Diferente do que talvez leve a crer tanto o trailer, quanto o material de divulgação, Sting – Aranha Assassina não é exatamente um filme sobre “aranhas” – ao menos não no sentido que vimos, por exemplo, no clássico de 1990, Aracnofobia, em que todo o espetáculo é pensado para ativar a fobia do público em relação aos artrópodes assustadores.

“Isto não é uma aranha”, diz um dos personagens em determinado momento, e ele tem razão. A criatura Sting da produção australiana que é ambientada, entretanto, na cidade de Nova York, é muito mais um filme de terror de “monstro” – no caso, algum tipo de espécie alienígena que chega à Terra na aparente queda de material espacial e passa a se desenvolver sem parar enquanto é alimentada por uma garotinha talentosa mas rebelde.

Um filme sobre medo de aranhas em que as aranhas pouco aparecem – eis Sting

A trama é relativamente simples e lança mão de ao menos duas fórmulas ao mesmo tempo: o filme de espaço fechado e o filme de criatura, como se disse. Charlotte (Alyla Browne) é uma pré-adolescente que gosta de desenhar e criar personagens de histórias em quadrinhos, uma imaginação fértil que é aproveitada pelo padrasto, Ethan (Ryan Corr), que tenta suprir a ausência do pai biológico enquanto se equilibra na carreira de desenhista e de zelador do velho prédio onde a família (completada por duas idosas, a mãe de Charlotte e um bebê) vive. 

Durante uma nevasca, Charlotte encontra uma pequena aranha que logo adota como bicho de estimação. Ao perceber que a aranha tem um apetite voraz, a garotinha não para de fornecer alimentos (insetos), o que leva a um crescimento inesperado e que terá as consequências previsíveis.

Até que a Sting do título se transforme naquilo que realmente é, o filme não esgota as possibilidades de explorar a aracnofobia que assola ao menos uma parte da audiência (como seria de se esperar em um filme sobre “aranhas assassinas”), preferindo concentrar sua atenção no suspense e nos dramas familiares. Ethan faz o que pode para conquistar a confiança da filha adotiva, mas tem dificuldades em equilibrar a própria carreira e as obrigações como zelador. Além disso, a avó de Charlotte sofre de demência, o que confere ao drama um alívio cômico e também complicações para a o desenrolar do enredo.

Criatura que aprisiona as vítimas lembra outros filmes de sucesso

Algumas soluções escolhidas pelo roteiro funcionam melhor que outras. A construção do suspense é bem trabalhada; a percepção de que se está preso no prédio, no entanto, funciona bem menos (é só um exagero de neve do lado de fora). A partir de determinado ponto, o “filme de aranhas” vira o que realmente é: um filme com criatura que deve mais à ideia original da franquia Aliens, por exemplo: os personagens estão subjugados por uma força natural maior que a deles e não conseguem sair do lugar onde estão. A criatura, por sua vez, aparece sem exageros (talvez na medida certa) e conta com bons efeitos práticos para suas aparições.

Não há nada de exatamente novo em Sting – Aranha Assassina mas, ao mesmo tempo, o filme se sai relativamente bem naquilo que pretende. É inteligente porque sabe que a história que tem em mãos não sustentaria um filme de duas horas, então ele finaliza no momento certo, sem sobras e sem redundâncias em seu clímax. A fotografia trabalha com lucidez a escuridão, o que também contribui para o suspense. 

Sting – Aranha Assassina pode não satisfazer quem está procurando um “filme de aranhas” no sentido dos anos 1980 ou 1990, sendo mais um jogo de gato e rato entre humanos e um monstrengo que sobe pelas paredes. Mas diverte sem compromisso e pode render um ou outro susto numa noite chuvosa.

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Daniel Moreno

Cineasta, roteirista e colaborador esporádico de publicações na área, diretor do documentário “O Diário de Lidwina” (disponível no Amazon Prime e ClaroTV), entre outros.

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