Cine Vinil #02 | Lado A: Por que Amei A Vigilante do Amanhã - Ghost in the Shell

O CONCEITO

Dia vs Noite, TWD vs GOT, DC vs Marvel, BvS vs Guerra Civil, Xbox vs Playstation, Flamengo vs Fluminense, Android vs iOS, McDonalds vs Burger King, Nerd vs Nerd, Fanboy vs Fanboy.

O multiverso nerd é pautado por discussões intermináveis e, geralmente, extremamente redundantes. Mas com toda a certeza a gente adora aquela treta cósmica para provar que um lado é melhor que o outro – mesmo que o único convencido na discussão seja você mesmo. Analisando essa treta tão peculiar, decidimos trazer um pouco desse espírito “saudável” de discussão para o nosso site.

Sejam bem-vindos ao Cine Vinil! Calma, antes de soltar os cães nos comentários, entenda nossa proposta. Os discos de vinil foram um dos itens mais amados para reprodução de arquivos sonoros. Sua grande peculiaridade eram os lados A e B. O lado A era utilizado para gravar os hits comerciais das bandas, músicas mais populares. Enquanto o Lado B era mais voltado para canções experimentais ou mais autorais.

No caso, nos inspiramos pelos lados opostos do mesmo “disco” – de uma mesma obra. O primeiro filme a receber esse formato é Power Rangers que conseguiu dividir a opinião da equipe do site gerando a tempestade perfeita para testarmos o formato. Serão dois artigos: o Lado A, que contém a opinião positiva, e o Lado B, com a versão negativa. Os autores, obviamente, serão distintos, e escolherão 5 pontos específicos da obra para justificar seus argumentos.

Explicado o conceito, nós lhes desejamos aquela ótima discussão para defender o seu lado favorito! Quem ganhou? Lado A ou Lado B? Que a treta perfeita comece!

LADO A

Por Daniel Taran

Uma história de origem

Esse novo filme conta a história de origem da Major, algo que nem o mangá, nem os filmes de Mamoru Oshii se preocuparam com as raízes da Major, exceto a série animada  que aqui é tratada como uma origem de super herói. Tivemos mais tempo para conhecer a personagem da major como nenhum dos filmes teve até então. Essa abordagem certamente foi a escolha certa para começar uma nova franquia no cinema.

Ghost in the Shell é uma franquia enorme

A maior reclamação que eu vejo das pessoas é que “Ah, mas o filme de 1995...” Ghost in the Shell tem muito mais que só o primeiro filme, temos o mangá original de 1989, um segundo filme, também do Oshii de 2004 e as sérias animadas Stand Alone Complex e Arise, cada uma delas com uma abordagem diferente, diretores diferentes, com diferentes visões, com visuais diferentes e histórias diferentes para contar, que não são necessariamente ligadas às outras. Todas elas tiveram sua influência nesse filme e essa é apenas só mais uma adaptação das tantas que a obra de Shirow já teve e, como toda adaptação, também tem as suas divergências.

Filosofia

Outra comparação com o primeiro filme é “Ah, faltou a densa filosofia”. Isso eu concordo, inclusive é uma das minhas reclamações com a série mais recente do anime, Arise, que também sofre do mesmo problema, entretanto, é mais plausível reclamar isso no anime que é mais nichado do que uma super produção hollywoodiana, ou você acha que iam fazer o blockbuster do Jean Luc Godard, hein? O filme tem que vender, vamos ter esperança que o filme faça dinheiro suficiente  para garantir uma continuação e que eles explorem um pouco mais desse lado mais reflexivo da franquia (que eu duvido muito que chegue ao nível do primeiro filme) afinal O MESTRE DOS FANTOCHES AINDA NEM APARECEU!

O que eu vejo muito são as pessoas reclamando dos filmes do Oshii exatamente por causa dessa densidade “São difíceis, confusos, não dá pra entender nada...” agora simplificam a coisa e você ainda reclama?

O visual

Esse é com certeza um dos filmes com um dos visuais mais impressionantes que eu vi recentemente, remetendo ao clássico Blade Runner do Ridley Scott, que inclusive foi uma das maiores inspirações do Masamune Shirow para criar Ghost in The Shell, com sua arquitetura bem particular, uma grande megalópole e inacreditáveis edifícios e arranha-céus. O filme captura bem o cyberpunk nesse aspecto, é o mundo de Shirow realizado na tela de cinema, rendendo algo simplesmente espetacular, que fica ainda melhor se puder ser conferido em 3D. Realmente vale a pena.

É uma ótima adaptação

Em 2009 saiu um filme chamado Dragon Ball Evolution, que era simplesmente terrível. Além de péssima adaptação, também era um péssimo filme, o que fez muitos fãs de mangá/anime abominarem qualquer coisa desse gênero que fosse anunciada em Hollywood. Agora podemos dizer que temos uma ótima adaptação de mangá/anime live action fora do Japão, apesar do filme não ser nenhuma obra-prima, está longe de envergonhar o legado da série. Apesar das mudanças eu não senti que nada, nem no menor nível, foi deturpado.

Clique AQUI para ler o LADO B.


Review | Shadow of the Tomb Raider - O Eclipse de Lara Croft

Lista | 15 personagens femininas Icônicas dos games

Em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, decidimos reforçar que elas também possuem seu espaço no universo dos jogos através de uma lista com as 15 personagens femininas mais marcantes e influentes. Não foi uma tarera fácil, afinal, 15 é um número relativamente baixo e não abrange todas as séries que gostaríamos, mas quem arrisca, não petisca, não é verdade? Eis a lista:

Obs: Esta lista foi feita em conjunto com os colegas Ayrton Magalhães e Leandro T. Konjedic.

                                        Lara Croft (Tomb Raider)

E o primeiro lugar da lista não poderia ser outro. A personagem feminina mais icônica e bem explorada da história dos videogames. Por ter jogado, acompanhado e adorado o tema, contexto e conceito das empreitadas da arqueóloga inglesa desde o primeiro Tomb Raider de 1996 até o atual segundo capítulo do reboot, considero esta uma das, se não a minha saga favorita. Criada por Toby Gard em uma resposta a quase criação de um plágio de Indiana Jones, Lara Croft se tornou uma verdadeira sex symbol não limitando sua área de ação aos games mas também ao cinema e literatura. Tendo passado por reformulações em tom, altos e baixos, ajustes visuais, enfrentado feras, criaturas divinas e sobrenaturais, mercenários e o realismo da nova geração (felizmente gerando uma de suas melhores fases), uma coisa que nunca foi capaz de se perder no processo trata-se de seu legado. E não falo somente dos shortinhos e personalidade teimosa e convencida mas determinante, heróica e bondosa e sim de sua importância e influência para a arte da qual se insere. Aqui, lanço um desafio para você, caro/a leitor/a: tente ir a qualquer evento de cultura popular relacionado às artes cinemáticas e não encontrar uma pessoa sequer vestida como Lara. Que venha o próximo Tomb Raider com os set pieces e puzles que amamos investir nosso tempo contemplando e que venha Alicia Vikander para quebrar de vez a maldição de adaptações cinematográficas de games!
Por: Leandro T. Konjedic

                                             Samus (Metroid)

Você sabe que há algo de especial na personagem quando descobre que sua criação recebeu inspiração da ícone da franquia Alien, Ellen Ripley. Sobrevivente do planeta K-2L, Samus Aran aterrissou nos consoles da Nintendo com a série Metroid em uma das primeiras investidas de protagonistas femininas como protagonistas em um jogo. Por usar uma armadura que se assemelha a um Ciborgue, os jogadores inicialmente pensavam que Samus se tratava de um homem, até a sensacional revelação ao final do primeiro game. Uma entrada triunfal, de fato.

Por: Leandro T. Konjedic 

Zelda (The Legend of Zelda)

Constantemente confundida com Link, o protagonista e herói da franquia que parte para o resgate, Zelda, nome dado às mulheres da família real de Hyrule, é a pessoa escolhida pelo destino a ter a triforce da sabedoria. Sequestrada por Ganondorf, vilão que busca as peças da triforce, a personagem já se transformara em Sheik (sobrevivente de uma raça extinta, dos Sheikahs) para tentar fugir em Ocarina of Time e em The Wind Waker, Tetra foi a reencarnação da vez da princesa. Felizmente, seus sequestros geraram algumas das melhores, mais criativas e envolventes jornadas de jogatina da história dos consoles. Ave, Zelda!

Por: Leandro T. Konjedic 

Peach (Super Mario Bros.)

Todos com certeza já devem ter ouvido falar da princesa Peach, a famosa princesa do fictício reino dos cogumelos que Mario deve resgatar no jogo Super Mario Bros. Na maioria dos jogos da franquia ela faz o papel da donzela em perigo, pois é sempre raptada ou posta em perigo. Ela já foi uma personagem jogável em alguns jogos da franquia e já demonstrou também que é boa em travar batalhas. Ela é apresentada como sendo uma personagem bem-educada e gentil, bem digna do título de princesa que ela carrega.

Por: Ayrton Magalhães

Chun Li (Street Fighter)

Chun Li foi a primeira personagem feminina a figurar em um jogo de luta e além disso ainda tem um backstory interessante. Seu pai foi assassinado pelo grande vilão da série, M. Bison, quando ela era apenas uma garotinha, desde então ela treina duro para um dia poder vingar o seu pai, se tornou policial e trabalha na Interpol investigando a nefasta organização Shadaloo. Ela é considerada a mulher mais forte do mundo no universo de Street Fighter.

Por: Daniel Tanan

Jill Valentine (Resident Evil)

Jill era uma policial da elite da cidade de Raccoon City, conseguiu sobreviver ao incidente da mansão no primeiro game da série e posteriormente no terceiro game da série ela foi perseguida pelo monstro mais icônico de toda série, o Nemesis, conseguindo matá-lo psteriormente. Mais recentemente na série, ela trabalha na BSAA, combatendo o bioterrorismo. A personagem se firmou como um dos maiores ícones femininos junto a Lara Croft na geração do PS1.

Por: Daniel Tanan

Aloy (Horizon Zero Dawn)

Aloy é a protagonista de Horizon Zero Dwan. Ela é uma guerreira ruiva, forte e inteligente. De acordo com o diretor narrativo John Gonzalez, personagens como Ellen Ripley (Alien) e Lara Croft (Tomb Raider) foram usadas como inspiração para a construção da personagem, além das guerreiras tribais que foram usadas como inspirações para o seu visual. O jogo foi lançado muito recentemente, mas ela vem sendo bastante elogiada por todos que jogaram, e pelos que estão falando ela com certeza merece o seu lugar nesta lista.

Por: Ayrton Magalhães

Ellie (The Last of Us)

Ellie é uma adolescente que cresceu em um mundo pós apocalíptico, por isso é mais madura e sabe se defender melhor que muitas mulheres mais velhas. No decorrer do jogo vemos ela criar um forte vinculo com o outro protagonista do jogo, o Joel, salvando sua pele diversas vezes durante o game, se não fosse por ela, o homem teria morrido em mais de uma ocasião. Ellie é indiscutivelmente uma personagem forte, merecidíssmo seu lugar na lista.

Por: Daniel Tanan

Aeris (Final Fantasy)

Aeris é a alma do grupo no sétimo game da franquia Final Fantasy, é animada e consegue animar a todos em sua volta. Não é a toa que Cloud, o protagonista  se apaixona por ela. Crescendo na periferia de Midgar ela adquiriu a capacidade para se cuidar muito bem sozinha. Sua morte é considerada um dos acontecimentos mais tristes de todos os tempos nos games. Dando uma motivação a mais para o Cloud caçar o vilão Sephiroth.

Por: Daniel Tanan

Elizabeth (Bioshock)

Elizabeth é uma das protagonistas do jogo BioShock Infinite. Ela foi presa numa torre na cidade flutuante de Columbia quando era apenas um bebe. Ela passou praticamente toda a sua vida até os 17 anos presa naquele lugar, sem nenhum tipo de contato com o mundo exterior. Seu maior sonho além de sair da torre, era visitar a cidade de Paris na França. Uma de suas características mais marcantes é a falta da ponta do dedo mindinho em sua mão. Ela é doce, gentil e tem um olhar inocente sobre as coisas, realmente uma bela personagem com uma ótima Backstory.

Por: Ayrton Magalhães

Sonia Blade (Mortal Kombat)

Inicialmente, a tenente Sonya Blade não iria estar no Mortal Kombat em que fez sua estréia, substituindo Jax, seu superior, em nome de uma decisão executiva para inserir uma personagem feminina de última hora no jogo. Tendo seu nome inspirado em uma das irmãs de Ed Boom, criador da série, a militar se tornou uma das principais personagens da saga. Passando pelos Boinas Verde até a OWIA (Outer World Investigstion Agency), sempre com sua personalidade forte e decisiva, seus melhores confrontos são os decididos entre seu nêmesis, o ladrão Kano, também sua antítese. Está aí um duelo que sinto saudades de acompanhar e controlar.
Por: Leandro T. Konjedic 

Cortana (Halo)

Criada a partir do cérebro clonado da criadora do projeto SPARTAN, a Dra. Catherine Elizabeth Halsey, Cortana, a inteligência artificial que acompanha Master Chief na série Halo e auxilia o jogador hackeando sistemas de computadores alienígenas e transmissões e fornecendo informações táticas possui um dos conceitos e história de relacionamento mais interessantes dos jogos eletrônicos. Representando o norte moral e técnico para Master Chief, vemos a profunda inteligência artificial se tornar cada vez mais humana ao progredirmos na franquia e investirmos em sua relação com o espartano. Não só com suas referências histórias ao ter o nome de uma espada nórdica e o conceito inicial baseado na rainha egípcia Nefertiti, a personagem ainda auxiliou como estímulo para a assistente pessoal inteligente da Microsoft, que por sua vez, você encontra atualmente no Windows 10.

Por: Leandro T. Konjedic 

Shepard (Mass Effect)

Obviamente, falaremos aqui da versão feminina do personagem Shepard, a protagonista (o) da série de jogos Mass Effect. Como muitos devem saber o jogo traz a opção de customizar o personagem Shepard, podendo trocar até o seu sexo. Muitos preferem jogar com a versão feminina, alegando que ela é superior a versão masculina, tendo mais agilidade e destreza no jogo. ela é otima em batalhas e sabe liderar muito bem, uma perfeita personagem.

Por: Ayrton Magalhães

Heather Mason (Silent Hill)

Heather não teve uma infância muito fácil, sempre fugindo com seu pai de algo que ela nunca compreendeu, até que Claudia Wolf, vilã do terceiro jogo da série aparece e mata seu pai, assim, ela parte para a sombria cidade de Silent Hill, buscando vingança. Heather tem uma língua afiada e tem um temperamento difícil, mas acaba encontrando dentro de si uma grande força e coragem para superar seus medos, que a auxiliam na sua batalha contra as forças sombrias da cidade.

Por: Daniel Tanan

Faith Connors (Mirror's Edge)

A protagonista do jogo Mirror Edge, ela é apresentada como sendo uma personagem atlética e destemida. Ela é perfeita em combate, não necessitando de armas de fogo em nenhum momento e ainda é ótima escapar de adversários e para desviar de obstáculos. Ela apresenta uma grande tatuagem em seu braço que pode ser considerada como sua característica mais marcante. Ela não recua perante o perigo e não se deixa intimidar durante a maioria do jogo. Uma personagem feminina  com certeza bem marcante.

Por: Ayrton Magalhães

 

Crítica | Doutor Sono

Aviso: A resenha contem spoilers do livro O Iluminado

30 anos depois de o Stephen King lançar uma das suas mais populares obras, O Iluminado, eis que decide resolver uma dúvida antiga dos fãs, afinal, o que aconteceu com o garotinho Danny Torrance? Assim, em 2013, Doutor Sono é publicado.

Quem já está acostumado com a escrita do Stephen King já sabe o que esperar, ótimo desenvolvimento dos personagens e das relações entre eles, narrativa fluida e a cereja do bolo dos romances de horror do Stephen King, um bom elemento sobrenatural. No caso deste livro acho que o ultimo ponto podia ser muito melhor explorado. Vamos ao enredo.

O livro começa pouco depois de onde O Iluminado parou. Danny e sua mãe Wendy Torrance continuam sendo perseguidos pelos fantasmas do Hotel Overlook, o velho ex-cozinheiro do hotel mal assombrado, Dick Haloran ensina a Danny como lidar com os fantasmas.

Segue mostrando os vilões da vez, um grupo de “Vampiros” nômades que viajam em trailers conhecido como o Verdadeiro nó, que suga a essência dos iluminados que eles chamam de “vapor”. Depois vemos um Danny mais velho que apesar dos maus exemplos do seu pai, se tornou um bêbado.

Danny se torna um andarilho até que se estabelece em Teenytown, uma pequena cidade onde ele conhece Billy Freeman, um homem que partilha de um pouco do dom de iluminação de Danny e Casey Kingsley, que apresenta Danny  ao AA (Alcoólatras anônimos).

Uma das perguntas que o King se fazia bastante, como ele diz em sua nota do autor era “e se o perturbado Jack Torrance conhecesse o AA?” Ele quis mostrar isso pelo filho dele, Danny. Isso também reflete a mudança do próprio autor que sabe, por experiência própria como é ser um alcoólatra e largar o vício.

Dan arranja emprego em um asilo, onde ele usando sua habilidade de iluminado facilita a passagem dos idosos para a morte, ganhando assim a alcunha Doutor Sono.

Paralelamente, nós conhecemos a outra protagonista desta história, Abra Stone, minha personagem favorita, uma garota iluminada de 13 anos muito poderosa. Um dia Abra encontra um um anuncio de pessoas desaparecidas e vê um garoto que foi morto pelo verdadeiro nó. Ela sabe que foi morto pelos mesmos, porque presenciou a morte do garoto em uma experiência extra corpórea. Assim ela parte novamente com sua projeção astral para espiar os assassinos, o que se revela ser um grande erro, pois revela sua localização. O verdadeiro nó passa a caçá-la.

Abra manda uma mensagem mental a Dan que concorda em ajudá-la. A relação da Abra com ele é muito interessante, a identificação é imediata, Abra faz Dan lembrar a si mesmo quando criança e Abra confia plenamente nele, como se fosse um pai (ou tio como ela o chama).

Alerta de Spoiler

Para mim, o maior problema da história é o elemento sobrenatural, tão bem trabalhado por King em outras obras, mas aqui deixa a desejar. É apresentado muito rapidamente, sem muitas informações, fiquei me perguntando quais eram suas origens, entre outras coisa. Além disso não me passaram medo em momento algum, eles não tem o mesmo “charme” que os fantasmas do Overlook tinham, bem longe disso.

Nem ao menos são vilões que eu aprecie, citando uma frase do próprio livro dita (ou melhor pensada) pelo personagem Dan Torrance : “Que tipo de palhaços são esses caras?”. Já me pegava pensando nisso a partir do meio do livro quando percebi que eles não passavam de indivíduos que só sabem matar crianças covardemente, não sabendo se adaptar muito bem às situações apresentadas, como ter que lidar com adultos. Não é o tipo de vilão que eu gosto de acompanhar.

E há outro elemento que me incomodou bastante, a doença que pegam do “garoto do baseball”. Afinal, eles estão matando crianças e sugando seu vapor a séculos, como é sugerido no livro. Por que eles tinham que pegar essa doença  logo agora dessa criança específica?

Além da Abra ser uma testemunha de um assassinato que eles realizaram, ela também é cheia de vapor. Não dá nem pra ser considerado uma conveniência, porque eles já tinham motivo de sobra para capturar a Abra.

Há também o mais que desnecessário plot twist, Dan é realmente tio da Abra, o seu pai, Jack Torrance deu uma escapada em uma festinha e engravidou a avó da Abra, que ele provavelmente nem lembrava o nome. Que diferença isso faz para a história? Nenhuma. No final tudo volta ao normal. O Primeiro Nó foi extinto, bem facilmente até. Abra voltou para a escola e Dan finalmente confessa seu “crime” que estava remoendo em sua cabeça no AA (Alcoólatras Anônimos), que para sua surpresa, o pessoal de lá não se importa.

Fim dos Spoilers

Doutor Sono é sim um bom livro, mas fica muito aquém do Iluminado e de obras passadas de King.

Doutor Sono (Doctor Sleep, EUA – 2013)
Autor: Stephen King
Publicação no Brasil: Suma de Letras (Editora Objetiva)
Tradução: Roberto Grey
Páginas: 475


Crítica | Harry Potter e a Criança Amaldiçoada

O bruxinho está de volta nessa continuação que você talvez até tenha pedido, mas é como diz o ditado, cuidado com o que deseja. Pouco após J.K. Rowling ter terminado a famosa série de livros, ela disse que iria dar um tempo no mundo bruxo e experimentar coisas novas, dessa fase nasce o suspense político “Morte Súbita” e a série de livros policiais das aventuras do detetive Cormoran Strike (O chamado do Cuco, Bicho da Seda, etc.).

Mas essa fase não durou muito, as novas aventuras da Rowling nem chegaram perto do apelo que Harry Potter teve. Ela então não tardou a mudar de ideia e logo retornou ao universo do "menino que sobreviveu". Escreveu o roteiro do filme Animais Fantásticos e Onde Habitam que vai estrear esse ano e autorizou essa peça que não foi escrita por ela e sim por Jack Thorne, premiado dramaturgo britânico.

Mas será que esse retorno ao mundo bruxo valeu a pena? A história começa pouco depois de onde o sétimo livro parou, com Harry, Ginny, Rony e Hermione mandando seus filhos para Hogwarts, seus filhos são os novos protagonistas da história, Albus (Filho do Harry) e Rose (Filha do Rony e Hermione) costumavam ser grandes amigos mas simplesmente por Albus ter sido escolhido para integrar a casa da Sonserina eles param de se falar, assim ele acaba fazendo amizade com Scorpius (filho de Draco Malfoy).

O que é interessante aqui é que Albus tem problemas com o pai. Albus ao contrário do pai dele detesta Hogwarts, seus colegas e até mesmo a sua família acham um absurdo um Potter ter sido escolhido para a Sonserina, isso faz com que Albus se sinta muito só. Harry não parece entender pelo que seu filho está passando, afinal em sua cabeça Hogwarts é o melhor lugar da face da terra, esse pequeno elemento já faz com que os dois se estranhem.

O alívio de Albus é o seu grande amigo Scorpius. Scorpius é com certeza o melhor personagem novo, ele é engraçado, inteligente e os dois personagens (Albus e Scorpius) tem uma ótima química, é um bromance que funciona.

Hermione é ministra da magia e Harry agora é chefe do departamento de execução das leis da magia. Harry confisca um vira-tempo ilegal. Pouco depois de o livro “Harry Potter e a Ordem da Fênix” ter sido lançado, Rowling explicou que destruiu todos os vira-tempos na sala de mistérios porque ela percebeu que mexer com tempo é uma coisa complicada e ela quis descartar de uma vez por todas a possibilidade de usar esse recurso novamente. Assim é bastante engraçado que toda a trama da peça se baseia exatamente nisso que ela procurou evitar, ainda contradizendo regras que você fã de Harry Potter sabe muito bem que foram estabelecidas na mitologia.

Amos Diggory, o pai do finado Cedrico Diggory ficou sabendo que Harry tinha confiscado um vira-tempo e pede a ele para voltar no tempo para salvar o seu filho, já que ele não precisava morrer. Harry obviamente recusa, mas Albus ouve a conversa e num ato de rebeldia contra seu pai resolve ir atrás do tal vira-tempo, assim ele convence Scorpius a ir com ele buscar o vira-tempo.

A partir daqui a história vira uma espécie de “De volta para o futuro 2” que muitos estão cansados de ver. Albus e Scorpius viajam entre realidades alternativas desde uma realidade em que Rony e Hermione nunca ficaram juntos portanto seus filhos nunca nasceram e Hermione é uma professora chata de poções à la Snape para uma em que Harry morre na batalha de Hogwarts e Voldemort reina, onde tudo é muito sombrio.

A história é praticamente só um “E se” da vida e sim, tem um vilão. Um vilão muito óbvio e de longe o pior personagem da história, tem uma das piores motivações que eu já vi, é simplesmente terrível.

Alerta de Spoiler

A história da “Criança amaldiçoada” é a seguinte, há um boato dizendo que  Draco e sua esposa Astoria tinham  problemas para ter um filho Assim Lucio e Draco, para garantir o futuro dos Malfoy, enviaram Astoria de volta no tempo para ter filho com Voldemort. Esse boato já é absurdo, nós sabemos que nem mesmo Lucio tinha simpatia por Voldemort, ele o obedecia por medo e Draco muito menos, mais fácil seria eles darem a esposa pra qualquer zé-ninguém sem nem mesmo precisar do vira-tempo.

Pois bem, Scorpius também é muito repudiado em Hogwarts e sofre bullying por ser “filho do Voldemort” apesar dele ser a cara do Draco. Há uma cena em que Draco pede para Harry reafirmar que todos os vira-tempos foram destruídos na batalha do departamento de mistérios pois seu filho sofre muito com o boato, o que não custaria nada, mas Harry simplesmente se recusa dizendo que logo vão esquecer isso tudo e que ele mesmo nem acredita nesse boato.

Mas em outra cena quando Harry está procurando seu filho na floresta proibida de Hogwarts, o centauro Bane diz a Harry que tem uma “sombra” sobre o seu filho, Harry associa isso a Scorpius, fica paranoico e proíbe seu filho de andar com ele, contradizendo o que ele diz a Draco e se tornando um completo babaca.

Alguns personagens as vezes não soam como eles mesmos em alguns momentos, por exemplo, no caso de Rony, ele sempre foi um alívio cômico mas era bem mais que isso, ele era um personagem útil, na realidade alternativa sombria ele não consegue nem segurar em uma varinha direito... ele, um bruxo adulto da resistência  contra Voldemort segurando a varinha ao contrário é no mínimo ridículo.

Draco, por outro lado é um dos poucos personagens que eu realmente gostei da mudança, você vê que ele realmente evoluiu como pessoa, não é mais aquele garoto covarde e fará qualquer coisa pelo bem de sua família sem hesitar.

Por fim, a criança amaldiçoada não era Scorpius e sim uma garota chamada Delphi, que é filha do Voldemort e da Bellarix Lestrange e indiretamente atiça o Albus a pegar o vira-tempo, pois o plano dela era voltar no dia em que Voldemort matou os pais de Harry para alertá-lo para não tentar matar o menino pois foi aí que ele enfraqueceu, se ele não tivesse feito isso conquistaria o mundo muito mais rápido e ela poderia governar ao seu lado.

Mas depois de derrotada por Harry, Albus e seus amigos ela admite que tudo que ela queria era um pai, uma relação paternal... quando seu pai é Voldemort é melhor ficar sem pai mesmo, preciso nem comentar.

Fim dos spoilers

A minha conclusão depois de ler essa história é que ela não chega nem aos pés de qualquer outro livro de Harry Potter, deveria ter ficado como spin off e não vendida como “A oitava história”. O enredo tem um plot preguiçoso demais e soluções mais preguiçosas ainda. Se for ler, não tente pensar muito porque se fizer isso provavelmente vai detestar tanto ou mais do que eu que li até com certo ceticismo. 

Harry Potter e a Criança Amaldiçoada (Harry Potter and the Cursed Child, Estados Unidos – 2016)

Autor: J.K. Rowling, John Tiffany, Jack Thorne
Editora: Rocco
Gênero: Fantasia, Aventura
Páginas: 352