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Crítica | Harry Potter e a Criança Amaldiçoada

O bruxinho está de volta nessa continuação que você talvez até tenha pedido, mas é como diz o ditado, cuidado com o que deseja. Pouco após J.K. Rowling ter terminado a famosa série de livros, ela disse que iria dar um tempo no mundo bruxo e experimentar coisas novas, dessa fase nasce o suspense político “Morte Súbita” e a série de livros policiais das aventuras do detetive Cormoran Strike (O chamado do Cuco, Bicho da Seda, etc.).

Mas essa fase não durou muito, as novas aventuras da Rowling nem chegaram perto do apelo que Harry Potter teve. Ela então não tardou a mudar de ideia e logo retornou ao universo do “menino que sobreviveu”. Escreveu o roteiro do filme Animais Fantásticos e Onde Habitam que vai estrear esse ano e autorizou essa peça que não foi escrita por ela e sim por Jack Thorne, premiado dramaturgo britânico.

Mas será que esse retorno ao mundo bruxo valeu a pena? A história começa pouco depois de onde o sétimo livro parou, com Harry, Ginny, Rony e Hermione mandando seus filhos para Hogwarts, seus filhos são os novos protagonistas da história, Albus (Filho do Harry) e Rose (Filha do Rony e Hermione) costumavam ser grandes amigos mas simplesmente por Albus ter sido escolhido para integrar a casa da Sonserina eles param de se falar, assim ele acaba fazendo amizade com Scorpius (filho de Draco Malfoy).

O que é interessante aqui é que Albus tem problemas com o pai. Albus ao contrário do pai dele detesta Hogwarts, seus colegas e até mesmo a sua família acham um absurdo um Potter ter sido escolhido para a Sonserina, isso faz com que Albus se sinta muito só. Harry não parece entender pelo que seu filho está passando, afinal em sua cabeça Hogwarts é o melhor lugar da face da terra, esse pequeno elemento já faz com que os dois se estranhem.

O alívio de Albus é o seu grande amigo Scorpius. Scorpius é com certeza o melhor personagem novo, ele é engraçado, inteligente e os dois personagens (Albus e Scorpius) tem uma ótima química, é um bromance que funciona.

Hermione é ministra da magia e Harry agora é chefe do departamento de execução das leis da magia. Harry confisca um vira-tempo ilegal. Pouco depois de o livro “Harry Potter e a Ordem da Fênix” ter sido lançado, Rowling explicou que destruiu todos os vira-tempos na sala de mistérios porque ela percebeu que mexer com tempo é uma coisa complicada e ela quis descartar de uma vez por todas a possibilidade de usar esse recurso novamente. Assim é bastante engraçado que toda a trama da peça se baseia exatamente nisso que ela procurou evitar, ainda contradizendo regras que você fã de Harry Potter sabe muito bem que foram estabelecidas na mitologia.

Amos Diggory, o pai do finado Cedrico Diggory ficou sabendo que Harry tinha confiscado um vira-tempo e pede a ele para voltar no tempo para salvar o seu filho, já que ele não precisava morrer. Harry obviamente recusa, mas Albus ouve a conversa e num ato de rebeldia contra seu pai resolve ir atrás do tal vira-tempo, assim ele convence Scorpius a ir com ele buscar o vira-tempo.

A partir daqui a história vira uma espécie de “De volta para o futuro 2” que muitos estão cansados de ver. Albus e Scorpius viajam entre realidades alternativas desde uma realidade em que Rony e Hermione nunca ficaram juntos portanto seus filhos nunca nasceram e Hermione é uma professora chata de poções à la Snape para uma em que Harry morre na batalha de Hogwarts e Voldemort reina, onde tudo é muito sombrio.

A história é praticamente só um “E se” da vida e sim, tem um vilão. Um vilão muito óbvio e de longe o pior personagem da história, tem uma das piores motivações que eu já vi, é simplesmente terrível.

Alerta de Spoiler

A história da “Criança amaldiçoada” é a seguinte, há um boato dizendo que  Draco e sua esposa Astoria tinham  problemas para ter um filho Assim Lucio e Draco, para garantir o futuro dos Malfoy, enviaram Astoria de volta no tempo para ter filho com Voldemort. Esse boato já é absurdo, nós sabemos que nem mesmo Lucio tinha simpatia por Voldemort, ele o obedecia por medo e Draco muito menos, mais fácil seria eles darem a esposa pra qualquer zé-ninguém sem nem mesmo precisar do vira-tempo.

Pois bem, Scorpius também é muito repudiado em Hogwarts e sofre bullying por ser “filho do Voldemort” apesar dele ser a cara do Draco. Há uma cena em que Draco pede para Harry reafirmar que todos os vira-tempos foram destruídos na batalha do departamento de mistérios pois seu filho sofre muito com o boato, o que não custaria nada, mas Harry simplesmente se recusa dizendo que logo vão esquecer isso tudo e que ele mesmo nem acredita nesse boato.

Mas em outra cena quando Harry está procurando seu filho na floresta proibida de Hogwarts, o centauro Bane diz a Harry que tem uma “sombra” sobre o seu filho, Harry associa isso a Scorpius, fica paranoico e proíbe seu filho de andar com ele, contradizendo o que ele diz a Draco e se tornando um completo babaca.

Alguns personagens as vezes não soam como eles mesmos em alguns momentos, por exemplo, no caso de Rony, ele sempre foi um alívio cômico mas era bem mais que isso, ele era um personagem útil, na realidade alternativa sombria ele não consegue nem segurar em uma varinha direito… ele, um bruxo adulto da resistência  contra Voldemort segurando a varinha ao contrário é no mínimo ridículo.

Draco, por outro lado é um dos poucos personagens que eu realmente gostei da mudança, você vê que ele realmente evoluiu como pessoa, não é mais aquele garoto covarde e fará qualquer coisa pelo bem de sua família sem hesitar.

Por fim, a criança amaldiçoada não era Scorpius e sim uma garota chamada Delphi, que é filha do Voldemort e da Bellarix Lestrange e indiretamente atiça o Albus a pegar o vira-tempo, pois o plano dela era voltar no dia em que Voldemort matou os pais de Harry para alertá-lo para não tentar matar o menino pois foi aí que ele enfraqueceu, se ele não tivesse feito isso conquistaria o mundo muito mais rápido e ela poderia governar ao seu lado.

Mas depois de derrotada por Harry, Albus e seus amigos ela admite que tudo que ela queria era um pai, uma relação paternal… quando seu pai é Voldemort é melhor ficar sem pai mesmo, preciso nem comentar.

Fim dos spoilers

A minha conclusão depois de ler essa história é que ela não chega nem aos pés de qualquer outro livro de Harry Potter, deveria ter ficado como spin off e não vendida como “A oitava história”. O enredo tem um plot preguiçoso demais e soluções mais preguiçosas ainda. Se for ler, não tente pensar muito porque se fizer isso provavelmente vai detestar tanto ou mais do que eu que li até com certo ceticismo. 

Harry Potter e a Criança Amaldiçoada (Harry Potter and the Cursed Child, Estados Unidos – 2016)

Autor: J.K. Rowling, John Tiffany, Jack Thorne
Editora: Rocco
Gênero: Fantasia, Aventura
Páginas: 352

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Publicado por Daniel Tanan

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