Ao contrário do filme fenômeno que foi dedicado ao arco inteiro do Trem Mugen, desde o final do arco do Distrito de Entretenimento, a Sony e a Ufotable tem se dedicado em criar prévias de luxo para os ávidos fãs de Demon Slayer que já se tornou um fenômeno global. Entre o hiato entre temporadas, é realizado o “filme” evento trazendo uma conexão entre o último episódio da temporada anterior em combinação com o primeiro da próxima.
No caso, temos a exibição da excelente conclusão do arco da Vila dos Ferreiros e o primeiro episódio do Treinamento Hashira (ou Pilares na versão traduzida do mangá). Entretanto, algumas coisas mudaram entre o filme anterior que apresentava a conexão entre a 3ª e 4ª temporadas.
Após a firme represália dos fãs, a Ufotable preparou uma apresentação mais decente para o “filme”, trazendo flashbacks de pontos altos de todas as temporadas anteriores, além de uma nítida transição empolgante para apresentar o arco do Treinamento Hashira. Quem é fã, certamente vai se empolgar em poder ver a prévia do início da temporada já muito aguardada, mas o tom dessas obras se mantém: em termos de conteúdo, é extremamente medíocre.
A experiência tem pouco mais de 90 minutos e o início do Treinamento Hashira é, de longe, um dos mais parados do anime. O ponto é tão crítico que até a produção da Ufotable se esforça em criar segmentos de filler para injetar ação e apresentar mais dos personagens Obanai Iguro e Sanemi Shinazugawa, os Hashiras da Serpente e do Vento. A passagem é genérica, sim, mas serve como uma apresentação mais lógica ao Castelo Infinito que marca o começo do final da saga.
De resto, tem um pouco de comédia com diálogos engraçados entre o carismático protagonista Tanjiro e seu amigo Zenitsu. A animação que envolve o cânone do material original também é bastante comedida, com planos estáticos de Tanjiro comendo e se recuperando numa cama pela maior parte do episódio. Como disse, se trata mesmo de um começo de temporada bastante parado.
Entretanto, verdade seja dita, assistir o clímax da VIla dos Ferreiros em uma tela de cinema, além da sonorização espacial feita em uma mixagem dedicada, é algo bastante único. O clímax, ainda que não seja o mais intenso em termos de animação – nada supera o final do Distrito de Entretenimento, traz uma carga emocional fortíssima pelo tema musical belíssimo de Nezuko estourando nas caixas de som. É divertido, sim, além de destacar ainda mais o ótimo trabalho da animação da Ufotable com cores expressivas e traços fortes.
Ainda que, felizmente, a Sony tenha trazido cópias legendas com vozes no japonês original, o destaque é mesmo para a dublagem brasileira que, admito, não é ruim, mas está longe de seus tempos áureos dos anos 1990 em adaptações incríveis de Samurai X, Yu Yu Hakusho e Dragon Ball Z. Há boas piadas adaptadas e o dublador de Zenitsu é muito competente em pegar os maneirismos da voz original para o português sem soar algo estranho ou desagradável.
O mesmo vale para o dublador de Tanjiro. A única derrapada mesmo fica na atriz responsável por Kanroji, a Hashira do Amor, que usa um timbre tão agudo em um ritmo acelerado que muitas vezes tornam as falas são incompreensíveis.
Demon Slayer: Kimetsu No Yaiba – To The Hashira Training é um evento de prévia. Classificar como um “filme” é forçar a barra e diminuir o próprio histórico da Ufotable no trabalho fenomenal realizado para o Trem Mugen que, sim, é mesmo um filme de verdade ao adaptar um arco inteiro do mangá.
Torço para que a Sony, após apelar nessa tática pela segunda vez, repita o acerto com a produtora e traga uma verdadeira experiência cinematográfica quando o arco do Castelo Infinito for iniciado daqui alguns anos.