenciais para construir itens que equiparão seus veículos e robôs, além de gerenciar recursos estratégicos durante os combates, incluindo aqueles que potencializam a força, melhoram a defesa e, claro, poções para recuperação de vida.
É possível que alguns considerem o mundo do jogo um tanto quanto desolado e com elementos repetitivos, o que não deixa de ser verdade em algumas partes. No entanto, a dedicação em transpor o mundo de Toriyama para o jogo compensou, resultando em pontos fortes. A falta de diversidade nos elementos do mundo aberto é contrabalançada pela impressionante qualidade visual e pela trilha sonora excepcional, que realça o clima de cada momento do jogo.
Prepare-se para o combate
Em “Sand Land”, você assume o papel de Beelzebub, o príncipe dos demônios, que é atraído para uma jornada pelo xerife com a promessa de encontrar o enigmático “lago fantasma” – uma missão que começa com um suborno peculiar: um videogame. No início, Beelzebub tem um repertório limitado de movimentos, consistindo em um combo simples, um ataque poderoso e uma esquiva.
À medida que avança no jogo, uma árvore de habilidades robusta permite que você aprimore as capacidades de Beelzebub e de seus aliados. O protagonista vai desbloquear novas técnicas e combinações de ataques que enriquecem o combate, além das habilidades especiais dos seus companheiros – o xerife, o demônio Thief e Ann – que podem ser ativadas durante as batalhas, em um sistema que faz lembrar o jogo “Marvel’s Guardians of the Galaxy”.
Entretanto, são os veículos que realmente roubam a cena em “Sand Land”. O jogo empresta elementos que não estão presentes no mangá mais famoso de Toriyama, “Dragon Ball”. Entre esses elementos, destacam-se as cápsulas que armazenam veículos e robôs, prontos para serem convocados a qualquer instante da aventura (com exceção de certas áreas e missões). Essa inovação traz uma nova dimensão ao universo de Toriyama, permitindo uma exploração dinâmica e estratégica do ambiente de jogo.
O jogo introduz como seu primeiro veículo um tanque de guerra, elemento que também é destaque no mangá. Este veículo desempenha um papel central nas batalhas mais empolgantes do jogo, onde o jogador pode manejar armamentos típicos de tanques, como metralhadoras e canhões. Conforme o jogo avança, é liberado o Pulabot, um robô ágil capaz de saltar para áreas antes inalcançáveis, equipado com metralhadora e lançador de granadas. A moto, que evoca a lembrança da motocicleta de Bulma nos primeiros capítulos de “Dragon Ball”, é projetada para velocidade, enquanto o mecha de combate oferece uma experiência única com suas características distintas.
Além disso, o jogo apresenta segmentos de stealth nos quais o jogador pode controlar Thief ou Beelzebub. Com um toque de humor típico de Toriyama, os adversários são neutralizados com sustos bem-humorados. Embora o jogo não seja particularmente desafiador, o que pode ser um ponto de desapontamento para jogadores que buscam desafios mais intensos, ele é perfeitamente adequado para aqueles que desejam uma experiência de jogo mais relaxada e casual.
Uma Jornada Fantástica
“Sand Land” segue a tradição de muitos animes e mangás que se inspiram na obra clássica chinesa “Viagem ao Oeste”, onde os personagens embarcam em uma jornada épica, encontrando aliados e adversários, em busca de um objetivo específico – seja as Esferas do Dragão ou o lendário tesouro de One Piece. Essas narrativas frequentemente transmitem a ideia de que as verdadeiras riquezas são as experiências e as amizades formadas ao longo do caminho.
Em “Sand Land”, essa noção é apenas o ponto de partida. À medida que exploramos mais profundamente o mundo do jogo, nos deparamos com sua natureza distópica. Após inúmeras guerras, o planeta se transformou em um deserto árido, forçando humanos e demônios, como Beelzebub, a lutarem pela sobrevivência, gerenciando recursos vitais como a água – um aspecto que também é integrado à mecânica do jogo.
A trama se aprofunda ao revelar que a escassez é artificial, criada por um governo que oculta e controla uma fonte abundante de água, condenando os habitantes de Sand Land à penúria. No jogo, o jogador assume a missão de combater essa opressão. A premissa por si só já é cativante, mas o jogo ainda reserva expansões intrigantes para a história.
Entre as novidades está Ann, uma personagem que remete à Bulma do universo de Dragon Ball, uma jovem inventora que cria gadgets variados para auxiliar Beelzebub em sua aventura. Além disso, a narrativa se expande para incluir o mundo de Forest Land, oferecendo ainda mais horas de entretenimento. O charme de “Sand Land” é enriquecido pelo humor inconfundível de Toriyama, que confere uma personalidade marcante à história.
Conclusão
“Sand Land” se destaca como um dos últimos projetos em que o estimado Akira Toriyama teve alguma participação. Como qualquer outra criação, o jogo tem suas falhas: o combate pode parecer monótono e pouco desafiador, e o mundo aberto pode ser percebido como desprovido de diversidade, tanto em inimigos quanto em criaturas.
Contudo, o jogo compensa essas falhas com seu humor afiado, gráficos espetaculares, trilha sonora envolvente e os personagens inesquecíveis de Toriyama. É uma recomendação sólida tanto para os admiradores do trabalho de Toriyama quanto para aqueles que buscam um entretenimento leve e descompromissado.
Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.
Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.
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