Durante uma entrevista retrospectiva à revista GQ, Ridley Scott compartilhou detalhes curiosos sobre a produção de Blade Runner (1982), incluindo a resistência inicial dos financiadores à escalação de Harrison Ford como protagonista. Ford, que já era conhecido como Han Solo em Star Wars e havia sido escolhido por Steven Spielberg para estrelar Os Caçadores da Arca Perdida (1981), não foi imediatamente aceito pelos investidores do projeto.

“Harrison Ford não era uma estrela”, relembrou Scott. “Lembro-me de meus financiadores dizendo: ‘Quem diabos é Harrison Ford?’ E eu disse: ‘Você vai descobrir.’ Harry se tornou meu protagonista.” O diretor contou que, na época, Spielberg estava finalizando Os Caçadores da Arca Perdida e recomendou Ford, o que reforçou sua decisão de escolhê-lo para o papel.

Ford se interessou pelo projeto, especialmente por representar uma oportunidade de interpretar um personagem mais dramático do que Han Solo ou Indiana Jones. Segundo Scott, a profundidade emocional e filosófica de Blade Runner foi um atrativo tanto para ele quanto para o ator.

Criação de um mundo novo e a parceria com Hampton Fancher

Scott revelou que o processo de adaptação do romance Androides Sonham com Ovelhas Elétricas?, de Philip K. Dick, envolveu meses de trabalho ao lado do roteirista Hampton Fancher. “Passei cinco meses com Hampton, que escreveu uma peça linda adaptada do livro”, disse. “Li o romance e percebi que havia 90 histórias nas primeiras 20 páginas. Era muito complexo.” Scott destacou que, embora tenha gostado do roteiro inicial, sentiu a necessidade de expandir a trama para além das cenas em ambientes internos.

Críticas iniciais e legado de “Blade Runner”

Apesar de hoje ser considerado um clássico cult da ficção científica, Blade Runner enfrentou resistência da crítica e dificuldades nas bilheterias quando foi lançado. Uma das críticas que mais marcou Ridley Scott veio de Pauline Kael, da The New Yorker, que escreveu que o filme “não tem nada a dar ao público” e sugeriu que a equipe de produção deveria se esconder se houvesse um teste para identificar humanoides.

“Cara, quatro páginas de destruição”, lamentou Scott ao relembrar a crítica de Kael. “Ela me destruiu. Eu nem a conheci! … É insolente. No meu nível, é insolente.”

Com o passar do tempo, Blade Runner se consolidou como um marco do cinema, influenciando profundamente o gênero de ficção científica e a estética cyberpunk. O filme ganhou novas versões ao longo dos anos, incluindo o aclamado Final Cut, lançado em 2007, que eliminou a narração em off e modificou o final.

Matheus Fragata

Editor-geral do Bastidores, formado em Cinema. Jornalista, assessor de imprensa.

Apaixonado por histórias que transformam. Todo mundo tem a sua própria história e acredito que todas valem a pena conhecer.

Contato: matheus@nosbastidores.com.br

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