Prince of Persia é uma franquia clássica e não seria exagero nenhum que é uma das mais influentes dos videogames. Ela ficou sumida de um grande lançamento nos consoles por um bom tempo desde o Forgotten Sands de 2010 até ressurgir em janeiro do ano passado com o excelente Lost Crown de 2024. No mesmo ano, alguns meses depois The Rogue Prince of Persia surgiu com uma versão em acesso antecipado que dividiu opiniões. Recentemente ela foi oficialmente lançada e é essa nova versão que estaremos analisando aqui.
Salve a Pérsia
The Rogue Prince of Persia é uma ousada reinvenção da franquia clássica, trazendo a agilidade característica do Príncipe para um formato roguelite que mescla exploração, combate dinâmico e progressão estratégica. Desenvolvido pela Evil Empire (responsável por Dead Cells) e publicado pela Ubisoft, o jogo se destaca pela jogabilidade polida e pela integração inteligente de mecânicas de movimento e combate.
Logo de início, os jogadores são apresentados a um sistema de movimento excepcionalmente fluido. O Príncipe pode escalar paredes, deslizar sob obstáculos, saltar entre plataformas e realizar acrobacias com uma naturalidade que remete aos melhores títulos de plataforma 2D. A mecânica de wall run, em particular, é tão bem implementada que se torna central na exploração e no combate, permitindo desencadear ações como saltos, mergulhos e chutes sem interrupções. Essa mobilidade é amplificada pelo sistema Vayu’s Breath, que recompensa sequências de movimentos elegantes com aumento de velocidade e efeitos visuais amplificados, criando uma sensação de ritmo e fuxo que é tão prática quanto é gratificante.
No combate, o jogo oferece uma variedade de armas e ferramentas que incentivam estilos de jogo distintos. Espadas curtas favorecem a agressividade, enquanto armas pesadas como machados exigem timing preciso, mas compensam com dano devastador. Ferramentas secundárias, como arcos e equipamentos especiais, adicionam camadas táticas, permitindo ataques à distância ou controle de multidões. Duas inovações se destacam: o dash tático, que posiciona o Príncipe nas costas dos inimigos para ataques surpresa, e o chute, que atordoa adversários ou os lança em armadilhas ambientais espalhadas pelo cenário. Essas mecânicas não só ampliam as opções estratégicas, mas também incentivam a criatividade durante os combates.
A progressão é baseada em ciclos de tentativa e erro, típicos do gênero roguelite. Moedas coletadas durante as runs permitem desbloquear upgrades permanentes no hub central (Oásis), como vida adicional ou dano ampliado, reduzindo a frustração de mortes repetidas . Além disso, os medalhões funcionam como perks modificadores de gameplay, concedendo benefícios que variam de ganhos passivos de recursos até efeitos situacionais, como criar poças de resina ao chutar inimigos. A customização via combinações de medalhões (até 4 slots) adiciona profundidade, permitindo que jogadores criem sinergias únicas adaptadas ao seu estilo.
A exploração é outro ponto forte. Os biomas são gerados proceduralmente, garantindo que cada partida seja única, com inimigos, armadilhas e recompensas reposicionados a cada tentativa. A descoberta de segredos ambientais, como os poços dos sonhos (pontos de fast travel) ou cachês de Cinza (recursos para upgrades), incentiva a investigação minuciosa dos cenários. No entanto, um ponto que pode ser frustrante é a perda desses recursos a cada morte, o que exige que jogadores os depositem em altares entre zonas para evitar perder tudo. Existe um sistema de risco e recompensa que adiciona tensão, mas pode ser punitivo para iniciantes.
Apesar dos elogios, há espaço para melhorias. O skill tree é considerado básico por alguns, focando em upgrades numéricos (ex.: +vida) em vez de habilidades transformadoras . Além disso, a repetitividade pode surgir após horas de jogo, já que a variedade de inimigos e biomas é limitada na versão inicial. Controles precisam de ajustes finos, especialmente em sequências de parkour de alta precisão, onde falhas podem parecer injustas.
Em suma, The Rogue Prince of Persia é uma celebração da mobilidade e do combate estratégico. Sua jogabilidade fluidamente integrada com mecânicas de roguelite cria uma experiência viciante que honra a herança da série enquanto inova com coragem. E as inovações que a nova versão oficilalmente lançada deixa o jogo ainda mais fluido e divertido.
O que (não) mata te deixa mais forte
The Rogue Prince of Persia destaca-se não apenas por sua jogabilidade refinada, mas por uma narrativa que integra de forma inteligente a mecânica de morte e renascimento à mitologia da série. Desenvolvido pela Evil Empire, o jogo explora temas como culpa, responsabilidade e a natureza da imortalidade, tudo ambientado em um universo persa repleto de magia e perigo. A história é contada de forma não linear, com fragmentos narrativos desbloqueados progressivamente, incentivando a exploração e a repetição de ciclos sem tornar-se repetitiva.
A premissa central gira em torno do príncipe da Pérsia, que subestima os hunos e vê seu reino ser invadido por um exército sobrenatural liderado por Nogai. Derrotado em batalha, ele acorda três dias depois em um oásis, revivido por uma bola mística (presente de seu pai) que lhe concede imortalidade ilimitada. Este artefato não é apenas uma ferramenta de gameplay, mas o cerne da narrativa: cada morte e renascimento é justificada pela bola, que amarra o príncipe a um ciclo de tentativas para salvar seu reino e corrigir seus erros.
A estrutura narrativa é um dos pontos mais elogiados. Diferente de muitos roguelites, onde a história é apenas pano de fundo, The Rogue Prince of Persia faz da morte uma ferramenta narrativa. Cada partida revela novas informações sobre a invasão dos hunos, a corrupção mágica que consome a cidade e os segredos por trás da bola da imortalidade. NPCs no oásis – como o ferreiro cínico e a alquimista misteriosa – oferecem missões e diálogos que aprofundam a trama, enquanto flashbacks e visões desvendam o passado do protagonista e suas motivações.
Um elemento inovador é o sistema de “detetive”, onde o jogador deve coletar pistas espalhadas pelos biomas e conectá-las para avançar na história principal. Por exemplo, encontrar um objeto específico ou interagir com um personagem secundário pode desbloquear um novo caminho narrativo, incentivando a exploração meticulosa dos cenários. Essa abordagem lembra jogos de mistério como Sherlock Holmes, mas integrada perfeitamente ao gênero roguelite.
Os temas abordados são maduros e reflexivos. A culpa do príncipe por ter falhado em proteger seu povo é palpável, e sua jornada é tanto física quanto emocional. A imortalidade oferecida pela bola é apresentada como uma maldição disfarçada de benção, pois condena o protagonista a reviver incessantemente até cumprir sua missão.
A vilania de Nogai e dos hunos, embora funcional, não é tão desenvolvida quanto poderiam ser. Os antagonistas são representados como forças destrutivas sem motivações profundas, o que é uma limitação narrativa. No entanto, a relação do príncipe com seus aliados e com seu próprio passado compensa essa fraqueza, criando conflitos emocionais ressonantes. A progressão da história é gradual e depende diretamente do desempenho do jogador. Após derrotar chefes ou completar missões específicas, novos diálogos e cutscenes são desbloqueados, revelando camadas adicionais do lore.
Em comparação com outros roguelites, como Hades, a narrativa de The Rogue Prince of Persia é mais fragmentada e menos centrada em personagens carismáticos. No entanto, sua originalidade está em como a mecânica de morrer e renascer é organicamente tecida na trama, criando uma experiência coerente e imersiva. A direção artística – inspirada em miniaturas persas e obras de Moebius – reforça o tom épico e melancólico da história .
Em resumo, The Rogue Prince of Persia eleva a narrativa de roguelites ao transformar a morte em um elemento central da jornada do herói. Sua história de culpa e redenção, aliada a uma progressão não linear inteligente, oferece uma experiência cativante que honra a herança da série enquanto inova com coragem. Agora a história está mais satisfatória do que na versão anterior, agora estando completa.
Conclusão
The Rogue Prince of Persia continua o legado da franquia fazendo uma combinação de elementos do gênero roguelite com os que já ficaram marcados na série que incluem manipulação do tempo e isso caiu como uma luva, sendo uma ótima sacada dos desenvolvedores da Evil Empire. Além disso, o jogo tem uma bela arte, combate fluido e desafios que deixam o jogador ávido por jogar mais. O título é recomendado principalmente para fãs do gênero roguelite e metroidvanias.
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