Se já havíamos falado aqui de versões alternativas de filmes que conseguiram mesmo superar suas versões originais, então o mesmo infelizmente se aplica ao oposto disso. Onde se as vezes temos estúdios fazendo versões alternativas estúpidas de um grande filme, as vezes o oposto acontece quando que por mais que um diretor queria trazer todo um material filmado que não acabou dentro do corte final, as vezes foi para um bem maior. Ou as vezes quando um filme já é tão bom ou um clássico insuperável e seus diretores querem remexer neles para fazer algo melhor e apenas acabam bagunçando tudo.
Essa lista vai especialmente para essas versões que tentaram trazer algo de novo para filmes que já estavam perfeitamente bem do jeito que são, e acabaram estragando tudo ou apenas se mostraram completamente desnecessárias.
Alien, o Oitavo Passageiro (Director’s Cut) 116 min – 115 min
É aquilo que falam, não toquem no que já é perfeito. Ridley Scott parece que não sabia disso quando decidiu remexer no seu clássico Alien em 2004 trazendo o que dizia ser a sua versão de diretor definitiva. Que basicamente é o mesmo filme só que com adições e mudanças até sem graça ou desnecessárias, como por exemplo deixar a relação entre Ripley e Lambert muito mais agressiva após ela quase os ter deixado presos fora da Nostromo. Ou a revelação do destino do capitão Dallas após ser pego pelo Xenomorfo no tubo de ar, que embora seja uma curiosidade interessante, parece uma cena completamente jogada no meio do filme. Adições que retiram toda a sutileza poética que a versão original tinha, e que te fazem querer retornar desesperadamente para aquela versão.
Papai Noel às Avessas (Director’s Cut) 91 min – 88 min
Pensar que poderia-se melhorar uma surpreendente ótima comédia com fortes tons dramáticos como foi o caso de Papai Noel às Avessas, não parecia ser uma ideia tão equivocada, o que permitiu a Terry Zwigoff realizar sua versão de diretor para o filme. Mas se a fraquíssima continuação do filme provou algo é que Papai Noel às Avessas era impossível de se superar, e assim foi também o caso dessa desnecessária versão. Pois pelo visto seu diretor pensou que tornar o filme mais curto seria uma boa idéia, cortando cenas como o belíssimo monólogo inicial que nos permitia criar empatia pelo personagem de Willie, que acaba tornando o resto do filme por consequência muito mais um sério e depressivo estudo de personagem que não sabe aonde aterrar sua mensagem, tudo coisas que a versão original já tinha conseguido fazer tão bem. Destruindo o que era uma perfeita mistura de um drama psicológico de personagem com uma comédia de humor negro e escrachada, tornando em um filme completamente sem alma ou coração.
The Warriors: Os Selvagens da Noite (Director’s Cut) 92 min – 93 min
Outro caso de uma versão perfeita que nem deveria ser remexida. Mas Warriors conseguiu um enorme número de fãs e seguidores por anos até hoje que inspirou o nostálgico jogo de PS2 baseado no filme, cujo enorme sucesso parece ter despertado a ideia em Walter Hill de refazer todo o seu filme fazendo conexões com as subtramas que o jogo adicionava e estruturando as transições de cenas do filme com um visual painel fortemente inspirado em revista em quadrinhos que não tem absolutamente nada haver com o filme. Não muda de todo o excelente resultado final , embora sua bela cena final é por alguma razão diminuída à um dos quadrados de HQ nos créditos finais e que também tira um pouco do peso de um filme de sobrevivência e de real brutalidade que sua insuperável versão original carrega. Não era preciso remexer senhor Hill.
O Hobbit: Uma Jornada Inesperada (Versão Estendida) 169 min – 182 min
O que mais poderia ser adicionado de benéfico para salvar um filme que já é desnecessariamente longo? Absolutamente nada. Um claro exemplo de estúdios querendo faturar lucros à mais ao vender uma versão estendida com cenas que fizeram muito bem não estando ali. Os anões fazendo um duelo de peidos em Rivendell, ou o rei Goblin tendo uma versão alongada de sua canção Goblin Town com direito à um som de guitarra. Precisa dizer algo à mais sobre o nível de ridículo?
E.T.: O Extraterrestre (20th Anniversary Edition) 115 min
Outro pobre clássico que recebeu o infortúnio de ter uma nova versão remexida por Steven Spielberg, e outra que o próprio se arrepende de ter feito. Pelo menos crê-se de que ele teve consciência do mal que fez aqui com uma versão que parece totalmente desesperada para fazer o seu filme mais amenizado para o público infanto juvenil, como por exemplo trocar digitalmente as armas dos policias na grande perseguição do clímax por walkie talkies, diminuindo a sensação de perigo para os jovens e para ET. E até trocar muito das cenas com o personagem prático ao colocar uma camada extra de CG que o faz piscar os olhos sem parar e de forma toda artificial, removendo toda sua palpabilidade que já havia antes. O ET assim não volta mesmo para casa.
Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança (Special Edition) 121 min – 125 min
E novamente nos perguntamos, porquê retocar em um clássico perfeito? Pois foi isso que George Lucas veio a fazer com sua trilogia original antes de embarcar em fazer a trilogia prequela, querendo trazer Star Wars para as possibilidades tecnológicas do mundo moderno com novas alterações e modificações. Mas se as de Império Contra Ataca e Retorno do Jedi conseguiram ser inofensivas e até benéficas para um visual estético mais atemporal para os seus filmes , foi o primeiro Star Wars que a tudo iniciou que fora o mais prejudicado da trilogia com essas alterações. Adicionando cenas, como a horrível e desnecessária aparição de Jabba The Hutt que só viria a destruir a surpresa de o vermos pela primeira vez em Retorno do Jedi, ainda remasterizando efeitos visuais e fazendo alterações alarmantes como o fato de fazer o Greedo atirar primeiro que Han Solo, amenizando todo o sentido do personagem ser alguém sagaz e inteligente sem piedade. Pode ter sido nas melhores das intenções mas o senhor George Lucas modificou muito do que Star Wars significava para os fãs com essa versão desnecessária e boba.
Contatos Imediatos do Terceiro Grau (Director’s Cut e Special Edition 135 min – 138 min e 133 min
Steven Spielberg com certeza merece a fama de ser um diretor que consegue entregar o filme perfeitamente do jeito que queria originalmente e depois bagunçar tudo na versão home video, como fora o caso aqui Contatos Imediatos que recebeu duas versões lançadas em home video que traziam mudanças que o próprio Spielberg se arrepende. Como por exemplo a cena final na versão do diretor que consegue estragar todo o mágico mistério criado por mostrar o personagem Roy Neary vendo a nave mãe por dentro e os Aliens em forma de bonecos de macinha horríveis. Isso sem falar da versão especial que se de um lado pelo menos retira essa cena ridícula, altera várias coisas ótimas da versão original como muito do silêncio poético e a construção de mistério que ele fez na primeira metade do filme substituindo por desnecessárias cenas cômicas entre Roy e a família. Era melhor ter deixado a versão original quieta.
Donnie Darko (Director’s Cut) 113 min – 134 min
Depois de ter se tornado esse pequeno sucesso com seguidores que o cultuam como o David Lynch dessa geração, seu diretor Richard Kelly conseguiu a chance de completar a versão do filme que ele originalmente queria para Donnie Darko, reconstruindo todas as cenas que o estúdio originalmente o aconselhou cortar. E embora essas adições consigam mesmo tornar o filme bem mais “compreensível”, consegue afetar muito da vibe mística e misteriosa que a versão original possuía, entregando respostas gratuitas e jogadas sobre as ações e o desenlace da história. E ainda por cima consegue destruir o que era uma de suas melhores cenas, a própria intro, trocando a icônica música de The Killing Moon da Echo and the Bunnymen por Never tear us Apart de INXS. As vezes o diretor não sabe mesmo o que é melhor para o filme.
Debi & Lóide: Dois Idiotas em Apuros (Unrated) 107 min – 113 min
Impressionante como uma comédia onde seu hilário humor é baseado nos exageros espalhafatosos que a dupla central do filme causa, poderia ficar ruim e até tediosa com o dobro desses exageros. Pode até ter partido de um erro honesto por parte de seus diretores Peter e Bobby Farrelly que queriam trazer mais do que os fãs gostaram na versão original, mas que lá sabiam muito bem dosar seus exageros para criar uma linha tênue de humor constantemente hilário do filme, enquanto aqui mais parece uma linha tênue de exageros. Sem falar que parece querer completamente alterar os personagens de Harry e Lloyd que antes eram dois idiotas com corações puros e aqui mais parecem dois completos monstros inconsequentes. Descontrolados precisam as vezes ser controlados para o melhor.
Brazil: O Filme (Love Conquers All Cut) 132 min – 94 min
Uma versão como essas deveriam ser consideradas como um verdadeiro crime. Pois além de ter sido realizada e vendida pelos próprios estúdios sem a autorização de Terry Gilliam e que obviamente despertou uma repudia total do diretor. E cortava 48 minutos inteiros da versão original, desconstruindo todo o significado sobre a influência dominadora do poder totalitário presente nos temas que Brazil aborda e ainda por cima resultando em um filme sem nenhum senso de ritmo e história atrapalhada. Ainda por cima fazendo algo parecido com o que já haviam feito com Blade Runner de Ridley Scott ao descartar o final original trágico de Gillian em favor de um final ridiculamente feliz e que trai todo o resto do filme. Uma das maiores provas de como os estúdios são capazes de destruírem um filme sem dó nem piedade.
Há alguma outra versão alternativa que você ache que piorou a versão original de um filme?