Crítica | Lobisomem (2010)
Já faz algum tempo desde que não vemos os lobisomens tradicionais. Tivemos a versão teen com Lua Nova, guerras com vampiros em Anjos da Noite, entre outros. Mas a clássica versão, passada na Inglaterra vitoriana, estava quase que esquecida. O remake de Joe Johnston até tenta seguir com respeito e capricho o filme da década de 1940, mas não consegue ir além de um suspense morno, sem emoção, com atores medianos e (muita) violência trash.
Na trama, o ator de teatro Lawrence Talbot (Benício Del Toro) viaja de volta para a mansão de sua família, para o funeral de seu irmão, morto por algum tipo de criatura noturna. Depois de também ser mordido por esta, ele se transforma no famoso Lobisomem.
Realmente, O Lobisomem não deu certo. Possui um tom bem sombrio, fotografia cheia de névoas e um visual muito interessante para sua criatura, que possui uma forma mais humana e é composta de maquiagem em vez de CGI, ou seja, à moda antiga. Agora, vamos falar do roteiro. É bem simples, começa de maneira tensa, mas ao longo do filme, começam a vir as reviravoltas previsíveis, os diálogos toscos e as situações clichês. Não seria tão ruim se o filme ao menos tivesse uma dose de emoção, seja nas cenas mais dramáticas ou no fraco elenco.
O elenco possui ótimos atores que se encontram em papéis ruins, careteiros e inexpressivos. Benício Del Toro até que não se sai tão mal, mas ele fez tantas caretas, que chegam até a ser engraçadas, quando deveriam ser trágicas. Anthony Hopkins não é aproveitado e fica com um dos papéis mais antigos: o pai que desafia o filho e que, consequentemente, entra em conflito com ele.
E cuidado Sam Raimi! O Lobisomem possui cenas de mutilação bem gore, que chegam a ser trash. Sério, qual o motivo de tanto sangue jorrando, tripas e cabeças sendo arrancadas? Não causa medo, não causa emoção, não causa absolutamente nada. E como é de se esperar de um blockbuster, o final do filme deixa suas portas bem abertas, de maneira muito preguiçosa, para uma sequência, mas aí já é muito improvável.
Resumindo, O Lobisomem é mais um remake que prometia muito, mas caiu em uma tempestade de situações clichês, atores fracos e muita violência trash. De bom mesmo, só o visual da criatura, que possui suas caprichadas transformações e o rosto coberto por uma arrepiante maquiagem. Mas ninguém merece mais lutas de lobisomens, certo?
O Lobisomem (The Wolfman, EUA – 2010)
Direção: Joe Johnston
Roteiro: Andrew Kevin Walker e David Self
Elenco: Benício Del Toro, Anthony Hopkins, Emily Blunt, Hugo Weaving
Gênero: Terror
Duração: 103 min
https://www.youtube.com/watch?v=VDBZBjmfXqo
Crítica | O Abutre
O jornalismo e suas complicações morais sempre renderam obras memoráveis no cinema. Rede de Intrigas, de Sydney Pollack, faz um dos estudos mais eficientes acerca do sensacionalismo, o clássico A Montanha dos 7 Abutres, de Billy Wilder, oferece uma representação genial do “circo da imprensa” e a própria série de TV The Newsroom, de Aaron Sorkin, lidavaa muitíssimo bem com o cotidiano de uma emissora jornalística bem idealizada. Agora, do estreante Dan Gilroy, O Abutre certamente entrará nesse pacote, trazendo sua própria parcela de méritos em um dos exemplares mais marcantes desse seleto grupo de cinema.
A trama nos apresenta a Lou Bloom (Jake Gyllenhaal), um sujeito persistente e com ética trabalhista duvidosa, à procura de variados empregos em Los Angeles. A busca o leva até um emprego freelancer de câmera de um telejornal, onde sua especialidade é cobrir acidentes de carro, tiroteios e outros eventos que dêm audiências e lhe garantam um contrato com uma emissora de televisão local.
Não demora para que a premissa do filme remeta não só às impecáveis obras mencionadas acima, mas também a alguns modelos jornalísticos que encontramos em todo o canto do mundo. Datenas e Marcelos Rezendes estão por aí, poluindo a grade televisiva nacional com reportagens invasivas e sensacionalistas, recebendo gritantes números de audiência como recompensa. Nos EUA, certamente encontramos casos similares, e é esse tipo de trabalho que o excelente roteiro de Dan Gilroy ataca, retratando personagens sedentos por ângulos de câmera apropriados em uma e chefes de redação mais preocupadas com as consequências legais (literalmente zombando das morais) ao exibir assassinatos na TV aberta. Quando o protagonista comete o absurdo de alterar elementos e reposicionar cadáveres em uma cena do crime, o espectador percebe que está diante de algo realmente ousado e revelatório - e até mesmo uma metáfora sombria para o próprio fazer de cinema.
Gilroy também é responsável por um dos personagens mais fascinantes da última década, que é vivido com perfeição por Jake Gyllenhaal. Assustadoramente magro, o ator encara Bloom quase como uma máquina, ou algo que não é humano; um sujeito calculista, frio e aparentemente incapaz de se importar com os benefícios de alguém se não o dele, e seus olhos esbugalhados revelam que sua jornada é obsessiva. A cena em que um jantar amigável com a personagem de Rene Russo transforma-se em uma predatória extorsão é impressionante, não só pelas mudanças ascendentes na voz e postura de Gyllenhaal, mas também pela reação de Russo, que também revela-se uma figura surpreendentemente sombria e questionável como seu protagonista. Se Lou é o Abutre, Russo é justamente a mão que o alimenta e o fortalece.
Como diretor, Gilroy mostra que aprendeu com a turma da franquia Bourne (seu irmão, Tony, é o diretor de O Legado Bourne e roteirizou a trilogia estrelada por Matt Damon), sendo hábil ao comandar algumas perseguições de carro intensas em cenários urbanos noturnos, bem fotografadas pelo diretor de fotografia Robert Elswit. Gilroy também revela-se um mestre na construção de tensão (vide a antecipação para o grande clímax, montado com perfeição por John Gilroy) e em momentos puramente cinematográficos, como o sutil plano onde revela que Lou roubou uma bicicleta. Por fim, James Newton Howard entrega aqui um de seus trabalhos mais memoráveis dos últimos anos com uma trilha sonora que captura o tom de uma Los Angeles perigosa e, ao mesmo tempo, cheia de oportunidades - sendo curioso como o solo de guitarra do tema principal oferece um clima quase tropical, de tranquilidade.
O Abutre é um filme importantíssimo, e falo isso não só como imenso admirador da Sétima Arte, mas também como estudante de comunicação. A estreia de Dan Gilroy é tanto um intenso e fascinante estudo de personagem quanto uma crítica, enfatizando (com razão), que abutres como Lou Bloom só irão se multiplicar.
O Abutre (Nightcralwer, EUA - 2014)
Direção: Dan Gilroy
Roteiro: Dan Gilroy
Elenco: Jake Gyllenhaal, Rene Russo, Riz Ahmed, Bill Paxton
Gênero: Suspense
Duração: 118 min
https://www.youtube.com/watch?v=7uaYhPpV7G4
Especial | Monstros Universal
Em 2017, a Universal olha para seu passado e planeja um grande retorno de seu universo de monstros clássicos! Batizado de Dark Universe, a nova franquia será um universo compartilhado aos moldes da Marvel Studios, mas se engana quem pensa que a lendária produtora já não tivesse feito essa brincadeira antes! Aqui, reunimos todos os outros filmes de monstros da Universal e outros conteúdos relacionados ao tema.
Confira:
Era Clássica
Crítica | Drácula (1931)
Publicado originalmente em 4 de junho de 2017
Crítica | Frankenstein (1931)
Publicado originalmente em 5 de junho de 2017
Crítica | A Múmia (1932)
Publicado originalmente em 6 de junho de 2017
Crítica | O Homem Invisível (1933)
Publicado originalmente em 7 de junho de 2017
Crítica | A Noiva de Frankenstein (1935)
Publicado originalmente em 8 de junho de 2017
Crítica | O Lobisomem (1941)
Publicado originalmente em 9 de junho de 2017
Crítica | O Fantasma da Ópera (1943)
Publicado originalmente em 10 de junho de 2017
Crítica | O Monstro da Lagoa Negra (1954)
Publicado originalmente em 11 de junho de 2017
Trilogia Brendan Fraser
Crítica | A Múmia (1999)
Publicado originalmente em 6 de junho de 2017
Crítica | O Retorno da Múmia
Publicado originalmente em 7 de junho de 2017
Crítica | A Múmia: A Tumba do Imperador Dragão
Publicado originalmente em 8 de junho de 2017
Era Millennium
Crítica | O Lobisomem (2010)
Publicado originalmente em 14 de junho de 2017
Crítica | Drácula: A História Nunca Contada (2014)
Publicado originalmente em 15 de junho de 2017
Dark Universe
Crítica | A Múmia (2017)
Publicado originalmente em 8 de junho de 2017
Artigos
Um Gênio do Sistema: A História dos Filmes de Monstros da Universal
Publicado originalmente em 11 de junho de 2017
O Contexto Histórico dos Filmes de Monstros da Universal
Publicado originalmente em 12 de junho de 2017
Crítica | 007 - Quantum of Solace
James Bond já havia passado por reinvenções consideráveis ao longo de sua história, com a entrada de George Lazenby em A Serviço Secreto de sua Majestade e os dois filmes de Timothy Dalton servindo como grande exemplo, mas nada como aquela que havia dado tão certo em Cassino Royale. Daniel Craig havia transformado o personagem por completo, ao resgatar elementos mais introspectivos da criação original de Ian Fleming e jogar 007 em um universo mais realista e visceral, de forma também a bater de frente com o estilo de espião apresentado com Jason Bourne em sua recém-iniciada franquia com Matt Damon.
Com a recepção crítica e financeira acima do esperado, a nova era de James Bond agora traria um caminho promissor: veríamos o agente seguindo em uma trilha pessoal de vingança, com a mesma brutalidade e realismo que haviam tornado Cassino Royale tão memorável. Pois então, eis que 007 - Quantum of Solace acaba tornando-se vítima não só dessas expectativas monstruosas, mas também pela visão equivocada de seu diretor e pela turbulenta greve dos roteiristas do WGA em 2007.
A trama começa imediatamente após o final do anterior, com Bond levando o Sr. White (Jesper Christensen) para um interrogatório com o MI6. Logo descobre-se a existência de uma organização nebulosa para qual o sujeito trabalha, que está conectada não só com a morte de Vesper Lynd (Eva Green), mas também com as negociações criminosas do empresário Dominc Greene (Mathieu Amalric), que usa uma de uma ONG ecológica como fachada para controlar os fornecimentos de água e petróleo na Bolívia. Aliando o útil ao agradável, Bond vai atrás dos negócios de Greene, ao mesmo tempo em que mantém sua cruzada para vingar a morte de Vesper.
Um Homem torto num caminho torto
Consistência é um dos grandes problemas no roteiro de Quantum of Solace. O primeiro ato, por exemplo, traz um fio narrativo muito falho e que depende apenas das inúmeras cenas de ação para manter a história seguindo em frente, com Bond sendo encurralado por assassinos, encontrando pessoas aleatórias que os levam até lugares diferentes, e por aí vai. Não há nada daquela inteligência que Neil Purvis, Robert Wade e Paul Haggis ofereceram no longa anterior, com o trabalho de espionagem tomando as rédeas e dando espaço para perseguições, pancadarias e afins apenas como consequência de eventos, não como causa. O envolvimento da personagem de Olga Kurylenko é outro elemento completamente aleatório e sem muita justificativa, com Camille servindo apenas como uma aliada que convenientemente tem uma dívida pessoa com Greene e seus associdados. A interação completamente artificial entre os dois também torna todas as cenas com a jovem um exercício de futilidade, ainda que ambos os atores sejam carismáticos.
Não ajuda também o fato de que Dominic Greene é um dos antagonistas mais sem sal de toda a franquia. Ainda que Mathieu Amalric seja um excelente ator e preencha o vilão com um cinismo e ironia que praticamente transbordam da tela, não há nada que torne o personagem particularmente interessante ou memorável, seja por seu comportamento - nada fora do comum - ou em suas ações ou grande plano a ser detido por Bond. A questão da crise da água e a manipulação de Greene através de um programa ecológico é um assunto que foi muito discutido na época, e que permanece relevante até hoje, mas o roteiro é raso demais para oferecer alguma profundidade - novamente, um reflexo de como a crise do WGA afetou a produção, que também apresenta uma duração consideravelmente mais curta do que seus antecessores, batendo nos 106 minutos. Com isso, tudo em Quantum é rápido e sem o peso ou desenvolvimento necessários.
O único elemento que pontualmente funciona é o foco inteiramente em Bond. A forma como enxergamos a força motiz de 007 como um perigo para aqueles a seu redor é um dos pontos mais fascinantes do personagem, e aqui o trio de roteiristas consegue tirar algumas situações da cartola para aprofundar o desenvolvimento iniciado no anterior. Bond é cada vez mais instintivo e age sob sua própria conduta, ignorando e passando por cima das intervenções de M (Judi Dench), que desesperadamente tenta impedi-lo e enviar outros agentes para detê-lo. Isso ocasiona o breve arco da agente Fields vivida por Gemma Arterton, que é enviada para trazer Bond de volta à Londres, mas acaba assassinada pela organização de Greene - em uma gritante homenagem à Goldfinger ao trazer seu corpo banhado por petróleo. Nada disso é muito relevante até o ponto em que M revela que Fields era uma simples empregada de escritório, e que a rebeldia de Bond acabou ocasionando em sua morte. São questões que funcionam bem quando temos tempo para discutí-las, e felizmente Daniel Craig segue mantendo um trabalho impecável em sua versão mais brutamontes do personagem - aqui trazendo um senso de humor mais presente, e formidável.
Fora dos eixos
Não bastasse a trama que já não é das mais interessantes, a direção de Marc Forster é outro grave demérito do longa. Claramente inspirado pelo estilo de Paul Greengrass em seus dois filmes de Bourne, Forster aparentemente acredita que o segredo de uma boa cena de ação é a câmera incessante e uma montagem frenética, mas acaba prejudicando toda a boa execução dos dublês e também a grandiosidade dos set pieces. Não é possível seguir nenhuma ação ou movimento, já que os cortes de Matt Cheese e Richard Pearson nunca oferecem o bastante para respirar, e a câmera de Forster ou é inquieta demais ou aposta em enquadramentos fechados e pouco práticos para determinadas ações - basta observar a confusa perseguição de aviões, completamente ofuscada pela mise em scène desajeitada e o excesso de computação gráfica. Talvez a ação ali seja boa, mas não é possível enxergar o que acontece, tendo a direção e a montagem como principais culpados - mas o compositor David Arnold sai ileso, já que mantém um ótimo trabalho na criação de temas musicais empolgantes e que tentam promover a excitação que os recursos visuais falham em promover.
Forster também parece extremamente descontrolado em suas intenções. Basta observar como Quantum of Solace arrisca literalmente todas as opções de cenas de ação possível, com perseguições a pé, de carros, barcos, aviões e tiroteios, e infelizmente nenhuma delas atinge um nível realmente memorável - ainda que a corrida pelos telhados da Itália seja bem sucedida em expressar a velocidade da ação e também remeter ao comportamento implacável de Bond que vimos durante a antológica sequência de parkour em Cassino Royale. Talvez a única grande exceção, onde o estilo mais vertiginoso de Forster realmente funciona, é a cena da Ópera, onde Bond enfrenta capangas de Greene durante uma apresentação de Tosca. É uma sequência fantasmagórica e que mescla com dinamismo cenas da peça com a ação do longa, e a câmera incessante ganha um contexto muito mais apropriado, favorecido também pela edição de som que sabiamente arrisca momentos de puro silêncio enquanto toda a violência corre solta.
E se há um aspecto em Quantum que realmente leva pedradas injustamente, é sua divisiva canção-título. Another Way to Die traz a improvável junção de Alicia Keys com Jack White, em uma música pop que traz fortes elementos do rock típico de White, que marcam também um belo design gráfico durante os créditos de abertura, trazendo de volta as clássicas silhuetas femininas e utilizando a textura do deserto para criar algo visualmente espetacular. Nada muito relevante ao filme si, mas só queria deixar marcada aqui minha defesa a esta ótima canção.
É triste que o caminho tão brilhante deixado por Cassino Royale tenha sofrido um desvio tão confuso e torto com Quantum of Solace, que falha ao compreender os elementos que tornaram este novo James Bond tão memorável no antecessor. Porém, mesmo com uma trama flácida e uma direção equivocada, Daniel Craig consegue sobressair-se e manter a narrativa sinuosa minimamente interessante graças à sua ótima performance. Felizmente, a franquia de 007 ainda encontraria o real conforto prometido pelo título em sua próxima aventura.
007 - Quantum of Solace (Quantum of Solace, Reino Unido - 2008)
Direção: Marc Forster
Roteiro: Neil Purvis, Paul Haggis e Robert Wade
Elenco: Daniel Craig, Mathieu Almaric, Olga Kurylenko, Judi Dench, Jeffrey Wright, Gemma Arterton, Giancarlo Giannini, Jesper Christensen, David Harbour, Rory Kinnear
Gênero: Ação
Duração: 106 min
https://www.youtube.com/watch?v=f6acw690AqQ
Crítica | 007 - Cassino Royale
Eu me recuso a aceitar Daniel Craig como James Bond.
Foi assim que o meu eu de 11 anos reagiu à notícia do novo casting para 007 - Cassino Royale, filme que reformularia toda a franquia do agente secreto e apresentaria algo novo após alguns anos de desgaste. Acostumado com toda a presença e charme da era Pierce Brosnan, assim como todos os outros Bonds do passado, a troca bruta de perfil foi algo que não bateu fácil para mim, e também para a maioria do público - que usou o pouco de internet disponível na época para lançar uma campanha negativa contra a escalação do ator.
Tamanha minha teimosia e preconceito com o ator loiro de olhos azuis, que acabei recusando o convite de meu tio para assistir ao filme nos cinemas. James Bond havia morrido para mim. Porém, quando a curiosidade enfim bateu e acabei assistindo o filme em casa, percebi que havia cometido um dos maiores erros de minha vida em não assistir Cassino Royale nos cinemas. Havia perdido a chance de contemplar não só o melhor filme de 007 de todos os tempos, mas também a estreia do Bond definitivo do século XXI.
Depois de um bom tempo criando histórias inéditas para o personagem, a dupla de roteiristas Neil Purvis e Robert Wade voltou para a gênese de Bond ao propor uma adaptação livre do primeiríssimo livro de Ian Fleming, Cassino Royale. Partindo daí, vemos o início da carreira de James Bond (Craig) na agência do MI6 e como conseguiu sua famosa licença para matar, tendo realizado dois assassinatos com execução profissional. Sua primeira missão oficial é a de neutralizar o misterioso Le Chiffre (Mads Mikkelsen), um banqueiro de terroristas que planeja encher a mão em um jogo de pôquer de alto valor no cassino titular. Contando com a ajuda da bela analista Vesper Lynd (Eva Green), Bond precisará ganhar o jogo para capturar o terrorista.
A Supremacia Bond
É aí que você pensa no absurdo da premissa: a missão de Bond é ganhar um mísero jogo de cartas? Ironicamente, uma promessa tão inofensiva acaba revelando desdobramentos impressionantes, mas também ganha um revestimento muito denso graças ao roteiro de Wade, Purvis e a revisão de Paul Haggis. Com o jogo ficando apenas para o segundo ato, acompanhamos a investigação pessoal de Bond nos núcleos iniciais, e é maravilhoso ver como a dupla trabalha muito bem a escalação dos eventos; com pequenas pistas nos levando a acontecimento maiores, usando bem o artifício de uma mensagem críptica que aparece nos celulares de todos os antagonistas que o protagonista acaba perseguindo. É um recurso batido, claro, mas sua execução é eficiente e ajuda a manter as engrenagens da história movendo-se para frente, e evitando uma exposição muito verborrágica - vale notar como o primeiro ato do longa é muito mais silencioso e pautado no suspense, tal como um longa de espionagem deveria ser.
O universo do vilão também é uma das criações mais acertadas e relevantes da dupla, sendo algo que é digno de um antagonista de Bond, mas que também insere-se de forma crível e realista dentro do mundo real. Le Chiffre consegue seus lucros ao apostar contra ações de empresas em alta, orquestrando então ataques terroristas a estas a fim de garantir um retorno financeiro maior. É um plano muito engenhoso e que funciona por sua lógica, como muitíssimo bem expresso pela M de Judi Dench: "No 11 de Setembro tivemos um atentado, mas no dia 12 alguém ficou rico". É uma ameaça inteligente e que faz sentido para o Bond moderno, e o fato de Le Chiffre ser um sujeito frágil, vulnerável e que está sendo mais pressionado por sua "clientela peculiar" do que pelo serviço secreto o tornam ainda mais fascinante - com a presença daquela cicatriz no olho que é a piscadela - sem trocadilhos - ao clássico vilão Bond dos anos 60. Um desempenho formidável de Mads Mikkelsen.
Para esse universo moderno e perigoso, um novo Bond era crucial para o funcionamento de Cassino Royale. E é aqui onde eu desejaria ter uma máquina do tempo para retornar ao passado e arrastar minha versão juvenil para os cinemas e estapeá-la pela falta de fé, já que a performance de Daniel Craig como James Bond é nada menos do que sensacional. Inclusive, acredito que Craig seja o ator que entregou a melhor atuação dentre todos os outros, sendo eficiente ao transmitir toda a variedade emocional do personagem, e seu crescimento como um sujeito frio e ríspido para um homem perdidamente apaixonado, apenas para enfrentar um trauma que enfim molda sua persona definitiva. O ator traz todo o sarcasmo e egocentrismo que o papel requer, especialmente em sua ótima dinâmica com Eva Green.
A fisicalidade de Craig também é um ponto de destaque, visto que realiza algumas cenas de ação diante da câmera, uma exigência do ator de forma a rebater toda a negatividade circundando seu casting. Porém, é na dolorosa cena da tortura, com Bond nu e amarrado a uma cadeira retalhada, onde o ator definitivamente brilha. Com o sádico Le Chiffre esmurrando seus genitais com uma corda de tapete, vemos no rosto do ator o maior esforço do personagem, ao tentar dominar a situação mesmo sem qualquer tipo de vantagem - literalmente despido de qualquer oportunidade. A forma como Craig apela para o absurdo e o humor é simplesmente sensacional, provocando o vilão ao lhe pedir que cuide de sua "coceira" nos países baixos, rendendo uma das frases mais impagáveis do filme: "Agora o mundo inteiro vai saber que você morreu coçando meu saco!".
Como podemos ver, Craig era a melhor escolha para esse Bond reinventado. Inclusive, os roteiristas enxergam diversas oportunidades para brincar com a mitologia do personagem, apresentando-nos aos elementos que vão lentamente construindo sua figura icônica. Por exemplo, este é o primeiro filme da série a não se iniciar com a famosa vinheta do cano da arma, que é brilhantemente incorporada à história durante uma sequência do filme, - servindo como um elegante gancho para os créditos de abertura, que trocam as silhuetas de mulheres voluptuosas por assassinos e cartas de baralho, além da radical canção "You Know My Name", do grande Chris Cornell. Aliás, ainda sobre essa sequência, temos o incrível plano onde Daniel Craig caminha em direção à câmera, e olha diretamente para ela enquanto a música vai encerrando-se, em uma decisão ousada e que praticamente olha na cara de todos aqueles que questionaram sua escalação: sim, eu sou o James Bond.
Outros elementos certeiros vão aparecendo ao longo da projeção. Vemos Bond ganhando o famoso Aston Martin DB5 durante um jogo de cartas no primeiro ato da narrativa, uma tomada que leva seu tempo e paciência para esbanjar a primeira vez que o vemos usando um luxuoso smoking que tornaria-se uma de suas marcas registradas e até o primeiro encontro com Felix Leiter (Jeffrey Wright), um agente da CIA que sempre fora conhecido como um dos aliados do personagem nos longas anteriores, e também a criação de seu martini especial - com a genial resposta à pergunta "batido ou mexido?". Porém, é com a cena final que realmente sentimos o arrepio. A sensação de estar vendo um mito nascer, quando o protagonista olha para outro personagem - e através dele, à câmera - e pela primeira vez solta o famoso "Bond, James Bond", precedendo a entrada do antológico tema musical de John Barry. Nesse momento, Bond renascia.
O Orgulho de Buster Keaton
Mas claro, James Bond não é James Bond sem suas cenas de ação. Felizmente, a maestria do roteiro adulto e sólido vem acompanhada de uma direção igualmente forte e memorável, com o diretor Martin Campbell retornando à franquia após sua ótima introdução de Pierce Brosnan com GoldenEye, em 1995. Aqui, Campbell revela-se ainda mais amadurecido e ambicioso, já revertendo a expectativa do público ao trocar a "cena grandiosa de abertura" por um segmento quieto, silencioso e brutal, ao retratar o primeiro assassinato de Bond com uma briga violenta, física e desajeitada; acompanhando bem o fato de que o protagonista estar cometendo seu primeiro homicídio ali. A escolha de Phil Meheux de dois filtros na fotografia também é certeira, com a luta no banheiro ganhando um preto e branco mais contrastado e com um grão sujo e incômodo - exacerbado pela câmera na mão -, enquanto sua segunda execução ganha um P/B mais clean e equilibrado nos níveis de preto, e mais elegante graças aos planos fixos. Em outras palavras, só pela fotografia já observamos a evolução de Bond de matador bruto a executor calculista e certeiro.
Porém, quando pensamos na ação de Cassino Royale, é uma cena específica que vem à mente de todos nós: a perseguição de parkour em Madagascar. Se Campbell ousou em começar o longa de forma contida, ele oferece uma sequência absurdamente espetacular alguns minutos depois, quando Bond persegue a pé um fabricante de bombas pela cidade africana, atravessando uma floresta, um canteiro de obras e uma embaixada internacional. É uma sequência que impressiona pelo realismo e a nítida percepção de não termos efeitos visuais envolvidos em peso, como se enxerga nas acrobacias inacreditáveis do free runner Sebastien Foucain, que escala paredes, pula de guindastes e outras manobras que eu nem saberia como descrever, sendo a antítese perfeita para a brutalidade de Bond: quando o bandido passa pelo buraco de uma parede de drywall, Bond simplesmente a atravessa.
É importante também como a câmera de Campbell, ainda que captando todos esses eventos espetaculares, jamais perde o foco de Bond, e em sua evolução como personagem ali; sendo justamente esse um dos melhores atributos dessa cena (e também das outras sequências de ação do longa). Antes de pular de um guindaste para o outro, há dois curtos planos em que Bond observa com um certo medo a distância entre os dois pontos, e é isso tipo de humanidade que investe o espectador na ação, que além de tudo é bem orquestrada, montada e distribuída, além da trilha sonora de David Arnold ser arrasadora em seu uso dos tambores africanos. É um atestado muito arriscado de se fazer, mas eu não acho um absurdo declarar esta como a melhor cena de ação de todos os tempos. É uma aula em todos os quesitos imagináveis.
Com uma cena dessas, é muito difícil para qualquer diretor se superar com as 2h de projeção restantes, mas Campbell não deixa a bola cair. Uma tensa cena de stalking que é movida apenas pela trilha de Arnold desenrola-se quando Bond segue um potencial terrorista dentro de uma exposição do corpo humano até um lotado aeroporto de Miami, desembarcando em uma excepcional perseguição de carros pela pista do aeroporto, contando com uma ótima iluminação noturna. A terceira grande set piece é praticamente o oposto ao trocar as sombras da noite pelas vibrantes e saturadas cores de Viena, onde Bond literalmente desaba um prédio em Viena durante um conflito com criminosos no clíamx do longa, em uma imagem altamente simbólica ao trazer Vesper "enjaulada" em um elevador que segue em direção às águas que vão engolindo a estrutura. Ambas as sequências seguem o mesmo nível técnico da perseguição em Madagascar, sempre mostrando Bond se machucando, se esforçando e até falhando miseravelmente em certas ações.
Os Brutos também amam
Campbell certamente sabe lidar com o espetáculo, mas também fico impressionado com seus momentos de sutileza. A começar pelo jogo de cartas em si, que no papel é um evento sem a menor empolgação ou valor cinematográfico, já que são apenas... pessoas jogando cartas, e não há diálogos para movimentar suas ações - além do Mathis de Giancarlo Giannini agindo como o "coral grego" ao explicar para o público o que movimento e jogada significa. Felizmente, o diretor sabe como tornar o jogo dinâmico, ao estabelecer um verdadeiro duelo de olhares entre Bond e Le Chiffre, constantemente trazendo enquadramentos em close do rosto dos dois, sabendo também como valorizar a chamativa cicatriz do vilão. A trilha de Arnold novamente torna-se fundamental, com as batidas incessantes das cenas de ação dando espaço para cordas lentíssimas e misteriosas, além da montagem de Stuart Baird ser muito precisa ao utilizar fusões para demarcar a passagem de tempo - visto que a duração do jogo estende-se por diversas noites.
Como um jogo de pôquer não é capaz de sustentar uns bons 30 minutos de projeção, por mais bem executado que seja, o longa é sábio em oferecer diversas situações e imprevistos ao longo da jogatina. Por exemplo, quando Bond é derrotado por Le Chiffre, Campbell oferece um plano estático onde todos os jogadores vão lentamente saindo da mesa, com Bond praticamente colado à cadeira enquanto observa as fichas à sua frente, como se tentasse entender o que diabos aconteceu; uma cena muito reminiscente de um dos planos finais de O Poderoso Chefão Parte II, onde Francis Ford Coppola retratara o isolamento de Michael Corleone de forma similar. Em um exemplo mais agressivo, temos a intensa sequência onde Bond é envenenado por Le Chiffre, e a fotografia opta por lentes grande angulares que exacerbam o desespero do personagem ao buscar ajuda para livrar-se da substância. É uma amostra de como o estilo de Campbell, assim como Bond na primeira cena, varia entre o operático e o claustrofóbico, vide a brutal cena de luta de Bond contra dois assassinos em uma escadaria, que termina com uma execução extremamente ousada para um filme de censura PG-13.
Então, paralelamente ao jogo de pôquer mais empolgante do mundo, temos duas cenas que nunca antes poderíamos imaginar em um filme de James Bond. A primeira é logo após a intensa briga do protagonista pelas escadas do cassino, com Bond limpando seus ferimentos e o sangue escorrendo por sua testa em frente a um espelho. É um momento de extrema vulnerabilidade que o personagem poucas vezes havia tido, e a câmera na mão que quase despenca enquanto Campbell foca nos olhos cansados de Craig só auxilia para criar esse desconforto e aproximação com o agente secreto. A segunda vem pouco tempo depois, trazendo uma delicadez ímpar ao mostrar Bond abrindo a porta de sua suíte apenas para encontrar Vesper sentada no box do banheiro, com o chuveiro ligado encharcando seu belo vestido. O protagonista então se junta à ela, abraçando-a a e confortando-a após a violência que os dois foram forçados a encarar durante a briga nas escadas. Em um único plano longo, Campbell acaba criando uma cena tão íntima e delicada que merece ser colocada como um dos melhores momentos de toda a franquia.
E é dessa cena que o romance entre Bond e Vesper é finalmente iniciado, e graças ao ótimo texto do trio e a performance enigmática de Eva Green, temos um arco amoroso que oferece muito mais do que se aparenta. A lição final de Bond lhe é dada da forma mais impiedosa, com a lealdade de Vesper sendo colocada em dúvida durante o terceiro ato, e ainda que esta porção do filme aparentemente seja arrastada, é crucial na intenção de criar uma falsa fantasia e a esperança fraudulenta de que Bond poderia ter uma vida normal ao lado de sua amada.
Cassino Royale é um grande filme. Não só o melhor exemplar dos 24 filmes de James Bond, mas também uma das melhores obras de ação e espionagem já produzidas no cinema recente, com Daniel Craig liderando uma reinvenção pesada e brutal para o agente secreto mais famoso da História, contando com um roteiro magistral e uma direção que oferece o melhor que o gênero de ação tem a oferecer. Uma carta vencedora.
007 - Cassino Royale (Casino Royale, Reino Unido - 2006)
Direção: Martin Campbell
Roteiro: Neil Purvis, Robert Wade e Paul Haggis
Elenco: Daniel Craig, Eva Green, Mads Mikkelsen, Judi Dench, Jeffrey Wright, Giancarlo Giannini, Caterina Murino, Simon Abkarian, Jesper Christensen, Sebastien Foucan
Gênero: Ação
Duração: 144 min
https://www.youtube.com/watch?v=GV_18deeAXk
Especial | DC Comics
Uma das maiores editoras de quadrinhos de todos os tempos, a DC também tem uma valiosa história nas telas do cinema. Entre erros vergonhosos e acertos a nível de clássicos, é inegável que a Warner Bros tenha oferecido muito a todos esses personagens, que incluem Batman, Superman e Mulher-Maravilha.
Aqui, reunimos todo o nosso material da editora, desde suas fases anteriores até o recém-inaugurado Universo Cinematográfico DCEU.
Confira:
Cinema
Crítica | Superman: O Filme (1978)
Publicado originalmente em 4 de novembro de 2017
Crítica | Superman II - A Aventura Continua (1980)
Publicado originalmente em 5 de novembro de 2017
Crítica | Superman III (1983)
Publicado originalmente em 6 de novembro de 2017
Crítica | Superman IV: Em Busca da Paz (1987)
Publicado originalmente em 7 de novembro de 2017
Crítica | Batman (1989)
Publicado originalmente em 8 de novembro de 2017
Crítica | Batman: O Retorno (1992)
Publicado originalmente em 9 de novembro de 2017
Crítica | Batman Eternamente (1995)
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Crítica | Batman & Robin (1997)
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Crítica | Mulher-Gato (2004)
Publicado originalmente em 12 de novembro de 2017
Crítica | Batman Begins (2005)
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Crítica | Superman: O Retorno (2006)
Publicado originalmente em 14 de novembro de 2017
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Crítica | Watchmen: O Filme (2009)
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Crítica | Lanterna Verde (2011)
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Crítica | O Homem de Aço (2013)
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Crítica com Spoilers | Esquadrão Suicida (2016)
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Blu-ray | Esquadrão Suicida - Versão Estendida
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Os Retratos do Coringa no Cinema
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Crítica | Mulher-Maravilha (Sem Spoilers)
Clique aqui apra ler nosso texto COM SPOILERS
O caminho do universo cinematográfico da DC foi turbulento, para dizer o mínimo. 2016 trouxe um verdadeiro pesadelo para a Warner Bros quando Batman vs Supernan: A Origem da Justiça e Esquadrão Suicida foram trucidados pela crítica especializada, e arrecadaram menos do o esperado - atrasando também o desenvolvimento da empresa e o rumo das narrativas, deixando-os ainda mais confusos na intenção de montar sua Liga da Justiça e estabelecer uma franquia equiparável à concorrente Marvel Studios.
Com os dois soldados abatidos, todos os olhos viraram-se para o próximo lançamento da DC: Mulher-Maravilha, a primeira vez que a maior super-heroína de todos os tempos ganharia sua estreia nas telonas. Não é apenas uma chance crucial para salvar a reputação da editora nos cinemas, mas também para um importante símbolo de representatividade no cinema de ação, cada vez mais marcado pela presença feminina. Felizmente, o longa de Patty Jenkins é bem sucedido em ambas as suas propostas, e garante o maior acerto da nova fase da DC nos cinemas.
A trama nos leva às origens de Diana Prince (Gal Gadot), nascida como uma Amazona na mítica Ilha de Temiscira, ligada à mitologia de Zeus e vivendo isolada do mundo dos mortais. Quando o piloto Steve Trevor (Chris Pine), acaba invadindo seu paraíso ao fugir de soldados alemães durante a Primeira Guerra Mundial. Recebendo a ajuda da princesa amazona, os dois partem para a frente de batalha, onde Diana desconfia da influência de Ares, o Deus da Guerra, como causa central do conflito entre os homens.
Se fossemos estabelecer uma comparação, este Mulher-Maravilha é um misto entre Thor e Capitão América: O Primeiro Vingador, ao trazer a abordagem cômica à mitologia do primeiro e o contexto da Guerra Mundial do segundo. Porém, Patty Jenkins consegue alcançar um resultado superior a esses dois filmes da Marvel, contando a boa e velha história de origem de super-herói, em um longa divertido e aventuresco na linha de um Indiana Jones. É um equilíbrio muito eficiente entre humor e drama, com o arco de Diana sofrendo drásticas transformações ao ter seu ponto de vista de encontro com a realidade sombria do século XX: a protagonista é ingênua e otimista durante o primeiro ato, e esse desenvolvimento cru é um dos grandes acertos do roteiro de Allan Heinberg - que partiu do argumento em conjunto de Zack Snyder, Geoff Johns e Jason Fuchs.
É um filme mais leve e descontraído do que os antecessores, preocupados demais com os aspectos sombrios e soturnos de seus personagens, ou na tentativa de torná-los engraçadinhos demais (Esquadrão, sim), e o grande adjetivo para Mulher-Maravilha é equilíbrio. Com começo, meio e fim, o filme traça uma história simples e que se resolve bem ao longo de seus 141 minutos, trazendo uma estrutura e coerência que os dois antecessores peneram para alcançar - é bem claro que a montagem do filme é eficiente o bastante para cuidar de uma trama totalmente linear. Há muito do Superman de Richard Donner aqui, na forma com que lida com os elementos fantásticos e também pela performance de sua protagonista - que até usa um traje "civil" similar ao de Christopher Reeves.
O que nos leva à Gal Gadot, que surpreende em seu primeiríssimo papel como protagonista. Confesso que eu mesmo tive minhas dúvidas quanto a capacidade da atriz em liderar um longa desse tamanho, mas fiquei aliviado em testemunhar seu imenso carisma e expressividade de nas diferentes facetas que o papel exige. Gadot varia do cômico para o confuso e curioso com incrível naturalidade, sendo auxiliada também por sua beleza exótica espetacular e toda a fisicalidade durante as cenas de luta. Por fim, a atriz também convence durante as cenas mais dramáticas, fruto de uma explosiva química com o ótimo Chris Pine, que torna a relação dos dois um dos elementos mais interessantes e fortes em uma produção do gênero até agora - em outras palavras, nada descartável ou genérico como os arcos de Natalie Portman ou Rachel McAdams em produções da Marvel, por exemplo.
Com uma atriz carismática segurando perfeitamente o protagonismo, eis que temos a entrada de Patty Jenkins no universo da DC, uma das poucas mulheres a embarcar no gênero de super-herói na função de direção, e o resultado não poderia ser mais satisfatório. Jenkins estabelece um universo coeso e colorido, com as imagens embasbacantes da ilha paradisíaca oferecendo um contraste gritante como uma Londres toda cinzenta e preenchida pela névoa e fumaça das indústrias, já trazendo um bom paralelo para a jornada de Diana em um trabalho muito competente do diretor de fotografia Matthew Jensen. E nunca pensei que fosse dizer isso de um filme da DC, mas o 3D realmente funciona e oferece certa profundidade à maioria das cenas com planos abertos.
Quando as cenas de ação começam, Jenkins surpreende ao trazer lutas excepcionalmente bem coreografadas e filmadas, com uma mise em scéne simples, mas que explora com perfeição os movimentos da protagonista e também das demais guerreiras amazonas. Há, sim, um excesso de slow motion em diversas cenas - uma herança de Zack Snyder, provavelmente - mas admito que o efeito é usado pontualmente para ressaltar alguns golpes realmente memoráveis. Só a imagem da Mulher-Maravilha defletindo balas em plena Terra de Ninguém do campo de batalha é o suficiente para impressionar, mas também fiquei surpreso com a criatividade no uso do Laço da Verdade como uma verdadeira arma de guerra ou a batalha entre as Amazonas a cavalos contra alguns soldados alemães na praia - incluindo um genial foreshadowing para uma ação que ocorreria em outra batalha, e tudo só melhora quando o compositor Rupert Gregson-Williams traz de volta o magistral tema em violoncelo elétrico de Hans Zimmer para a personagem, dosando-o sabiamente nos momentos certos.
Claro, não é um filme perfeito. Ironicamente, a DC que sempre beneficiou-se de ter a melhor galeria de vilões dos quadrinhos acaba patinando justmanete nesse quesito aqui. Marcados principalmente pelas figuras de um general alemão (Danny Houston) e uma química maligna (Elena Anaya), o núcleo antagonista é de longe o mais fraco do filme, mas ambos os intérpretes parecem ter ciência do aspecto cartunesco de seus personagens - diversas vezes os vemos trocando risadas maléficas ou exagerando no sotaque carregado, enquanto outros antagonistas menores exibem características físicas nada sutis, como um marcante bigode que parece ter saído de um desenho da Hanna-Barbera ou algo similar aos vilões de Caçadores da Arca Perdida.
Quando chegamos no grande Ares, a situação melhora, especialmente pela natureza de sua revelação e o interessante discurso sobre a natureza da maldade no Homem, que rende um honesto diálogo onde Steve Trevor explica para Diana que os humanos não preicsam ser ruins apenas por causa de uma interferência mitológica, mas que seria algo enraizado a eles mesmos. Uma linha narrativa muito fascinante, mas infelizmente o embate entre o Deus da Guerra e Diana acaba prejudicado pelo excesso de CGI. Porém, é algo muito melhor do que as porcarias de Doomsday em BvS e... Aquele irmão esquisito da Magia em Esquadrão Suicida, e que também compensa pela bela catarse da protagonista ao final do conflito.
No fim, Mulher-Maravilha é o primeiro grande acerto do universo DC nos cinemas. Oferece um longa mais amarrado e coeso do que seus antecessores, além de trazer o perfeito equilíbrio de humor, heroísmo e todos os temas dramáticos que os heróis da editora carregam consigo. Nas mãos de Gal Gadot e Patty Jenkins, o futuro do gênero nunca pareceu tão promissor.
Mulher-Maravilha (Wonder Woman, EUA - 2017)
Direção: Patty Jenkins
Roteiro: Allan Heinberg, argumento de Jason Fuchs, Zack Snyder e Geoff Johns
Elenco: Gal Gadot, David Thewlis, Connie Nielsen, Robin Wright, David Thewlis, Danny Houston, Elena Anaya, Lucy Davis, Ewen Bremer, Doutzen Kroes, Saïd Taghmaoui, Eleanor Matsuura, Mayling Ng, Samantha Jo, Eugene Brave Rock
Gênero: Ação, Aventura
Duração: 141 min
https://www.youtube.com/watch?v=I6Gj8Fvukk4
Leia mais sobre DC
Lista | Ranking da franquia Piratas do Caribe
Com o lançamento de Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar nos cinemas nesta semana, é hora de olharmos para trás e escolher os melhores filmes da franquia até então. Confira abaixo o nosso top 5 dos filmes de Piratas do Caribe, já contando com a inclusão do novo filme:
5. Piratas do Caribe: A Vingança de Salazar
Com a recepção pouco empolgante do quarto filme, o consenso geral em torno de A Vingança de Salazar parece ser de que o filme é melhor. Porém, após terminar a sessão, é difícil responder qual dos dois filmes é mais sem graça, com este quinto longa sendo um espetáculo genérico e entendiante, com um Jack Sparrow cansado, um Javier Bardem vilanesco que fica abaixo das expectativas e uma direção sem charme que não faz jus ao trabalho homérico de Gore Verbinski. E olha, até Rob Marshall conseguiu fazer algo interessante com as sereias em seu filme, já a dupla Joachim Rønning e Espen Sandberg... Difícil encontrar algo memorável.
4. Piratas do Caribe: Navegando em Águas Misteriosas
A franquia traz uma ordem de qualidade praticamente decrescente a cada filme. Com a saída de Gore Verbinsky e a entrada de Rob Marshall, tivemos o mais monótono e desinteressante longa da série até então, com Jack Sparrow em uma trama sem sal para encontrar a Fonte da Juventude enquanto foge do temível Barba Negra e de sua ex-namorada vivida por Penelope Cruz. Tirando uma ou outra cena (em especial, a das sereias), é um filme genérico e que carece do deleite visual dos antecessores.
3. Piratas do Caribe: No Fim do Mundo
Temos aqui um exemplo de um filme preso em suas próprias ambições, mas que acaba ficando melhor com o tempo. A épica conclusão de Gore Verbinsky para sua trilogia trouxe os piratas viajando para o além a fim de salvar a alma de Jack Sparrow, e também marcar o conflito decisivo entre todos os piratas dos Sete Mares contra a maléfica Companhia das Índicas Orientais. O grande pecado do filme é inventar muitas reviravoltas e subtramas que tornam o resultado final inchado, mas definitivamente vale pelo espetáculo visual e as ótimas cenas de ação.
2. Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra
Uma das grandes surpresas de 2003, nascia aqui uma nova e original franquia, que capturava o espírito das sessões matinês da mesma forma como Indiana Jones fizera nos anos 80, beneficiando-se de uma trama deliciosamente sobrenatural e de um leque memorável de personagens carismáticos. Com o grande carisma de Johnny Depp, a direção inventiva de Gore Verbinsky e um tom que eficientemente balança entre a comédia e o suspense, A Maldição do Pérola Negra é prato cheio de diversão.
1. Piratas do Caribe: O Baú da Morte
Às vezes só se é bom quanto seu antagonista, e O Baú da Morte indubitavelmente tem o melhor da franquia. A figura mística de Davy Jones trouxe uma verdadeira revolução para a saga, seja na concepção de efeitos visuais realistas ou na forma de um vilão cuja maldade só é superada por seu passado surpreendentemente comovente. Além disso, esse segundo filme eleva praticamente todos os aspectos do anterior, rendendo uma história mais intrincada, cenas de ação melhores e um humor muito mais divertido. Um filme altamente subestimado.
Aposto que o ranking de vocês sairia diferente... Comente abaixo qual o seu filme preferido da franquia!
Leia mais sobre Piratas do Caribe
Crítica | Piratas do Caribe: No Fim do Mundo
Em um intervalo de meros 4 anos, Piratas do Caribe havia se tornado uma das maiores franquias de Hollywood, e poucos poderiam ser capazes de prever que seu mais recente capítulo até então atrairia tanta antecipação e expectativa. Com o bilhão de dólares conquistado por Piratas do Caribe: O Baú da Morte e o gancho letal que sua conclusão em aberto deixava, Piratas do Caribe: No Fim do Mundo definitivamente não tinha o melhor leque de cartas para sua estreia no verão de 2007, dada toda a pressão do público e do estúdio.
Assim, visando entregar algo digno da promessa do antecessor e ainda superar a escala grandiosa e época do mesmo com algo ainda mais esmagador, não é de se espantar que o terceiro Piratas tenha tido um resultado irregular se comparado aos primeiros. Porém, ainda é um filme cheio de qualidades e ideias ousadas, as quais o tempo ainda custa a lhes oferecer justiça.
Com o Capitão Jack Sparrow (Johnny Depp) e o Pérola Negra engolidos pelo Kraken e levados ao mítico Domínio de Davy Jones, a tripulação liderada por Will (Orlando Bloom), Elizabeth (Keira Knightley), um ressuscitado Barbossa (Geoffrey Rush) e a enigmática Tia Dalma (Naomie Harris) armam uma expedição para ir além dos confins da Terra e encontrar o plano astral onde Jack encontra-se preso, em uma forma de literalmente trazê-lo de volta do mundo dos mortos. Paralelamente, o implacável Cuttler Beckett (Tom Hollander) agora está de posse do coração de Davy Jones (Bill Nighy) e usa de sua influência e poder para seguir a cruzada da Companhia das Índias Orientais contra todos os piratas, visando erradicá-los de uma vez por todas.
É uma plot muito mais densa e complexa, cortesia dos roteiristas Ted Elliott e Terry Rossio, que retornam novamente para encerrar a - primeira - trilogia de Piratas. Dada sua densidade e longa duração (o filme encosta nas 3 horas de projeção), é bem possível separar os acontecimentos de No Fim do Mundo em blocos separados, com o resgate de Jack assumindo o primeiro ato, a batalha final entre os piratas e a Cia. das Índias Orientais no clímax e toda a bagunça redundante que toma conta do inchado segundo ato. O grande problema é essa necessidade de grandiloquência, algo que certamente é atingido pela escala visual do projeto, mas que é prejudicado no texto e progressão da história.
Homens Mortos Não Contam Histórias
A missão para resgatar Jack talvez seja o ponto alto de toda a projeção, onde vemos a espantosa imaginação da dupla de roteiristas e a criatividade de Verbinski e toda sua impecável equipe em executá-las, sempre procurando trazer elementos e ideias inovadoras à franquia. Isso já é visto na excelente cena de abertura, onde um grupo de piratas prestes a ser enforcado começa a cantar uma cantiga melancólica, em uma espécie de ode à Os Miseráveis - só que muito mais interessante, diga-se de passagem - e oferecer a atmosfera perfeita para o perigo de extinção dos piratas, que tem seus sapatos e chapéus removidos de seus cadáveres e empilhados e montes similares aos do Holocausto.
Então, somos apresentados ao núcleo de Cingapura, onde os protagonistas precisam encontrar um antigo conhecido de Jack, o Capitão Sao Feng (Chow Yun-Fat) e recuperar um mapa que os levará até os Domínios de Jones. São elementos inéditos e que expandem o universo da franquia de forma empolgante, seja no design de produção que incorpora a arquitetura chinesa à estética suja e misteriosa dos Piratas quanto pela caracterização sempre certeira. E só a introdução de Sao Feng, em uma virada de braços abertos enquanto sua silhueta é engolida pela névoa de uma sauna, já é o bastante para que seu personagem pareça mais interessante e fascinante do que de fato se revela. É aquela famosa ponta de luxo, e Yun-Fat claramente se diverte ao encarnar essa figura amendrotadora de rosto cortado e unhas animalescas.
Então, temos um literal mergulho no sobrenatural quando os piratas conseguem um navio para levá-los nessa jornada ao além. Vamos de belíssimas imagens que captam oceanos congelantes na Islândia até uma aparentemente infinita catarata, onde os personagens literalmente "morrem" para chegar a essa espécie de purgatório do pirata molusco, e a antecipação criada pela tensão de Verbinski e a trilha de Hans Zimmer são fascinantes. Tudo fica mais louco quando enfim encontramos Jack Sparrow, preso em um delírio quase perturbador onde o vemos interagindo com múltiplas versões de si mesmo, chegando até mesmo a sugerir zoofilia com uma cabra. São imagens dignas de um Inferno, mas tocadas para um funcional alívio cômico, e Verbinski merece créditos por experimentar algo tão estranho e surrealista em um blockbuster dessa escala, assim como a divertida entrega de Depp ao criar diferentes facetas de Sparrow e pelo diretor de fotografia Dariusz Wolski por seu uso de uma luz ensolarada e castigadora para o solitário deserto dos Domínios.
Com Jack de volta ao mundo dos vivos, No Fim do Mundo enfrenta sua porção mais penosa e desagradável: praticamente tudo até a batalha final. Na tentativa de oferecer uma trama imprevisível e complexa, Elliott e Rossio passam a brincar com a lealdade e o jogo de traições de seus personagens, particularmente com a figura de Will Turner. Obcecado em libertar seu pai Bootstrap (Stellan Skarsgard) do Holandês Voador de Davy Jones, Will mais de uma vez faz acordos e propostas com Beckett, e diversas vezes trai o grupo de Jack e até coloca suas reais intenções em uma séria dúvida diante do espectador. Fica ainda mais maçante quando somos apresentados à Ordem dos Lordes Piratas, uma espécie de "código" que supostamente coloca ladrões e trapaceiros sob uma hierarquia incompreensível, ainda que seja mais uma desculpa para apresentar mais figuras excêntricas e diferentes deste universo.
Porém, a pior coisa que este terceiro capítulo faz é enfiar uma deusa mitológica goela abaixo: Calipso. Ainda que os roteiristas tenham acertado em introduzir pistas e sugestões com a personagem de Tia Dalma no anterior, inclusive de sua relação com Davy Jones, todo o conceito de seus poderes e habilidades é algo simplesmente incoerente e ruim, fugindo demais do tipo de sobrenaturalidade que a saga vinha apresentando até então - e juro que ver uma Naomie Harris ficando gigante enquanto os piratas tentam amarrá-la com cordas é uma das cenas mais ridículas e vergonhosas que já vi numa tela de cinema. Sem falar que Calipso é praticamente irrelevante no quadro geral, servindo apenas para enrolar a plot descartável dos lordes piratas, além de preparar o palco para o clímax.
Fúria de Titãs
Finalmente, chegamos a uma das melhores cenas de toda a saga, e também a responsável por impedir o espectador de literalmente cair do sono após o decepcionante miolo da produção. Graças a um fantástico trabalho de direção, fotografia e efeitos visuais que permanecem tão perfeitos quanto há uma década atrás, temos um milagre de cena com a batalha no redemoinho, quando o Pérola Negra enfrenta o Holandês Voador em meio a uma sombria tempestade, com chuva, ondas e - obviamente - um redemoinho que faz ambos os navios girarem constantemente, enquanto seus tripulantes piratas, soldados e criaturas marinhas se enfrentam em duelos isolados. Há espaço para Will e Elizabeth se casarem em meio à carnificina, alívios cômicos com personagens menores e um embate dinâmico entre Jack e Davy Jones no Ninho do Corvo dos navios. Fica um pouco exagerado devido ao overacting cartunesco de Bill Nighy e pelo fato de Sparrow transformar-se no Homem-Aranha ao balançar-se pelos cipós de ambos os navios, mas não tira o brilho dessa fantástica sequência.
O senso de conclusão da batalha também é algo muito satisfatório, especialmente pela forma como Elliott e Rossio evoluem os elementos de O Baú da Morte, oferecendo a cruel ironia de que o responsável por apunhalar o coração de Jones também estaria fadado a assumir seu posto e cuidar das almas penadas largadas pelos Sete Mares. Isso oferece uma saída plausível e até poética para alguns dos personagens, e o texto ao menos tem o cuidado de amarrar todas as pontas soltas ao mesmo tempo em que deixa as portas abertas a fim de possibilitar continuações - como pudemos observar com os dois novos filmes, obviamente.
Perdido em sua própria ambição, Piratas do Caribe: No Fim do Mundo é uma despedida marcante de Gore Verbinski da franquia, que beneficia-se de um visual espetacular e uma escala épica que poucas franquias dos anos 2000 foram capazes de almejar, assim como sua coragem em experimentar conceitos e ideias que não encontramos hoje com muita facilidade. Porém, em sua trama que varia do confuso e cansativa para o tedioso e brega, este que deveria ter sido o encerramento das aventuras de Jack Sparrow sofre um golpe pesado.
Mas confesso que é melhor do que eu lembrava.
Piratas do Caribe: No Fim do Mundo (Pirates of the Caribbean: At World's End, EUA - 2007)
Direção: Gore Verbinski
Roteiro: Ted Elliott e Terry Rossio
Elenco: Johnny Depp, Orlando Bloom, Keira Knightley, Geoffrey Rush, Chow Yun-Fat, Bill Nighy, Naomie Harris, Jonathan Pryce, Stellan Skarsgard, Tom Hollander, Jack Davenport, Keith Richards, Kevin McNally, Lee Arenberg, Mackenzie Crook
Gênero: Aventura
Duração: 169 min
https://www.youtube.com/watch?v=0op_XllRaAw
Leia mais sobre Piratas do Caribe
Crítica | Piratas do Caribe: O Baú da Morte
O sucesso de Piratas do Caribe: A Maldição do Pérola Negra fora uma coisa incrível. Não só foi capaz de oferecer uma aventura tradicional e com o espírito das matinês que George Lucas e Steven Spielberg buscaram para seu Indiana Jones, misturado a um forte elemento sobrenatural e um senso de humor agradável. O filme avalancou a carreira de Johnny Depp e fez uma bilheteria absurda, tudo isso partindo de uma atração da Disney, o que logo iniciaria a fórmula vista em filmes como Mansão Mal Assombrada e Tomorrowland. Mas mais do que isso, uma continuação para o filme de 2003 era inevitável, então em 2006 tivemos o lançamento de Piratas do Caribe: O Baú da Morte, um filme com escala mais épica e uma trama menos agitada, mas que não deve em nada à seu antecessor.
A trama tem início pouco tempo após os eventos de Pérola Negra, com o casamento de Elizabeth Swann (Keira Knightley) com o ferreiro Will Turner (Orlando Bloom) é interrompido pelo cruel Lorde Cutler Beckett (Tom Hollander), que aprisiona os dois sob acusação de terem conspirado para libertar o pirata Jack Sparrow (Depp). Oferecendo um acordo à Will, o lorde o envia em uma missão para encontrar Sparrow e recuperar sua bússola peculiar, oferecendo sua liberdade e à de sua noiva em troca. Porém, Jack tem seus próprios problemas para lidar quando sua dívida com o pirata fantasma Davy Jones (Bill Nighy) volta para lhe cobrar, colocando uma nova tripulação sobrenatural em seu encalce, tendo no misterioso Baú da Morte a única chance de salvação do protagonista.
Sempre foi um padrão preguiçoso na época, e principalmente agora, repetir todas os elementos e a estrutura do original durante a continuação. Felizmente, o roteiro da dupla Terry Rossio e Ted Elliott acerta ao apostar em um filme diferente em estrutura e progressão narrativa, ao evitar repetições temáticas da donzela em perigo ou tesouro amaldiçoado, preferindo manter os personagens separados em subtramas diferentes e oferecer um macguffin muito mais interessante na forma do Baú titular. Todo o arco de Jack Sparrow correndo para salvar sua alma oferece riscos mais perigosos e ideias realmente brilhantes da equipe, desde a tripulação de condenados que vão lentamente fundindo-se com elementos marinhos e à estrutura do navio Holandês Voador até a ameaça iminente da monstruosa lula gigante mitológica, o Kraken.
Escalação dramática
Os personagens também têm um grande avanço e desenvolvimento comparado ao anterior. O conceito de mortalidade de Jack e também a crescente discussão sobre a bússola moral de seu personagem ganham boas sacadas do texto, com uma recompensa no último ato que oferece um Jack mais maduro e disposto a sacrificar bens importantes pela segurança do bem maior. Enquanto isso, o personagem de Will Turner ganha com a introdução de seu núcleo paterno, ao descobrir que seu pai Bootstrap Bill Turner (um decrépito Stellan Skarsgard) é um dos tripulantes condenados do Holandês Voador e despertar ali uma missão pessoal de libertá-lo dessa condição. E também temos Elizabeth Swann abandonando sua posição previsível e irritante de donzela em perigo para transformar-se em uma figura muito mais forte, lutando espada e demonstrando uma inteligência divertida quando consegue convencer os tripulantes de um navio de uma presença fantasmagórica. E ainda que não seja um personagem ativo, acho sempre agradável quando temos a ironia da inversão de papéis, com o ex-comodoro James Norrington (Jack Davenport) retornando em um estado deplorável e que em nada remete à postura cortês e elegante do antagonista do filme anterior.
Talvez o grande problema do filme seja sua inevitável condição como capítulo do meio. Como este longa e sua continuação, No Fim do Mundo, foram desenvolvidos em conjunto, boa parte da trama de Baú da Morte serve para explicar conceitos e personagens que ganharão mais destaque e aprofundamento no capítulo seguinte, assim como deixar o filme terminar em um gancho arrasador e que perpetua-o como uma obra sem final, mas que é parte de um todo. Outros problemas incluem alguns núcleos inconclusivos, como o forçado e artificial desenrolar de um "interesse amoroso" entre Jack e Elizabeth, que rende apenas uma reviravolta durante o clímax, além de descartáveis momentos de ciúmes entre a moça e Will - sem falar na presença do ex-comodoro.
Rever o elenco reprisando seus respectivos papéis nessa guinada dos personagens também é muito gratificante, especialmente pela magnética performance de Johnny Depp. Tendo recebido uma inesperada indicação ao Oscar por seu retrato do pirata bêbado no primeiro filme, Depp mantém toda sua detalhada construção física e os trejeitos do personagem, como o andar cambaleante e os braços sempre em movimento, como se o personagem precisasse de muita concentração para conseguir manter-se em pé. A sagacidade e ironia do personagem também retornam, mas é notável como Jack está muito mais paspalhão e cômico aqui, vide sua hilária atuação quando é eleito "rei" pelos canibais de uma ilha local. Quanto a seus colegas de cena, infelizmente Bloom mantém sua performance esforçada de uma nota única, com a determinação e força de vontade de Will, enquanto Keira Knightley beneficia-se da melhora em sua personagem para trazer mais dureza à sua performance, ainda que mantenha uma feminilidade - e até uma certa histeria pontual - durante boa parte de seu retrato.
Então, dedico um parágrafo inteiro para falarmos do melhor personagem da franquia Piratas do Caribe, depois do Capitão Jack Sparrow, claro: Davy Jones. Um vilão trágico e de coração partido, Jones é uma presença fantasmagórica que somos capazes de temer e ficar admirados ao mesmo tempo, e muito disso se deve ao impressionante misto de captura de performance de Bill Nighy com os efeitos visuais fotorrealistas da Industrial Light & Magic, merecidamente premiados com Oscar por seu trabalho aqui. Os tentáculos que compõem a barba e a face do pirata são de um realismo inacreditável, com a textura nítida de um molusco e os movimentos quase que independentes e fluidos de seus componentes, além do trabalho preservar com naturalidade cada tique de expressão de Nighy, como suas "fungadas" e barulhos com os lábios que Jones constantemente solta ao longo da projeção. Mesmo sem nunca de fato sair para a ação no filme, Jones é um vilão formidável.
Poderio visual
Em quesitos visuais, temos mais um espetáculo garantido pela direção grandiosa do subestimado Gore Verbisnki. Desde o primeiro frame do filme percebe-se o cuidado de Verbinski em estabelecer um mundo belo e realista, com a belíssima e melancólica imagem de uma cerimônia de casamento deserta castigada por uma pesada chuva, levando-nos imediatamente à um calabouço apavorante onde vemos corvos arrancando olhos de homens vivos... Até quebrar tudo isso com uma introdução apropriadamente hilária para Jack Sparrow, demonstrando seu incrível controle de ritmo e variação de tom, algo que é crucial para o sucesso da produção. A forma como a comédia elegantemente mistura-se ao espetáculo é algo que não deve-se somente ao trabalho certeiro do elenco, mas às diversas brincadeiras visuais do diretor, como no momento quase silencioso em que Jack Sparrow percebe seu desequilíbrio enquanto amarrado a um espetinho canibal ou sua mise en scène ao demonstrar às desastrosas mudanças de gravidade durante a inacreditável luta em uma roda d'água em movimento.
No espetáculo propriamente dito, temos uma escalação notável. Dado o fato de que Jones não pode pisar em terra firme, grande parte da ação e a trama do filme são ambientadas em alto mar, com o grande destaque de tais sequências sendo os três ataques do Kraken que vemos durante a história. O primeiro é algo saído praticamente de um terror, com uma sucção violenta que afunda um pequeno barco pesqueiro em uma questão de segundos, ganhando uma desenvoltura muito mais elaborada quando chegamos no segundo ataque. Aqui, vemos a habilidade do cineasta em controlar a geografia espacial dos acontecimentos, mantendo nosso foco em Will Turner escalando um mastro enquanto sua câmera passeia pelo caos no convés e todos os homens desesperados sendo agarrados pelos tentáculos gigantes da criatura, que parte o navio em dois em um show de efeitos visuais e uma inesquecível trilha de órgão do mestre Hans Zimmer.
São todas sequências visualmente deslumbrantes, onde Verbinski e o diretor de fotografia Dariusz Wolski capturam o naturalismo das belíssimas paisagens e locações por onde a história caminha, que incluem a coloridíssima ilha dos canibais, marcada pelo verde das copas de suas árvores, até o clímax na Isla Cruces, onde temos um duelo de espadas sobre uma praia de areia branquíssima. Cenas internas e que envolvem iluminação de velas, em especial às cabines dos navios e a sequência em Tortuga, trazem um alaranjado típico da chama da fonte de luz e um contraste notável entre as demais cenas, com a coloração mudando drasticamente para uma sombra mais pesada e azulada durante os momentos no Holandês Voador, criando um ambiente aterrador e que parece realmente um inferno marinho - fruto também do espetacular trabalho do design de produção, especialmente nos "dentes" da proa do Holandês.
Evitando prender-se à estrutura e convenções do primeiro, Piratas do Caribe: O Baú da Morte é uma ótima sequência que oferece uma aventura divertida, envolvente e grandiosa como a de seu anterior. Beneficia-se do amadurecimento de seus personagens, uma direção inspirada e de um núcleo antagonista muito mais poderoso, além de expandir o lore da saga e almejar coisas muito maiores em seus capítulos seguintes.
Piratas do Caribe: O Baú da Morte (Pirates of the Caribbean: Dead Man's Chest, EUA - 2006)
Direção: Gore Verbinski
Roteiro: Terry Rossio e Ted Elliott
Elenco: Johnny Depp, Orlando Bloom, Keira Knightley, Bill Nighy, Naomie Harris, Jonathan Pryce, Stellan Skarsgard, Tom Hollander, Jack Davenport, Kevin McNally, Lee Arenberg, Mackenzie Crook
Gênero: Aventura
Duração: 151 min
https://www.youtube.com/watch?v=ozk0-RHXtFw&t
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