Muito antes da China se tornar essa potência econômica mundial que conhecemos, ocorreu um fato que pode ser considerado como um divisor de águas na história do país, que foi a invasão japonesa em 1931 à Manchúria, território chinês. Em 1937, a tomada da região se configurou como o episódio que ficou conhecido como a Segunda Guerra Sino-Japonesa, em que os japoneses foram acusados de cometer inúmeras atrocidades no país. É nesse cenário que nasce a trama de Luta Pela Liberdade, longa do diretor Zhang Yimou (A Grande Muralha).

Longa foi indicado pela China ao Oscar na categoria de filme Internacional em 2022, e dá para imaginar o motivo dessa escolha. O thriller de espionagem não é uma obra-prima, mas alcança seu objetivo de entreter, além de tentar apresentar como era o ambiente naquele momento da invasão japonesa. Mas essa apropriação do país é apresentada pelo olhar de Yimou quase sempre mostrando a truculência japonesa e colocando os espiões chineses praticamente como heróis e parceiros de uma causa.

A trama não perde muito tempo em apresentar os personagens, fazendo com que os quatro agentes do Partido Comunista retornem à China, em um salto de paraquedas na região de Manchukuo. O que o diretor Zhang Yimou constrói a partir daí é uma narrativa bastante detalhista, em que as figuras centrais terão as suas relações pessoais exploradas, mas não aprofundas.

Essa falta de profundidade do roteiro, da dupla Yimou Zhang e Yongxian Quanperde, se dá em diversos aspectos da produção, pois apresenta pouco ou quase nada da situação em que a China se encontrava naquele momento e foca mais em mostrar as atrocidades cometidas pelo Império japonês. A intenção do diretor era o de se fazer um filme de espiões com um pano de fundo histórico, que funciona em seu primeiro ato, mas depois que se estabelecem as várias conexões se torna monótono e com várias reviravoltas que mais confundem do que propriamente esclarecem os fatos.

O que vale a pena mesmo na narrativa é o fato de acompanhar os agentes chineses em ação, enquanto os oficiais japoneses tentam se infiltrar no grupo chinês e tentam acabar com os planos de salvar um prisioneiro que escapou dos campos de concentração japonês. O objetivo é que esse sobrevivente revelasse ao mundo as crueldades que ocorriam no país. Porém, acompanhar todos aqueles diálogos e excesso de conversa que não chega a lugar algum pode se mostrar um entediante exercício de se ficar à frente da tela.

Em sua carreira, Yimou dirigiu belos filmes, como Herói (2002) e Flores do Oriente (2011). É uma marca do cineasta, que sempre filmou com capricho as cenas de suas produções, com muitas cores e cenários deslumbrantes. O mesmo acontece nesse longa, em que a filmagem é belíssima, os enquadramentos são bem trabalhados, e o jeito com que a câmera se move no ambiente, explorando ao máximo a atmosfera sombria que a história quer passar.

Luta pela Liberdade é um bom filme a respeito de um fato que ocorreu e que é pouco apresentado no cinema. Com um ritmo um pouco lento é verdade – mesmo contando com algumas cenas de ação – ainda assim prende a atenção do espectador em querer acompanhar a narrativa. Vale para quem é fã de produções asiáticas e para quem gosta de acompanhar tramas de espionagem.

Luta pela Liberdade (Cliff Walkers, China – 2021)

Direção: Yimou Zhang
Roteiro: Yongxian Quan, Yimou Zhang
Elenco: Hewei Yu, Yi Zhang, Hailu Qin, Haocun Liu, Yawen Zhu, Naiwen Li, Dahong Ni
Gênero: Biografia, Drama
Duração: 120 min.

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