No período de 1517, a Argélia estava sob cerco espanhol e sob domínio do Império Otomano. A luta contra os espanhóis é um aspecto importante na história da Argélia, assim como sucessivos embates que ocorreram ao longo do tempo. No entanto, esse não é o foco principal de A Última Rainha (Adila Bendimerad, Damien Ounouri), uma produção que aborda uma situação específica em Argel (atualmente a Argélia) durante esse período em particular.

O longa conta a história de Zaphira, esposa do último rei de Argel, Salim Toumi, conhecida por confrontar o pirata Barbarossa. É verdade que a ideia era contar esse momento da Argélia, no qual a Princesa Zaphira é apresentada como uma mulher destemida, enquanto Aruj (Barbarossa) é retratado quase como se fosse um tirano com atitudes megalomaníacas.

Ao longo da história, há certos eventos que envolvem a vida de Zaphira e são muito debatidos até hoje, muitas vezes rejeitados por historiadores, que acreditam que a narrativa sobre a Princesa Zaphira foi aumentada. Sendo um fato verídico ou não, o filme aborda com bastante fidelidade o que é de conhecimento público sobre essa figura histórica, evitando assim um dos maiores problemas quando se trata de dramas de época, que é a incongruência com os fatos históricos.

O que impressiona em A Última Rainha, além do belo figurino e dos cenários deslumbrantes, é a mensagem que é transmitida. Zaphira é representada como uma mulher de opinião e determinada quanto aos rumos que deseja tomar. É de conhecimento público que naquela época as mulheres eram tratadas como cidadãs de segunda classe. Porém, mesmo assim é importante que tal tema seja retratado de maneira mais aprofundada, e isso é algo que o filme não contextualiza de forma precisa, mostrando de maneira superficial, com algumas situações apresentadas, como era esse período.

Atualmente, assuntos como os direitos das mulheres e outros temas relacionados são amplamente debatidos pela sociedade. Por isso, é um grande acerto da dupla de cineastas Adila Bendimerad e Damien Ounouri trazer essa discussão para os dias atuais, utilizando uma figura histórica e inserindo-a em uma época em que as mulheres eram repreendidas, trazendo essa questão para os dias atuais.

No entanto, a questão histórica fica um tanto confusa em algumas situações, principalmente para aqueles que não estão familiarizados com a história da Argélia ou com os acontecimentos que cercavam aquele período. Os próprios espanhóis servem como ponto de partida para o arco narrativo de Aruj, mas depois desaparecem da trama. Quanto ao Império Otomano, este sequer é mencionado, o que é incompreensível, dado que os Otomanos dominavam uma grande parte do território africano naquela época.

Como qualquer obra histórica, é importante ressaltar que os diretores fazem uma tentativa de trazer à tona uma figura desconhecida do grande público, colocando-a em evidência e apresentando as situações pelas quais passou durante o golpe concedido por Aruj. O final é marcante e poderoso, com doses dramáticas e com uma mensagem impactante sendo transmitida.

A Última Rainha é um drama de época que não apenas oferece entretenimento, mas proporciona um aprendizado sobre como o mundo mudou (embora não muito) desde aquele período até os dias atuais e como a história tende a se repetir ao longo dos anos.

A Última Rainha (La dernière reine, Argélia, França – 2022)

Direção: Adila Bendimerad, Damien Ounouri
Roteiro: Adila Bendimerad, Damien Ounouri
Elenco: Adila Bendimerad, Dali Benssalah, Mohamed Tahar Zaoui, Imen Nouel
Gênero: Aventura, Drama, História
Duração: 110 min

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Gabriel Danius

Jornalista e cinéfilo de carteirinha amo nas horas vagas ler, jogar e assistir a jogos de futebol. Amo filmes que acrescentem algo de relevante e tragam uma mensagem interessante.

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