Artigo | Em defesa de Homem-Aranha 3
Um dos filmes que mais apanha injustamente dos fãs, críticos e literalmente qualquer pessoa interessada em cinema de super-heróis, é Homem-Aranha 3. O encerramento da trilogia de Sam Raimi com Tobey Maguire como o Cabeça-de-Teia, o filme foi lançado em maio de 2007, marcando uma década desde sua estreia, que fora marcada por uma expectativa gigantesca após o sucesso do anterior e a sugestão de adaptar alguns dos arcos mais populares do personagem, trazendo o tão esperado Venom como vilão da produção.
Não era apenas a promessa de um filme quando vimos o primeiro teaser trailer com o uniforme negro do Homem-Aranha, mas sim a promessa de uma grandeza maior do que os olhos poderiam contemplar. Infelizmente, seria impossível para o filme se equiparar ao alto pedestal onde estava sendo colocado, algo que explica também porque os "terceiros capítulos" sempre acabam ofuscados pela responsabilidade de seguir um capítulo intermediário excepcional - ver O Cavaleiro das Trevas Ressurge, X-Men: O Confronto Final e O Poderoso Chefão Parte III.
Mas aí vem o ponto deste artigo. Não acho que Homem-Aranha 3 seja um filme ruim, de forma alguma. É o pior exemplar da magistral trilogia de Sam Raimi, traz, sim, um roteiro defeituoso que carece de uma revisão e temos toda a complexa questão acerca da controversa dancinha emo, mas em seu núcleo é um bom filme que merece ser redescoberto, e até afirmo que possui certas características que não encontramos mais em filmes recentes do MCU, DCEU ou em qualquer exemplar da linha contemporânea de universos compartilhados.
A Direção
E o primeiro motivo é justamente Sam Raimi. Quando criança, não tinha a cabeça que tenho hoje, tampouco o olhar mais apurado para identificar fatores como movimentação de câmera, lentes ou mise en scène. Revendo Homem-Aranha 3 hoje, é inegável que Raimi seja um mago por trás das câmeras. Ele já havia se provado como um diretor de ação e narrativa excepcional nos anteriores, e essa marca autoral definitivamente não se perdeu aqui. Sua câmera é um dos discípulos claros do estilo de Steven Spielberg, usando planos longos que trocam o eixo e o enquadramento constantemente para acompanhar ações contínuas, nunca nos dando a impressão de que ainda estamos no mesmo plano - da mesma forma como Spielberg nos engana ao achar que houve um corte de um movimento para outro.
Tome como exemplo a cena em que dois policiais perseguem Flint Marko, o Homem-Areia, após reconhecê-lo na rua. O plano se inicia com o enquadramento em Thomas Haden Church caminhando, então vira-se para os dois policiais conversando, de volta para o fugitivo atravessando a rua, e então retorna para os policiais correndo ao seu encontro, sacando as pistolas enquanto escondem-se atrás de um caminhão - onde Raimi mantém a câmera um pouco mais intensa, enquanto segue o rosto de um deles. Vemos recursos assim durante todo o filme, especialmente durante as apresentações do próprio Marko e de Harry Osborn no balcão de um teatro, quando um suave movimento de grua levanta-se para mostrar o primeiro antagonista do filme sentado acima de Parker.
Raimi é um mestre nessas sutilezas e no jogo de câmera, e mantém esse mesmo domínio durante todas as ótimas cenas de ação. Uma decisão pessoal do diretor para este terceiro filme foi apostar em mais momentos com Peter sem a máscara do Homem-Aranha, visto que o diretor achava que o público "perdia" o lado humano do personagem durante as batalhas espetaculares contra o Duende Verde e Doutor Octopus. Com isso, temos duas excelentes cenas com o herói lutando desmascarado, ambas envolvendo o Novo Duende de Harry Osborn. Sim, por um lado isso revela a artificialidade dos efeitos visuais ao recriar os rostos de ambos os atores - algo que também acontece com Alfred Molina no segundo filme, diga-se de passagem - mas realmente oferece uma certa humanidade aos personagens, isso também porque Raimi está sempre atrás de tomadas de reação, contemplação e closes durante tais cenas.
Esse efeito torna-se mais evidente durante a segunda luta entre Peter e Harry, talvez a mais brutal e intimista de toda a trilogia, quando os dois ex-amigos se enfrentam dentro da mansão Osborn. Nenhum deles usa uniformes ou trajes especiais (o simbionte é escondido sob o casaco de Parker), rendendo uma luta de socos, chutes e arremessos que vão destruindo todo o luxo do ambiente - com os danos colaterais de janelas, mesas e paredes ajudando a nos dar uma ideia da força de ambos os lutadores. Aliás, é formidável como Raimi insiste em usar dublês para manter o "realismo" da cena, já que claramente perceberíamos se um James Franco digital fosse arremessado em uma pilastra de madeira ou através de uma porta de vidro; aqui, fica nítido que um ser humano realmente foi lançado, em uma tremenda valorização do trabalho desses profissionais.
E mesmo quando Raimi aposta na extravagancia de bonecos digitais se espancando, o resultado não deixa de entreter. Por exemplo, quando vemos versões CGI do Homem-Aranha e Venom lutando enquanto caem de um prédio, estamos diante de bonecões de borracha que nem parecem tentar esconder sua artificialidade enquanto a porradaria come solta. Porém, a forma como a câmera virtual de Raimi os segue é dinâmica a ponto de tornar a briga viva, com o fato de todo o pequeno confronto se desenrolar em um plano único auxiliando em manter o espectador preso à ação, que também deve muito às cores fortes dos uniformes e o fabuloso design de som, que confere força e impacto a cada soco, chute e teia disparada - com um foley acertadamente diferenciado para os golpes e impactos de Venom. Uma cena assim, de 10 anos atrás, ainda é mais estimulante e dinâmica do que as batalhas CGI chapadas de Superman e Zod em O Homem de Aço, por exemplo, graças à ausência de cor, efeitos sonoros impactantes e o uso intenso da câmera virtual (o granulado da fotografia certamente não ajuda). Isso se aplica a muitos outros longas do gênero, por sinal, e nem preciso dizer que é infinitamente melhor do que qualquer tentativa de se fazer uma cena de ação em qualquer um dos dois Espetacular Homem-Aranha.
E que pecado seria, no assunto de sequências digitais, não falar sobre a fabulosa cena que nos apresenta aos poderes do Homem-Areia. Inteiramente formada através de efeitos visuais e sem a presença de diálogos, vemos a reconstrução de Flint Marko através de minúsculos grãos de areia, rendendo um espetáculo deslumbrante que permanece convincente e impressionante até hoje - quase como se um curta animado da Pixar repentinamente tivesse sido colocado no meio do filme. A música de Christopher Young é soberba, assim como os pequenos resquícios de expressividade no rosto de areia de Marko enquanto ele é motivado pela foto de sua filha. Cite uma sequência de origem de vilão melhor que essa, e falhe miseravelmente.
O Roteiro
O roteiro tem problemas, isso é inegável. Não só a trama depende muito de coincidências para sair em disparada: um meteorito com parasita alienígena cai justamente no parque onde Peter e MJ estão, além de praticamente todos os personagens estarem conectados de alguma forma, com Peter salvando sua colega de classe Gwen Stacy, que é filha do capitão de polícia encarregado com o caso do assassinato do tio Ben, e também é "namorada" de Eddie Brock, o futuro Venom e rival de Peter no Clarim Diário... Tudo isso até que poderia ser aceito graças às convenções do gênero, além de tornar todas as peças do tabuleiro importantes, evitando figuras genéricas, mas nada soa mais artificial do que o Homem-Areia ter sido revelado como o verdadeiro responsável pela morte de Ben. É uma jogada que muda o arco do primeiro filme e não soa nada verossímil, e eu realmente preferiria que o roteiro não tivesse esse bloco gigante de história. Porém, isso é relevante para que Peter tenha um risco emocional e pessoal mais forte em sua batalha com Homem-Areia, além de ser a perfeita porta de entrada para a entrada do simbionte na trama.
Como resolver esse problema sem precisar fazer retcom na morte do Tio Ben? Uma decisão ousada e cruel, mas se o Homem-Areia tivesse acidentalmente matado a Tia May durante alguma cena de ação, não só o peso dramático serviria para o núcleo de Peter e o do simbionte, como também aumentaria ainda mais a raiva do protagonista e os riscos da história - potencializando também uma catarse mais poderosa e recompensadora no final, quando Peter acabaria perdoando Marko. Sem flashbacks, sem mudança de arco estabelecido e também traria o aspecto "monstro acidental" que os poderes do Homem-Areia agregam ao personagem. Mas até eu ficaria de coração partido em ver a morte da adorável personagem de Rosemary Harris.
Mas no que diz respeito ao desenvolvimento do trio protagonista, o filme acerta. Porque convenhamos, o desenrolar e clímax de Homem-Aranha 3 deixa claro que toda essa trilogia é sobre a relação dos três, visto que acompanhamos o crescimento e amadurecimento do trio ao longo dos filmes - mas sempre do ponto de vista de Peter, claro. A imagem dos três juntos durante o desfecho trágico do clímax é uma das mais fortes da saga, com o sacrifício de Harry (morto da mesma forma que seu pai, ironicamente) fortalecendo a catarse do personagem após três filmes odiando e repudiando o Aranha, e também servindo à moral de perdão que o longa explora também com Peter e Flint Marko.
Depois de um filme todo com Peter sofrendo para balancear sua vida dupla, quando Homem-Aranha 3 nos apresenta a um mundo ideal onde o herói é amado por todos, seu ego começa a subir, e o espectador se sente vingado por finalmente ver Tobey Maguire, a personificação suprema da bondade no mundo, enfim tendo tudo o que merece. Inteligente é o roteiro ao ter um Peter com a cabeça cheia justo no momento em que Mary Jane Watson passa por sua maior crise, sendo demitida do espetáculo da Broadway e tendo dificuldades em esconder o ciúmes que sente ao ver o alter ego de seu namorado sendo ovacionado por toda parte.
Por fim, vale apontar como o humor do filme é acertadíssimo. Nunca parece intrusivo ou mal colocado (ver TODOS os filmes da Marvel Studios), tendo a mesma elegância e criatividade dos anteriores, como a genial participação de Bruce Campbell como um gerente de restaurante francês e o sempre espetacular J.K. Simmons como J.Jonah Jameson, cujas aparições no núcleo do Clarim Diário são orgânicas e funcionais. E já que estamos falando de humor, hora de falar da cena mais engraçada da película: a dança emo! Muitos reclamam da cena ser ridícula e tosca, mas é justamente esse seu propósito! Quando vemos Tobey Maguire rebolando pelas ruas ao som de James Brown, é muito claro que a intenção de Raimi é nos fazer rir daquilo, oferecendo um respiro de humor após um ato tão sombrio envolvendo a segunda batalha com Harry.
Já a dança no clube de jazz, bem... Indefensável.
Venom
OK, vamos lá. Edward Brock Jr, o alter ego de Venom é habilidosamente introduzido no primeiro ato. Devo ser uma minoria aqui, mas só tenho elogios para a performance de Topher Grace, que consegue criar a antítese de Peter Parker em sua postura de nerd frágil e meio bobo (é o Eric de That' 70s Show, pelo amor), mas que esforça-se para projetar uma persona mais cool e radical, com suas tentativas fracassadas de jogar cantadas em Betty Brandt, o puxasaquismo em relação a J. Jonah Jameson e até seu figurino que destoa do de Peter, trazendo uma jaqueta de couro preta por cima de sua camisa e gravata - isso sem falar no cabelo oxigenado e arrepiado.
Quando Brock finalmente é tomado pelo simbionte, temos uma excepcional adaptação do visual do Venom dos quadrinhos para o cinema, e isso evidentemente irritou os fãs de sua versão de papel. Este Venom não é bombado, gigante ou linguarudo como nas HQs de Stan Lee e Jack Kirby, e isso realmente não importa. Não fere à trama se este Venom lambe a cara do Homem-Aranha ou não, sendo a versão apropriada que o longa vinha construindo desde então, com a fisionomia de Topher Grace sendo mantida quase que intacta no uniforme - que sabiamente mantém os traços da teia do Homem-Aranha em sua confecção. Outra grande reclamação é o fato de que Venom está sempre "trocando" o rosto para o de Grace, mas já vimos que isso faz parte da decisão de Raimi em humanizar os personagens, e confesso que fico feliz por tal ação possibilitar mais da carismática performance do ator, que se diverte em criar um vilão movido por maldade - mesmo que todas as suas motivações estejam presentes desde o primeiro ato.
Durante a batalha entre o herói, Venom e Homem-Areia no clímax, é evidente que o vilão acaba terrivelmente desperdiçado e com menos tempo de cena do que esperávamos. Porém, é justificável se levarmos em conta que o simbionte é um mal que Peter enfrentava desde o segundo ato do filme, e que a rivalidade de Eddie Brock também já vinha de muito antes; e, indo mais fundo, a própria luta do protagonista contra o lado sombrio é o tema de toda a projeção.
Não digo que Homem-Aranha 3 seja uma obra-prima, e sem dúvida alguma é o exemplar mais fraco da primorosa trilogia de Sam Raimi. Porém, é um filme que acerta em sua mensagem e execução geral, com a exploração do lado sombrio do protagonista rendendo ótimos momentos e uma catarse poderosa, além de comprovar que Raimi é um mago por trás das câmeras, entregando algumas das melhores sequências que o gênero já viu. Vale apontar, sempre é bom puxar aquele DVD da prateleira e rever aquele filme que não envelheceu tão bem na memória.
O resultado pode ser melhor do que o esperado, e Homem-Aranha 3 se beneficia disso, principalmente quando percebemos o quanto esse filme tem em seu núcleo, que diversas outras produções atuais infelizmente não se preocupam mais.
Leia mais sobre Homem-Aranha
Lista | As 5 melhores Cenas dos Filmes O Espetacular Homem-Aranha
Vocês acharam que tinhamos ignorado os filmes de Andrew Garfield em nossa retrospectiva das melhores cenas da trilogia Homem-Aranha, certo? Pois bem, chegou a hora de relembrarmos alguns dos melhores momentos dos dois filmes de O Espetacular Homem-Aranha, ambos dirigidos por Marc Webb durante a fase do reboot iniciada em 2012.
Confira:
https://www.youtube.com/watch?v=4_23t4NzAMk
5. O Ladrão de carros
O Espetacular Homem-Aranha (2012)
Para bem ou para mal, nunca antes tínhamos visto um Homem-Aranha assim. Completamente sarcástico, piadista e até um pouco sádico, é a primeira vez em que vemos o Aranha de Andrew Garfield agindo com seu recém-confeccionado uniforme, usando-o para prender um ladrão de carros durante sua caçada ao assassino de Tio Ben. A fotografia é inspirada ao marcar o brilho das cores da roupa em uma paisagem completamente escura, e a performance de Garfield aqui, aliada às piadinhas certeiras, é particularmente inspirada.
https://www.youtube.com/watch?v=wXM3GK--nhM
4. Perseguindo Rino
O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014)
Logo nos minutos iniciais do segundo filme, Marc Webb já mostrava-se atento às reclamações do primeiro filme: temos uma gigantesca perseguição de carros pelo centro de Nova York, onde o Homem-Aranha persegue o caricato Aleksei Sytsevich de Paul Giamatti, que viria a se tornar o vilão Rino no final do longa. Vemos uma sequência bem orquestrada e competente, mas que brilha principalmente por ilustrar o incrível senso de humor do herói durante a perseguição.
https://www.youtube.com/watch?v=5rEFkI6fJRo
3. Electro na Times Square
O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014)
Um problema sério nos dois filmes Espetacular inegavelmente fica na questão dos vilões, que são todos subdesenvolvidos e não conseguem atingir um bom nível de visual, motivação ou ameaça. Porém, quando temos a primeira cena do Electro de Jamie Foxx no segundo filme da franquia, temos um ótimo vislumbre do quão poderoso seu arco poderia ter sido. Em um embate entre o personagem e o Aranha na Times Square, temos um visual incrível graças aos raios azuis do antagonista, além de um poderio imagético notável ao trazer Electro maravilhado com os painéis e televisores da cidade estamparem seu rosto, e o vilão finalmente ganha todo o reconhecimento que tanto quis. Quando estes são substituídos pela imagem do Aranha, entendemos sua motivação e o rumo da história. Ah, e o dubstep de Hans Zimmer é insano!
https://youtu.be/psB3Ta-5XWY
2. Sequência do Skate
O Espetacular Homem-Aranha (2012)
Eu estou com vocês. Peter Parker não anda de skate, e essa é uma ideia um tanto equivocada para o personagem. Porém, fidelidade ao material original à parte, esta sequência ao som de Til Kingdom Come, belíssima canção do Coldplay, é sem dúvida alguma o melhor momento do primeiro filme. É uma espécie de "montagem de treinamento", com Peter testando a evolução de seus poderes, seja através de manobras com skate ou se balançando pelas correntes de um galpão. Agrada pelo ritmo e a montagem, com a música dando todo o charme para esta linda cena. É um videoclipe no meio do filme? Sim. Mas é bom? Oh, sim.
https://www.youtube.com/watch?v=Xi3P8vUveVQ
1. A Morte de Gwen Stacy
O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (2014)
Mesmo com todos os deméritos, é de se admirar a coragem dos realizadores em apostar na morte da amada Gwen Stacy. Tomando inspiração direta dos quadrinhos, essa trágica cena levou muitos fãs às lágrimas em 2014, quando o Homem-Aranha falha em salvar sua namorada de uma queda morta provocada pelo Duende Verde de Dane DeHaan. O impacto de Gwen no chão é brutal, o simbolismo do relógio parado é uma bela sacada, e a performance de Garfield acerta ao não ser melodramática demais, entregando a reação ideal. Uma ótima cena.
Menção Honrosa
https://www.youtube.com/watch?v=2OqMlQYSN30
Stan Lee na biblioteca
O Espetacular Homem-Aranha (2012)
Cameos de Stan Lee já viraram uma piada batida em filmes da Marvel, especialmente por termos ciência de que elas acontecerão. Porém, como não esboçar um sorriso durante este genial momento em que o bom velhinho passeia pela batalha desgovernada entre o Homem-Aranha e o Lagarto no primeiro filme? Ótimo.
Essa foi nossa lista sobre os filmes de Andrew Garfield? Deixamos algum momento de fora? Qual a sua cena preferida dos dois filmes? Ainda não superou Gwen batendo as botas? Comente!
Crítica | O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro
Depois de uma trilogia bem sucedida e um reboot irregular, chegamos a este O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro, nova investida da Sony em seu personagem mais lucrativo. E devo dizer que, sendo continuação de uma reimaginação pouco inspirada, comandada por um cineasta incapaz de lidar com espetáculos, uma versão de Peter Parker que não era a mais apropriada à criação de Stan Lee e Jack Kirby, e povoadas por três grandes vilões, o resultado poderia ser muito pior.
Mas merecia muito mais, e custou ao Homem-Aranha mais do que qualquer um poderia imaginar.
A trama se passa algum tempo depois do primeiro filme, onde encontramos Peter Parker (Andrew Garfield) confiante e se divertindo com seu alter-ego de Homem-Aranha, ainda que constantemente assombrado pela promessa que fizera ao Capitão Stacy (Denis Leary, em rápidas aparições) de ficar longe de sua filha, Gwen (Emma Stone). Ao mesmo tempo em que vai descobrindo mais pistas sobre seu passado, o herói é surpreendido pela chegada do antigo amigo, Harry Osborn (Dane DeHaan) e do vilão Electro (Jamie Foxx).
There will be Blood
Pelo breve sumário acima, já deu pra notar quantas linhas narrativas os roteiristas Roberto Orci, Alex Kurtzman (responsáveis pelo reboot de Star Trek, mas também pelos três primeiros Transformers) e Jeff Pinkner optaram por construir sua trama. Como a mania dos grandes estúdios agora é construir grandes universos expandidos no cinema (graças ao sucesso esmagador do Universo Cinematográfico da Marvel Studios), não espere que todas essas linhas saiam resolvidas; pelo contrário, este novo filme já prepara terreno para um inevitável terceiro filme e até futuros personagens do universo do Cabeça-de-Teia, nem que isso signifique puxar o fio da tomada em plena ação a fim de guardar seu desfecho para futuros longas. Como essa franquia acabou cancelada em virtude do acordo da Sony com a Marvel Studios, nenhum desses projetos ganhará a luz do dia, e o filme permanece eternamente incompleto. Um gigantesco tiro no pé.
Esses setups inconclusivos acabam por prejudicar elementos importantes no desenrolar da história. A relação entre Peter e Harry, por exemplo, é contada às pressas apenas para que o amigo do protagonista transforme-se em uma versão bizarra do Duende Verde, perdendo o impacto de um conflito entre dois amigos – algo muito melhor retratado, sem querer entrar muito no âmbito comparativo, na trilogia de Sam Raimi, principalmente por termos a relação dos dois sendo construída ao longo de três filmes diferentes - Webb literalmente gasta apenas três minutos em todo o estabelecimento, e com uma sequência musical e com elipses já temos que aceitar que os dois são grandes amigos, algo que nem o roteiro ou a química entre os dois é capaz de atingir.
Isso sem falar na subtrama dos pais de Parker e a Oscorp, que é enfiada no meio da projeção e fica lá por um bom tempo; fator que interrompe o ritmo favorável que o longa consegue obter aqui e ali. A decisão de transformar Peter em uma espécie de "experimento", com seu DNA já tendo sido alterado na infância para ser compatível às aranhas geneticamente modificadas também elimina muita graça e essência do personagem: Parker não é mais um cara qualquer que poderia ter se tornado um herói, ele já estava determinado desde criança. Quanto à Oscorp, é praticamente uma fábrica de vilões e que solta inúmeras referências a membros do grupo vilanesco Sexteto Sinistro, um dos projetos abortados do produtor Avi Arad após a fraca recepção deste longa.
Trinca de Vilões
E ainda que os três distintos vilões sejam bem distribuídos ao longo da narrativa, o roteiro do trio fracassa em garantir-lhes verossimilhança. Se até Sam Raimi que é um ótimo contador de histórias escorregou com a presença de três antagonistas em seu último filme com Tobey Maguire, que chances o pobre Marc Webb teria?
A começar por Electro, que parte de uma premissa interessante. De acordo com Webb e o ator Jamie Foxx, toda a obsessão de Max pelo Homem-Aranha foi feita de forma a refletir o excelente trabalho de Robert De Niro em O Rei da Comédia, de Martin Scorsese, explorando esse lado sombrio do fã e as ações extremas que podem levá-lo a cometer por isso. Alie-se ao fato de Max ser um solitário ignorado por todos, e temos o ponto de partida para um vilão com boas motivações e uma construção decente. Porém, Webb não é Scorsese e Foxx não é De Niro, e o resultado acaba sendo uma caricatura ridícula antes de sua transformação, com uma peruca óbvia e uma caracterização típica do trabalho de Joel Schumacher em seus filmes do Batman. Aliás, é curioso observar como o arco de Electro é praticamente idêntico ao do Charada de Jim Carrey em Batman Eternamente. Se inspirar em Scorsese pra cair em Schumacher é triste, para dizer o mínimo.
Após o bizarro acidente onde Max cai em um tanque de enguias, temos uma construção interessante desse Electro. A equipe de maquiagem merece créditos pela coloração azul e os "raios" em alto relevo no rosto de Jamie Foxx, que promovem uma boa interação com os efeitos visuais aplicados posteriormente, assim como os pontos de luz azul do fotógrafo Dan Mindel para a manifestação de seus poderes. Visualmente, tudo envolvendo o personagem é muito bonito, e nesse ponto é preciso dar algum valor estético a Marc Webb, que melhora consideravelmente desde sua condução fraca no primeiro filme, mas chegaremos a ele em alguns instantes. Foxx adota uma entonação mais lenta e suave após sua transformação, demonstrando sua óbvia dedicação e trabalho de construção ao personagem, mas nem mesmo o poderoso reverb elétrico aplicado em sua voz pode causar ameaça quando o roteiro lhe oferece frases como "É meu aniversário, hora de acender minhas velas!" em plena batalha contra o protagonista.
Por incrível que pareça, Electro talvez seja o "menos pior" dentre os múltiplos antagonistas do longa. Quando chegamos ao Duende Verde de Dane DeHaan, o trabalho aqui é tão porco e apressado quanto a introdução abrupta de Harry no primeiro ato, e o longa passa boa parte de suas cenas tentando apressar sua transformação no Duende. Surpreendido por uma doença em seu sangue, que acaba causando a morte de seu pai Norman (Chris Cooper, em aparição relâmpago), Harry aprofunda-se nos arquivos da Oscorp e descobre que o DNA do Homem-Aranha pode ser capaz de anular sua doença, o que motiva o jovem a matar o herói e conseguir seu sangue - quando este mesmo recusa após argumentar que os efeitos colaterais poderiam ser perigosos.
Sendo o bom ator que é, DeHaan convence ao exibir a raiva e frustração de Harry diante dessa situação, especialmente por seu timbre vocal ser um pouco mais frágil e esforçado durante suas cenas mais intensas, o que confere muito peso à sua performance, assim como os poucos momentos em que seu sarcasmo e ironia assumem o comando; vide sua negociação com Electro ou a chantagem ao CEO da Oscorp. Porém, quando ele de fato vira o Duende... Ok, pra começar que Harry simplesmente "encontra" o planador e o traje táctil no porão da Oscorp, rastejando até ele quando o sangue aracnídeo começa a provocar mutações em seu corpo. Sem qualquer explicação ou conhecimento do traje, ele rapidamente entra nele e sai voando com o planador, sem treinamento ou familiarizamento com a arma. E caso Harry realmente tivesse ciência do fator de cura do traje (algo que vemos quando ele já está vestido), por quê não usá-lo antes de injetar o sangue em si mesmo? E se elogiei o trabalho dos maquiadores em Electro, retiro o que disse ao ver o visual horroroso desse novo Duende. Nem me refiro a fidelidade aos quadrinhos, é simplesmente pura tosqueira, sendo difícil levar a sério o pobre DeHaan com uma cabeleira que o assemelha a um troll de jardim ou a coloração verde em sua pele.
Então temos... Bem, er... Isso é difícil. O Rino de Paul Giamatti. Tudo bem que já é no mínimo questionável a ideia de levar aos cinemas um homem vestido de rinocerontes, e o melhor exemplo que consigo pensar é a infame cena de Ace Ventura 2: Um Maluco na África, onde o detetive de Jim Carrey (olha ele novamente no texto) controla um rinoceronte mecânico. Aqui não é muito diferente, apenas trocando o formato mais animalesco por uma armadura que parece ter saído de um projeto abortado de Transformers, e que felizmente só aparece durante os minutos finais do filme, sem muita ligação com a já inchada trama central. E Giamatti está completamente surtado. Com um sotaque russo carregadíssimo e uma sucessão de caretas que deixaria Nicolas Cage com ciúmes, ainda me pergunto que tipo de direção o ator levou, e ver suas gargalhadas maléficas durante a perseguição de carros reforça minha teoria de que Webb estaria tentando emular Joel Schumacher.
Além desses oponentes mais diretos, o longa ainda planta pequenas sementes com personagens menores. O principal deles é a Felicia Hardy de uma Felicity Jones pré-Teoria de Tudo, que nos quadrinhos é o alter ego da vigilante Gata Negra, aqui ganhando um papel como secretária pessoal de Harry na Oscorp. Uma personagem subdesenvolvida e que aparece ali apenas para resolver algumas convenções e avançar a história, sendo um tremendo desperdício de potencial. Temos também B.J. Novaks como Alistair Smythe, que também é outro vilão das HQs, mas sua participação é inofensiva no filme, mais ou menos como Curt Connors também aparecia aqui e ali em Homem-Aranha 2 - ainda que o futuro Lagarto tivesse um papel integrado à narrativa, e não um mero fan service como o cientista de Novaks. Por fim, temos Marton Csokas disputando o posto de performance mais over com Giamatti, ao viver Dr. Ashley Kafka, um médico alemão que parece ter saído de uma sátira de Mel Brooks sobre o nazismo. Patético.
A Teia de Webb
Já o diretor Marc Webb, que não fazia ideia de como comandar uma sequência de ação no primeiro filme se sai consideravelmente melhor ao aumentar os riscos, os cenários e todo o feeling em tais momentos: a grandiosidade da cidade de Nova York é bem mais perceptível aqui. Claro, pesar de continuar sendo um amador no uso de efeitos visuais e revelar-se tarado por câmera lenta, que só é utilizada para reforçar poses marcantes e ações dinâmicas - vide o uso do sentido aranha do personagem. O sobreuso de efeitos também prejudica o ritmo e a condução da ação, especialmente durante a batalha final entre o Aranha e Electro, que não passa de dois bonecos de borracha se espatifando em meio a luzes azuladas, e a setpiece inteiramente digital torna a pancadaria um pouco monótona.
Logo no primeiro ato, temos uma boa perseguição de carros onde o humor do personagem é bem explorado pelas situações - ainda que seja questionável o fato de que essas piadinhas atrasam consideravelmente a ação, algo que é um tiro no pé considerando que Peter está correndo contra o tempo para parar os bandidos e chegar a tempo em sua formatura. Ainda que seja uma sequência um tanto problemática em sua montagem, que abusa da velocidade de cortes e ângulos durante os capotamentos, é uma evolução notável para Webb, que demonstra mais fôlego e grandiosidade do que em sua primeira incursão. De forma similar, a primeira batalha contra o Electro na Times Square é favorecida por esse senso de escala, principalmente pela simbólica imagem do vilão vendo seu rosto sendo projetado em todos os billboards e telões do centro de Manhattan, encontrando nessa grande set piece um valioso momento introspectivo para o antagonista azulado.
Ajuda também ter a presença épica de Hans Zimmer – junto com um grupo de artistas composto por Pharell Williams, Michael Einziger, Junkie XL e Johnny Marr – na trilha sonora, que traz a genial decisão de apostar em ritmos de dubstep para um vilão cujo poder é eletricidade, além de conferir uma fanfare empolgante e alegre para um Homem-Aranha insanamente bem humorado, fazendo jus ao título de "Espetacular" e ganhando variações bem sutis ao longo da narrativa.
O maior mérito da produção sem dúvida é o acertadíssimo humor do personagem, que surge sempre carismático e com piadinhas inspiradas na hora de frustrar criminosos armados em uma perseguição impressionante e ao sair pelas ruas assoviando seu próprio tema, favorecendo a ótima performance de Andrew Garfield, que abandona aquele perfil mais introspectivo e gaguejeiro para algo mais leve e expansivo - algo refletido até mesmo em seu cabelo, que passa do oleoso caído na testa para um topete elaborado, até representando essa transição para "a luz". E, preservando aquele que foi o grande acerto do longa anterior, Webb dirige bem as cenas em que Garfield contracena com a maravilhosa Emma Stone, capturando novamente a radiante química do casal – e também levando-o para caminhos mais dramáticos, onde temos a melhor cena que Webb já filmou em sua passagem pelo Aranhaverso.
É uma decisão corajosa a de matar Gwen no segundo filme, especialmente pela recepção extremamente positiva do público e crítica após o primeiro filme; a química entre o casal é literalmente a melhor coisa que já saiu dessa breve duologia. Mesmo que povoada de efeitos visuais, a queda de Gwen Stacy é dramática e poderosa ao demonstrar a imperfeição do Homem-Aranha, que por um triz não consegue salvar sua amada da brutal batida no concreto do chão. Aqui o slow motion realmente agrega ao conceito, já que Gwen cai em meio às engrenagens de um relógio, simbolizando o congelamento do tempo durante esses segundos decisivos - além de ser um belo resgate de seu discurso no começo do filme, onde a personagem também discute sobre os efeitos do tempo.
O overacting de Garfield que afetou a dramática cena em que o Tio Ben é assassinado no anterior felizmente não se repete aqui, e o ator entrega uma reação mais controlada - mas igualmente afetiva - para quando segura o corpo de sua namorada, e naquele momento o espectador é realmente capaz de sentir sua dor. Só é uma pena que esse ótimo momento venha perdido no meio de um filme embolado de eventos e personagens
No fim, O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro é uma experiência mais divertida do que a de seu antecessor, mas que ainda sofre de problemas similares em sua estrutura e direção; sendo mais um conjunto de bons momentos em meio a uma narrativa bagunçada e marcada por elementos ridículos, além daquela velha preocupação em iniciar universos compartilhados.
Trocamos o Homem-Aranha 4 de Sam Raimi por isso?
O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro (The Amazing Spider-Man 2, EUA - 2014)
Direção: Marc Webb
Roteiro: Alex Kurtzman, Roberto Orcio e Jeff Pinkner
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Jamie Foxx, Dane DeHaan, Sally Field, Felicity Jones, Paul Giammati, Chris Cooper, B.J. Novaks, Marton Csokas
Gênero: Aventura
Duração: 142 min
https://www.youtube.com/watch?v=XH7tR6yae48
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Ao longo de 5 filmes lançados até o momento, o Homem-Aranha ganhou diversas sequências memoráveis onde diferentes diretores esforçaram-se para traduzir visualmente seus confrontos, habilidades e momentos relevantes para seu caráter. Reunimos aqui, primeiro, os 10 melhores momentos dos três filmes de Sam Raimi.
Confira:
https://www.youtube.com/watch?v=rDGRAHBojWE
10. A Dança Emo
Homem-Aranha 3 (2007)
Eu sei, eu sei! Todos vocês odeiam essa cena, mas venho aqui defender que ela é perfeita em seu propósito: servir como uma elaborada piada sobre a transformação sombria de Peter Parker após o uso contínuo do uniforme simbionte. Temos aí um Tobey Maguire todo convencido de franjinha emo, rebolando pelas ruas ao som de Drive that Funky Soul, de James Brown, pelas ruas de Nova York, com a reação assustada e cômica de todas as moças que cruzam seu caminho sendo um toque perfeito. Como não se divertir?
https://www.youtube.com/watch?v=eALUdFE3uSA
9. Batalha contra o Novo Duende
Homem-Aranha 3 (2007)
Sam Raimi é simplesmente um mago na condução de grandes cenas de ação. Começando o terceiro filme com o pé na porta, temos a introdução de Harry Osborn como o primeiro antagonista, que assume o manto de seu pai e vira o Novo Duende Verde, perseguindo Peter pelos céus de Manhattan enquanto tenta assassiná-lo. Uma sequência grandiosa e empolgante, com efeitos visuais competentes e um senso de humanidade sempre presente, especialmente pelos dois lutadores estarem desmascarados.
https://www.youtube.com/watch?v=sqr6j0OhkYM
8. Papo de Elevador
Homem-Aranha 2 (2004)
Aqui vai uma bela aulinha sobre como se fazer comédia em filmes de super-heróis (É, Marvel Studios, estou falando com você). Após uma súbita falha em seus poderes, o Aranha é forçado a pegar o elevador de um prédio para poder descer em segurança. Ele só não esperava a aparição de um morador do condomínio, o que rende a conversa de elevador mais desconfortável e hilária que poderíamos imaginar. É um humor sutil e que se desenrola em um único take e com uma predominância de silêncio, fazendo graça justamente desse imagético absurdo.
https://www.youtube.com/watch?v=_5d6rTQcU2U
7. Grandes poderes, grandes responsabilidades
Homem-Aranha (2002)
Falta aos filmes de super-heróis contemporâneos uma cena simples, mas poderosa como essa. Quando o Tio Ben pára para conversar com Peter no carro após uma carona, justo no ponto em que o protagonista começa a se divertir com seus poderes, temos um diálogo preciso e sincero sobre as mudanças na vida de um homem. Ben alerta que este é o momento em que ele começa a definir a pessoa que será pelo resto da vida, e avisa também que grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Excelente roteiro e atuações precisas de Maguire e Cliff Roberston, em uma cena que nos ensina muito não só sobre Peter Parker, mas também traz uma importante moral para a vida.
https://www.youtube.com/watch?v=RHxh5NJaMkU
6. Transformação em Venom
Homem-Aranha 3 (2007)
Havíamos visto os pequenos vislumbres em trailers, comerciais de TV e imagens, mas a cena completa onde Peter Parker se livra do pegajoso simbionte alienígena, apenas para que este encontre um novo hospedeiro na forma de Eddie Brock, foi melhor do que poderíamos esperar. É uma recriação quase perfeita desse mesmo momento dos quadrinhos, onde testemunhamos no nascimento de Venom na capela de uma igreja. A direção de Raimi aqui é espetacular, com seus enquadramentos dinâmicos oferecendo um forte simbolismo em relação à transformação, além do excelente uso de efeitos visuais quando o pobre Eddie é atacado pelo parasita.
https://www.youtube.com/watch?v=zlwaUJzGqns
5. A Descoberta dos poderes
Homem-Aranha (2002)
O gênero de super-heróis atual carece de muita coisa do início dos anos 2000, mas a principal talvez seja essa: o maravilhamento e a descoberta dos poderes. Quando Peter começa a perceber a teia saindo de seu pulso, ou que possui a habilidade de escalar paredes, temos uma das sequências mais divertidas e empolgantes da trilogia, onde o espectador fica tão surpreso quanto Tobey Maguire, que salta de prédio em prédio gritando de felicidade e experimenta diferentes formas de "ativar" sua teia orgânica. Super-poderes são feitos para impressionar, e é triste notarmos como atualmente são um mero acessório. Shazam carai!
https://www.youtube.com/watch?v=vTT3l-N6Au4
4. O Nascimento do Homem-Areia
Homem-Aranha 3 (2007)
Inteiramente formada através de efeitos visuais e sem a presença de diálogos, vemos a reconstrução de Flint Marko através de minúsculos grãos de areia, rendendo um espetáculo deslumbrante que permanece convincente e impressionante até hoje - quase como se um curta animado da Pixar repentinamente tivesse sido colocado no meio do filme. A música de Christopher Young é soberba, assim como os pequenos resquícios de expressividade no rosto de areia de Marko enquanto ele é motivado pela foto de sua filha.
https://www.youtube.com/watch?v=yx3Xo2K910Q&t
3. Massacre de Octopus no Hospital
Homem-Aranha 2 (2004)
Sam Raimi raiz! Em uma sequência inesperadamente assustadora e violenta, Raimi nos lembra suas origens slasher de A Morte do Demônio ao trazer os tentáculos do Doutor Octopus despertarem durante a mesa de operação, atacando todos os médicos, que nada podem fazer além de gritar, correr e levantar motosserras contra as poderosas criações metálicas. Raimi utiliza silhuetas marcantes, planos holandeses e zoom ins nas bocas das pobres vítimas dos tentáculos, abraçando uma decupagem desvergonhadamente slasher. Uma cena apavorante, mas que deixa um sorriso no rosto pela grande homenagem.
https://www.youtube.com/watch?v=aBpwrORhKWU
2. O Beijo
Homem-Aranha (2002)
É um daqueles momentos em que você sente que está testemunhando o nascimento de um ícone. Depois de salvar Mary Jane de alguns bandidos de rua, o Aranha desce de ponta cabeça para conversar com a moça, que retribui o salvamento heróico com um inesperado beijo sob sua máscara levantada pela metade. É uma cena belíssima e essencialmente romântica, com a chuva e a trilha sonora de Danny Elfman oferecendo o clima apropriado para esse ponto de virada. Não importa o carisma de Andrew Garfield e Emma Stone nos filmes rebootados, nunca chegaram perto de uma cena assim.
https://www.youtube.com/watch?v=yRhRZB-nqOU
1. A Sequência do Trem
Homem-Aranha 2 (2004)
Até hoje permanece imbatível. Talvez seja a melhor cena de ação já realizada dentro do gênero de super-heróis, com o Aranha e o Doutor Octopus levando sua briga para os vagões de um trem elevado, que impressiona pela coreografia de luta contra os tentáculos do vilão, a ambientação de toda a cena e o fato de que Octopus chega a jogar passageiros em direção ao herói. Só melhora quando Peter precisa desesperadamente parar o trem, que segue descontrolado para o fim da linha onde um destino horrível os aguarda. A definição de heroísmo está nessa cena emocionante.
Menção Honrosa
https://www.youtube.com/watch?v=IgL8h_u2PHw
Cada segundo de participação de J.K. Simmons
Todos os filmes
Talvez seja o maior casting já feito na história do cinema de quadrinhos. Um perfeito alívio cômico e quase um antagonista pessoal de Peter Parker, o J. Jonah Jameson de J.K. Simmons forneceu algumas das melhores piadas e tiradas em todos os filmes, partindo de uma caracterização perfeita e uma performance absolutamente perfeita do ator. Já tivemos três Aranhas no cinema, mas apenas UM Jameson!
A nostalgia também bateu forte pra vocês? Qual sua cena preferida dessa maravilhosa trilogia do Homem-Aranha?
Comente abaixo!
Crítica | O Espetacular Homem-Aranha
Quando a Sony Pictures optou por descartar a produção de Homem-Aranha 4, projeto que Sam Raimi já vinha desenvolvendo a um tempo após o sucesso financeiro de seu terceiro filme, um reboot rapidamente foi anunciado. Mesmo com um intervalo de apenas 5 anos, a ideia de O Espetacular Homem-Aranha foi aprovada, o que nos levaria a mais uma origem de Peter Parker e uma abordagem que fosse diferente daquela contada tão brilhantemente por Raimi no primeiro filme do personagem, em 2002.
Assumindo inspiração na linha Ultimate dos quadrinhos, os produtores Avi Arad e Amy Pascal contratam Marc Webb, da comédia romântica hit 500 Dias com Ela, para tocar o barco e apresentar um novo tipo de Homem-Aranha aos cinemas, explorando alguns detalhes nebulosos da mitologia do personagem, principalmente a misteriosa relação com os pais. No fim, o longa de 2012 não tinha nada de espetacular, sendo uma cópia apressada e genérica dos filmes de Raimi, que pontualmente traz seus bons momentos.
A história começa com um prólogo que nos revela a fuga dos pais do jovem Peter Parker, que são perseguidos por alguém e forçados a abandonar uma pesquisa envolvendo a genética de aranhas, deixando seu filho com os tios Ben e May (Martin Sheen e Sally Field). Anos depois, já na forma de Andrew Garfield, Peter segue uma vida pacata no colégio, com uma queda pela colega Gwen Stacy (Emma Stone) e instigado em descobrir a verdade sobre seus pais. A investigação o leva até os laboratórios da Oscorp, onde conhece o Dr. Curt Connors (Rhys Ifans), um antigo colega de trabalho de seu pai, e acaba sendo picado por uma aranha geneticamente modificada, garantindo-lhe poderes que o transformam no Homem-Aranha.
História Nunca Contada... Desse Jeito
É praticamente a mesma coisa que já vimos antes, o que gera um inevitável senso de comparação com o trabalho feito por Raimi em seus longas excepcionais - e ao colocá-los lado a lado, O Espetacular Homem-Aranha leva uma surra homérica. A forma como o roteiro de James Vanderbilt, Alvin Sargent e Steve Kloves (inacreditável uma trinca tão eficiente ter errado) balanceia a investigação do passado dos pais com a origem do herói é defeituosa e acaba limitando ambas as narrativas, mas especialmente aquela que motiva Peter e se tornar um herói. Faz falta um "grandes poderes trazem grandes responsabilidades", já que Peter simplesmente se torna o Homem-Aranha... Porque o filme precisa que ele se torne, servindo apenas para seguir sua caçada pelo assassino de Tio Ben.
Não temos nada como aquelas incríveis sequências de montagem do primeiro filme, onde Peter desenha no caderno os primeiros rascunhos do uniforme ou quando a câmera nos leva para a rua, coletando depoimentos do público, dos cidadãos comuns, sobre o surgimento do Homem-Aranha. Aqui, é tudo muito rápido e limitado em um universo minúsculo, sendo difícil levar a sério ou se envolver quando personagens como o Capitão George Stacy (Denis Leary) e Peter discutem sobre as ações do herói durante um jantar, já que não vimos absolutamente nada que sirva para sustentar a ideia de que o Aranha é uma figura pública. Nem ao menos o Clarim Diário aparece, figurando apenas em um pequeno easter egg quando vemos uma pilha de jornais na rua. Pode parecer apenas um fã querendo service de ver a figura de J. Jonah Jameson, mas a verdade é que esse núcleo jornalístico é importantíssimo para criar uma interação forte entre o herói e o universo comum da cidade.
O grande diferencial vendido pelo marketing, a tal "história nunca contada" envolvendo os pais de Peter Parker é outra decepção. Temos a criação do mistério, pequenos macguffins como a maleta de Richard Parker, o símbolo riscado do projeto dos Cruzamentos de Espécies e um fio condutor que praticamente move todo o primeiro ato. Porém, tudo isso é deixado de lado assim que Peter transforma-se no Homem-Aranha, não oferecendo nenhum desfecho ou resolução para todo esse mistério estabelecido - uma das muitas pontas soltas para a continuação, claro. De maneira similar, o roteiro comete o mesmo erro ao explicar melhor a passagem de Peter como um mero vigilante caçando o assassino de seu tio para um herói propriamente dito. Há uma tentativa disso durante um diálogo com Gwen Stacy, onde Peter fala sobre como sente-se responsável por impedir o Lagarto, justamente por tê-lo criado, mas nunca temos uma transição abrupta entre essas duas personas de Peter, faltando uma interação mais demarcada entre o público e Peter.
E por falar em interação, talvez a mais crucial seja onde o longa mais falha: o protagonista. Sim, todos sabemos que Webb e os roteiristas desagradaram os fãs ao criar um Peter Parker mais moderno e longe da figura do nerd tímido de Tobey Maguire, conferindo a ele um visual hipster e até o hábito de andar de skate. É de se admirar que a equipe tenha optado por criar algo novo, e Garfield se sai bem ao trazer essas características um tanto awkward desse Peter - sendo um retrato apurado de algumas tribos sociais. O problema é que esse Peter Parker é difícil de se criar qualquer tipo de apego. Mesmo que Garfield tenha uma carga dramática notável, nunca torcemos por seu Peter, nunca sentimos seu amor por Gwen Stacy ou sua vontade de realmente fazer o bem; quando ele decide lutar contra o Lagarto e assumir responsabilidade por sua criação, falta a catarse e o crescimento emocional do personagem, que parece assumir o manto do Aranha "por obrigação".
Porém, as cenas em que Garfield contracena com a excelente Emma Stone trazem ótimos momentos onde Marc Webb faz o que sabe fazer melhor: dirigir atores. Sempre regadas com um notável improviso e muita naturalidade, vemos o casal interagir e conversar e o espectador pode sentir uma química explosiva entre os dois (os dois acabaram namorando na vida real após o filme), que transcende o roteiro ruim e os diálogos risíveis, do tipo "Eu fui picado...", "Eu também" ou o clássico "Você beija muito bem", entre outras abominações. Mesmo que a conquista de Peter seja muito "fácil", em relação ao platonismo incendiário de Tobey Maguire pela Mary Jane de Kirsten Dunst, Webb é hábil ao oferecer enquadramentos intimistas e um ritmo acertado em tais cenas - o mesmo se aplica à relação turbulenta de Peter com sua Tia May, vivida por uma eficaz Sally Field, e que garante um dos momentos mais inesperadamente dóceis do filme envolvendo ovos orgânicos.
Como falei de Sally Field, nada mais justo do que falar daquele que provavelmente é o melhor ator de todo o elenco: Martin Sheen. É difícil se equiparar ao trabalho magistral de Cliff Roberston na trilogia de Raimi, mas Sheen acerta ao fazer de seu Tio Ben um sujeito um pouco mais esquentado e irônico, chegando até mesmo a dar broncas rígidas à Peter, mas sempre buscando uma lição moral digna no meio da gritaria - mesmo que, novamente, o texto seja desajeitado nessa proposta, como se tentasse ao máximo evitar a frase "grandes poderes, grandes responsabilidades", oferecendo algo como "não é uma escolha, é responsabilidade". Linhas de diálogo confusas, mas Sheen definitivamente garante uma ótima presença em cena.
Nada de Espetacular
Já na condução das cenas de ação, infelizmente Webb não é o tipo de cara para esse serviço. Nenhuma das set pieces faz jus ao título do filme, com efeitos visuais borrachudos e com uso constante atrapalhando a imersão nos eventos, que ainda carecem de imaginação para golpes, saltos ou outras coisas que só o Homem-Aranha pode fazer; sempre que o herói entra em conflito com o monstruoso Lagarto, é só um festival de efeitos sem graça. Certamente influenciado pela onda sombrio e realista de Christopher Nolan em sua trilogia Cavaleiro das Trevas, Webb aposta em algumas poucas sequências onde o Aranha é vivido por dublês e acrobatas, rendendo a cena de balanceamento por teias mais sem graça e escura que poderíamos imaginar, um erro tremendo para um personagem tão colorido e fantástico quanto o Cabeça de Teia. Vale mencionar também como a música em tais cenas é tão sem imaginação quanto seu diretor, representando um dos trabalhos mais fracos de James Horner, que diversas vezes ecoa Titanic (nos momentos errados) e prefere optar por belas melodias quando deveríamos ter algo mais intenso, vide a luta entre o Aranha e Lagarto nos corredores da escola.
Os únicos bons momentos nesse sentido são quando Webb busca algum intimismo nessas sequências, como quando o Homem-Aranha tira sua máscara para ajudar um garoto preso em um carro em chamas (ainda que Garfield torne-se aqui um Peter completamente diferente do resto da produção), com o diretor criando uma tensão palpável ao variar entre planos claustrofóbicos do interior do carro e alguns detalhes como o fogo crescendo ou o pára-choque que o herói segura lentamente se deteriorando. Essa tensão também está presente naquela que talvez seja a melhor setpiece do filme, quando o Homem-Aranha rastreia o Lagarto até os esgotos e confecciona uma gigantesca teia que atravessa todos os túneis do local, a fim de detectar os movimentos de seu inimigo com os toques em cada fio. A cena é curta, mas se estende bem quando diferentes movimentos vão ativando os "sensores" da teia, e aqui sim a trilha de Horner acerta ao apostar em instrumentos e elementos que capturem o fator animalesco do vilão, principalmente pela linha vocal sinistra.
E ainda que não seja exatamente uma cena de ação, a sequência onde Peter treina suas habilidades recém-descobertas com um skate, ao som da linda "Til Kingdom Come", do Coldplay, é também uma das cenas mais bem elaboradas de toda a projeção, especialmente pelas elipses sutis e a sensação crescente de que o personagem está se tornando mais poderoso, marcado pelos cortes precisos que vão revelando o aumento de altura dos obstáculos utilizados por Peter para saltar de skate. Mas, claro, Peter Parker não anda de skate.
Porém, é de se espantar que a mão de Webb falhe tanto naquele que é mais crucial momento dramático da produção: a morte do Tio Ben. Eu nem vou me dar ao trabalho de comparar com o trabalho de Sam Raimi novamente, pois todos nós já entendemos a superioridade absoluta daquele filme em relação ao reboot, mas é difícil prender a língua - ou, neste caso, o teclado. O assassinato de Ben Parker se dá da forma mais abrupta e fria possível, com o senhor tentando brigar com um assaltante para tomar sua arma. Mesmo. Não bastando a circunstância absurda do ato, Webb a filma como se fosse qualquer outra cena, apenas usando a óbvia câmera na mão para oferecer algum impacto - e também por um plano detalhe um pouco mais edgy por mostrar o sangue nas mãos de Peter, que só é um pouco exacerbado pela música mais delicada de Horner. E se as pessoas criticam Tobey Maguire, queria ver a defesa para o overacting pavoroso de Andrew Garfield ao chorar diante do corpo do tio.
Um recurso que acaba envelhecendo muito rápido e que só funcionara nos cinemas são as câmeras em primeira pessoa, inseridas abruptamente em algumas cenas apenas para que o 3D do filme marcasse algum efeito, já que Webb definitivamente não explora bem a profundidade de campo para criar imagens que façam valer a exibição do filme no formato. O problema nem é o uso desse recurso limitado e mais propício para atrações de parques de diversão, mas sim a maneira como são literalmente jogadas no meio das sequências, em uma decisão estranha dos montadores Pietro Scalia, Alan Edward Bell e Michael McCusker, mas que certamente fora uma exigência do estúdio a fim de "fazer valer o ingresso". Isso sem falar que a fotografia um tanto escura de John Schwartzman aposta demais em sombras e níveis de preto, o que rende uma péssima experiência com o formato 3D - e, convenhamos, não é a escolha mais apropriada ao se retratar o Homem-Aranha.
Por fim, e isto talvez seja a crítica mais inútil e imperceptível, mas... O Espetacular Homem-Aranha talvez tenha o pior elenco secundário/figurantes que já vi em uma produção do gênero. Basta lembrar do caixa no mercadinho onde Peter acaba encontrando o assaltante que acabaria por matar seu tio, que varia entre uma mistura bizarra de piadista com valentão; e nunca consigo deixar de reparar em como ele é uma versão mais jovem do Hurley de Lost. Mas o pior exemplo é a recepcionista da Oscorp, que conversa com Peter como se - literalmente - fosse um andróide, e não ajuda que a pobre coitada seja vítima de um diálogo horroroso, que "sutilmente" brinca com a moral do filme ao perguntar (não uma, mas duas vezes) se ele "está tendo problemas ao se encontrar", referindo-se a seu crachá de identificação. Não é do meu feitio ficar reparando na atuação de figurantes ou personagens secundários, mas o nível neste filme é tão deprimente que acabou realmente se destacando de forma negativa.
A Besta Opaca
Então, chegamos ao antagonista. Como os conhecedores de quadrinhos bem sabem, o Homem-Aranha talvez seja o herói com a melhor e mais variada galeria de vilões que há, perdendo somente para a igualmente rica coleção de vilões do Batman. Tendo isso em mente, a escolha do Lagarto como vilão poderia render uma história mais intimista e até voltada para o suspense, com uma inspiração no clássico O Médico e o Monstro. Infelizmente, graças a essa trama maior envolvendo a Oscorp e os pais de Peter, temos um Lagarto que é inteligente e megalomaníaco, com a absurda motivação de... transformar toda a população de Nova York em lagartos. Não, isso não é mentira. Não, não estamos falando do seriado do Batman dos anos 1960, mas sim de um longa que assumidamente é "sombrio e realista".
Como se não bastasse a ideia risível, as soluções visuais de Webb e sua equipe de efeitos especiais são ainda mais vergonhosas. O visual do Lagarto é defeituoso em sua tentativa de oferecer expressividade à criatura, principalmente nos movimentos duros e artificiais, quase como se renderizamento gráfico da animação não estivesse completo. Felizmente, Rhys Ifans é capaz de oferecer uma performance memorável como o lado humano do vilão, Curt Connors. A dicção do ator é quase shakesperiana, conferindo imponência e suavidade a todas as suas cenas com Peter, e também explorando um lado animalesco notável em seus momentos mais insanos - vide seu transe logo após se "destransformar" do Lagarto pela primeira vez, onde o ator fica ofegando rapidamente por um bom tempo com a câmera centrada em seu rosto.
Porém, por mais eficiente que Ifans seja em sua performance, também falta muito ao personagem de Connors. Sabemos apenas que é um cientista bem intencionado que visa recuperar seu braço perdido, além de ter a visionária ideia de eliminar deficiências e imperfeições da espécie humana, utilizando o DNA de lagartos para um cruzamento genético. E Connors não vai além dessa nota. Um personagem unidimensional e sem grande desenvolvimento, onde nem ao menos a velha carta de "pai substituto" é usada em sua relação com Peter, algo que tornaria suas cenas um pouquinho mais interessante - e traria mais risco para suas muitas cenas de briga. Vale mencionar que o filme teve diversas cenas cortadas, e algumas delas traziam um núcleo com o filho pequeno do personagem, e é uma pena que tenham acabado de fora do corte final, já que poderiam trazer uma merecida profundidade à Connors, e também às suas motivações pessoais.
No fim, este "espetacular" Homem-Aranha surge muito aquém de sua proposta, surgindo como uma versão mal feita e sem identidade da maravilhosa trilogia de Sam Raimi, e a impressão que fica é que era cedo demais para seguir os passos de um gigante. Andrew Garfield compõe um perfil interessante e diferente de Peter Parker, mas justamente por isso acaba criando um protagonista difícil de se afeiçoar ao público.
O Espetacular Homem-Aranha (The Amazing Spider-Man, EUA - 2012)
Direção: Marc Webb
Roteiro: Alan Sargent, James Vanderbilt, Steve Kloves
Elenco: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Sally Field, Martin Sheen, Denis Leary, Irrfan Khan, Campbell Scott
Gênero: Aventura
Duração: 136 min
https://www.youtube.com/watch?v=I7bbA0wBMDw
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Lista | Os Uniformes do Homem-Aranha nos quadrinhos
Acho que poucos super-heróis na história dos quadrinhos tiveram tantas variações em seus uniformes quanto o Homem-Aranha. Talvez apenas o Batman seja capaz de disputar esse título com o Cabeça de Teia, mas é um fato de que o maior personagem da Marvel tem uma incrível variedade de figurinos ao longo de sua vasta trajetória pelos quadrinhos.
Vamos relembrar todas elas aqui:
O clássico
Amazing Fantasy #15 (1962)
Há quem diga que este é o melhor uniforme de super-heróis de todos os tempos. Criado por Stan Lee, Jack Kirby e Steve Dikto, o primeiro uniforme do Homem-Aranha traz o incrível equilíbrio entre azul e vermelho, as cores da aranha que lhe garantiu os poderes, além dos olhos expressivos na máscara e as teias embaixo dos braços. Coisa fina.
Traje do Ringue
Amazing Fantasy #15 (1962)
Antes de se tornar o Homem-Aranha, Peter Parker emprestou seus poderes para uma luta livre onde fantasias eram obrigatórias. Assim como nas encarnações do cinema, é um figurino altamente improvisado e que serve apenas para esconder a identidade de Peter.
A Armadura
Web of Spider-Man #100 (1963)
Nada a ver com o Homem de Ferro (não ainda, pelo menos), mas o Homem-Aranha já teve uma armadura digna do período medieval quando enfrentou o vilão Richard Fisk, O Rosa.
O Uniforme negro
Amazing Spider-Man #252 (1984)
O look predileto da maioria dos fãs, o icônico uniforme negro fez sua primeira aparição na saga das Guerras Secretas, quando o Aranha e os Vingadores travaram batalhas espaciais em outros planetas. Quando seu uniforme clássico é rasgado em uma batalha, Parker encontra uma substância chamada simbionte, que acaba grudando em seu uniforme e criando uma forma totalmente nova. O Homem-Aranha viria a usá-lo por anos, até reviravolta que nos revela que a substância é o parasita alienígena que daria origem ao temível Venom.
Homem-Vergonha
Amazing Spider-Man #258 (1984)
Essa é lendária. Logo após Reed Richards, o Sr. Fantástico, ajudar Peter a se livrar do simbionte alienígena (que tomava a forma de todas as suas roupas), o Tocha Humana lhe emprestou um antigo uniforme do Quarteto Fantástico, com o qual Peter completou ao colocar um saco de papel na cabeça. Ah, os amigos...
Capitão Universo
Micronauts #8 (1979)
Quando Peter Parker sofre um acidente com a força do Uni-Power, ele ganha poderes cósmicos e acaba assumindo a identidade do Capitão Universo e um uniforme milenar que o permite controlar uma série de novas habilidades.
Aranha Escarlate
Amazing Spider-Man #149 (1975)
Saído da infame Saga do Clone, o Aranha Escarlate é um dos clones de Peter Parker que acaba figurando em diversas outras histórias e já assumiu diferentes identidades. O visual do Escarlate é famoso pela peça de roupa azul por cima do traje vermelho, que em algumas versões também vem acompanhada de um capuz.
Ben Reilly
Amazing Spider-Man #149 (1975)
Ainda na Saga do Clone, Ben Reilly acreditou ser o verdadeiro Homem-Aranha e assumiu sua identidade. Seu traje traz algumas mudanças em relação ao visual do Escarlate, com o símbolo da aranha no peito bem maior, além dos braceletes que dariam inveja à Mulher-Maravilha.
Traje Negativo
Spider-Man (Vol. 1) #90
Ao enfrentar o vilão Aniquilador, o Aranha foi forçado a embarcar em uma Zona Negativa, onde o local refletia seu traje e o deixava - como o próprio nome sugere - em uma coloração negativa, apenas com os tons de preto e branco. Estilo.
Aranha-de-Ferro
Amazing Spider-Man Vol 1 #529 (2006)
Uma das combinações mais incríveis dos quadrinhos, o Aranha-de-Ferro é fruto de uma parceria entre Peter e Tony Stark, o Homem de Ferro. Durante os eventos de Guerra Civil, Stark fabrica uma armadura especial para o Cabeça de Teia, de forma a ajudá-lo no conflito com o Capitão América. Só estamos esperando para essa belezinha figurar nos cinemas...
Homem-Aranha Unlimited
Webspinners #13 & 14
Durante duas edições de Webspinners, o Homem-Aranha adotou um traje similar àquele visto na série TV animada Spider-Man Unlimited, que traz uma caprichada variação no esquema de cores do uniforme e também no estiloso símbolo da aranha no peito, que praticamente figura em todo o torso de Parker.
Aranha-Fênix
Spider-Man #25 - Why Me? (1992)
É isso mesmo. A Força Fênix que assombrou Jean Grey e garantiu um dos melhores arcos dos X-Men nos quadrinhos também já se apoderou do Cabeça-de-Teia, conferindo a ele poderes destrutivos e um novo uniforme. A bizarra combinação aconteceu em um crossover do Homem-Aranha com a linha Excalibur.
Os Slingers
Crise de Identidade (1998)
Durante a fase da Crise de Identidade, o Aranha tem sua cabeça colocada a prêmio após ser acusado de um assassinato, forçando-o a se esconder e criar 4 identidades diferentes para manter seu anonimato. São elas o Ricochete, o Sombra (este, criado com o Traje da Zona Negativa), o Vespa e o Prodígio, cada um deles com um tipo de habilidade distinta. Após o retorno normal do Aranha, as identidades foram assumidas por seguidores do herói.
Homem-Aranha 2099
The Amazing Spider-Man #365 (1992)
Versão alternativa de um futuro distante, Homem-Aranha 2099 é centrado em Miguel O'Hara, um jovem que ganha poderes aracnídeos após ser vítima de experiências genéticas. Seu traje é bem mais agressivo e ameaçador do que o do Homem-Aranha tradicional, mas mantém a mesma paleta de cores.
Aranha-Lagarto
Peter Parker, the Spectacular Spider-Man Vol 1 40 (1980)
Bem explicativo, essa abominação aconteceu quando Peter Parker foi contaminado pelo soro que transformou seu amigo Dr. Curt Connors no temível vilão Lagarto, um réptil gigantesco e descontrolado. Particularmente, o visual da boca reptiliana saindo pelo buraco da máscara é muito interessante.
Aranha-Hulk
Web of Spider-Man #70 (1990)
Até mesmo Peter Parker já sofreu os males de Bruce Banner... Quando contaminado por radiação gama, o Homem-Aranha transforma-se em um monstro verde similar ao Hulk, assim como uma força bruta letal e uma inteligência diminuída, chegando até mesmo a declarar o impagável "Spider smash!".
Homem-Aranha 2211
Spider-Man 2099 Meets Spider-Man #1 (1995)
Mais uma versão futurista e alternativa do herói, esta é centrada no Dr. Max Borne, que é o Homem-Aranha no ano de 2211. Porém, ao contrário da versão clássica, Max é quase um Octopus ao trazer dois pares de braços extras em suas costas, assemelhando-o a uma aranha de verdade. Sinistro.
Spider-Ham
Marvel Tails #1 (1983)
É, é isso mesmo. Um porco usando a roupa do Homem-Aranha, e ele se chama Peter Porker! Felizmente, é apenas uma paródia do personagem, que rendeu uma pequena série de tiras semanais nos quadrinhos.
Miles Morales
Ultimate Fallout #4 (2011)
Versão recente que rapidamente vem se tornando uma das mais populares do personagem, o jovem Miles Morales é um garoto que acaba tornando-se o sucessor de Peter Parker, assumindo o manto do Homem-Aranha enquanto lida com suas responsabilidades colegiais. Seu uniforme é um belo misto do preto - tal como a fase do simbionte - com os traços vermelhos que remetem ao traje clássico.
Homem-Aranha Noir
Spider-Man Noir #1 (2009)
Saído da linha Noir da Marvel, que oferecia uma abordagem detetivesca e digna dos clássicos dos anos 40 para alguns super-heróis icônicos, o Aranha ganhou um traje digno com um longo sobretudo preto e um chapéu fedora, com sua máscara lhe oferecendo um visual próximo do Rorschach de Watchmen. Vale destacar também como as lentes funcionam como visão noturna.
Fundação Futuro
Amazing Spider-Man Vol 1 #658 (2011)
Quando o Homem-Aranha junta-se à Fundação Futuro, uma escola de Reed Richards dedicada a treinar a próxima geração de super gênios, o Aranha ganha um incrível novo traje que lhe oferece características similares à do Simbionte: é possível trocar para qualquer roupa graças à confecção molecular do tecido, que é marcado pelo visual branco e preto característico. É a versão Apple do Homem-Aranha.
Big Time
The Amazing Spider-Man #650 (2011)
Durante o arco de Big Time, Peter Parker precisa desenvolver um traje específico para enfrentar o novo Duende Macabro, e utiliza de conceitos de Hank Pym e Tony Stark para criar um uniforme capaz de aguentar os gritos sônicos do vilão. Tendo em base as teorias dos dois gênios, Peter cria o uniforme durante um trabalho na Horizon Labs.
Confins da Terra
The Amazing Spider-Man #682 - 687 (2012)
Durante o arco Confins da Terra, onde o Aranha e os Vingadores enfrentam um plano maquiavélico do Sexteto Sinistro - arquitetado pelo Doutor Octopus - Peter consegue desenvolver um novo traje na Horizon Labs antes de seu fechamento, rendendo um traje mais resistente e que aguente os golpes dos inimigos.
Superior Homem-Aranha
O Superior Homem-Aranha (2013-2014)
Uma das sagas mais recentes do personagem nos quadrinhos, ela envolve o Doutor Octopus assumindo controle da mente de Peter Parker, acabando por transformar-se no Homem-Aranha e assumir sua identidade. Isso garante um traje mais sombrio, com o preto e vermelho se misturando em um equilíbrio marcante. Mas, claro, nada mais imponente do que os quatro braços adicionais, fazendo referência aos tentáculos do vilão - e também remetendo ao design do Aranha de Ferro.
E é isso que nossa memória de quadrinhos foi capaz de lembrar!
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CINEMA
Crítica | Homem-Aranha
Publicado originalmente em 1 de julho de 2017
Crítica | Homem-Aranha 2
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Crítica | Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Sem Spoilers)
Em um mercado saturado de super-heróis, poucos têm o mesmo apelo e identificação do público do que o Homem-Aranha. O alter ego de Peter Parker sempre se destacou por lidar com os problemas rotineiros da adolescência, lutando contra supervilões ao mesmo tempo em que precisa se preocupar com tarefas de casa e provas na escola. É uma abordagem que muitos fãs já cobraram nas encarnações anteriores do personagem, com Tobey Maguire e Andrew Garfield avançando rapidamente pela fase do colegial - onde as grandes histórias do personagem tomaram local.
Marcando agora o primeiro filme solo do personagem inserido no badalado Universo Cinematográfico da Marvel (em uma aliança inédita entre a Sony de Amy Pascal e a Marvel Studios de Kevin Feige), Homem-Aranha: De Volta ao Lar dedica-se a explorar esse lado mais escolar e adolescente do herói, até mesmo por apostar em um ator mais jovem, aliando isso à sonhada ideia em finalmente ver o Cabeça-de-Teia junto aos Vingadores. No fim, o filme entrega exatamente o que poderíamos esperar dessa proposta, e o resultado definitivamente é agradável.
A trama começa algum tempo após os eventos de Capitão América: Guerra Civil, com um animado Peter Parker (Tom Holland) começando uma nova carreira de super-herói com o uniforme lhe dado a ele por Tony Stark (Robert Downey Jr). Ansioso pelo próximo chamado para se juntar aos Vingadores, Peter precisa lidar com seus problemas cotidianos na escola, desde sua paixão pela colega Liz Allen (Laura Harrier) até o fato de seu amigo Ned (Jacob Batalon) descobrir sua identidade secreta. Para piorar, a cidade ganha uma ameaça incisiva na forma do Abutre (Michael Keaton), que planeja vender armas de destruição em massa resgatadas da Batalha dos Vingadores em Nova York.
Clube da Teia
Durante a campanha de divulgação do filme, a ideia do projeto por parte dos realizadores era fazer um filme que seguisse a escola de John Hughes, centrado em dramas adolescentes e humor mais leve - só que inserido na gama de super-heróis. De certa forma, o roteiro do batalhão Jonathan Goldstein, John Francis Daley, Christopher Ford, Chris McKenna, Erik Sommers e o diretor Jon Watts acerta ao dedicar boa parte de sua duração a esse núcleo colegial, com diversas sequências em que Peter balanceia os afazeres da escola com sua atuação como Homem-Aranha; e há um humor acertado quando os roteiristas bolam ideias triviais e realistas que humanizam o personagem, como quando encontra-se em uma região sem prédios, impedindo que use as teias para se balançar e forçando-o a traçar um percurso a pé.
As piadas funcionam na maior parte do tempo (sempre temos os excessos típicos de produções da Marvel, inevitavelmente), e muito deve-se também ao ótimo elenco. A começar pelo Peter de Tom Holland, que surge com o mesmo carisma promissor que havia sido apresentado em Guerra Civil, sendo uma mistura curiosa entre o aspecto nerd e tímido de Tobey Maguire e o jeito mais descolado e cool de Andrew Garfield, e dessa vez adicionando - pela primeira vez - o explosivo entusiasmo de um adolescente em meio a um contexto grandioso, como na fabulosa sequência epistolar em que vemos gravações do celular Peter da batalha no aeroporto em uma espécie de vlog. De maneira similar, os coadjuvantes de Jacob Batalon, Zendaya, Laura Harrier e um elenco bem diverso também funcionam, especialmente Batalon por oferecer um alívio cômico preciso e espontâneo. Robert Downey Jr também chega na medida certa como Tony Stark, jamais sobrecarregando o filme ou roubando presença do protagonista, diferentemente do que o marketing indicava.
Fator que sempre é o elemento mais defeituoso na maioria das produções do gênero, o vilão Abutre é outro acerto inesperado. Michael Keaton oferece uma figura realista e que carrega uma motivação condizente e bem explorada pelo texto, que enfim expande o universo "menor" da Marvel ao ilustrar as consequências da batalha dos Vingadores em Nova York, com a equipe de Keaton resgatando armas e aparatos dos longas anteriores (até mesmo com referências ao andróide Ultron), e também pelo fato de a escola de Peter trazer diversos vídeos instucionais estrelados pelo Capitão América de Chris Evans. E com o Abutre sendo a representação de um trabalhador comum que perde seu emprego quando Tony Stark terceiriza seu trabalho de reconstrução da cidade, temos um antagonista multifacetado e que vai além de uma mera caricatura - e Keaton explora isso muito bem, especialmente quando aprendemos mais sobre sua vida pessoal.
Direção eficiente
Em quesito de direção, é mais um exemplo da escola Marvel de se utilizar diretores com pouca experiência para comandar grandes produções. No caso de Jon Watts, que só traz o indie A Viatura como trabalho anterior, o diretor faz um trabalho competente na construção de um bom ritmo e um equilíbrio natural entre humor e ação. Porém, Watts não se arrisca e também não oferece nada que traga personalidade ou que o diferencie de todos os outros diretores que já pisaram na Marvel até agora. A ação carece de imaginação e depende demais de efeitos visuais sem vida e artificiais, onde a ausência de uma cor vibrante e textura nos tecidos virtuais torna a experiência... passável, e até confusa; vide os cortes intensos e planos fechados durante uma luta entre o Aranha e Abutre em um avião. Ou, para ir mais além, a cena em que o herói tenta salvar uma balsa que se parte em duas, onde em momento algum temos o peso e sensação de perigo que deveria estar presente - a clássica jornada do herói.
É muito difícil não comparar com o trabalho fantástico de Sam Raimi, já que Watts não entrega nenhuma sequência do nível de uma cena do trem, aproximando-se do tipo de trabalho que Marc Webb fez em seus dois Espetacular Homem-Aranha (ainda que Webb mereça créditos pelo belo visual e contraste em seus filmes). Porém, Watts tem seus bons momentos, e curiosamente são aqueles que envolvem uma escala mais simples. Por exemplo, quando o herói escala o Monumento a Washington, há uma pausa no ritmo intenso e na música vibrante de Michael Giacchino para que o protagonista observe a altura e sinta um leve medo de nunca antes ter atingido um nível tão alto, e o enquadramento em plongeé do diretor ajuda a reforçar essa sensação vertiginosa. De forma similar - mas usando o recurso oposto - a cena em que Peter e o Abutre conversam em um carro instiga pela claustrofobia dos planos fechados, sendo uma bela herança da trilogia de Raimi.
E o coração?
Então chegamos ao grande problema do filme, que afeta tanto a ação quanto a história: emoção. Ainda que o longa permeie temas relevantes como a aceitação e amadurecimento de Peter como herói, enfatizando como o traje do Homem-Aranha deveria ser apenas um complemento a seu caráter - motivando a troca de roupa no terceiro ato, nunca temos uma aprofundamento realmente sincero e dramático. Basta lembrar como os filmes de Sam Raimi dedicavam tempo a sequências mais paradas, introspectivas e movidas por um texto bem escrito, que entregavam uma mensagem moral eficiente e eram capazes de nos motivar e inspirar. Aqui, não há nada disso, e deve-se apontar como a personagem da Tia May (vivida por Marisa Tomei) passou de um dos símbolos mais importantes da mitologia do herói, cheia de conselhos e mensagens poderosas, para só mais um alívio cômico; o único momento de afeto entre os dois é tão raso quanto uma piscina de bolinhas, já que o filme parece mais interessado apenas em chegar na próxima piada.
Nem mesmo o romance com Liz Allen gera um pingo de empatia, sendo apenas uma crush adolescente com pouco desenvolvimento, isso pelo roteiro não oferecer tempo o suficiente, usando o cenário de um baile como tentativa de aproximá-los e também pela falta de química entre Holland e Harrier. Talvez nem fosse pra ser, mas não é nada como Tobey Maguire e Kirsten Dunst na primeira trilogia, ou a química intensa entre Andrew Garfield e Emma Stone no arco de Webb. Confesso que sem esse desenvolvimento amoroso elaborado, o personagem torna-se um tanto... vazio. Ou talvez seja apenas minha nostalgia.
Mesmo com esses problemas, é inegável que Homem-Aranha: De Volta ao Lar seja o melhor filme do personagem em muito tempo. Não traz a emoção e o espetáculo de algumas da magistral trilogia de Sam Raimi, mas oferece uma abordagem jovial divertida e engraçada para o herói, favorecida pelo ótimo trabalho de seu elenco. Porém, ainda que divirta, é um pouco triste observar como o cinema de super-heróis só parece preocupado com o escapismo, sem muito a adicionar em sua proposta moral.
Traz grandes poderes, mas sem muitas responsabilidades.
Homem-Aranha: De Volta ao Lar (Spider-Man: Homecoming, EUA - 2017)
Direção: Jon Watts
Roteiro: Jonathan Goldstein, John Francis Daley, Jon Watts, Christopher Ford, Chris McKenna e Erik Sommers
Elenco: Tom Holland, Michael Keaton, Robert Downey Jr, Marisa Tomei, Jon Favreau, Laura Harrier, Zendaya, Jacob Batalon, Donald Glover, Angourie Rice, Tony Revolori, Martin Starr, Bokeem Woodbine, Logan Marshall-Green, Michael Chernus, Michael Mando, Hannibal Buress, Kenneth Choi
Gênero: Aventura
Duração: 133 min
https://www.youtube.com/watch?v=x5Q0AzHr3FM
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Cine Vinil #07 | Lado B: Por Que Odiei A Múmia
O CONCEITO
Dia vs Noite, TWD vs GOT, DC vs Marvel, BvS vs Guerra Civil, Xbox vs Playstation, Flamengo vs Fluminense, Android vs iOS, McDonalds vs Burger King, Nerd vs Nerd, Fanboy vs Fanboy.
O multiverso nerd é pautado por discussões intermináveis e, geralmente, extremamente redundantes. Mas com toda a certeza a gente adora aquela treta cósmica para provar que um lado é melhor que o outro – mesmo que o único convencido na discussão seja você mesmo. Analisando essa treta tão peculiar, decidimos trazer um pouco desse espírito “saudável” de discussão para o nosso site.
Sejam bem-vindos ao Cine Vinil! Calma, antes de soltar os cães nos comentários, entenda nossa proposta. Os discos de vinil foram um dos itens mais amados para reprodução de arquivos sonoros. Sua grande peculiaridade eram os lados A e B. O lado A era utilizado para gravar os hits comerciais das bandas, músicas mais populares. Enquanto o Lado B era mais voltado para canções experimentais ou mais autorais.
No caso, nos inspiramos pelos lados opostos do mesmo “disco” – de uma mesma obra. Serão dois artigos: o Lado A, que contém a opinião positiva, e o Lado B, com a versão negativa. Os autores, obviamente, serão distintos, e escolherão 5 pontos específicos da obra para justificar seus argumentos.
Explicado o conceito, nós lhes desejamos aquela ótima discussão para defender o seu lado favorito! Quem ganhou? Lado A ou Lado B? Que a treta perfeita comece!
Atenção aos spoilers.
LADO B
por Lucas Nascimento
Inconsistência de Tom
Este novo A Múmia realmente não sabe o que quer ser. Não consegue oferecer uma aventura camp ou matinê na linha dos filmes de Brendan Fraser, mas também falha miseravelmente em passar como um filme de terror, algo que o longa tenta consideravelmente algumas vezes. Pior ainda são suas tentativas de fazer humor, seja pelo insuportável personagem de Jake Johnson - que desperdiça o conceito copiado na cura dura de Um Lobisomem Americano em Londres - ou em todas as piadinhas sem graça que parecem saídas dos anos 80, ou pela forma incogruente com que se misturam: em um momento vemos um homem possuído ameaçando outro com uma faca, e segundos depois o filme tenta nos fazer rir disso. Uma aventura que não empolga, um terror que não assusta e uma comédia que entedia.
Direção Pedestre
Dirigir um filme é muito difícil, e posso apenas imaginar a pressão que o roteirista Alex Kurtzman teve em sua estreia na função. Não é surpresa que o Kurtzman ofereça um trabalho muito irregular, com cenas de ação sem cuidado estético, mise em scéne confusa ou as cenas de "tensão" que falham justamente por sua falta de profundidade e construção de atmosfera. A cena da queda do avião, por exemplo, nos dá vislumbres de uma produção caprichada e uma técnica prática (com o elenco flutando em gravidade zero), mas a câmera de Kurtzman simplesmente não valoriza esse esforço, apelando para um CGI mediano e planos fechados. Sinceramente, Universal, não confie seu filme de início de universo megalomaníaco nas mãos de um novato. Isso era um trabalho para Gore Verbinski.
Roteiro que provoca a ira dos deuses
Falar que um blockbuster tem problemas de roteiro é praticamente chutar cachorro morto nos dias de hoje, mas A Múmia não perdoa. Logo no início já somos bombardeados por alguns dos piores exemplos de exposição de informação dos últimos anos, com a prosa artificial de David Koepp, Christopher McQuarrie e Dylan Kussman provocando arrepios de tão ruim. Com personagens e diálogos pavorosos, a trama ainda oferece uma mitologia apressada e que força uma conexão com o protagonista, culminando em uma revelação ridícula e que demonstra como a Universal não FAZ IDEIA do que fazer com este universo compartilhado.
Múmia sem graça
Sofia Boutella certamente tem presença de cena, e a maquiagem traz seus méritos, mas infelizmente Ahmanet é uma antagonista assustadoramente genérica e esquecível. A personagem nunca provoca arrepios ou uma forte participação no longa, além de contar com poderes sobrenaturais que já vimos um milhão de vezes, com a diferença de que nunca soaram tão batidos e genéricos como aqui, não trazendo absolutamente nada de novo ou empolgante - olha, um rosto gigante feito de areia... Nunca vi isso antes... E o pior: Ahmanet transforma humanos em zumbis ao beijá-los, exatamente como faz Magia em Esquadrão Suicida, e você não quer esse tipo de filme como referência, certo? Nunca será Ihmotep.
O Dark Universe
Universos cinematográficos são o mal do século. Quando bem feitos, oferecem uma experiência divertida e imersiva, mas na realidade todas as outras tentativas de grandes estúdios até agora falharam miseravelmente. A Universal e seu Dark Universe com os monstros clássicos é o exemplo mais recente, que acaba por tirar o foco da história deste A Múmia a fim de expandir seus horizontes para os filmes futuros, especialmente pela presença do Dr. Jekyll de Russell Crowe. É um conceito interessante, mas é evidente que o longa está muito mais interessado nisso, e deixa de segundo plano toda a mitologia da criatura titular e insiste em deixar pontas soltas para o futuro. Imagine se o primeiro Homem de Ferro desviasse constantemente o foco para Nick Fury.
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Crítica | Drácula: A História Nunca Contada
Algumas histórias simplesmente nunca envelhecem, mas é preciso encontrar um novo motivo para contá-las novamente. Tendo na figura clássica de Drácula um dos maiores personagens fictícios já concebidos na História das Artes, o vampiro de Bram Stoker já ganhou diversas adaptações e releituras ao longo dos anos, desde obras mais literais e tradicionais - vide o excelente esforço de Francis Ford Coppola em 1992 - até versões mais radicais e que beiram o ridículo, como em Van Helsing ou... Er, Drácula 3000.
Dessa forma, é instigante que Drácula: A História Nunca Contada vire seu olhar para as origens históricas da figura que inspirou a criação do personagem, oferecendo uma virada fantasiosa e que justifique a lenda criada a seu redor. Mesmo com essa premissa interessante, o resultado é uma das tentativas mais desastrosas e risíveis de se levar o mito de Drácula aos cinemas.
A trama começa com o pé em fatos, ao nos apresentar ao príncipe Vlad (Luke Evans), que ganhou notoriedade pela postura sangrenta e brutal em suas lutas para conquistar o poder. Quando o poderoso exército turco liderado por seu irmão de criação, Ahmed (Dominic Cooper), bate à sua porta ameaçando seu reino, Vlad recorre às sombras ao fazer um pacto com um misterioso vampiro (Charles Dance), que lhe concede poderes sobrenaturais que possam ajudá-lo a derrotar seus inimigos.
O quê? Não tenho absolutamente nada contra tomar liberdades criativas em relação a fatos históricos em prol da história, até porque a única veracidade no roteiro de Matt Sazama e Burk Sharpless é o fato de que Vlad de fato existiu, e também tinha a fama de empalar seus inimigos durante a batalha. Tirando isso, o que resta é uma história risível que parece mais próxima de um filme de super-heróis genérico do que algo realmente digno do terror de Drácula, visto que o personagem de Luke Evans vira praticamente um mutante após seu pacto sinistro. Visualmente, é algo tão capenga e bizarro que é impossível não esconder o riso, com Vlad transformando-se em uma horda de morcegos para locomover-se mais rápido ou sua visão adulterada que parece ter saído de um videogame, deixando todos os oponentes em imagem negativa.
O grande problema é como todos os eventos acontecem. Não há o menor peso ou desenvolvimento a nenhum deles, com Vlad ganhando seus poderes e imediatamente saindo para uma batalha, sem o menor senso de reflexão ou contemplação de suas habilidades sobrenaturais: as coisas simplesmente acontecem, e com uma velocidade assustadora que impossibilita qualquer apego ou identificação com os personagens ou a atmosfera que o diretor Gary Shore tenta estabelecer. Toda a cena em que Vlad e o Vampiro conversam na caverna sofre para apresentar as "regras" da maldição, com a revelação pífia de que Vlad precisará resistir três dias sem ceder-se ao sangue humano - algo que, como bem sabemos, ele obviamente não será capaz de cumprir.
Pior ainda é tudo o que acontece no ato final do longa, que consegue inventar a "batalha entre irmãos" mais forçada e sem drama do cinema recente, além de apostar nas soluções mais bizarras e contraditórias possíveis - com Vlad transformando membros de seu exército em vampiros, apenas para se autodestruir na exposição ao sol. E outra, como este Drácula visava iniciar o universo compartilhado da Universal que agora tem uma nova chance com A Múmia de Alex Kurtzman, os minutos finais são de testar a paciência do espectador ao tentar arranjar um jeito de levar Vlad para o mundo contemporâneo, tal como o Capitão América nos filmes da Marvel Studios. Ridículo.
Toda essa história ridícula infelizmente não fica mais atraente sob a visão de Gary Shore, que consegue diminuir o impacto dos valores de produção caprichados em uma condução sem graça e que seria digna de um SyFy Channel da vida. Claramente preocupado com a possibilidade de pegar uma censura R, Shore oferece batalhas que incomodam pela limpeza e a ausência de sangue, usando também de cortes rápidos e movimentações de câmera grosseiras a fim de disfarçar a violência presente ali, entregando algo que parece cirurgicamente castrado - afinal, sangue e Drácula não têm nada a ver, certo? Seu uso de efeitos visuais também é igualmente genérico, com alguns bons conceitos (como a cena de luta toda do ponto de vista de uma lâmina) sendo prejudicados pela execução ruim.
Nesse show de horrores, posso dizer apenas que Luke Evans é um ator esforçado, e traz uma performance muito melhor do que o filme merecia, realmente tentando ilustrar o desespero e a angústia do protagonista - mesmo que a direção e o roteiro não ofereçam nada. E, claro, a ideia de se colocar Charles Dance como um vampiro sinistro por si só já merece aplausos, e o ator oferece uma tremenda presença em seus poucos minutos de participação. Porém, é até bom que este filme tenha sido descartado pela Universal, pois eu enxergo com clareza que Dance tornar-se-ia o que Bill Nighy é para a franquia Anjos da Noite.
Risível demais para um longa sério e pretensioso demais para uma paródia, Drácula: A História Nunca Contada é uma ofensa à criação de Bram Stoker, sendo uma das tentativas mais genéricas e forçadas de se estabelecer uma nova mitologia. Levando em conta tudo o que está na tela, não é de se espantar que essa história nunca fora contada. E nem deveria ter sido.
Drácula: A História Nunca Contada (Dracula Untold, EUA - 2014)
Direção: Gary Shore
Roteiro: Matt Sazama, Burk Sharpless
Elenco: Luke Evans, Sarah Gordon, Dominic Cooper, Art Parkinson, Charles Dance
Gênero: Ação, Suspense
Duração: 92 min
https://www.youtube.com/watch?v=UBd_x0KOCFU
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