Canal Cactofobia | A linha do tempo de Invocação do Mal
Com a estreia de A Freira nos cinemas na última semana, o universo de terror de Invocação do Mal se consagra como uma das grandes conquistas do gênero.
Capitaneado por James Wan, a franquia é um grande acerto da Warner Bros, e os integrantes da banca do canal Cactofobia discutiu as datas e cronologia de todos os filmes da franquia.
Confira:
https://www.youtube.com/watch?v=76Lzh6BNt7c&t=
Crítica | Buscando... - Uma revolução na arte de contar histórias
O cinema sempre está antenado com as mudanças na forma de comunicação humana. Desde que o 3D passou a oferecer uma interação maior com o público, ou quando câmeras se tornaram literalmente parte de histórias no gênero found footage, diferentes cineastas têm encontrado formas de usar ferramentas de comunicação para mudar a maneira de construir e conduzir narrativas.
Como a sociedade atual passa grande parte do tempo atrás de uma tela, seja de computadores ou smartphones, o cinema precisa encontrar uma forma de contornar esse bloqueio social. Filmes como Amizade Desfeita e Creep ofereceram experimentos louváveis ao manter integralmente suas narrativas no desktop de computadores, usando chats e Skype para desenvolver a trama e seus personagens. Agora, Buscando... aprimora todas essas ferramentas para criar uma experiência completamente inovadora: é um passo à frente no futuro do storytelling.
A trama é muito simples. Através de telas de desktop, vídeos e outras transmissões de vídeo, acompanhamos a busca de David Kim (John Cho) por sua filha Margot (Michelle La). Após sair para estudar em uma noite, a jovem desaparece sem deixar vestígios, fazendo com que David e a investigadora Rosemary Vick (Debra Messing) iniciem uma caçada nacional que também precisa lidar com o obstáculo de que Margot era uma pessoa muito reservada, com apenas seu laptop oferecendo pistas de sua vida supostamente misteriosa.
Suspense na Era Digital
É uma história básica e não muito diferente de obras desse mesmo viés, com até mesmo os internautas de Buscando... comparando os eventos com obras como Making a Murderer e Garota Exemplar. Mas o que faz o roteiro de Sev Ohanian e do diretor Aneesh Chaganty se sobressair é o cuidado especial da dupla em oferecer uma estrutura exemplar: pistas, informações e foreshadowings são usados com o brilhantismo presente nas melhores histórias de detetive, onde uma segunda visita a Buscando... definitivamente ofereceria uma experiência ainda mais enriquecedora. Pode ser uma narrativa que, sim, acaba soando exagerada em suas tentativas de surpreender, mas que o faz com muita segurança.
Não só pela escrita, mas também pela proposta radicalmente distinta de se desenrolar através de telas. A forma como informações relevantes à trama são exibidas para o espectador é de uma elegância notável, como quando David é apresentado à detetive Kim pela primeira vez, e enquanto escuta as medidas da personagem para a investigação, o protagonista simultaneamente abre uma aba do Google para pesquisar sobre ela, já oferecendo ao espectador todo o background necessário, dispensando diálogos expositivos de forma orgânica e que corresponde ao nosso cotidiano marcado por múltiplas informações ao mesmo tempo. E é realmente admirável como um detalhe aparentemente descartável como uma capa de Facebook com frase motivacional pode passar de um elemento para construir a confiança de um personagem em outro, para uma assustadora confirmação de seu próprio caráter - novamente, uma aula de foreshadowing.
Dirigindo um Desktop
É engraçado falar sobre a direção de um filme que é todo baseado em telas de desktop, mas Chaganty merece aplausos. Ao contrário de Amizade Desfeita, o diretor toma liberdades mais "cinematográficas" com o uso da tela, trazendo cortes, closes e até trilha sonora não diegética para acentuar a tensão e atmosfera do filme. São recursos que ajudam a tornar a experiência mais urgente, algo que Chaganty faz ao cortar para um close de tela ou até mesmo um "plano detalhe", e até mesmo formas de expressão de humor extremamente orgânicas, vide o corte de uma discussão intensa entre David e um dos adolescentes suspeitos, até a tela de Excel onde o protagonista escreve "Show de Bieber".
De forma mais natural, e que se revela como recurso dramático eficiente, temos mensagens de texto para ilustrar dúvidas e estados de espírito. Chaganty também usa dessas ferramentas para manter o espectador completamente grudado à tela. Em um recurso já bem explorado em Amizade Desfeita, vemos personagens digitando mensagens que exploram seus pensamentos e demonstram hesitação, especialmente quando acabam decidindo não enviá-las; algo que gera empatia em literalmente todos nós, e que suporta a forma de exposição sutil da narrativa e até consegue gerar pay offs emocionais poderosos.
Chaganty também usa dessas ferramentas para manter o espectador completamente grudado à tela. Diversas cenas acabam criando verdadeira angústia no espectador, como quando David suspeita de uma pessoa próxima e espalha diferentes câmeras pelo ambiente, ao passo em que vamos esperando a inevitável bomba explodir - algo que só se torna mais intenso quando vemos as reveladoras notificações de seu celular na tela, e quase gritamos à tela para que o protagonista apanhe logo seu aparelho.
Através do uso de noticiários e outros vídeos de internet, Chaganty também mantém a tensão e as expectativas no ápice, especialmente quando conduz a narrativa em direção ao clímax surpreendente. É uma sensação quase voyeurística, a de observar mensagens e gravações destinadas a outras pessoas, quase como se estivéssemos vendo algo por acidente - como o crescente conflito que se inicia durante um vídeo de streaming, e que o diretor sabiamente "trava" o vídeo apenas para demonstrar o controle sobre a narrativa, para desespero do espectador.
Buscando... é um animador vislumbre do futuro. Através de ferramentas modernas e recursos inteligentes, Angeesh Chaganty captura como poucos a forma de comunicação humana no século XXI, conseguindo enxergar possibilidades de drama e suspense no mundano. É uma revolução na forma de se contar histórias.
Obs: Uma salva de palmas para o esforço da Sony Pictures Brasil no trabalho de tradução, que adaptou perfeitamente todas as telas e textos do filme, tornando a experiência o mais imersível possível.
Buscando... (Searching, EUA - 2018)
Direção: Aneesh Chaganty
Roteiro: Aneesh Chaganty e Sev Ohanian
Elenco: John Cho, Debra Messing, Sara Sohn, Michelle La, Joseph Lee, Briana McLean, Erica Jenkins, Ric Sarabia
Gênero: Suspense
Duração: 106 min
https://www.youtube.com/watch?v=Ort2KqH1UjM
Crítica | A Freira - O capítulo mais fraco da franquia Invocação do Mal
Iniciado abruptamente em 2013, o universo cinematográfico de Invocação do Mal logo converteu-se em uma das franquias mais interessantes e distintas da Hollywood contemporânea. Usando uma fórmula de filmes compartilhados que apenas a Marvel Studios havia acertado em seus filme de super-heróis, James Wan capitaneou um universo concentrado inteiramente no terror, e não em ação; tudo o que a Universal tanto queria com o fracassado A Múmia e o plano do Dark Universe.
Após dois filmes do selo Invocação do Mal e duas "aventuras" solo da boneca demoníaca Annabelle, Wan aposta em outra figura sinistra para ganhar sua história de origem: A Freira. Baseando-se em um dos antagonistas do casal Ed e Lorraine Warren, Wan mantém sua tática habitual de encontrar um jovem prodígio para contar uma história original e com estilo distinto, algo que funcionou com David F. Sandberg em Annabelle 2: A Criação do Mal, mas que infelizmente não se repete aqui. O filme de Corin Hardy é facilmente o mais fraco da franquia até agora.
Assim como os dois filmes de Annabelle, a trama deste novo capítulo serve como prelúdio dos filmes de Invocação Mal, nos levando para um convento romeno em 1952. Após o misterioso suicídio de uma freira, o Vaticano envia o Padre Anthony Burke (Demian Bichir) e a noviça Irene (Taissa Farmiga) para investigar a situação e averiguar se o local "ainda é sagrado". Ao chegar lá, eles descobrem a presença demoníaca de Valak, que se manifesta na forma de uma assustadora freira (Bonnie Aarons).
Um roteiro profano
A princípio, a ideia de explorar as origens da Freira é das mais empolgantes. Movido pela ambientação de época em um cenário radicalmente distinto para a franquia, que fora mais baseada em casas e famílias, o roteiro de Gary Dauberman (que também escreveu os filmes de Annabelle) acerta ao partir da premissa de um filme de investigação dentro do convento na Romênia, algo que por si só já é capaz de causar arrepios pela atmosfera aterradora. Infelizmente, trata-se do pior texto que Dauberman já trouxe até então, com uma sucessão de erros e oportunidades terrivelmente perdidas.
Como filmes de terror são produzidos em um tempo mais curto do que grandes blockbusters de efeitos visuais, é de se imaginar que a Warner Bros e James Wan tenham apressado a produção do longa, o que talvez explique porque a narrativa de Dauberman é tão debilitada. Percebemos a preguiça criativa logo no começo, quando o Padre Burke recruta Irene por sua experiência em campo na Romênia, mas a jovem noviça diz que nunca viajou ao país, e que a Igreja deve ter recomendado a pessoa errada - a clássica relutância da Jornada do Herói, de Joseph Campbell. Burke simplesmente assume que "ela foi recomendada por algum propósito", e ficamos por aí. Mandar uma noviça para uma missão secreta e altamente perigosa, e é apenas o começo dos erros.
Ao longo da enxuta duração de 96 minutos, o texto de Dauberman oferece exposições sofríveis, uma mitologia aprofundada por flashbacks intrusivos e um trabalho praticamente nulo de seus personagens. Nenhuma das figuras aqui traz o charme ou carisma do casal Warren de Invocação do Mal, ou mesmo das órfãs simpáticas de Annabelle 2; que também foi escrito por Dauberman, o que só torna seu tropeço aqui ainda mais preocupante. Há tentativas furadas de criar arcos com Irene e Burke, com a primeira passando por um "questionamento de fé" que jamais ganha algum tipo de análise, visto que a personagem aparentemente só não fez seus votos perpétuos como freira por falta de tempo, ou a descartável experiência traumática do padre com um exorcismo fracassado - algo que só está no filme para garantir alguns sustos quando o passado se manifesta para assombrá-lo. Não há catarse ou resolução satisfatória em nenhum desses arcos.
O único agrado fica com o belga Jones Boquet, que consegue arrancar algumas risadinhas no óbvio papel do alívio cômico. Mas justamente pelo texto ser tão ruim, o fato de que seu personagem Frenchie esteja constantemente questionando e ridicularizando as ações do protagonista acaba surgindo como uma forma de auto-depreciação não planejada. A conexão de seu personagem com o universo da franquia também representa o outro ponto alto da projeção.
Direção nada abençoada em A Freira
Com um roteiro péssimo, ao menos um diretor criativo conseguiria salvar o navio e oferecer algumas sequências assustadoras. Não acontece isso com Corin Hardy. Saído de A Maldição da Floresta, a técnica do diretor é previsível e sem imaginação, recorrendo constantemente aos jump scares (algo que a franquia sempre usou com inteligência) e o mesmíssimo movimento de câmera que envolve duas panorâmicas em 180 graus para revelar alguma ameaça oculta em cena - praticamente todas as revelações de entidades se dão dessa forma.
Não provocar medo talvez seja o maior pecado que um filme de terror pode cometer, especialmente quando Hardy tem em mãos uma das figuras mais sinistras e icônicas de toda a franquia Invocação do Mal. Bonnie Aarons surge tão bem caracterizada quanto sua participação anterior na franquia, mas o diretor peca ao mantê-la ausente durante boa parte do longa, e apostando em sombras que cobrem sua presença quando de fato está em cena. Apenas uma seção do filme aposta em todo o poder da Freira, mas é tão capenga e vergonhosa que acaba por desmistificar o trabalho que Wan havia feito em Invocação do Mal 2. Resta dizer que, se a intenção era trazer Valak falando, as falas poderiam ser mais bem elaboradas. O que temos aqui é digno de um Resident Evil de Paul W.S. Anderson, se tanto.
Infelizmente, A Freira representa o primeiro grande tropeço da franquia Invocação do Mal nos cinemas, ficando abaixo até mesmo do primeiro derivado centrado em Annabelle. É um exemplo de grande potencial desperdiçado em um roteiro defeituoso e uma direção pouco inspirada, e que requer um carinho maior do produtor James Wan na hora de aprovar seus projetos, já que este aqui representa pura preguiça.
Resta rezar para que este seja apenas um tropeço, e que os Warren retornem para abençoar a franquia novamente.
A Freira (The Nun, EUA - 2018)
Direção: Corin Hardy
Roteiro: Gary Dauberman, baseado em seu argumento com James Wan
Elenco: Taissa Farmiga, Demian Bichir, Bonnie Aarons, Jones Bloquet, Ingrid Bisu, Charlotte Hope, Sandra Tales, August Maturo, Jack Falk
Gênero: Terror
Duração: 96 min
https://www.youtube.com/watch?v=4V44ew-laC4
Leia mais sobre Invocação do Mal
Canal Cactofobia | A Freira, Predador e mais filmes que vão estrear em setembro
Em mais uma parceria com o canal Cactofobia, a bancada formada por Lucas Nascimento, João Felipe Marques e Mike Judas comenta o calendário de lançamentos do mês de setembro.
As grandes novidades incluem o terror A Freira, o aguardado reboot O Predador e até mesmo O Doutrinador, primeiro filme de super-herói brasileiro do cinema nacional.
Incluem também expectativas sobre Crimes em Happytime, O Mistério do Relógio na Parede, 22 Milhas, A Primeira Noite de Crime e Um Pequeno Favor.
Confira abaixo:
https://www.youtube.com/watch?v=8XNM80kATyE
Canal Cactofobia | Upgrade
Filme ainda inédito no Brasil, Upgrade é a nova produção da Blumhouse (responsável por Corra! e Halloween), e que se mostrou como uma das surpresas mais agradáveis de 2018.
Para analisar a história de ficção científica sobre um homem que tem uma inteligência artificial poderosa instalada em seu cérebro, João Felipe Marques e Lucas Nascimento sentam-se no canal Cactofobia para discutir o que torna o filme de Leigh Whannell tão especial.
Upgrade (Idem, Austrália – 2018)
Direção: Leigh Whannell
Roteiro: Leigh Whannell
Elenco: Logan Marshall-Green, Harrison Gilbertson, Benedict Hardie, Simon Maiden, Melanie Vallejo, Betty Gabriel
Gênero: Ação, Ficção Científica
Duração: 100 minutos
Canal Cactofobia | Danny Boyle é demitido de Bond 25, e agora?
Os fãs de James Bond vão ter que esperar ainda mais para conferir a nova aventura de 007 nos cinemas, já que o diretor Danny Boyle foi demitido do comando do 25º filme do espião britânico.
Após diferenças criativas com o astro Daniel Craig, Boyle largou o barco, deixando o futuro da franquia incerto, assim como uma disputada vaga para assumir o filme da MGM.
Lucas Nascimento, João Felipe Marques e João Pedro Gibran discutem a questão no Canal Cactofobia, assim como possíveis substitutos para o filme.
https://www.youtube.com/watch?v=9KGUf8vovVE&t=
Crítica | Os Jovens Titãs em Ação! Nos Cinemas - Diversão televisiva nas telonas
Não deveria vir como um choque a ninguém que a DC Comics é uma absoluta bagunça nos cinemas. Com a recepção negativa e decepcionante para o universo cinematográfico iniciado por Zack Snyder em O Homem de Aço, Batman vs Superman: A Origem da Justiça e Liga da Justiça, a Warner Bros corre desesperadamente para tentar salvar sua valiosa franquia, e os fãs aguardam ansiosamente por uma melhora. Enquanto Aquaman não chega, o estúdio não tinha outra opção senão recorrer a uma de suas propriedades mais elogiadas: as animações produzidas diretamente para o mercado home video, como é o caso de Os Jovens Titãs em Ação! Vão ao Cinema, animação que é bem sucedida em parodiar as próprias convenções do gênero.
Completamente metalinguística, a trama nos apresenta ao grupo composto por Robin (Scott Menville), Ravena (Tara Strong), Mutano (Greg Clipes), Ciborgue (Khary Payton) e Estelar (Hynden Walch), que são vistos pelo público e outros super-heróis do grande escalão como heróis menores e insignificantes. Com Batman, Superman e todos os membros da Liga da Justiça ganhando filmes um atrás do outro, Robin está obcecado em ganhar seu próprio longa-metragem, mas precisa satisfazer a diretora Jade Wilson (Kristen Bell) e encontrar um arqui-inimigo à altura, que se manifesta na figura do mercenário Deathstroke (Will Arnett).
Um Mundo de Super-Heróis
Primeiramente, é preciso deixar algo bem claro sobre Os Jovens Titãs em Ação! Vão ao Cinema: isto não é um filme. Não foi pensado como um filme, tampouco planejado para ser lançado no circuito de cinemas, e isso transparece durante a experiência. O roteiro de Michael Jelenic e Aaron Horvath é praticamente um episódio estendido do desenho animado que fora exibido no Cartoon Network, povoado de esquetes e cenas que não oferecem um propósito narrativo, apenas preenchendo lacunas e oferecendo uma minutagem que possa considerá-lo como um longa-metragem, ao contrário de sua duração (de 84 minutos) que definitivamente era muito mais curta. Também não chega nem perto do brilhantismo técnico e a sofisticação de um LEGO Batman: O Filme, que também era consideravelmente mais bem resolvido.
Porém, que isso não ofusque o quão insanamente divertida é a experiência desta animação dos Jovens Titãs. A impressão que fica é que a Warner Bros deu uma carta branca implacável para os diretores Peter Rida Michail e Horvath, que literalmente disparam para todos os lados nas piadas e referências ao atual estado do cinema blockbuster e sua obsessão com super-heróis. Figuras como Batman e Superman (que tem voz de Nicolas Cage, por si só uma piada interna genial) ganham um destaque hilário, com as piadas levando em conta os inúmeros filmes dos heróis, sua popularidade e até a controversa solução de "Martha" em Batman vs Superman, que rende boas tiradas dos protagonistas.
A ousadia atinge níveis de brilhantismo quando o grupo resolve voltar no tempo (com direito a usar o tema icônico de Alan Silvestri da trilogia De Volta para o Futuro) e impedir a criação de todos os heróis da DC, envolvendo salvar Krypton da destruição, impedir o assalto dos pais de Bruce Wayne e até mesmo afogar Aquaman com a poluição dos oceanos - isso para não estragar o que acontece depois, quando os heróis precisam reverter a situação ao perceber que a Terra se tornou uma zona de guerra sem os outros super-heróis.
Até mesmo o plano do vilão do filme - cuja identidade secreta é incrivelmente previsível - traz um comentário ácido sobre como o público está praticamente sendo escravizado pelo cinema de heróis, sendo até irônico que seu plano envolva um serviço de streaming dos heróis da DC; não é exatamente o melhor tipo de publicidade para o vindouro DC Universe que a editora lança ainda este ano, e que curiosamente traz uma versão radicalmente diferente e sombria dos Titãs. E ver Will Arnett no papel da voz de Deathstroke (ou "Slaaaaaaade") garante um bom peso ao filme, especialmente após sua versão cômica do Cavaleiro das Trevas na franquia LEGO.
Boa dinâmica e saudosismo
A dinâmica dos protagonistas também garante muitas risadas. Confesso que nunca havia assistido a qualquer desenho dos Jovens Titãs, nem mesmo durante minha infância, mas rapidamente me vi apegado e envolvido nas conversas e conflitos dos carismáticos personagens. O próprio drama central de Robin, que nada mais é do que um desejo narcisista de aparecer, ganha um bom arco de amizade e superação com o apoio de Ravena, Estelar, Mutano e Ciborgue; é a profundidade de um desenho animado do Cartoon Network, e que definitivamente não se esquece do público-alvo infantil ao trazer inúmeras piadas com flatulência e outras escatologias bestas, mas que acaba funcionando.
Por mais que seja uma animação 2D sem qualquer tipo de inovação tecnológica, é nostálgico ver um traço tão tradicional e clássico em uma grande tela de cinema. E a animação da dupla Michaeil e Horvath consegue encontrar momentos criativos onde possa fazer experimentos, como o filme caseiro feito pelo grupo para Robin, que envolve stop motion e dobraduras de papel, ou quando o antigo parceiro do Batman tem um sonho impagável que serve como sátira a O Rei Leão, com toda a animação assumindo o traço e os movimentos da clássica animação da Disney - sem falar que ver Flash comendo lixo como um antílope foi histérico.
No fim, Os Jovens Titãs em Ação! Vão ao Cinema consegue trazer uma bem-vinda leveza à DC, que cada vez mais vai saindo das sombras. Pode não ser algo tão estimulante como LEGO Batman: O Filme, e que também não traz nenhum tipo de inovação em sua animação, mas que revela-se uma diversão rápida e extremamente divertida.
Obs: No melhor estilo Pixar, há um curta-metragem animado com a Batgirl que antecede o longa, e também funciona pela leveza e humor.
Os Jovens Titãs em Ação! Vão ao Cinema (Teen Titans Go! To the Movies, EUA - 2018)
Direção: Peter Rida Michail e Aaron Horvath
Roteiro: Michael Jelenic e Aaron Horvath, baseado nos personagens da DC
Elenco: Scott Menville, Tara Strong, Greg Clipes, Khary Payton, Hynden Walch, Kristen Bell, Will Arnett, Nicolas Cage, Halsey, Jimmy Kimmel, Greg Davies, John DiMaggio, Patton Oswalt
Gênero: Comédia, Aventura
Duração: 84 min
https://www.youtube.com/watch?v=3W-pLJO2GF8
Leia mais sobre DC
Canal Cactofobia | Guardiões da Galáxia Vol. 3 e o Caso James Gunn
A Disney confirmou que a Marvel Studios paralisou a produção de Guardiões da Galáxia Vol. 3 indefinidamente. Seguindo a demissão e polêmica em torno do diretor e roteirista James Gunn, ninguém sabe o que vai acontecer com o novo filme dos heróis intergalácticos da Marvel.
Para discutir a questão, Lucas Nascimento, João Felipe Marques e Mike Judas discutem a questão.
https://www.youtube.com/watch?v=CnzfY6a2XOk&t
Crítica | The Flash: 1ª Temporada - As alegrias de uma boa série de super-heróis
Com Arrow se popularizando rapidamente após duas temporadas de sucesso, a CW começava a investir em uma ideia ousada. A Marvel Studios havia reunido os Vingadores nos cinemas, enquanto a DC ainda apenas sonhava com a ideia de ter seu próprio universo compartilhado da Liga da Justiça nas telonas, ainda terminando a trilogia Cavaleiro das Trevas de Christopher Nolan. Mas a CW prometia ir mais longe, alcançando seu próprio evento épico em sua segunda grande série baseada em propriedades da DC: The Flash.
Um herói muito mais popular e renomado do que o Arqueiro Verde, que foi bem modificado para servir à versão de Stephen Amell dois anos antes, retratar o Velocista Escarlate na televisão é uma tarefa difícil. Não só pela iconografia do personagem, mas também por sua complexidade narrativa – que começa a envolver conceitos cabeludos de ciência e física – mas também pelo trabalho com efeitos visuais, que há alguns anos ainda eram muito precoces. Felizmente, o resultado é surpreendente.
Desenvolvida por Greg Berlanti, a primeira temporada da série é bem fiel à base do personagem nos quadrinhos da DC. Conhecemos Barry Allen (Grant Gustin, que já havia feito uma ponta em Arrow), um legista da polícia científica de Central City. Ao passo em que tenta provar a inocência de seu pai, injustamente preso após a morte misteriosa de sua mãe quando ainda era uma criança, Barry lida com os sentimentos pela amiga Iris West (Candice Patton) e também a dinâmica com seu pai adotivo, Joe (Jesse L. Martin). Quando Barry é atingido por um raio após uma explosão no acelerador de partículas dos Labortatórios S.T.A.R., Barry ganha a habilidade correr a velocidades que desafiam os limites da ciência, tornando-se o Flash.
Meta-Humanos e viagem no tempo
Eu não sou um grande conhecedor dos quadrinhos do Flash, mas é possível notar que os produtores da série certamente têm respeito e admiração por suas origens. Ao longo dos 23 episódios da temporada, há inúmeras referências, participações e até eventos que eu tenho certeza que deixaram os fãs mais calorosos empolgados – personagens que eu só havia ouvido falar, como o Gorila Grodd, me agradaram de um ponto de vista novato, então apenas imagino como deve ter sido a reação de um veterano. Ainda que um piloto de série de TV sempre precise lidar com o problema da pressa – a pressa em contar origem, de apresentar poderes e introduzir uniformes - o diretor David Nutter faz um ótimo trabalho em introduzir Barry Allen e a dinâmica de seu grupo na S.T.A.R.
Claro, sendo uma série de emissora aberta, The Flash não consegue fugir da batida estrutura do caso da semana. A desculpa é um tanto forçada, mas acaba funcionando, já que os personagens revelam que a explosão do acelerador de partículas não afetou apenas Barry, mas também criou diversos meta-humanos (pessoas com habilidades diferentes) ao redor da cidade, e a cada novo episódio temos um oponente distinto para vermos Flash enfrentar. É algo que inevitavelmente cansa e acaba rendendo os infames episódios filler (no caso dessa temporada, envolve um péssimo capítulo onde encontramos uma “mulher-abelha”), mas que ajuda a desenvolver os poderes do protagonistas.
Mas quando The Flash supera esses problemas, revela ali uma série verdadeiramente especial. Logo no final do primeiro episódio os roteiristas introduzem a ideia de que algum tipo de viagem no tempo está acontecendo, já que o misterioso Harrison Wells acessa um jornal holográfico do futuro que relata o desaparecimento do Flash. A forma como todo o plano de Wells, e o eventual antagonista Flash Reverso se revelam é instigante e reminiscente de algumas das melhores histórias de viagem do tempo que o gênero já viu; desde De Volta para o Futuro até Jornada nas Estrelas – no sentido de que, ao vermos uma ação inexplicável, temos a resposta alguns episódios depois, por termos a realização de que algum tipo de viagem no tempo era sua justificativa.
Elenco vencedor
Como toda boa série, o grande charme sempre estará em seus personagens. Na época famoso pela série Glee, Grant Gustin é uma explosão de carisma na pele de Barry Allen. O ator incorpora toda a confusão e bom-humor do personagem, além de trazer uma presença canastra muito bem-vinda quando coloca o uniforme vermelho, sempre oferecendo piadinhas e trocadilhos divertidos. De forma similar, o Cisco de Carlos Valdes é um excelente alívio cômico, mesmo que suas falas sejam resumidas a oferecer referências pop sem parar (algo que não reclamo, sendo sincero) e a adorável Caitlin de Danielle Panabaker oferece um bom balanço de preocupação e bússola moral. Fechando o arco dos laboratórios S.T.A.R., Tom Cavanagh é simplesmente fantástico como Wells, principalmente na forma como mantém a seriedade e inteligência do cientista e o equilibra com o lado misterioso e vilanesco que sempre vai se manifestando em setores finais de cada episódio.
O elenco coadjuvante também ganha muito com o núcleo West. A Iris West de Candice Patton é carismática e adorável, também oferecendo uma química muito particular com Barry, já que os dois cresceram juntos desde crianças. É um tipo de romance clichê e que você já viu diversas vezes, mas que funciona graças ao bom entrosamento do casal. E, claro, Jesse L. Martin como Joe West é uma presença que garante conforto e segurança a todos os personagens. Confesso que, ao ver a relação semi-paterna entre Joe e Barry, é muito fácil ficar comovido e investido na dinâmica da dupla.
E apesar de ter uma participação pequena, de apenas alguns episódios, é criminoso não falar sobre The Flash e não comentar a performance de Wentworth Miller como o vilão Capitão Frio. É um tipo de atuação onde vemos o ator literalmente mastigar o cenário e se divertir como se não houvesse fim, com o ex-astro de Prison Break assumindo uma canastrice deliciosa, e que praticamente transforma um personagem de quinta categoria a uma presença magnética. Não é à toa que o vilão lentamente vai sendo convertido em anti-herói, dada sua popularidade. Aproveitando a deixa, fica a menção honrosa para a divertidíssima participação de Mark Hamill, que praticamente interpreta o Coringa ao dar vida (novamente) ao vilão Trapaceiro.
Um universo em expansão
Ao longo de sua extensa primeira temporada, The Flash não tem medo de abraçar o cartunesco e oferecer narrativas verdadeiramente episódicas e dignas dos quadrinhos. Traz um ótimo elenco que nos faz querer passar todo o tempo do mundo acompanhando aventuras, e se revela algo realmente impressionante quando aposta pesado em seus conceitos de ficção científica. Um grande acerto, e uma das melhores adaptações de super-heróis para a TV dos últimos tempos.
The Flash: 1ª Temporada (EUA, 2014)
Criado por: Greg Berlanti, Geoff Johns, Andrew Kreisberg, baseado nos personagens da DC
Elenco: Grant Gustin, Candice Patton, Danielle Panabaker, Carlos Valdes, Tom Cavanagh, Jesse L. Martin, John Wesley Shipp, Wentworth Miller, Mark Hamill, Michelle Harrison
Emissora: CW
Episódios: 23
Gênero: Aventura
Duração: 40 min
https://www.youtube.com/watch?v=Yj0l7iGKh8g
Crítica | Te Peguei! - Mais absurdo que a ficção
Algumas histórias são tão absurdas que só podem ser verdade. E quando algumas dessas histórias são adaptadas para o cinema, a comédia talvez seja o melhor prisma da transição realidade/ficção, até porque a desgraça de um sempre será motivo de riso para o outro. No caso de Te Peguei!, onde temos literalmente um jogo de pega pega como foco da narrativa, baseada em casos reais, é uma situação onde absolutamente todos os envolvidos – audiência e personagens históricos – só podem contemplar o ridículo e rir.
A trama é inspirada na história real de um grupo de amigos que está jogando pega-pega há 30 anos. Todo mês de maio, a turma formada por Callahan (Jon Hamm), Hoagie (Ed Helms), Chilli (Jake Johnson), Kevin (Hannibal Buress) e Jerry (Jeremy Renner) prepara uma elaborada brincadeira onde cada um faz coisas absurdas e insanas para sair vencedor. Em todos esses anos, o personagem de Renner nunca foi pego por nenhum deles, e o grupo se une para quebrar a zica, aproveitando o fato de que o sujeito está de casamento marcado e mais distraído.
Antes de falar sobre Te Peguei! como filme, é bom ver que mais uma comédia de estúdio chegou aos cinemas. Antes de A Noite do Jogo há alguns meses, poucos estúdios pareciam investir pesado em elenco e cinematografia para comédia, um gênero que está praticamente extinto em meio a tantos filmes de super-heróis, blockbusters e outras produções de maior interesse popular.
A Comédia de Estúdio vive
Só pela proposta já sabemos que há algo valioso aí, então a questão fica em como o roteiro de Rob McKittrick e Mark Steilen são capazes de segmentar a trama e dar espaço para as piadas. O set up da trama é bem lógico, com o anúncio do casamento de fato servindo para uma distração e desculpa para que o grupo una suas forças, ao mesmo tempo em que garante situações divertidas dentro dessa temática – que não deixa de ser uma variante de Se Beber, Não Case!, a grande comédia de adultos de estúdio que também se concentra em marmanjos lidando com o casamento. As piadas são divertidas quando abordam algo mais megalomaníaco, vide a situação absurda em que uma personagem pode ou não estar gfingindo um aborto, mas falham quando somos deixados a algo mais improvisado.
Esses momentos acabam não soando tão inspirados por um motivo simples, mas que se revela letal para o longa: o elenco parece não ter química. Todos estão ótimos em cena, com Jon Hamm se entregando totalmente para caretas e comportamentos estúpidos, ao passo em que Ed Helms continua com seu mesmo perfil excêntrico com bom complemento de Johnson e Burgess. O problema é que em ponto algum temos a impressão de que realmente são amigos próximos ali, apenas atores se divertindo – e isso transparece bem em cena. Tal efeito fica ainda pior quando o roteiro de McKitrrick e Steilen subitamente se alterna para o drama, e vemos como o texto parecia ter algo interessante a dizer, mas o desalinhamento do elenco e a mão pesada acabam tornando a experiência embaraçosa.
Riso bem Fotografado
Te Peguei! também não traz o mesmo brilhantismo técnico de A Noite do Jogo, onde a dupla Jonathan Goldstein e John Francis Daley apostavam em planos sequência, match cuts e diversos elementos visuais que raramente vemos em longas cujo objetivo principal é o riso, e que cada vez mais se aproxima da ação. A direção de Jeff Tomsic em Te Peguei! é mais genérica, mas segue a onda de um olhar mais preciosista para o gênero: a fotografia é belíssima, com um jogo de luzes digno de um exemplar da série Missão: Impossível para nos revelar Jeremy Renner pela primeira vez – o mesmo se aplica a uma perseguição na floresta, que parece saída de um terror iraniano -, ao passo em que usa o slow motion com paixão para traduzir visualmente o raciocínio insano de Renner, que calcula os movimentos de seus amigos para conseguir se esquivar; praticamente uma versão escrachada do Sherlock Holmes de Robert Downey Jr.
Entre erros e acertos, Te Peguei! é mais um representante do aprimoramento técnico do gênero de comédia, além de representar um tipo de filme praticamente nichado. Vale conferir pelo absurdo da história real e as boas soluções de Jeff Tomsic como diretor, mas é uma experiência tão rápida e volúvel quanto um jogo de pega-pega.
Te Peguei! (Tag, EUA - 2018)
Direção: Jeff Tomsic
Roteiro: Rob McKittrick e Mark Steilen, baseado no artigo de Russell Adams
Elenco: Ed Helms, Jon Hamm, Jeremy Renner, Jake Johnson, Hannibal Buress, Isla Fisher, Annabelle Wallis, Leslie Bibb, Rashida Jones
Gênero: Comédia
Duração: 100 min
https://www.youtube.com/watch?v=kjC1zmZo30U