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Crítica | Regressão

Redação Bastidores Redação Bastidores
In Catálogo, Cinema, Críticas•24 de maio de 2017•9 Minutes

Em Mar Adentro, Alejandro Amenábar usou a história de Ramón Sampedro para ilustrar o eterno embate entre o indivíduo e as instituições sociais. Como era um drama sobre a eutanásia, a Igreja Católica foi maciçamente criticada. Já em Alexandria, o diretor incorreu na antiga falácia de que o cristianismo sempre foi uma religião anti-intelectual e produziu uma verdadeira ode às “verdades” do paganismo. Com o Regressão, ele se aventura na seara dos filmes sobre possessões demoníacas e rituais satânicos para criticar essa temática que tem se tornado ao longo dos últimos anos um verdadeiro território para a ação apologética cristã. Mas, enquanto os dois primeiros filmes mencionados funcionam bem dentro dos seus respectivos gêneros (Alexandria foi um filme pouco visto e comentado, embora tenha muitas qualidades), Regressão é um suspense que falha em causar apreensão e um drama que se recusa a aprofundar os seus personagens e as situações apresentadas.

Inspirado num caso real de histeria coletiva que ocorreu numa cidadezinha do interior dos Estados Unidos no começo da década de 90, o filme acompanha o árduo e perigoso caminho que o detetive Bruce Kenner (Ethan Hawke) tem de percorrer para descobrir o que aconteceu a uma jovem (Emma Watson) que decidiu sair de casa e se refugiar numa igreja após alegar ter sofrido todos os tipos de abusos sexuais pelo pai.

Se o ponto de partida é interessante, o resultado final é desastroso. Escrito pelo próprio diretor, o roteiro apresenta erros bobos e até mesmo infantis. Uma das principais falhas é não estabelecer com certa verossimilhança as motivações pessoais do protagonista: além da sua obrigação profissional, por que o detetive se dedica tanto ao caso? Por que a investigação se transforma para ele numa verdadeira obsessão? A impressão que se tem é a de que o personagem sofreu algum trauma no passado, mas nada disso é dito ou mostrado, e o filme não sente a menor necessidade de explicar. Outro erro importante é a construção do arco dramático: no começo da história, ele não acredita em nenhuma evidência que aponte para a existência de um elemento sobrenatural, no entanto, após alguns acontecimentos, ele passa a acreditar, apenas para ao final do filme voltar a ser o descrente que era no início. Ou seja, o personagem passa por uma jornada simplesmente para voltar ao ponto de partida inicial.

Com uma construção de personagem tão ruim, não dava para esperar que a dinâmica entre o detetive e a jovem vítima fosse melhor trabalhada. Criando uma forte aliança sem que haja o menor motivo para que isso ocorra, os dois personagens logo se vêem sozinhos em suas crenças e buscam apoio e motivação um no outro apenas. No caso dela, isso não faz o menor sentido, uma vez que o pastor que a acolheu dentro de sua igreja acredita em tudo o que ela diz e a recebe de braços abertos. Já no caso dele, é no mínimo perturbador ver um detetive de meia idade estabelecer um laço emocional tão forte com uma jovem que lhe é estranha. Se houvesse por detrás o sentimento de uma relação entre pai e filha, tudo poderia até ser justificado, mas, infelizmente, não é isso o que ocorre, pois logo no início já é sugerida uma tensão sexual entre os dois.

E se o roteiro não contribui, o que dizer do trabalho dos atores? Ethan Hawke falha ao já surgir em tela descontrolado e obcecado, em vez de desenvolver o personagem aos poucos. Seria muito mais crível se o seu envolvimento no caso fosse construído mais cuidadosamente. Por sua vez, a personagem feminina que traz até mesmo em seu nome a ambiguidade interna (Angela Gray, que pode ser interpretado como “Angel Grey”, indicando tanto o caráter angelical quanto um elemento cinzento em sua personalidade) é mal trabalhada por Emma Watson, sendo que durante todo o filme o espectador a enxerga como uma mera vítima.

No entanto, a maior decepção fica por conta da direção de Amenábar. Pouco criativo e extremamente burocrático em certos momentos, o diretor se contenta com decisões pobres e nem um pouco inventivas. Preguiçoso ao ponto de aproximar a câmera da parte de trás da cabeça de um dos personagens para mostrar as lembranças que a hipnose retroativa traz à memória, admito ter tido dificuldades em acreditar que estava assistindo a um filme do mesmo diretor de Preso na Escuridão e Os Outros. Porém, infelizmente, a descrença teve de dar lugar à profunda tristeza ao verificar nos créditos finais que de fato tratava-se de um filme de Alejandro Amenábar.

Os poucos méritos do filme ficam por conta da direção de fotografia, que acerta em investir em tons cinzentos e numa iluminação baixa e mergulhada em sombras; e da direção de arte, correta na sobriedade dos objetos de cena e até mesmo inteligentemente irônica na decisão de colocar o ponteiro do metrônomo usado nas sessões de hipnose com um formato de cruz.  Quem viu o filme sabe que esse mero detalhe tem um significado muito maior.

Todas essas falhas acabam prejudicando a intenção inicial do filme: colocar em xeque a verdadeira natureza de alguns relatos sobrenaturais. Basta olhar superficialmente para a obra de Amenábar para perceber que ele é um crítico contumaz do cristianismo, tanto da sua doutrina quanto da sua representação social e política. Para o diretor chileno, a religião cristã é uma verdadeira afronta às liberdades individuais. Se ele está certo ou não, isso não vem ao caso, pois se a intenção é o elogio ou a crítica, a construção da obra deve ser feita de maneira com que os tijolos basilares sejam extremamente sólidos para que a mensagem possa ser transmitida não independentemente do resultado artístico, mas justamente através dele. Por mais que não concorde com a visão extremamente pessimista que Amenábar tem do cristianismo, estaria aberto para ouvir o que ele tem a dizer sobre o assunto, mas com falhas tão grotescas em elementos cruciais da realização cinematográfica, tudo o que resta é o desapontamento de ter visto um bom ponto de partida ser desperdiçado num filme tão ruim. Mas chamo atenção para o mérito do diretor ao ter reconhecido um refugio do cinema cristão neste que praticamente se tornou um subgênero dentro do gênero do horror: os filmes sobre possessões demoníacas e rituais satânicos. Até o momento, ele foi um dos poucos a perceber. Por isso, ele merece elogios.

Com uma reviravolta final previsível e pouco impactante, Regressão é o primeiro grande fracasso de um diretor cuja carreira era até o momento muito consistente. Espero que esse tropeço seja facilmente assimilado por Amenábar e que o seu próximo filme faça jus aos seus trabalhos mais antigos.

Regressão (Regression, EUA – 2015)

Direção: Alejandro Amenábar
Roteiro: Alejandro Amenábar
Elenco: Ethan Hawke, Emma Watson, David Thewlis, Dale Dickey, David Dencik
Gênero: Suspense
Duração: 106 min

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Redação Bastidores

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